Bem um Feliz Natal da equipe do Contos do Tempo Perdido! Quem são eles? Veja:
Lacktum Van Kristen: Que Odin e todas as forças arcana lhe ajudem e lhe concedam presentes, além de uma vida repleta de felicidade!
Halphy Brown: Que vocês sejam felizes, pois é Natal! E se tiverem um item mágico sobrando me deem de presente!!! O que foi?
Thror Tzorv: Que Zeus proteja todos... E me convidem pra ceia! Hehe...
Arctus: Que o Filho do Senhor esteja em tua ceia esse ano e todos os anos que se seguem e que o mal não entre em sua casa. Amém!
Gustavo de Salles: Que Deus proteja sua família como Davi protegia seu povo, com coragem e fé!
Seton: Se tiver comida eu vou!
Em janeiro voltamos com mais capítulos da história!
segunda-feira, 24 de dezembro de 2012
sexta-feira, 21 de dezembro de 2012
quarta-feira, 12 de dezembro de 2012
segunda-feira, 3 de dezembro de 2012
(EXTRA) Humor: Personalidades fictícias, históricas (vivas ou mortas) que leram esse livro e seus comentários:
Personalidades
fictícias, históricas (vivas ou mortas) que leram esse livro e seus
comentários:
“Esses
são os melhores escritos que já vi! Caraca! Luis Eduardo poderia
escrever alguns evangelhos e traria bem mais adeptos para a fé de
meu Pai.”
-Jesus
Cristo de Nazaré, um hippie que conseguiu muitos resultados
“Ele
me fez chorar! Ele me fez chorar! Cara... É lindo! O livro é
lógico!”
-Nietzche,
um qualquer...
“Eu
gostaria de roubar essa idéia... Se não fosse algo tão Windows...”
-Steve
Jobs, grande cara!
“A
força dentro dele é poderosa. Estou me referindo ao livro
logicamente... Mas o autor consegue ser bom.”
-Obi-Wan
Kenobi, mestre jedi
“Eu
pensei que minhas viagens fossem terríveis, mas ao ler esses
escritos dos ‘Contos’, vejo que estive em um verdadeiro
piquenique! Hora do café!”
-Frodo
Bolseiro, personagem principal de O Senhor dos Anéis
“Para
de escrever essa merda!”
-Dona
Tereza Caraça, minha mãe... TIRA ELA DAQUI!
“Ele
me roubou! Maldito seja!”
-J.R.R.
Tolkien, escritor do O Senhor dos Anéis
“Um
homem competente... Minha lamina vai ser honrada em tirar o sangue de
tão extraordinário escritor. Nem em Lodoss veria uma obra de tal
magnitude”
-Ashram,
comandante das tropas de Marmo em Record of Lodoss War
“Com
certeza essa seria uma ótima obra para trazer a boa relação entre
mutantes e huma... Ele falou que eu sou um aeroporto de mosquitos?
Venha aqui garoto e vou te fazer uma lobotomia!”
-Professor
Charles Xavier, fundador do grupo mutante X-Men
“Ah
maravilha... Ele roubou minha idéia.”
-Bill
Gates, um riquinho qualquer...
segunda-feira, 26 de novembro de 2012
(Parte 7) Capítulo Sete: Escuridão do desconhecido
Todos olharam em direção ao famigerado Oráculo. Muitos
queriam matar aquela criatura a qualquer custo agora. Mas ele simplesmente fez
com que todos o seguissem, mesmo com Lacktum esbravejando de fúria contra o
homem encapuzado. Até mesmo Thror deve que ser contido por Richard em
insistentes gritos.
-Me deixe separar a cabeça dele desse corpo moribundo! –
gritou Thror com fúria nos olhos – Me deixe fazer isso!
-Grego! – gritou Richard como se fosse palavra de comando
para o guerreiro enquanto o segurava – Precisamos dele para descobrir onde
estão os artefatos. Já se esqueceu?
-Ah é mesmo não é? – foi então que ele se deu conta de que
estavam ali só pela Pele do Dragão de Platina e as Vestes do Desalmado.
E com isso todos voltaram ao salão onde estava a enorme
fogueira. Viram então Gor, do lado de uma coluna, sofrendo de terríveis dores.
Gemia com expressões de um terrível mal. Mal esse que afligia seu corpo, como
uma agonia diferente, como algo que nenhum ser vivo sentiu.
Quando Lacktum e Federick foram o acudir, notaram que ele se
afastava o máximo possível do Oráculo. Ele sentia algo único em relação ao
adivinho.
-Que mal fez a ele seu bruxo? – gritou Federick quase sacando
a espada.
Lacktum colocou a mão sobre o cabo da espada, impedindo o
paladino de atacar, enquanto tentava conversar com Gor.
-Se acalmem. O que foi Gor? – perguntou Lacktum, que
demonstrava também estar aterrorizado com a dor no companheiro. Temia que
aquilo fosse magia poderosa demais para lidar com ela – Qual o motivo de sua
dor?
-Eu sou o culpado dessa dor, - começou o Oráculo – meu caro
Van Kristen. Ele, como eu, foi peça fundamental para uma antiga batalha que
remonta o período em que Arthur caminhava nas terras que por direito são dele.
Algo que se relaciona aos Imortais Esquecidos e ao próprio deus Hades, mestre e
senhor do submundo grego. Devido ao meu tempo como um explorador... Assim como
vocês...
-Mas pensei que nunca tivesse saído desse templo Oráculo, não
é? – indagou Halphy se mostrando perspicaz.
-Muito atenta você minha jovem. Não sou o Oráculo de Delfos
original. Eu venho das terras onde se venerava o Deus e a Deusa, onde os
homens-gamo vivem ou viveram. De onde o rei comanda com punhos firmes, mas que
não estará preparado para o que virá. E que um dia terá como soberano o Rei das
Feras, e a espada firme como os dentes de um dragão. Seu amigo pode não se
lembrar de mim, mas eu me lembro dele. Assim como de seus amigos.
Gor tremeu. Uma pergunta parecia surgir em seu espírito, mais
forte do que a dor que sentia em seu corpo.
-Quem é você de verdade, homem que consegue contemplar o
futuro e o passado dos homens?
-Essa pergunta não terá uma resposta para o futuro. Só irá
mostrar um passado do qual, nem eu, nem você nos orgulhamos. Mas saber sobre o
presente é o que todos deveriam querer saber... Afinal, é nele em que vivem não
é?
-Não é necessário que falemos o que queremos? – perguntou
Thror.
-Se não soubesse o motivo que os trouxe até aqui, não seria
um bom adivinho – respondeu prontamente o Oráculo.
Thror se calou.
Os jovens estavam ao redor da fogueira para ouvir as palavras
sobre o seu futuro, os artefatos malditos, aqueles que amaram ou amavam e se
eles teriam algo a esperar. E por incrível que pareça, queriam saber mais sobre
si, do que sobre o que os aguardava no futuro próximo. Todos sentavam nas
escadas, olhando para o Oráculo que jogava, ervas e especiarias raras que
deveriam vir das terras do Oriente, notou Halphy, na fogueira. Prestavam
extrema atenção, com exceção de Lacktum que desdenhava dos poderes do Oráculo e
Gor que ignorou a ajuda para se sentar e se mantinha de pé ficando apoiado em
uma das colunas, tentando mais firme do que realmente estava. As dores pareciam
cessar um pouco. A maioria acreditava que os deuses iriam mostrar o que era
necessário para compreender o futuro.
Foi quando as chamas cresceram novamente, criando imagens que
mostravam o futuro de suas viagens. Enquanto isso, o estranho homem de Delfos
falava o que se desdobrava no futuro.
-O que vocês procuram no futuro esta dividido em oito partes:
três que surgiram em um poderoso arcano, cinco que vieram de um justo paladino.
Boa parte esta dividida pelo Ocidente todo. Sendo que vocês passaram por dois
itens. Um do Desalmado e outro do Dragão de Platina. Eles estavam na ilha em
que encontraram a bruxa Angélica.
-Como? – esbravejou furioso o arcano ruivo – Quer dizer que
poderíamos ter encontrado dois dos itens antes de chegarmos aqui? Ora que praga
maldita em que nos encontramos!
-SIIILÊÊÊNCIO!
-Todos olharam atônitos para a figura esquálida, com medo de
suas próximas ações ou palavras. Mesmo com todo aquele ar de decaído, o homem
conseguia trazer medo só com as palavras
-Vocês ainda não sabeee neeem metade do que o futuro lhes
reserva. E queeerem sabeeer maisss do que um oráculo? Se siiiiilenciem para
ouvir o que tenho para dizer...
Houve silêncio.
-Além dos dois pedaços que estão na ilha da bruxa, restam
mais seis outros itens a serem achados. Um se encontra nas terras do Oriente,
após o Mediterrâneo, aonde os lideres eram faraós e tinham o poder de seus
deuses em suas decisões. Mais um deles se encontra na Inglaterra, onde os
Imortais Esquecidos tiveram seu inicio. Outro pedaço esta nas terras de onde
saíram, ou seja, nas terras sem um rei. Existe um que já esta nas mãos do
inimigo, trazendo grande perigo, a todos os simples de corpo e alma. Nas terras
onde estão existem dois itens dessa empreitada que estão fazendo. Um deles,
esta a três dias de viagem desse lugar, bem próximo a uma cidade, em uma colina
cercada de ruínas estranhas paras essas terras. O ultimo se encontra nas terras
onde antes havia Esparta, berço dos mais esplendidos guerreiros. Estará na
posse de um mago sábio.
Todos olhavam com estranheza e espanto para o observador do
tempo. E eles então perguntaram como poderiam ter certeza sobre o que ouviam
dele, enquanto as chamas crepitavam com força atrás da figura encapuzada. Foi
então que ele falou sobre o duende verde Zas, e do que estava por vir. Por qual
motivo alguém saberia sobre Zas, um ser que vivia em um lugar tão distante? Nem
mesmo um palpite poderia ter sido tão certeiro. Ele realmente sabia muitas
coisas.
O orador misterioso continuou a falar sobre o que sabia
-O Desalmado e o Cavaleiro da Pele de Platina eram
companheiros. Amigos inseparáveis de antes da abertura, pela segunda vez dos
Portais Infernais. É necessário dizer – falou isso o Oráculo, com o dedo
indicador, tal qual um mentor que explica sabiamente aos seus alunos – que os
Portais Infernais só foram abertos duas vezes. Uma para a tentativa de Hades de
tomar o poder sobre a humanidade. A outra foi rapidamente feita no ano trinta e
três depois de Cristo.
-Espere! Então significa... – começou Halphy, com um olhar
perplexo por se lembrar dos poucos costumes religiosos que sabia.
-Significa – completou o Oráculo, terminando sua explicação –
que os Portais Infernais são uma passagem que foi usada nesse mesmo ano por
Jesus de Nazaré, o Cristo, para levar da face desse mundo, os pecados e
demônios que nos assolavam. Como os próprios sacerdotes falam, levar todos os
pecados desse mundo. Mas um pouco antes desse portal de tamanha magnitude se
abrir pela segunda vez, os dois heróis chegaram até eles, depois do conflito
dos Imortais Esquecidos com uma terrível criatura. Inicialmente sua missão era
trancar o portal definitivamente. Mas seus corações não eram mais os mesmo de
quando começaram sua jornada. O Desalmado se tornou tão frio e maligno quando
seu título sugeria. Afinal, ele estava desprovido de sua alma. Um antigo
inimigo o capturou. Torturado daquele modo os resquícios de seu espírito só
viam o ódio que sentia por seu antigo companheiro, que o havia deixado refém de
um inimigo tão poderoso e cruel. Ele já nem mais acreditava que o cavaleiro o
procurava com todas as forças de seu bravo coração. Oh não... A dor e o
sofrimento o fizeram enlouquecer tanto, que não distinguia tempo de espaço, nem
a impossibilidade de ajudar de uma terrível traição. Enquanto isso, o cavaleiro
vivia procurando um modo de encontrar seu parceiro de aventuras. Conheceu
pessoas, visitou terras inóspitas e viveu varias alegrias, as quais seu
companheiro fora privado pelo mal de um oponente. Foi quando depois de meses, o
cavaleiro encontrou seu amigo. Já nesse período, o arcano não via mais uma
imagem de amizade no guerreiro. Ele só continha ódio ao homem que era chamado
Cavaleiro da Pele de Platina, e este não suspeitava de nada.
O escrito, aqui nessas linhas, só foi visto pelos homens e a
mulher daquele grupo de aventureiros.
As chamas crepitavam sobre as mãos do Oráculo. Elas ondulavam
como dançarinas coordenadas por uma poderosa força invisível. As cinzas voavam
ao céu e se uniam em pleno ar formando imagens. Primeiro tremulas como a fumaça
da fogueira e depois, extremamente definidas. Eram imagens de um passado
distante e sombrio. De um dos momentos mais negros da humanidade e que ninguém
se lembrava.
O lugar que viam era tomado de areia por todos os lados. Não
havia um céu claro ou uma noite sem nuvens, mas sim uma tempestade de
proporções épicas que manchava o espaço negro. Do sudeste, se projetava o arco
de um colossal portão. Tão grande, que mesmo o maior dos dragões das lendas
antigas atingiria metade de sua altura completa.
Todo o cenário ao redor demonstrava que antes havia
acontecido um imenso combate. Não por conta de um exercito, mas sim, devido a
um grupo de combatentes e arcanos dos mais diversos tipos e portes. Doze homens
e mulheres, vestido para combater. Só havia duas figuras vivas ali, mas elas
saiam do campo de batalha com várias feridas pelo corpo.
Os portões começavam a se fechar lentamente. Tão lentamente
que quem observava aquela cena teria muito medo. Tragavam coisas físicas e
espirituais, que pareciam ter vida ou não.
No meio desse caos de seres demoníacos, uma carcaça de um ser
terrível surgia. Muitos não acreditariam, mas era claro pelas lendas que todos
ouviram quando crianças que se tratava de um esqueleto de dragão. Havia
pequenos pedaços de esmeraldas que jaziam em sua forma definhada. Ela estava
próximo aos portões.
Os aventureiros começaram a sentir em seus corações um grande
mal surgindo dele. E então compreenderam que aquele era o mal que queriam
deter.
Então, vindo do nada, dois homens corriam apressadamente
pelas areias escaldantes em direção ao ser do além. Eles corriam com vontade,
como se o universo fosse acabar naquele dia. E isso poderia acontecer
realmente.
O arcano vestia um manto marrom escuro com desenhos arcanos,
uma luva grande com detalhes em metal e uma máscara que parodiava o que foi um
rosto humano. Com certeza servia para cobrir as feridas na época de tortura
Já o cavaleiro usava uma armadura de batalha completa.
Segurava uma espada bastarda na mão esquerda e um escudo grande no outro braço.
Seus pés eram cobertos por um par de grevas que pareciam extremamente pesadas,
mas ele conseguia andar sem nenhuma dificuldade aparente, pelo menos, por
aquela areia quente. Sua cabeça era protegida por um elmo que demonstrava ser
de um nobre.
Os dois possuíam símbolos draconianos, o que significava
grande poder.
Quando chegaram aos restos do dragão de esmeralda, este se
ergueu das areias do deserto. Ele se levantou com fúria em suas orbitas cheias
de necroplasma verde, como se tentasse, como se tentasse mostrar a cada ser
vivo naquelas terras perdidas que ainda existia uma vida profana naqueles
ossos. Suas asas se abriram como duas mãos enormes no ar tempestuoso. A
criatura sabia que graças a seu imenso poder, não seria puxado para dentro do
Portal dos Pecados. E os dois homens se preparavam para derrotar o ser
sinistro.
Ao menos era isso que um acreditava.
Foi quando ocorreu a traição. O Desalmado atacou seu antigo
companheiro cavaleiro com uma adaga nas costas, quando este enfrentava o
esqueleto de dragão.
O cavaleiro caiu ao chão, com a espada fincada na areia
quente. E isso ocorria no mesmo momento em que o mago passava por cima do
guerreiro sagrado. Ao que parecia, o arcano queria a gloria de derrotar tão
terrível ameaça sozinho. Se houvesse testemunhas naquele dia e local, notariam
o sorriso contorcido do abridor por debaixo da mascara.
A adaga tinha sido banhada com um veneno raro, que provinha
de outra dimensão. Tão poderoso, que magia alguma do nosso mundo seria o
bastante para poupar sua vida.
Foi então que cheio de ódio, que o cavaleiro cortou sua mão
na própria arma. Com a palma da mão ensangüentada, ele então se levantou com
ela na direção do antigo companheiro. O ar se encheu do sangue do justo.
Correu na direção do Desalmado – que enfrentava com certa
dificuldade o dragão imortal - e o golpeou no rosto, tirando a máscara, expondo
o rosto que estava em pura carne viva. O mago então gritou de ódio pela mascara
lhe ter sido arrancada, pelo cavaleiro estar ainda vivo e pelo sangue que havia
caído em sua face.
O cavaleiro então recitou varias preces em élfico. Um brilho
verde transcorreu de suas mãos.
Ele então pronunciou a palavra em latim, signature.
E foi então que os corpos começaram a brilhar. Suas peles
continham um dom dourado forte, tão poderoso, que poderia cegar ao serem
vistas. Se não fossem aquelas imagens feitas por magia, os aventureiros
poderiam ter perdido a visão.
Os dois homens então queimavam com a força de dois sóis.
Enquanto isso o dragão de esmeralda começava a ser arrastado na areia, como se
tivesse perdido todas as forças que antes tinha. O brilho do necroplasma[1] se
esvaia, enquanto a criatura draconiana se debatia inutilmente na areia do
deserto. Até ele parecia pequeno perto do poder que estava contido nos dois
homens. Ele foi então selado entre o vão dos Portais Infernais.
Enquanto eles ardiam, pela chama divina evocada pelo
paladino, eles se seguravam e lutavam com força. O paladino jogava o arcano
contra o chão, que tentava uma débil resistência. E então quando tudo parecia
estar estático ao redor deles, houve uma explosão. Tão grande e imensa que
poderia ser vista através de reinos, de terras sem leis, de mares e até mesmo
oceanos.
E por fim os portais se fecharam.
-Enquanto os portais permanecerem fechados, o dragão imortal
de escamas esmeraldas não se levantará. E nem trará o mal que ele contém.
As cinzas se dissiparam na frente dos aventureiros. Então
todos se levantaram com assombro, prontos a questionar sobre aquelas visões.
Lacktum foi em direção ao Oráculo.
-Qual o nome do Desalmado e do Dragão de Platina?
-Você talvez um dia saiba... Quem sabe? Talvez um dia.
Halphy interrompeu a conversa dos dois perguntando ao Oráculo
se ele poderia lhe falar sobre um determinado item.
-Que item? Poderia ser mais especifica? Local? Ou quem sabe
um nome? Já serviria... – falou sarcástico o Oráculo.
A ladina entendeu que
ele já sabia de quem se tratava e qual era o item.
-Tudo bem – falou Halphy conformada – Tudo bem. Eu estou
atrás de um item que foi criado por Sinestro, um poderoso elfo de Avalon.
Ninguém prestou a atenção devida na conversa de Halphy quando
ela citou o motivo de estar nessa jornada. Mas o jovem gravou muito bem na
memória aquelas palavras. Como as de agora. Sinestro deveria se um conhecido
dela ou da família.
-Você encontrará o colar quando Sinestro estiver pronto para
entregar. Ele sabe sobre suas dificuldades até agora. Até lá escolha sabiamente
seu futuro e se mantenha no grupo até quando for necessário. Você saberá o
momento, sozinha.
Lacktum iria interromper as palavras do Oráculo, quando
Federick o fez antes.
-Preciso saber, ô Sábio de Todos os Tempos, se sabe algo
sobre Diogo Fernandez. Cavaleiro que serviu a mim e a minha família durante
vários anos. Sabe algo sobre ele?
-Não existe nenhum Diogo Fernandez vivo sob a face do mundo
atual, - e quando Federick achava que a busca teria acabado o Oráculo continuou
– mas quando o encontrar novamente ele será outra pessoa.
-Como assim?
O Oráculo ignorou o paladino. E cruzou o salão até o grego.
-Estranho – falou o sábio, passando as mãos onde deveriam ser
os lábios debaixo daquele manto, enquanto observava atentamente o grego –
extremamente estranho.
-O que? – disse o confuso guerreiro.
-Eu não consigo ver o seu futuro. Na verdade, as três Irmãs
não me permitem ver sequer uma fração de toda a sua vida.
Os mais simplórios não compreenderam o que isso significava.
Os mais atentos como Lacktum e Halphy, compreenderam o que significava tudo
aquilo. Alguém ou alguma coisa muito poderosa estava interferindo com os
poderes de visão do Oráculo.
Mas o que em todo mundo poderia interferir nas visões de um
oráculo? O Oráculo de Delfos? Pela pouca experiência dos aventureiros, nada.
Mas Gor sabia que não era assim. Ele sentiu medo por todos naquele salão.
Foi quando se levantou.
-Quem poderia querer interferir em sua visão?
-Eu não sei... Mas sei que ela foi fechada com intervenção
divina direta. Como se os deuses não quisessem que soubéssemos. Como se um
segredo nas memórias desse jovem fossem algo que pudesse mudar os destinos de incontáveis
vidas.
Os olhos de Thror se encheram de tristeza. Nem o homem que
via tudo poderia ver seu passado. Então quem poderia? Que poder conseguiria
superar as forças do tempo e espaço para lhe revelar o que tanto queria? Foi
então que o Oráculo proferiu:
-Um deus. Quando você tiver a chance de encontrar um ser
superior a um deus, saberá o que te espera no passado.
Nenhum deles entendeu sequer uma palavra daquela frase. Mas
Thror, por algum motivo, sentiu seu coração aliviado. Mesmo não havendo nenhum
motivo para isso.
Lacktum queria saber sobre os itens. Se eles tinham poderes
específicos, se poderia ser mais consistente sobre onde exatamente estavam os
itens dos heróis, se eles tinham alguma terrível maldição e como eles seriam
usados para deter o dragão de esmeralda.
O Oráculo falou que cada um dos conjuntos tinha poderes
relativos personalidade de seus donos originais. Ele também disse que se
Lacktum realmente acreditava na força do destino, encontraria os artefatos de
qualquer modo. Se houvesse alguma maldição, seria algo que só os criadores dos
itens saberiam sobre eles. Por fim, disse que eles serviriam como uma forma de
selar o portal, caso o pior ocorresse.
Lacktum perguntava como se abriria o portal, mas então notou
que ele se calou justamente nessa pergunta. Foi quando o Oráculo notou, que
diferente dos outros, o mago não perguntava coisas sobre seu passado e futuro.
-Teme pelo seu futuro Van Kristen. E por isso nada pergunta?
-Você deve saber a resposta para essa pergunta. Afinal você é
o Oráculo – falava o jovem inglês ruivo, enfrentando o adivinho com sua face.
-Ora se é tão sábio Van Kristen, - começou enquanto mexia os
braços o Oráculo – que tal veeer isto?
Nesse momento, a mão do sábio encontrou a face do mago. E foi
através disso que Lacktum começou a contemplar coisas que nunca vemos.
Lacktum se viu em um deserto enorme. Tão grande e vasto
quanto o que viu anteriormente na visão do passado. Pois na verdade se tratava
do mesmo deserto. E novamente, nesse deserto havia um espaço sem estrelas e um
céu escuro como o coração de um demônio.
Acima de tudo, vindo do sudeste, se projetava a luz de uma
força tremenda. Agora era possível ver claramente o portal mais de perto. E ele
faria qualquer um se sentir tão pequeno, quanto uma formiga diante de um
humano. Ele conseguia ver um vulto enorme diante dos portões. Mas não era isso
que o incomodava.
Ele observava outra sombra sinistra. Essa carregava consigo
uma lanterna estranha, cheia de detalhes e runas em seu contorno. Dentro do
item queimava uma chama única, de tom azulado, que ainda mantinha uma força
débil. Como um animal que se debate após terem ferido seus membros. Mas seu
brilho ainda era forte o bastante para Lacktum notar os estranhos motivos do
home em sua frente.
Nesse vulto era possível ver um robe negro com aspecto
magnífico e poderoso. Também possuía um cetro em sua mão. Ele segurava na outra
mão, uma máscara que parecia acabar de retirar. O seu rosto começava a aparecer
para Lacktum. Era magro e pálido, cheio de feridas e pústulas. Seus olhos
demoníacos demonstravam insanidade e seu cabelo castanho era atingido pelo
vento daquelas areias sombrias.
E com isso o homem simplesmente mirou com seu dedo pútrido
para o jovem mago Lacktum e disse:
-O que vai ser? Minha alma ou a dela?
Os portões ainda estavam fechados. A visão acabou.
Lacktum jazia no chão, exausto, como alguém que presenciasse
um fato único e terrível de sua vida, mas não soubesse o que significava. Thror
o havia amparado e ajudou o mago a levantar.
-Aquilo foi o... – balbuciou Lacktum – o futuro?
-Sim.
-E o que farei com essa visão?
-Mantenha sua alma viva, até que ela aconteça de verdade meu
jovem arcano, e tente se tornar senhor do seu destino.
-Como?
-Se simplesmente me encontrar resolvesse tudo, não acha que
haveria mais pessoas nessas terras? Buscando por mim? O Oráculo de Delfos é o
ultimo recurso para encontrar o que querem saber ou ter. E mesmo ele, não
garante o futuro, pois a Moiras gostam de brincar com o que acreditamos estar
completamente certo. O Oráculo pode trazer um futuro afortunado ou a danação
eterna. Mas isso só será garantido se estiverem vivos e prontos para tudo. A
decisão será tomada somente se o seu destino for forte. Forte como todos devem
ser. E prontos para sacrificar o que for necessário. Pois o destino deve ser
controlado por aqueles dispostos a tudo pelo que desejam. Mas é melhor irem
embora, pois os corações estão cheios de pressa assim como seus inimigos. Ah,
antes que me perguntem, não irei citar sobre eles, pois isso é algo que devem
saber por conta própria. Mas mesmo com a escuridão na frente de todos vocês, a
coragem louca e intrépida de vocês fala alta em seus espíritos. Então partam, e
iluminem o caminho com a chama de suas perguntas.
Nesse momento um pequeno pedaço da areia daquele templo deslizou
por um buraco, mostrando uma passagem subterrânea. Dela era possível ver
escadas de pedra bem grande e um sátiro surgindo da escuridão da passagem.
-Esse sátiro lhes mostrará o caminho para fora daqui. E antes
que perguntem, sim, respondi todas as suas perguntas. Mesmo que não pareça.
Os aventureiros começaram a descer aquelas escadas.
Insatisfeitos, pois todos os homens são fracos perante o destino e o que se
desconhece. Mas a escuridão do futuro poderá ser iluminada. E é nisso que
alguns homens acreditam.
Eles desceram até o fundo das escadas e chegaram a uma gruta.
Nela, ficaram sem visão por algum tempo, mas a luz do dia e a água de um riacho
estavam próximas deles. A abertura da gruta mostrou a eles uma paisagem linda,
toda gramada e cheia de runas dos tempos antigos. Era como um pequeno salão
circular que era rodeado por colunas quebradas e que era usada contra a entrada
de invasores. Alguns esqueletos ao redor demonstravam isso.
Ela concedia acesso a uma estrada ampla ao qual o sátiro
dizia chegar a uma vila. Lá teriam informações de como chegar a tal cidade que
ficaria a três dali.
O sátiro sumiu. Então os aventureiros foram embora. Atrás de
seus destinos.
Por alguns instantes, o Oráculo estava sozinho, mas no outro
o sátiro apareceu diante dele. E como se nunca tivesse existido tal criatura
ali, a figura começou a tomar forma de um homem.
Esse homem tinha cabelos grandes e negros, um chapéu com
ponta fina na frente e uma linda pluma. Usava um manto marrom enegrecido e por
baixo, tinha uma armadura de batalha negra digna de um rei. Era extremamente
escura, diferente da espada brilhante e azul. Ele andava pesadamente até a
direção do oráculo.
Um oráculo servia para aconselhamento, com a finalidade de
decidir o futuro ou impedir o infortúnio das pessoas. Na Grécia, em tempos
áureos e antigos, um homem desses era um sacerdote que presidia consultas
únicas sobre o que era necessário. Mas no fim, o oráculo sempre serviu para
compreendermos a nós mesmo. Mostrando nossos medos e anseios. E isso cria opções
e ações.
Mas quem temia a opção errada agora era o Oráculo de Delfos.
Ele temia o guerreiro de armadura negra mais do que tudo no mundo. Mesmo
sabendo o futuro
-Eeeee eeeeentão Kalidooor? O que achaaa?
-Acho que eles são um bando de tolos. Mas com uma pequena
chance de vencer.
-Como fala com tanta certeza?
-Não é necessário ser o Oráculo de Delfos para imaginar
isso...
-Certo... E eu senti que você quer enfrentar o paladino. Quer
ver se os ensinamentos da família Gawain aos mais jovens ainda servem para
épocas de guerra?
-Não seja infantil, - disse o guerreiro de armadura negra
nervoso com aquela afirmação e depois começou com um pequeno riso – afinal ele
treinou um estilo totalmente diferente do meu. E eu sou mestre do Vento
Abissal, O Barão do Lobo Negro, eu sou Kalidor Hein Hagen, um dos três lideres
dos Imortais Esquecidos.
[1]
Seria uma variedade do mana e também estaria inerentes nos mortos famintos e
almas desencarnadas. É fonte de poder para os necromantes.
sexta-feira, 16 de novembro de 2012
(Parte 6) Capítulo Seis: Se lembre
O navio havia atracado em um pequeno porto. Esse porto ficava
perto de Delfos, antiga cidade que havia se unido com Esparta muitos séculos
atrás na famosa Liga do Peloponeso, contra a Confederação de Delos. Mas não era
isso que fazia o grupo ter chegado até aquele lugar.
Várias são as lendas que ditam sobre um homem em Delfos – ou
algo parecido com um homem – que podia ouvir as Moiras e as tramas que elas
faziam com o destino a seu bel prazer, com a finalidade de conceder um lampejo
do futuro. Futuro quase sempre incerto ou com um mal incrustado.
Mas naquele momento, não era hora de pensar no futuro, mas
sim momento para despedidas.
-Bem, - começou Joseph Boas Línguas com um rosto pesaroso – acho que isso é um até logo, não é?
-Bem, - começou Joseph Boas Línguas com um rosto pesaroso – acho que isso é um até logo, não é?
-É – disse Halphy que demorou a continuar a frase, caçando as
palavras – Acho que nos separamos até que o destino resolva nos unir novamente.
-Espero mesmo que o destino nos uma Halphy, - completou Gor –
mas que nunca mais passemos novamente por aquela ilha. Perdão. Ah e tome seu
pagamento – foi então que o inglês concedeu mais cinco gemas vermelhas, como
aquela que concedeu ao capitão nas docas.
-Vocês que devem me perdoar. Mas saibam que se eu pudesse...
Também não passaria naquela ilha. De qualquer forma... Au revoir!
E então, Joseph colocando os pequenos mais valiosos rubis no
seu casaco de capitão, se virou em direção ao navio. Sua imagem em nenhum
momento pareceu ser de um homem mórbido, pensaram os membros do grupo. Mais
parecia alguém muito justo que se via forçado a uma situação que nunca quis
estar. Por isso, pensaram os jovens, que talvez fosse o motivo de se sujeitar a
aqueles ritos macabros.
Após tudo que passaram, chegariam à pequena vila costeira. No
porto, estavam Gor, Halphy, Federick e Hugo. Thror tinha se adiantado por algum
motivo. E Lacktum demorou a se unir ao grupo com um rosto de poucos amigos.
Parecia não estar bem desde ontem, graças a um pesadelo que foi audível por
todo o navio. Ele não sabia, nem foi comentado por bondade dos membros do grupo
que gritava enquanto sonhava. Não havia muito que qualquer um dentro da
embarcação poderia fazer por ele.
Lacktum tremia muito como se tivesse presenciado cenas
terríveis, o que não estava longe da verdade. Mas querendo ignorar tudo da
noite anterior, se manteve firme na direção dos companheiros.
-Onde esta Thror? – disse Lacktum, querendo parecer melhor.
Thror olhava em direção a uma colina, que nunca tinha visto,
pensava ele. Porém, foi como em Starten. Ao mesmo tempo em que ele achava que
não conhecia o lugar, algo em sua alma o trazia memórias fracas que logo
desapareciam. Como nuvens de chuva. Era como, lembrar de algo, sem nem ao menos
ter vivido aquilo.
A colina era íngreme, e árdua seria a escalada. Mas o grego
acreditava que para si, não deveria ser difícil subir. Por incrível que
parecesse, ele acreditava saber o que esperar. Ou ao menos achava.
Lá deveria estar o Oráculo de Delfos.
Os companheiros perguntavam na vila, se alguém sabia do
Oráculo. A iniciativa foi de Federick. Lacktum iria começar a rir das atitudes
do paladino, quando houve uma resposta positiva de uma mulher no meio daquela
vila pequena. Ele sabia falar grego.
Federick era o único que sabia falar aquele idioma, além de
Thror é lógico. Por isso mesmo, Gor perguntou o que a mulher falava.
-Ela disse que naquela colina fica o Oráculo. Mas é perigoso
pelo que sabe. Afinal, ninguém nunca voltou de lá.
-Não deve ser tão perigoso, - comentou Gor – se comparado ao
que sofremos em combates até agora.
-Bem, ela só quis avisar.
-Observem - disse Hugo apontando na direção da colina – Thror
realmente se adiantou.
Olhavam um Thror atônito, que se fixava com o olhar na
direção da colina. Ele tremia como uma caça diante seu predador fitando seus
olhos sem compaixão, mas com extrema fome. Mas se Thror era o caçado, quem era
o caçador?
Richard se aproximou, acolhendo em um abraço o guerreiro.
-Pode me dizer, o que te aflige grego?
-Eu não sei...
Federick, que passava por eles, ignorou as palavras de Thror,
achando que aquilo poderia ser um medo infantil de alturas. E medo não era algo
proveniente na alma de um servo de Cernunnos.
Os aventureiros, próximos a colina se encontravam e começaram
a subir. Era mais íngreme do que imaginavam. Mas mesmo com esses problemas,
conseguiam subir o lugar. Haviam vários espaços, feitos na parede, que foram
usados para subir o enorme paredão que surgia diante deles. Com certeza, feitos
por aventureiros anteriores.
Gor subiu primeiro, sem nenhuma armadura. Sabia como escalar
aquelas formações muito bem, apesar de falar que não treinava escalar fazia
muito tempo. O que muitos notavam era a felicidade do guerreiro subindo o
lugar. Os outros tentavam subir com dificuldade, seguindo seus passos na
formação rochosa. Mas era difícil. Gor se movimentava com rapidez como uma
aranha fixada em uma parede. Enquanto isso, o teimoso Thror insistia em subir
de armadura todo o paredão. Era engraçado ver as tentativas do grego sendo
frustradas pelo peso da proteção que carregava nas costas e pelas pedras que se
soltavam. Os outros eram auxiliados por Gor, que dizia que pelo menos o resto
do grupo não era tão teimoso. Ainda assim, a dificuldade persistia.
Em certo momento, Federick quase caiu de uma boa altura. Mas
então Gor estendeu sua mão esquerda, sendo que com a direita, segurava
firmemente a corda.
-Arggh! Peguei – disse Gor usando sua força para segurar
Federick – Mas fique atento. Não vou estar aqui o tempo todo.
Federick tentou se colocar ao lado de Gor no paredão de pedra
que havia se tornado aquele lugar. Apoiado nas pedras, o paladino se segurou e
pediu desculpas ao guerreiro inglês.
-Não sou acostumado – disse o cavaleiro sacro – Isso não é
função de um paladino.
-É melhor se acostumar. Se lembre que muitas pessoas dependem
do que faremos no topo dessa colina.
Gor então voltou a subir com a mesma facilidade de antes.
Deveria ser muito experiente, pensou Federick, para reagir daquele modo,
naquela situação. Não sabia muito pelo que seu mestre comentou, sobre ele.
Queria ser, pensou o paladino, um pouco parecido com ele.
Enquanto todos subiam, o guerreiro grego esperava o auxilio.
Depois de tantas tentativas, ele decidiu tirar a armadura. Ele enfim notou que
era pesada demais. Mas até então, se machucou muito.
Por fim, o grupo se encontrava finalmente no topo da colina.
Lá eles contemplavam o local onde se encontrava o Oráculo de Delfos.
Era bonito todo o lugar que viam. Várias colunas de mármore
sustentavam uma estrutura de mesmo material. As colunas são bem espaçadas entre
si e no centro da construção, no que seria o teto, havia um buraco de forma
retangular que permitia a visão do céu. Havia escadas que desciam ao centro do
lugar, que terminava em um terreno arenoso no qual havia uma enorme fogueira
bem preparada, que crepitava e atingia as nuvens daquele dia nublado, com sua
fumaça, brasas, labaredas e cinzas. Era possível sentir que a Arte era forte
naquele lugar.
Lacktum moveu os braços em forma circular, arrastando linhas
arcanas como se limpasse algo no ar. Ele então proferiu, calmamente, palavras
mágicas:
-Show me the truth here. I reveal the Art in the air.
Nesse momento, Lacktum sentiu que o local emanava uma aura de
adivinhação, tão forte, que ele mal agüentou a força que exalava. Sua
concentração foi logo quebrada e a magia dissipada.
-Esse local, emana muito mana[1]!
Demais para ser sincero...
-Bem nada vai acontecer – começou Thror – se ficarmos parados
aqui.
Eles desceram os degraus e viram mais de perto a fogueira. E
o grupo descendo as escadas, extasiado por toda a magnitude do lugar, ninguém
notava que Gor dores que o faziam o andar com dificuldade. Ele notara aquilo
precocemente: conhecia aquela sensação, como se sua cabeça quisesse mostrar que
alguém estava ali. Alguém conhecido.
As lendas antigas contam sobre esses homens. Os oráculos.
Homens que através dos deuses mais poderosos das antiguidades conseguiam os
verdadeiros o tempo e espaço. Tão poderosos que superavam os poderes dos deuses
comuns. Mas normalmente são tratados como mulheres. Para nós mortais, são
conhecidas como Passado, Presente e Futuro. Em cada cultura eram nomeadas de
outras maneiras. Elas eram chamadas de Moiras, Parcas, Nornas, Bruxas, Fúrias,
Irmãs, Tecelãs do Destino, Juizas, entre outros nomes. E em algumas culturas
possuem até nomes. Os gregos concediam os nomes de Cloto, Láquesis e Átropos.
Entre os nórdicos eram chamadas de Urd, Verdandi e Skuld. E mesmo sendo de
culturas diferentes elas representam praticamente a mesma coisa: passado, presente
e futuro.
Alguns homens que se entregavam a contemplar as forças
astrais se tornavam poderosos oráculos para guiar os homens em seus caminhos de
vida. Entre alguns nomes estavam Tiresias, o adivinho cego, ou Calcas, o homem
que morreu de tanto rir. Mas um dos mais famosos se chamava o Oráculo de
Delfos. Tão poderoso que influenciou figuras das lendas e histórias gregas como
Alcmeón, Ino, Tiestes, Hércules, Psiquê e Sócrates. Sua sabedoria era como uma
chama que iluminava o mundo. O seu poder poderia contemplar uma fração do que
as Tecelãs do Destino criavam para o mundo. E na frente do local onde o Oráculo
se mantinha estava escrito uma das maiores verdades do mundo: conhece-te a ti
mesmo.
E era isso que eles teriam que fazer ali.
Quando se aproximavam da fogueira notaram uma sombra se
projetando de uma das colunas. Essa sombra possuía um manto negro com as bordas
em dourado, estava cheio de runas estranhas. De dentro do tecido surgia um par
de mãos pálidas e esquálidas. Era possível notar que estava nu debaixo do
manto, mesmo que não fosse possível ver direito sua forma pela escuridão do
lugar. Seus pés eram grandes e pareciam garras com a mesma brancura das mãos.
Ele andava arqueado, porém parecia medir dois metros facilmente. Não era uma
figura que se gostaria de encontrar sozinho.
Ele falou com a voz rouca como se uma faca atravessasse sua
garganta:
-Bem vindos, Federick de Salles, homem do trono de terras
distantes, Thror Tzorv, guerreiro e artífice da poli onde nasciam os
espartanos, Halphy Brown, ladina ardilosa e arcana de sangue sidhe, Hugo
Capeto, feiticeiro das terras romanas, Richard Naara, sacerdote das divindades
celtas, Lacktum Van Kristen, filho de nobres que busca vingança, e Gor, grande
guerreiro inglês que participou de varias guerras. Bem vindos.
Todos notaram o tom do sarcasmo que o homem usava para eles.
Mas não era momento para enfrentamentos. Eram necessárias respostas.
-Quem é você? – inquiriu Federick sem medo, como de costume.
-Ora, não sou eu a quem tanto procuram? Não foi por mim que
se deslocaram de Starten, no Reino da França, até Delfos? Sou o homem que fala
com as Bruxas do Tempo, as Senhoras Negras do Destino. Sou o Oráculo de Delfos.
Ninguém falou ou gesticulou um movimento. As chamas então
crepitaram com força como as chamas de um dragão. Ele continuou:
-Me acompanhem ao outro salão. Lá observarão algo que irá
criar uma noção do futuro.
-Mas... – tentou falar Lacktum.
-Me acompanheeem – disse com a voz arrastada e seria o
Oráculo.
Ele se arrastava , assim como sua voz, até o outro salão. Lá,
além do chão cheio de areia, havia seis estruturas esféricas apoiadas por duas
pernas de madeiras no solo. Havia ainda nelas molduras, e no seu centro, algo
que conseguia refletir as imagens de quem passava próximo delas. Quando mais próximo
das figuras, maior elas ficavam.
Lacktum já notara o que era.
-Já ouvi falar sobre isso. É um material criado pelos
sarracenos, feito a partir de areia. O chamam de vidro.
Enquanto todos adentravam o salão, com a finalidade de
observar os itens orientais, o Oráculo parecia se regozijar com algo
inexplicável. Ria sem motivos, era o que pensava boa parte do grupo.
-Também já ouvi falar, - Halphy completou, ignorando a
bizarra risada – e na verdade é uma substância solida. Ela possui a propriedade
de refletir e expandir imagens.
Do alto da escada via todos. Lacktum ignorava o próprio
reflexo, enquanto Halphy se olhava com prazer. Thror e Federick discutiam sobre
o tal material: o grego dizia que aquilo era magia antiga, enquanto o paladino
afirmava que não passava de uma criação de sarracenos com extrema perícia como
Lacktum acabará de explicar. E Richard e Hugo olhavam atentamente a tudo.
Os companheiros de viagem nem notaram a falta de Gor no
salão.
Foi então que Lacktum voltando ao seu habitual tom de superioridade
– que havia sumido devido ao pesadelo – gritou ao Oráculo.
-Qual o motivo de estarmos aqui? Por acaso esses objetos nos
revelarão o futuro? Não usei nenhuma magia de detecção nesse salão, mas tenho
quase certeza que aqui não reside nenhuma magia de adivinhação.
-Silêêênciooooo arcaaano! – gritou furioso o Oráculo de
Delfos – Se fosse tão sááábio saberia que esse lugaaaar não possui nenhuma
magia de adivinhação, mas sim de conjuração.
Foi então que Lacktum se deu conta. Olhou em direção aos objetos
esféricos e se deu conta de que a magia que foi colocada neles poderia ser
outra. Mas o que seria. Nesse instante colocou a mão no queixo pensativo. Ele
então notou coisas que o deixaram alarmado. Primeiro, viu runas nas molduras
que significavam duplicata e segundo, o reflexo no espelho não colocou a mão no
queixo.
-Vocêês passarão por um desafio antes de constaaatarem o
futuro.
-Saiam da frente dessas coisas seus tolos! – gritou furioso e
preocupado o arcano, sem nem notar que ele mesmo passara na frente de um – Há
magias preparadas neles!
Era tarde demais. Os tais espelhos começavam a vibrar como se
fossem as ondas de um rio ou de um mar bravio. Lacktum viu sua mão atravessando
as ondas do espelho. A mão de um Lacktum, igual em todos os detalhes físicos.
Halphy que se olhava atentamente tomou um susto que quase a
fez cair para trás. Em um momento, olhava o próprio rosto refletido no espelho,
em outro, a imagem de si mesma a encarava com ar de seria.
Federick e Thror se entreolharam por um instante, quando
viram seus rostos em outros seres que não eram eles... Exatamente.
Hugo e Richard, mais atentos se preparavam como uma dupla de
amigos que, até então, se mostravam ser. Enquanto Hugo ficava na frente,
estendo as mãos em concentração mágica para os reflexos, Richard preparava a
assistência no combate.
Os reflexos portavam os mesmo itens que os aventureiros.
Tinham as mesmas armas e pareciam manejar elas tão bem quanto seus donos
originais. Sendo reflexos era possível notar pequenas diferenças entre eles e
os jovens: em sua pele, eles tinham um tom acinzentado que contrastava com os
originais; seus modos e atitudes pareciam ser diametralmente opostos aos
originais. Até mesmo os rostos parecidos sempre mostravam suas diferenças em
sentimentos.
Enquanto Halphy mostrava um sorriso malicioso – mesmo
surpresa – e maligno, seu reflexo demonstrava seriedade e confiança ao apontar
a besta de mão. O mesmo ocorria com todos os outros.
O reflexo de Halphy atacou com sua besta. Dois virotes
chegaram próximo do pescoço. O que seria morte certa se tivesse a acertado.
Porém, Halphy nunca foi alguém de se entregar pelo susto e também usou a besta
de mão que possuía. Com isso acertou a perna de seu alvo.
O guerreiro grego foi um dos primeiros a sacar a espada. Mal
o oponente atacou e o sangue jorrou do falso Thror. O oponente riu de
satisfação do golpe, quase que com um mórbido prazer. E sacando a espada
gritou:
-Por Ares, sangue será derramado!
-É! – concordou Thror – E ele será seu por usar o nome de meu
deus em vão! Ele guia só os fortes e rígidos!
E desviando do ataque que vinha do alto feito pelo seu
reflexo, Thror aproveitou a brecha na luta e enfiou a espada na barriga do
oponente. O reflexo gemeu de dor e caiu ao chão, se tornando pó.
Já Lacktum, estava com olhos cheios de fúria. Preparava uma
magia se afastando do reflexo, quando este soltou:
-Create a
great deal of energy! Fiery enough get a life!
Com isso surgiu um raio de energia, como um chicote, na
direção de Lacktum. O golpe arcano não acertou em cheio o mago, mas mesmo assim
o feriu gravemente. Como uma resposta ao ataque, Lacktum soltou então sua magia:
-That art
becomes weapon for my victory. May your strength give me the real power.
O golpe acertou seu alvo, mas não foi fatal. Pois da palma da
mão de Lacktum, saltou uma pequena seta de pura energia metamágica. E como uma
pequena faca lançada no ar, atravessou o peito do inimigo, explodindo em uma
nuvem de energia.
Seu reflexo parecia que tinha olhos menos vingativos.
Pareciam ser bons, justos e sem raiva. Como se nunca tivessem sido corrompidos
pelo mal do passado de um Van Kristen. Tudo aquilo que o jovem arcano perdeu.
-Van Kristen! – disse a replica – Não prossiga com sua
vingança! Isso trará mais do que imagina...
-Eu vim de muito longe para voltar atrás! E se você realmente
possuir parte de minhas memórias, como parece, sabe muito bem disso! Nem eu
mesmo poderei parar o que esta para acontecer!
Enquanto isso, Hugo e Richard tinham tudo sob controle. O
primeiro preparava uma magia cuidadosamente, enquanto o segundo já conjurou uma
coruja para atrapalhar os oponentes refletidos. E quando estes os reflexos se
viram livres do animal voador, viram o ar ser riscado por uma faixa de luz
arcana.
-Saia da frente
Richard! Cio che emerge dalle me mie mani
magiche. Come un fiamma viva.
A chama tomou conta das mãos de Richard e preencheram o
espaço de suas cópias. Elas queimaram então com facilidade, sendo reduzido a
pó.
Federick era o mais aflito entre todos. Afinal, não derrotou
seu reflexo rapidamente como Thror ou poderia ser tão engenhoso como Hugo e
Richard. Ele estava com problemas em relação ao seu combate com o reflexo e já
havia sido ferido.
-Então príncipe – começou a falar rindo reflexo de Federick –
o que vai fazer? Desistir de combater? Vamos Federick... Não banque o bravo...
Não para mim... Ou já se esqueceu de seu irmãozinho?
Federick então segurou com tamanha firmeza sua espada, que
homem algum poderia lhe tirar a arma. Recitou então as seguintes palavras:
-Minha espada é a ruína do inimigo! Os demônios perecem sob
seu fio! Em nome de Cernunnos e Ceridween volte ao mundo que lhe pertence
criatura do mal!
Foi quando a lamina do paladino se encheu do brilho de sua
alma. Um brilho azul cálido e vibrante, como pequenas fadas na empunhadura da
arma cobriam toda ela. E então esse brilho riscou o corpo refletido, o
acertando em pleno ar.
O reflexo gritou. Sua dor era angustiante, mas ele parecia
possuir uma vitalidade única. Vitalidade essa, que fez a copia sobreviver ao
golpe destrutivo.
Halphy conseguiu enganar seu reflexo. No momento em que ele
viu a ladina original vindo em sua direção, se abaixou prontamente para não
sofrer o ataque preciso. Mas com um salto, a ladina obteve as costas de sua
inimiga livres para um golpe certeiro. Um golpe extremamente letal.
-Argh! – gritou o reflexo pela dor tremenda causada pelo
virote que Halphy segurava contra o seu pescoço – Não faça isso. Você ainda se
arrependerá de estar trilhando esse caminho.
-Quem se arrepende é fraco – falado isso, mais um deles se tornou
nada mais do que parte do chão do lugar – Bem mais um se foi. Faltam dois.
E era isso que Lacktum estava prestes a resolver. O arcano se
colocava numa pose de superioridade contra sua copia, apesar dos ferimentos.
Esfregando as mãos novamente preparava uma nova seta de energia, quando ouviu
seu reflexo recitar.
-Come to
me under the salamander. Powers of the elementals of fire defend me.
Então se viu surgir chamas das palmas do falso Lacktum. Uma
pequena chama que se tornou fogo vivo, na forma de um tufão que cobria uma boa
parte do salão. Quase atingindo outros no lugar. Mas diferente do arcano ruivo
ele se preocupava com a vida de seus companheiros. O reflexo foi bem sucedido
em termos, já que Lacktum foi realmente atingido, mas a língua de fogo só acertou
sua perna, o que significava que ainda tinha condições de lutar. O reflexo
então bateu as mãos como gesto para a magia cessar. Assim todas as chamas
sumiram, como se uma vela que acabou de se apagar.
Quando a luz do lugar diminuiu, o reflexo constatou como
tinha sido tolo. Ele não quis afetar os companheiros de Lacktum, mas acabou por
não reparar que o jovem mago preparava um ataque com a besta. O original tinha
satisfação no olhar.
-Te vejo no Inferno!
Novamente um virote zuniu pelo lugar. O peito da copia havia
sido trespassado pela seta, assim como uma espada atravessa tecido fino.
Lacktum viu seu reflexo cai ao chão se espatifando em vários pedaços e depois
se tornando pó puro. Então ele pode reparar na dor que afligia sua perna. Parte
do tecido havia se fixado na perna do arcano a devido alta temperatura da
magia. Ardia demais aquele golpe de fogo também.
-Maldito! – falava enraivecido o jovem enquanto colocava a
mão na queimadura.
Agora Thror iria ajudar Federick. O paladino continuava com
dificuldade em derrotar o oponente, pois o golpe que sofreu sangrava muito e o
deixava cada vez mais fraco. Quando o reflexo se preparava para golpear o
guerreiro sacro, sentiu o aço cortando em forma vertical, entre o ombro e a
cabeça. Quando isso ocorreu, foi possível ver que eles não tinham órgãos. Eles
eram puro reflexo, puro vidro.
Foi então que algo ocorreu: as criaturas refletidas começaram
a se esvanecer. Como se nunca estivessem estado ali. Mesmo aqueles que se
tornaram pequenos montes, como foi o caso da copia de Thror.
Quando o bater de armas terminou, os jovens aventureiros
puderam respirar aliviados. Todos colocavam suas armas em suas bainhas ou
aljavas, e reparavam o dano sofrido no combate. Foi realmente difícil uma
batalha contra eles mesmos.
O paladino Salles então foi agradecer ao grego Tzorv:
-Muito grato guerreiro! Nunca pensei que viria em meu
auxilio. Pensei que tivesse algum tipo de desavença comigo. Apesar de sermos
diferentes, como o reconheceu tão rápido?
-Hein!? – esbravejou o grego em uma careta mal feita – Hã!
Acho que foi pura sorte mesmo.
Federick se lembrou que não lidava com um espírito comum. Era
uma criatura que tinha na batalha seu maior prazer. Saiu de perto de Thror em
seguida. Ele ignorou o guerreiro da cicatriz por um bom depois disso.
[1] Energia
usada nas magias. Podem ser de origem arcana (que provém o poder através de sua
vontade) ou de origem divina (que é a energia cedida pelos deuses).
sexta-feira, 26 de outubro de 2012
(Parte 5) Capítulo Cinco: Pesadelo
No navio, Thror e Gor treinavam com pedaços de madeira. Assim
não se feririam de verdade. Mas mesmo assim, ambos precisavam mostra um ao outro
toda a força de seus corpos. Os homens apostavam em qual dos dois e Halphy
recolhia o dinheiro, é claro.
Após muita lutar, Gor venceu. E Halphy ganhou uma boa grana
com isso.
Os dois então se colocaram na beirada do navio suando como
dois cães que são atirados ao mar. Eles riam, como se ao invés de estarem
treinando, estarem passeando por um belo lugar. A ladina só pensou consigo
mesmo, que aquilo só poderia ser coisa de homens.
O guerreiro inglês então olhou para a cicatriz na cabeça de
Thror e perguntou:
-Onde arranjou essa marca homem?
-Não sei... Mas nunca pude reclamar dela. Pelo menos não dói.
-Só por não se lembrar de como a obteve não significa que
seja uma boa coisa. Feridas nunca são. Talvez quando você souber o motivo dessa
marca vai doer mais do que imagina.
-Mas pelo que meu pai me disse era boa sim.
-Seu pai?
-Sim, meu pai adotivo.
-Que coisa... E qual é seu nome?
-Orfeu.
-Como das antigas historias gregas – Gor ficou de costas para
o mar e continuou a falar – Você sabe que ele perdeu tudo que amava.
-Pensei que ele tivesse perdido só a mulher.
-Mas era isso que ele perdeu – se aproximando do grego, Gor
falou para ele – Algumas vezes, é bom não se lembrar de certas dores, e de onde
elas vieram.
Então, o inglês foi andando calmamente em direção ao seu
quarto. Halphy foi em direção do grego.
-Sabe que até que ele tem razão Tzorv. Se você não se lembra
do que ocorreu com você não ficará triste com as dores passadas. Viu só? Não é
de todo mal não ter memória de seu passado.
Thror se colocou na frente da jovem em um salto só. Parecia
ameaçador. Mesmo não sendo tão serio quando precisava.
-Se você tivesse um filho... Ou uma mãe que amasse muito... E
nunca soubesse dele ou dela... Até ser tarde demais, você se sentiria bem
assim?
A jovem se calou imediatamente.
O mago de sangue nórdico já estava acostumado ao navio, e o
seu vai-e-vem não incomodava mais seu estomago. Foi se deitar em sua cama
improvisada com a finalidade de assim ter uma boa noite de sono. Não foi o que
houve.
Ele nunca esteve ali, mas
reconhecia muito bem aquele lugar. Era um devaneio que sua mente criava, pois,
não era realmente seu castelo. Fragmentos de uma memória corrompida. A dor e o
sofrimento criaram aquela paisagem ilusória que lhe trazia tanto jubilo... E
trevas.
Era um dia que ele
conhecia bem. Um dia nublado, cheio de nuvens negras. Nuvens que pressagiavam o
fim dos tempos. Tempos felizes para Lacktum. Tempos em sua casa e terra natal.
Cada nuvem criava um temor no coração, pois ocorreu naquele chão, que escorreu
o sangue de inocentes.
Ele se lembra de sentir
a agonia no coração quando acordou. Como se alguém atravessasse uma lâmina em
seu peito, sem que ninguém tivesse adentrado o seu quarto. E essa arma
dilacerou seu coração como se acertasse os seus sentimentos por seu pai, por
sua mãe, sua irmã e sua amada. Aquilo que muitos chamavam de uma, agonia no
coração, mas que muito atendemos tarde demais.
Mesmo assim, despertou
pensando em ir até a casa de Lirah Lugarao’Céu. Colocou uma roupa bem simples
de passeio, com suas botas de couro surradas e o cinto que ganhou de presente
de seu pai. Parecia tão feliz, mas a agonia no coração o consumia. Seus pais
estavam bem: ele os havia visto a mesa de café. Quando passou por eles, sua mãe
soltou, com um sorriso resplandecente como o sol. Perguntou ao filho apressado,
aonde iria. Verei minha amada hoje e comerei em sua casa foi sua resposta
enquanto passava correndo pela sala. Enquanto isso, os pais riam pela atitude
frenética e feliz dos jovens amantes.
Era só sua alma
tentando lhe pregar uma peça. Seu mau agouro, sua agonia, não seriam nada. Ele
se espantava demais com historias de magos e bruxas, presságios e oráculos.
Seus pais estavam bem e com certeza veria o sorriso de sua amada rindo de seus
temores tolos.
Ele cantava enquanto
caminhava sobre a neve e a grama. O inverno estava se fortalecendo naquelas
terras, mas era primavera no coração de Lacktum. Seus pés amassavam a neve,
como crianças que correm fugindo das outras, como parte de uma brincadeira. Seu
rosto mal sentia o frio daquele lugar, enquanto atravessava o campo. Ele
cantava:
Oh, linda! Minha menina,
me dê a sua direção
Oh, linda! Minha pequenina,
me dê o seu coração
O sorriso da garota
fazia o sorriso dele dobrar o tamanho. Nem mesmo uma ninfa o faria esquecer
aquele rosto. Mesmo quando ela reclamava da franja natural em seu cabelo, ou
quando ele se emaranhava criando pequenos chofres em sua cabeça. Era como se
ele visse uma beleza natural, tal como um cavalo de pele branca saindo de um
bosque ou as águas límpidas e claras de um rio. Em seu coração só havia
primavera, trazida pela presença dela nesse mundo.
O campo já tinha sido
atravessado. Faltava pouco até encontrar Lirah. Ela não tinha grandes posses,
mas não se importava com isso. Menos ainda seus pais, amigos da família dela. O
que importava era acabar com a agonia em seu coração. O temor tolo que os
amantes sentem por puro amor.
Ele teria que subir a
colina e poderia ver a casa de sua amada. Aquela que trouxe primavera ao
coração do jovem nobre. Com dificuldade – mesmo para um rapaz – ele subiu a
colina com esforço, pensando em como seria recepcionado por Lirah.
Quando ele chegou ao
topo da colina... Seu coração se tornou inverno.
Sua visão mudou. Como sempre no mundo onírico,
nossa mente muda drasticamente. Com isso, nossa consciência dos fatos, de forma
aleatória. E por aqueles instantes, mesmo que seja algo real ou ficção, um
fragmento do passado ou criação bizarra da alma, é possível crer que esses
fatos são reais. E Lacktum odiava aquele pesadelo mais do que tudo na vida.
Ele viu o castelo,
agora em chamas. As nuvens negras lambiam o céu, com tons vermelhos e amarelos
provenientes do fogo que parecia vir das torres, mas para o jovem, vinham
direto do Inferno. Os casebres eram destruídos e consumidos bem mais rápido que
as torres do castelo. Surgiam gritos de crianças no meio das chamas, clamando
por piedade que não surgia.
Quem foi o demônio que
começou aquelas atrocidades? Qual o motivo de tantas mortes? Ele não recebia
respostas. Lacktum estava preso no meio do turbilhão que era o centro daquela
chacina.
As mulheres clamavam
que não tocassem em seus filhos. Elas eram ignoradas e além de terem seus
rebentos mortos, ou tomados de suas mãos, tinham seus corpos abusados pelos
saqueadores. Os velhos clamavam por suas famílias, ou suas vidas, em esforço
inútil. Mesmo os soldados não conseguiam enfrentar a força sobrenatural do
inimigo, esmigalhando as esperanças do jovem.
Lacktum estava amarrado
a um pedaço de madeira, de maneira a parecer crucificado. Suas pernas foram
feridas, o forçando a ajoelhar na neve que acabara de cair. Seu cabelo cobria
sua visão parcialmente, mas não impedia nem um pouco de ouvir os gritos e o
barulho ao seu redor. Ele preferia a morte ao invés daquilo.
Ele ouviu passos calmos
se aproximando. Pensou que poderia ser um anjo querendo o levar para o além,
mas descobriu que era o demônio que perpetrou tudo aquilo. O homem jogou ao
chão um volume esférico embrulhado em um saco de couro. Puxando o cabelo de
Lacktum, forçando a cabeça dele para trás, ele cochichou no ouvido do pobre
sofredor que o saco continha a cabeça de seu pai.
O rapaz não achou que
fosse verdade. Mas então notou que mesmo dentro do saco, vazava um liquido
negro sobre a neve. Ele notou que aquilo era sangue quando viu que não era
negro o tom na neve... Era vermelho escuro. Vermelho sangue.
Ele não agüentava mais
os gritos ensurdecedores de dor e sofrimento. Não conseguia mais olhar as cenas
demoníacas que foram forjadas ali.
Foi então que homens
trouxeram a mãe de Lacktum – cada um segurando os braços da jovem senhora –
completamente desacordada. Lacktum não achou que iriam o torturar tanto assim.
Arrastando a pobre mulher como um saco de batatas ele pedia clemência por ela.
Foi quando notou que o
homem iria cochichar novamente. Lacktum sentiu medo e ódio de ouvir aquelas
palavras que eram:
-Você é aquele quer irá
sofrer mais entre todos os do sangue Van Kristen, orgulhosos de seu poder!
Afinal, eu matei seu pai, torturarei sua mãe e irmã, mas você... Você viverá
para lembrar e sofrer.
Lacktum desperta no navio. Ele é forçado a acordar, depois de
um terrível pesadelo que remontava ao seu passado.
Foi quando segurou a adaga que recebeu de seu pai, próxima ao
peito, como se fosse uma lembrança boa. Engraçado como uma arma pode remontar a
um passado tão bom. Aquela arma foi um presente de seu pai para se proteger,
assim como seu brinco. Ele uma vez disse a Lacktum que quanto um homem o
matasse, a adaga iria brilhar como a luz de uma estrela, quando este se
aproximasse dele. Na época, Lacktum achava que seu pai era invencível. Como
pensamos, quando somos crianças.
Ele então colocou sob seus olhos, querendo impedir as
lagrimas. Então se lembrou rapidamente do dia em que a primavera se tornou
inverno. O inverno sumiu, mas deixou somente a escuridão que pairava sobre suas
lembranças.
O jovem mago se levantou. Chegou ao convés do navio. Olhando
para a costa grega que surgia na sua frente, recitou:
-Oh linda! Minha menina...
sexta-feira, 12 de outubro de 2012
(Parte 4) Capítulo Quatro: "Eu sou um passageiro..."
O pirata Joseph era conhecido por ser detentor de um talento
único com línguas. Por isso muitos o chamavam de Boas Línguas. O problema é que
muitos acreditavam que ele era um assassino terrível que tirava a língua de
suas vítimas. Por isso muitos acreditavam que ele era a mais terrível criatura
do mar mediterrâneo.
Mas existem lendas que falam sobre outras das habilidades do
navegador. Dizem que ele teria o poder de navegar muito mais rápido que
qualquer ser vivo pelas ondas do oceano através de magia negra. Alguns contam
que ele teria feito um pacto com uma entidade demoníaca que existia abaixo do
mar, outros, que ele encontrou a poção da vida eterna. O que poucos sabiam é que
na verdade Joseph havia feito sim um pacto, com uma temível bruxa que vivia
numa ilha pouco conhecida pelos humanos comuns.
Onde ela o conheceu, ou como se desenrolou isso não cabe a
essa história contar. Só saibam que esse pirata terá um papel importante na
vida desses heróis, pelo menos mais uma vez antes dela terminar.
Os dias em um navio eram bem diferentes do comum para boa
parte deles. Com raras exceções, como certo grego, muitos não se acostumaram
bem com a vida no mar. E ele gostava daqueles dias cheios de vida e cantorias.
Tanto que o próprio Thror gostava de cantar uma determinada canção:
Eu sempre serei um passageiro
Sempre serei aventureiro
Quem não quiser viajar
Nunca verá o mar
Eu sempre serei um passageiro
Sempre serei guerreiro
Quem não quiser navegar
Nunca saberá o que é amar
E muitos que o ouviam, queriam saber de onde ele escutou
aquela música. E Thror dizia de um navio antigo com um desenho de um olha a sua
frente. E uma palavra surge com isso na cabeça de Thror. Argos[1].
Eles nunca haviam subido num navio; ao menos alguns deles.
Halphy estava acostumada a viajar pelos mais diversos lugares, enquanto Thror,
não se lembrava de muita coisa a não ser que era de um parente distante dos
espartanos – mas sabia que viajar também estava em seu sangue. Richard e Hugo
se uniam em conversas longas sobre como era lindo o mar e que criaturas viviam
abaixo daquelas mágicas e misteriosas águas. Já Lacktum passara mal nos
primeiros dias e soltava constantemente o conteúdo de seu estomago no mar.
Lacktum tinha raízes nórdicas. Seu ancestral, Guilherme era
saxão, mas sua mulher era uma filha de viking. Portanto, acreditava que seu
sangue de marinheiro ressaltaria no mar. Ledo engano...
No navio os membros do grupo passaram cerca de três dias
procurando por um vislumbre do litoral. Sabiam que isso demoraria a acontecer,
mas não perdiam as esperanças que alguma coisa boa estava por vir. O grupo
também cometeu um ledo engano.
Em uma manhã, todos despertaram pelo barulho no convés.
Federick foi o primeiro, mesmo não sendo o único a despertar, chegando ao topo
das escadas mais rápido. Lacktum correu em seguida notando o movimento no
navio. Os outros foram despertando aos poucos, como se despertos de sonhos
bons.
Ao chegar próximo de Joseph, o paladino Federick, iria
perguntar o motivo do rebuliço quando notou no imenso mar azul, uma mancha
vermelha escura tão grande, que se poderia ver a léguas de distância.
-Pelos chifres de Cernunnos! – disse um espantado Federick –
De onde surgiu isso? É sangue não é?
-Calma lá, – disse Joseph, olhando de canto de olho para
Federick – estrangeiro louco! Não sabemos se é sangue mesmo! – Joseph então
dava voz de comando para que o navio contornasse a mancha, mas se aproximando o
bastante para verificar.
Pouco depois, o navio chegou ás bordas da mancha vermelha.
Joseph pediu uma bacia. Pegou uma corda, que achou no convés e amarrou na
pequena bacia que lhe cederam. Jogou em direção a mancha. Quando notou que
estava cheio, ergue sem ajuda alguma o pesado recipiente.
O mago inglês era o único que não olhava o fato com temor.
Ele mal conseguia olhar o fato, para dizer a verdade. Ele ainda vomitava vez ou
outra.
-Se fosse mulher - disse Halphy com um sorriso malicioso –
poderia imaginar algumas besteiras sobre você...
Os piratas ao redor riram, apesar da situação tensa em que se
encontravam
-Hã? – grunhiu o mago que acabara de soltar parte de seu café
da manhã ao mar.
Thror então inquiriu Joseph:
-O que isso capitão!
-Diga, isso é sangue ou não? – perguntou Federick aflito.
Joseph ignorou as perguntas, afundando a mão na bacia e
sorvendo um pouco daquela água avermelhada na boca. Era possível sentir um
gosto quase metálico na boca ao tomar daquela água. Olhou para os homens do
navio e os aventureiros, pronto para lhes dar o parecer sobre aquilo.
-Mexam esse navio – disse o capitão – o mais rápido possível.
Seja lá o que tenha causado isso, fez sangrar muitas pessoas ao ponto de
colocar uma mancha de sangue em pleno mar!
Com as palavras do capitão, os homens tomaram suas posições
como se tivessem fugindo de um lugar, onde acabaram de encontrar o demônio em
pessoa. Todos se espantavam com o ocorrido, mas só sete figuras se mantinham
olhando aquelas manchas.
-O que teria feito isso? – disse Halphy com a mão direita
sobre o próprio pescoço, como se tentasse desamarrar um nó invisível.
-Já ouvi lendas – começou Hugo a dizer – sobre serpentes
marinhas e terrores submersos na água, esperando para destruir navios que se
atrevem a navegar em seus territórios, ou quando, simplesmente se enfurecem com
algo. Ou até mesmo, os monstros criados pelas poderosas divindades que
controlam o mar e as águas. Dizem até que esse é o motivo de nenhum homem
conhecido cruzar os mares que ficam a Oeste.
Gor se senta como puxando lembranças de sua mente
embaralhada.
-Poucas vezes – disse em tom melancólico – sai de meu reino
natal. Muito menos, sai em alto mar. Isso era coisa de James e Galtran. Será
que já enfrentaram tal mal em suas vidas?
Todos estranhavam as palavras de Gor. Ele falava sobre as
pessoas que eles nunca ouviram antes. Mas já estavam se acostumando com os
pequenos devaneios do guerreiro inglês.
-Mas afinal, o que teria causado isso? Disse Federick
voltando ao assunto.
Todos se olharam com rostos de interrogação e medo. Foi então
que Lacktum falou algo que não tinham notado. Depois do último vômito, claro.
-Bem – disse se recompondo o mago – vocês repararam que
apesar da imensa mancha de sangue, não havia um corpo sequer na água? Pior que
isso – continuou com um tom um pouco mais forte – aquele sangue em pleno mar
era de pessoas em um navio grande. Onde esta o tal navio? Acho que o medo do
feiticeiro sobre males antigos no mar é justificado.
Ninguém se pronunciou sobre o que achava daquilo.
-Olhe – disse o jovem feiticeiro, dias depois – uma ilha
capitão!
-Se preparem para sermos abordados – disse Joseph comandando
seu navio.
-O que quer dizer com isso? – perguntou Halphy estranhando as
palavras do capitão.
-É isso mesmo capitão... Qual o problema?
Lacktum só conseguiu soltar um grunhido de vômito.
-Vocês logo vão saber.
Foi então que Halphy notou, ao lado do navio, um estranho
fluxo na água. Inicialmente, achou que fossem golfinhos. Já viajou de navios e
conhecia esses animais lindo que muitos achavam que fossem monstros. Mas foi
então que notou como eram desajeitados e granes as criaturas para serem seres
do mar.
Com um simples salto, os estranhos saltaram para dentro do
navio. Cada um em partes diferentes, como se fosse um ataque no navio Salva Ventos.
Mas não era.
As criaturas eram grandes e brutais. A pele de cada um estava
cheia de verrugas escuras e nojentas. Suas roupas que eram feitas de algas e
conchas sujas, traziam um ar de maresia. Seus cabelos negros eram desgrenhados
e sebosos. Cada um tinha uma lança que colocavam ao lado de seu corpo. Eles olhavam
muito bem ao seu redor.
Os companheiros que se uniram para essa viagem olhavam já se
preparavam, aos atos dos quatro seres. Lacktum e Halphy olhavam atentamente os
ogros.
Já ouviram falar em ogros. Criaturas dos contos infantis,
quase sempre simbolizavam maus costumes ou a crueldade inerente nos homens. O
que todos sabiam, é que ogros possuíam um instinto tribal. Gostavam de matar e
pilhar por diversão. E estranhamente esses ogros não atacaram, simplesmente
abordaram o navio.
Os marinheiros não esboçaram seque um sinal de agressividade
contra os suposto invasores. Mas sim estavam preocupados com o que estava para
acontecer.
Os guerreiros Thror e Federick, já estavam preparando para
sacar suas espadas. Lacktum começava a conjurar uma magia com as mãos estendidas.
Halphy se agitava com a adaga nas costas.
-Não ataquem – esbravejou Joseph aos aventureiros, estendendo
a mão que antes estava no timão – essas criaturas vieram vigiar o navio até a
ilha! Não se preocupem garotos!
Um dos ogros chegou até Joseph e começou a falar em uma
língua incompreensível. Os dois discutiram um tempo que parecia durar uma
eternidade. Por final, o primeiro pulou sozinho no mar.
Após isso, Joseph fez o navio atracar na ilha, num
improvisado cais de madeira.
A madeira era fraca, mas por algum motivo, agüentava os
grandes e pesados ogros em cima de seus alicerces. Uma ponte bem feita, apesar
de tudo. Era possível notar que a ilha pequena: do tamanho de um pequeno feudo
ou castelo. Possuía uma colina que terminava num arremedo de morro ou montanha.
Era possível ver um casebre naquela direção. E uma fumaça verde saindo de sua
chaminé.
Isso era possível ver corretamente por todos, exceto o
paladino Federick e o druida élfico Richard. Estes foram impedidos de sair do
navio, sem nem ao menos explicar. Eles foram impedidos de adentrar a ilha, sem
a companhia de seus amigos por especificação de Joseph. Os dois se recusavam a
deixar seus amigos adentrar a ilha, sem a companhia deles. Foi então que o
capitão pirata pediu a Thror que convencesse os amigos a permanecer no navio.
Mas o motivo era uma incógnita ainda.
-Eles não devem ver – começou Boas Línguas – o que a ilha
pede para aqueles que a descobrem.
Thror então, com uma ajuda providencial de Lacktum, convenceu
seus dois companheiros a se manterem no navio. Então, todos se dirigiram a
ilha, exceto o paladino e o druida.
Havia uma vasta vegetação até chegarem ao casebre. Porém,
quando se aproximavam da única construção visível da ilha, notaram um pequeno
altar no que seria um toco de árvore. Porém o centro do toco tinha inúmeras
manchas de sangue. Ele era velho e apodrecido, com um tom macabro, como se
fosse criar pernas a qualquer momento. A vegetação ali era mais rala, tinha um
tom verde escuro e não possuía flores.
Do casebre surgia uma figura negra coberta por um manto preto
com detalhes nas mangas em um dourado fraco. Mau era possível ver seu rosto,
quanto mais suas mãos. Já seus pés eram visivelmente deformados: longos e
grandes, pareciam constituídos por escamas. Era possível confundir aqueles pés
com as patas dianteiras de algum lagarto de grande porte. Ela aproximava com um
cheiro de maresia, e de seu manto, surgia água que escorria em direção do solo.
A figura negra começou a falar mais como um guincho do que
uma voz de verdade.
-Tragam o sacrifício adequado, homens de Joseph.
Quando Halphy e Lacktum ouviram sobre o sacrifício, seus
rostos mostraram que captaram o motivo de deixar o druida e o paladino no
navio. Aquela mulher devia se uma bruxa, e como as lendas contam para conceder
um favor elas exigem em compensação um tributo, um sacrifício. Mas que
sacrifício seria concedido a essa bruxa marinha pelo pacto que fizeram? E que
favor foi feito para Joseph para ter de sacrificar – fosse o que fosse –
naquela maldita ilha?
Foi então que todos viram que os marinheiros traziam uma
caixa que se balançava muito, e de seu interior surgia um gemido de um animal.
O som parecia aumentar cada vez que se aproximava do profano altar. Thror já
tinha noção que se tratava de um bode, quando a estrutura de madeira chegou aos
pés da bruxa. O grego só não tinha certeza se o bode gritava por medo do lugar,
ou talvez, que a pobre criatura já tenha se conscientizado o que iria
acontecer.
A caixa aberta mostrava o pobre animal se debatendo contra a
força excessiva dos marinheiros. O pobre bode gemia, mas era inútil para os
ouvidos e corações dos homens do mar. Ele seria a oferenda de um sacrifício.
Todos olhavam com expectativa. Enquanto Halphy colocava as
mãos sobre os olhos, Thror olhava com indignação o ato vil para com o animal.
Gor fitava a cena com raiva, colocando a mão na arma, como se impedindo que a
lâmina, encontrasse o pescoço da figura encapuzada. Só Hugo e Lacktum
permaneciam impassíveis a cena, como se acostumados. Realmente, não estavam
confortáveis com aquilo, mas já conhecia os ritos das religiões pagãs. Sangue e
vísceras eram cenas comuns entres os pagãos sem cultura, pensavam eles.
O arremedo de mulher segurou a cabeça do animal com uma força
tremendo, mesmo para uma criatura tão curvada, e aparentemente, velha como ela.
Em seguida, como se quebrasse um graveto velho e fraco, ela desloca o pescoço
do pobre animal com a força de um único punho. Continuando seu rito profano, a
figura arrasta o pequeno corpo no altar, como se joga um saco de alimentos ou
bugigangas, deixando seu pescoço dependurado sobre a mesa do holocausto. Por
último, com suas mãos com dedos que lembravam lâminas, cortava a carne do bode
e consumia os fluidos internos da pobre criatura. Era como se bebesse de uma
fonte de água límpida. Mas aquilo era sangue.
Ela então fitou rapidamente, Joseph.
-Você já cumpriu seu dever dessa vez Joseph – disse a figura,
retirando seu capuz. Foi então possível ver que ela não era velha, como
esperavam. Na verdade era uma jovem moça. Ao menos simulava ser nova, alguns
pensavam, parecendo beirar seus vinte verões de vida, no máximo.
-Muito bem – disse Joseph com tom baixo, quase triste – nosso
acordo esta cumprido por esse ano.
-Uma noite se passará e encontrará as costas gregas em
segurança.
Thror ficou confuso. Navegavam pelo mar do norte da França, e
mesmo que estivessem em grande velocidade e não soubesse muito sobre navegação,
tinha certeza que demoraria mais que um dia para chegarem até as terras dos
deuses olímpicos.
-Que a Arte[2]
obscura o acompanhe, Boas Línguas – disse a jovem bruxa.
Gor notou então que Joseph virava as costas com pressa, como
se quisesse fugir da ilha o mais rápido possível. Ele não queria ver mais o
corpo do animal estendido no altar de madeira. Muito menos, a agora, jovem
bruxa.
Diga Joseph – perguntou o jovem Lacktum intrigado – afinal,
para que serviu tudo aquilo? Quem é a aquela bruxa? Qual o motivo de viver
aqui, isolada? Qual sua ligação com ela? E afinal, que ilha é essa?
-Bem – o capitão tentava trazer a tona varias memórias –
aquele foi o rito daquela mulher macabra que ajudo a cumprir todo o ano. O nome
dela é Angélica, e ela é denominada como uma bruxa do mar; criaturas que
entregam seus espíritos aos demônios ou senhores das águas e dos oceanos. Essa
ilha já foi morada de um poderoso cavaleiro caído. Kalic Benton, se me lembro
bem do nome dele. Toda ela emana energia negativa que pode ser usada para
controlar uma pequena fração do tempo e espaço, por isso, amanhã de manhã
estaremos no litoral grego. Eu descobri a ilha... Por acidente... Pelas minhas
navegações! A bruxa me concede a habilidade de viajar mais rápido com meu navio
desde que eu sacrifique um animal que ela me pede. Normalmente esta em lugares
difíceis de chegar e que ela exige que sejam exatamente aqueles! E – por fim –
fazendo esse sacrifício ela obtém algo que ela chama de mana, que nunca
compreendi direito, mas a ajuda ficar jovem novamente.
Lacktum compreendeu tudo. E até mesmo que Joseph se negou a
responder uma das perguntas: qual a ligação do capitão com a bruxa do mar,
Angélica. Parecia haver algo a mais nessa história. Apesar de que, o vinculo
poderia ser qualquer um. Mas fosse o que fosse não seria algo bom.
Mal sabiam que aquela ilha seria uma peça do destino deles.
Mas por enquanto, o druida e o paladino esperavam o grupo no navio. Halphy
olhava em direção do mar, tentando esquecer por instantes o que vira minutos
antes e o resto do grupo acompanhava o capitão, junto dos marinheiros.
Lacktum se perguntava se veria novamente a ilha.
Ele iria preferir ver, se soubesse o que aconteceria. Parte de seu futuro
estava nela.
[1]
Existiria nas lendas gregas dois Argos: um deles era um monstro com cem olhos
que servia a Hera. O outro seria a embarcação ao qual Teseu se lançou ao mar
com seus companheiros atrás do Velocino de Ouro. Havia vários heróis presentes
no navio, entre eles o próprio Hercules. Por conta do nome do navio os seus
ocupantes eram chamados de Argonautas.
[2]
Esta referindo a magia com a Arte. Arte obscura seria referente a magia negra.
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