O navio havia atracado em um pequeno porto. Esse porto ficava
perto de Delfos, antiga cidade que havia se unido com Esparta muitos séculos
atrás na famosa Liga do Peloponeso, contra a Confederação de Delos. Mas não era
isso que fazia o grupo ter chegado até aquele lugar.
Várias são as lendas que ditam sobre um homem em Delfos – ou
algo parecido com um homem – que podia ouvir as Moiras e as tramas que elas
faziam com o destino a seu bel prazer, com a finalidade de conceder um lampejo
do futuro. Futuro quase sempre incerto ou com um mal incrustado.
Mas naquele momento, não era hora de pensar no futuro, mas
sim momento para despedidas.
-Bem, - começou Joseph Boas Línguas com um rosto pesaroso – acho que isso é um até logo, não é?
-Bem, - começou Joseph Boas Línguas com um rosto pesaroso – acho que isso é um até logo, não é?
-É – disse Halphy que demorou a continuar a frase, caçando as
palavras – Acho que nos separamos até que o destino resolva nos unir novamente.
-Espero mesmo que o destino nos uma Halphy, - completou Gor –
mas que nunca mais passemos novamente por aquela ilha. Perdão. Ah e tome seu
pagamento – foi então que o inglês concedeu mais cinco gemas vermelhas, como
aquela que concedeu ao capitão nas docas.
-Vocês que devem me perdoar. Mas saibam que se eu pudesse...
Também não passaria naquela ilha. De qualquer forma... Au revoir!
E então, Joseph colocando os pequenos mais valiosos rubis no
seu casaco de capitão, se virou em direção ao navio. Sua imagem em nenhum
momento pareceu ser de um homem mórbido, pensaram os membros do grupo. Mais
parecia alguém muito justo que se via forçado a uma situação que nunca quis
estar. Por isso, pensaram os jovens, que talvez fosse o motivo de se sujeitar a
aqueles ritos macabros.
Após tudo que passaram, chegariam à pequena vila costeira. No
porto, estavam Gor, Halphy, Federick e Hugo. Thror tinha se adiantado por algum
motivo. E Lacktum demorou a se unir ao grupo com um rosto de poucos amigos.
Parecia não estar bem desde ontem, graças a um pesadelo que foi audível por
todo o navio. Ele não sabia, nem foi comentado por bondade dos membros do grupo
que gritava enquanto sonhava. Não havia muito que qualquer um dentro da
embarcação poderia fazer por ele.
Lacktum tremia muito como se tivesse presenciado cenas
terríveis, o que não estava longe da verdade. Mas querendo ignorar tudo da
noite anterior, se manteve firme na direção dos companheiros.
-Onde esta Thror? – disse Lacktum, querendo parecer melhor.
Thror olhava em direção a uma colina, que nunca tinha visto,
pensava ele. Porém, foi como em Starten. Ao mesmo tempo em que ele achava que
não conhecia o lugar, algo em sua alma o trazia memórias fracas que logo
desapareciam. Como nuvens de chuva. Era como, lembrar de algo, sem nem ao menos
ter vivido aquilo.
A colina era íngreme, e árdua seria a escalada. Mas o grego
acreditava que para si, não deveria ser difícil subir. Por incrível que
parecesse, ele acreditava saber o que esperar. Ou ao menos achava.
Lá deveria estar o Oráculo de Delfos.
Os companheiros perguntavam na vila, se alguém sabia do
Oráculo. A iniciativa foi de Federick. Lacktum iria começar a rir das atitudes
do paladino, quando houve uma resposta positiva de uma mulher no meio daquela
vila pequena. Ele sabia falar grego.
Federick era o único que sabia falar aquele idioma, além de
Thror é lógico. Por isso mesmo, Gor perguntou o que a mulher falava.
-Ela disse que naquela colina fica o Oráculo. Mas é perigoso
pelo que sabe. Afinal, ninguém nunca voltou de lá.
-Não deve ser tão perigoso, - comentou Gor – se comparado ao
que sofremos em combates até agora.
-Bem, ela só quis avisar.
-Observem - disse Hugo apontando na direção da colina – Thror
realmente se adiantou.
Olhavam um Thror atônito, que se fixava com o olhar na
direção da colina. Ele tremia como uma caça diante seu predador fitando seus
olhos sem compaixão, mas com extrema fome. Mas se Thror era o caçado, quem era
o caçador?
Richard se aproximou, acolhendo em um abraço o guerreiro.
-Pode me dizer, o que te aflige grego?
-Eu não sei...
Federick, que passava por eles, ignorou as palavras de Thror,
achando que aquilo poderia ser um medo infantil de alturas. E medo não era algo
proveniente na alma de um servo de Cernunnos.
Os aventureiros, próximos a colina se encontravam e começaram
a subir. Era mais íngreme do que imaginavam. Mas mesmo com esses problemas,
conseguiam subir o lugar. Haviam vários espaços, feitos na parede, que foram
usados para subir o enorme paredão que surgia diante deles. Com certeza, feitos
por aventureiros anteriores.
Gor subiu primeiro, sem nenhuma armadura. Sabia como escalar
aquelas formações muito bem, apesar de falar que não treinava escalar fazia
muito tempo. O que muitos notavam era a felicidade do guerreiro subindo o
lugar. Os outros tentavam subir com dificuldade, seguindo seus passos na
formação rochosa. Mas era difícil. Gor se movimentava com rapidez como uma
aranha fixada em uma parede. Enquanto isso, o teimoso Thror insistia em subir
de armadura todo o paredão. Era engraçado ver as tentativas do grego sendo
frustradas pelo peso da proteção que carregava nas costas e pelas pedras que se
soltavam. Os outros eram auxiliados por Gor, que dizia que pelo menos o resto
do grupo não era tão teimoso. Ainda assim, a dificuldade persistia.
Em certo momento, Federick quase caiu de uma boa altura. Mas
então Gor estendeu sua mão esquerda, sendo que com a direita, segurava
firmemente a corda.
-Arggh! Peguei – disse Gor usando sua força para segurar
Federick – Mas fique atento. Não vou estar aqui o tempo todo.
Federick tentou se colocar ao lado de Gor no paredão de pedra
que havia se tornado aquele lugar. Apoiado nas pedras, o paladino se segurou e
pediu desculpas ao guerreiro inglês.
-Não sou acostumado – disse o cavaleiro sacro – Isso não é
função de um paladino.
-É melhor se acostumar. Se lembre que muitas pessoas dependem
do que faremos no topo dessa colina.
Gor então voltou a subir com a mesma facilidade de antes.
Deveria ser muito experiente, pensou Federick, para reagir daquele modo,
naquela situação. Não sabia muito pelo que seu mestre comentou, sobre ele.
Queria ser, pensou o paladino, um pouco parecido com ele.
Enquanto todos subiam, o guerreiro grego esperava o auxilio.
Depois de tantas tentativas, ele decidiu tirar a armadura. Ele enfim notou que
era pesada demais. Mas até então, se machucou muito.
Por fim, o grupo se encontrava finalmente no topo da colina.
Lá eles contemplavam o local onde se encontrava o Oráculo de Delfos.
Era bonito todo o lugar que viam. Várias colunas de mármore
sustentavam uma estrutura de mesmo material. As colunas são bem espaçadas entre
si e no centro da construção, no que seria o teto, havia um buraco de forma
retangular que permitia a visão do céu. Havia escadas que desciam ao centro do
lugar, que terminava em um terreno arenoso no qual havia uma enorme fogueira
bem preparada, que crepitava e atingia as nuvens daquele dia nublado, com sua
fumaça, brasas, labaredas e cinzas. Era possível sentir que a Arte era forte
naquele lugar.
Lacktum moveu os braços em forma circular, arrastando linhas
arcanas como se limpasse algo no ar. Ele então proferiu, calmamente, palavras
mágicas:
-Show me the truth here. I reveal the Art in the air.
Nesse momento, Lacktum sentiu que o local emanava uma aura de
adivinhação, tão forte, que ele mal agüentou a força que exalava. Sua
concentração foi logo quebrada e a magia dissipada.
-Esse local, emana muito mana[1]!
Demais para ser sincero...
-Bem nada vai acontecer – começou Thror – se ficarmos parados
aqui.
Eles desceram os degraus e viram mais de perto a fogueira. E
o grupo descendo as escadas, extasiado por toda a magnitude do lugar, ninguém
notava que Gor dores que o faziam o andar com dificuldade. Ele notara aquilo
precocemente: conhecia aquela sensação, como se sua cabeça quisesse mostrar que
alguém estava ali. Alguém conhecido.
As lendas antigas contam sobre esses homens. Os oráculos.
Homens que através dos deuses mais poderosos das antiguidades conseguiam os
verdadeiros o tempo e espaço. Tão poderosos que superavam os poderes dos deuses
comuns. Mas normalmente são tratados como mulheres. Para nós mortais, são
conhecidas como Passado, Presente e Futuro. Em cada cultura eram nomeadas de
outras maneiras. Elas eram chamadas de Moiras, Parcas, Nornas, Bruxas, Fúrias,
Irmãs, Tecelãs do Destino, Juizas, entre outros nomes. E em algumas culturas
possuem até nomes. Os gregos concediam os nomes de Cloto, Láquesis e Átropos.
Entre os nórdicos eram chamadas de Urd, Verdandi e Skuld. E mesmo sendo de
culturas diferentes elas representam praticamente a mesma coisa: passado, presente
e futuro.
Alguns homens que se entregavam a contemplar as forças
astrais se tornavam poderosos oráculos para guiar os homens em seus caminhos de
vida. Entre alguns nomes estavam Tiresias, o adivinho cego, ou Calcas, o homem
que morreu de tanto rir. Mas um dos mais famosos se chamava o Oráculo de
Delfos. Tão poderoso que influenciou figuras das lendas e histórias gregas como
Alcmeón, Ino, Tiestes, Hércules, Psiquê e Sócrates. Sua sabedoria era como uma
chama que iluminava o mundo. O seu poder poderia contemplar uma fração do que
as Tecelãs do Destino criavam para o mundo. E na frente do local onde o Oráculo
se mantinha estava escrito uma das maiores verdades do mundo: conhece-te a ti
mesmo.
E era isso que eles teriam que fazer ali.
Quando se aproximavam da fogueira notaram uma sombra se
projetando de uma das colunas. Essa sombra possuía um manto negro com as bordas
em dourado, estava cheio de runas estranhas. De dentro do tecido surgia um par
de mãos pálidas e esquálidas. Era possível notar que estava nu debaixo do
manto, mesmo que não fosse possível ver direito sua forma pela escuridão do
lugar. Seus pés eram grandes e pareciam garras com a mesma brancura das mãos.
Ele andava arqueado, porém parecia medir dois metros facilmente. Não era uma
figura que se gostaria de encontrar sozinho.
Ele falou com a voz rouca como se uma faca atravessasse sua
garganta:
-Bem vindos, Federick de Salles, homem do trono de terras
distantes, Thror Tzorv, guerreiro e artífice da poli onde nasciam os
espartanos, Halphy Brown, ladina ardilosa e arcana de sangue sidhe, Hugo
Capeto, feiticeiro das terras romanas, Richard Naara, sacerdote das divindades
celtas, Lacktum Van Kristen, filho de nobres que busca vingança, e Gor, grande
guerreiro inglês que participou de varias guerras. Bem vindos.
Todos notaram o tom do sarcasmo que o homem usava para eles.
Mas não era momento para enfrentamentos. Eram necessárias respostas.
-Quem é você? – inquiriu Federick sem medo, como de costume.
-Ora, não sou eu a quem tanto procuram? Não foi por mim que
se deslocaram de Starten, no Reino da França, até Delfos? Sou o homem que fala
com as Bruxas do Tempo, as Senhoras Negras do Destino. Sou o Oráculo de Delfos.
Ninguém falou ou gesticulou um movimento. As chamas então
crepitaram com força como as chamas de um dragão. Ele continuou:
-Me acompanhem ao outro salão. Lá observarão algo que irá
criar uma noção do futuro.
-Mas... – tentou falar Lacktum.
-Me acompanheeem – disse com a voz arrastada e seria o
Oráculo.
Ele se arrastava , assim como sua voz, até o outro salão. Lá,
além do chão cheio de areia, havia seis estruturas esféricas apoiadas por duas
pernas de madeiras no solo. Havia ainda nelas molduras, e no seu centro, algo
que conseguia refletir as imagens de quem passava próximo delas. Quando mais próximo
das figuras, maior elas ficavam.
Lacktum já notara o que era.
-Já ouvi falar sobre isso. É um material criado pelos
sarracenos, feito a partir de areia. O chamam de vidro.
Enquanto todos adentravam o salão, com a finalidade de
observar os itens orientais, o Oráculo parecia se regozijar com algo
inexplicável. Ria sem motivos, era o que pensava boa parte do grupo.
-Também já ouvi falar, - Halphy completou, ignorando a
bizarra risada – e na verdade é uma substância solida. Ela possui a propriedade
de refletir e expandir imagens.
Do alto da escada via todos. Lacktum ignorava o próprio
reflexo, enquanto Halphy se olhava com prazer. Thror e Federick discutiam sobre
o tal material: o grego dizia que aquilo era magia antiga, enquanto o paladino
afirmava que não passava de uma criação de sarracenos com extrema perícia como
Lacktum acabará de explicar. E Richard e Hugo olhavam atentamente a tudo.
Os companheiros de viagem nem notaram a falta de Gor no
salão.
Foi então que Lacktum voltando ao seu habitual tom de superioridade
– que havia sumido devido ao pesadelo – gritou ao Oráculo.
-Qual o motivo de estarmos aqui? Por acaso esses objetos nos
revelarão o futuro? Não usei nenhuma magia de detecção nesse salão, mas tenho
quase certeza que aqui não reside nenhuma magia de adivinhação.
-Silêêênciooooo arcaaano! – gritou furioso o Oráculo de
Delfos – Se fosse tão sááábio saberia que esse lugaaaar não possui nenhuma
magia de adivinhação, mas sim de conjuração.
Foi então que Lacktum se deu conta. Olhou em direção aos objetos
esféricos e se deu conta de que a magia que foi colocada neles poderia ser
outra. Mas o que seria. Nesse instante colocou a mão no queixo pensativo. Ele
então notou coisas que o deixaram alarmado. Primeiro, viu runas nas molduras
que significavam duplicata e segundo, o reflexo no espelho não colocou a mão no
queixo.
-Vocêês passarão por um desafio antes de constaaatarem o
futuro.
-Saiam da frente dessas coisas seus tolos! – gritou furioso e
preocupado o arcano, sem nem notar que ele mesmo passara na frente de um – Há
magias preparadas neles!
Era tarde demais. Os tais espelhos começavam a vibrar como se
fossem as ondas de um rio ou de um mar bravio. Lacktum viu sua mão atravessando
as ondas do espelho. A mão de um Lacktum, igual em todos os detalhes físicos.
Halphy que se olhava atentamente tomou um susto que quase a
fez cair para trás. Em um momento, olhava o próprio rosto refletido no espelho,
em outro, a imagem de si mesma a encarava com ar de seria.
Federick e Thror se entreolharam por um instante, quando
viram seus rostos em outros seres que não eram eles... Exatamente.
Hugo e Richard, mais atentos se preparavam como uma dupla de
amigos que, até então, se mostravam ser. Enquanto Hugo ficava na frente,
estendo as mãos em concentração mágica para os reflexos, Richard preparava a
assistência no combate.
Os reflexos portavam os mesmo itens que os aventureiros.
Tinham as mesmas armas e pareciam manejar elas tão bem quanto seus donos
originais. Sendo reflexos era possível notar pequenas diferenças entre eles e
os jovens: em sua pele, eles tinham um tom acinzentado que contrastava com os
originais; seus modos e atitudes pareciam ser diametralmente opostos aos
originais. Até mesmo os rostos parecidos sempre mostravam suas diferenças em
sentimentos.
Enquanto Halphy mostrava um sorriso malicioso – mesmo
surpresa – e maligno, seu reflexo demonstrava seriedade e confiança ao apontar
a besta de mão. O mesmo ocorria com todos os outros.
O reflexo de Halphy atacou com sua besta. Dois virotes
chegaram próximo do pescoço. O que seria morte certa se tivesse a acertado.
Porém, Halphy nunca foi alguém de se entregar pelo susto e também usou a besta
de mão que possuía. Com isso acertou a perna de seu alvo.
O guerreiro grego foi um dos primeiros a sacar a espada. Mal
o oponente atacou e o sangue jorrou do falso Thror. O oponente riu de
satisfação do golpe, quase que com um mórbido prazer. E sacando a espada
gritou:
-Por Ares, sangue será derramado!
-É! – concordou Thror – E ele será seu por usar o nome de meu
deus em vão! Ele guia só os fortes e rígidos!
E desviando do ataque que vinha do alto feito pelo seu
reflexo, Thror aproveitou a brecha na luta e enfiou a espada na barriga do
oponente. O reflexo gemeu de dor e caiu ao chão, se tornando pó.
Já Lacktum, estava com olhos cheios de fúria. Preparava uma
magia se afastando do reflexo, quando este soltou:
-Create a
great deal of energy! Fiery enough get a life!
Com isso surgiu um raio de energia, como um chicote, na
direção de Lacktum. O golpe arcano não acertou em cheio o mago, mas mesmo assim
o feriu gravemente. Como uma resposta ao ataque, Lacktum soltou então sua magia:
-That art
becomes weapon for my victory. May your strength give me the real power.
O golpe acertou seu alvo, mas não foi fatal. Pois da palma da
mão de Lacktum, saltou uma pequena seta de pura energia metamágica. E como uma
pequena faca lançada no ar, atravessou o peito do inimigo, explodindo em uma
nuvem de energia.
Seu reflexo parecia que tinha olhos menos vingativos.
Pareciam ser bons, justos e sem raiva. Como se nunca tivessem sido corrompidos
pelo mal do passado de um Van Kristen. Tudo aquilo que o jovem arcano perdeu.
-Van Kristen! – disse a replica – Não prossiga com sua
vingança! Isso trará mais do que imagina...
-Eu vim de muito longe para voltar atrás! E se você realmente
possuir parte de minhas memórias, como parece, sabe muito bem disso! Nem eu
mesmo poderei parar o que esta para acontecer!
Enquanto isso, Hugo e Richard tinham tudo sob controle. O
primeiro preparava uma magia cuidadosamente, enquanto o segundo já conjurou uma
coruja para atrapalhar os oponentes refletidos. E quando estes os reflexos se
viram livres do animal voador, viram o ar ser riscado por uma faixa de luz
arcana.
-Saia da frente
Richard! Cio che emerge dalle me mie mani
magiche. Come un fiamma viva.
A chama tomou conta das mãos de Richard e preencheram o
espaço de suas cópias. Elas queimaram então com facilidade, sendo reduzido a
pó.
Federick era o mais aflito entre todos. Afinal, não derrotou
seu reflexo rapidamente como Thror ou poderia ser tão engenhoso como Hugo e
Richard. Ele estava com problemas em relação ao seu combate com o reflexo e já
havia sido ferido.
-Então príncipe – começou a falar rindo reflexo de Federick –
o que vai fazer? Desistir de combater? Vamos Federick... Não banque o bravo...
Não para mim... Ou já se esqueceu de seu irmãozinho?
Federick então segurou com tamanha firmeza sua espada, que
homem algum poderia lhe tirar a arma. Recitou então as seguintes palavras:
-Minha espada é a ruína do inimigo! Os demônios perecem sob
seu fio! Em nome de Cernunnos e Ceridween volte ao mundo que lhe pertence
criatura do mal!
Foi quando a lamina do paladino se encheu do brilho de sua
alma. Um brilho azul cálido e vibrante, como pequenas fadas na empunhadura da
arma cobriam toda ela. E então esse brilho riscou o corpo refletido, o
acertando em pleno ar.
O reflexo gritou. Sua dor era angustiante, mas ele parecia
possuir uma vitalidade única. Vitalidade essa, que fez a copia sobreviver ao
golpe destrutivo.
Halphy conseguiu enganar seu reflexo. No momento em que ele
viu a ladina original vindo em sua direção, se abaixou prontamente para não
sofrer o ataque preciso. Mas com um salto, a ladina obteve as costas de sua
inimiga livres para um golpe certeiro. Um golpe extremamente letal.
-Argh! – gritou o reflexo pela dor tremenda causada pelo
virote que Halphy segurava contra o seu pescoço – Não faça isso. Você ainda se
arrependerá de estar trilhando esse caminho.
-Quem se arrepende é fraco – falado isso, mais um deles se tornou
nada mais do que parte do chão do lugar – Bem mais um se foi. Faltam dois.
E era isso que Lacktum estava prestes a resolver. O arcano se
colocava numa pose de superioridade contra sua copia, apesar dos ferimentos.
Esfregando as mãos novamente preparava uma nova seta de energia, quando ouviu
seu reflexo recitar.
-Come to
me under the salamander. Powers of the elementals of fire defend me.
Então se viu surgir chamas das palmas do falso Lacktum. Uma
pequena chama que se tornou fogo vivo, na forma de um tufão que cobria uma boa
parte do salão. Quase atingindo outros no lugar. Mas diferente do arcano ruivo
ele se preocupava com a vida de seus companheiros. O reflexo foi bem sucedido
em termos, já que Lacktum foi realmente atingido, mas a língua de fogo só acertou
sua perna, o que significava que ainda tinha condições de lutar. O reflexo
então bateu as mãos como gesto para a magia cessar. Assim todas as chamas
sumiram, como se uma vela que acabou de se apagar.
Quando a luz do lugar diminuiu, o reflexo constatou como
tinha sido tolo. Ele não quis afetar os companheiros de Lacktum, mas acabou por
não reparar que o jovem mago preparava um ataque com a besta. O original tinha
satisfação no olhar.
-Te vejo no Inferno!
Novamente um virote zuniu pelo lugar. O peito da copia havia
sido trespassado pela seta, assim como uma espada atravessa tecido fino.
Lacktum viu seu reflexo cai ao chão se espatifando em vários pedaços e depois
se tornando pó puro. Então ele pode reparar na dor que afligia sua perna. Parte
do tecido havia se fixado na perna do arcano a devido alta temperatura da
magia. Ardia demais aquele golpe de fogo também.
-Maldito! – falava enraivecido o jovem enquanto colocava a
mão na queimadura.
Agora Thror iria ajudar Federick. O paladino continuava com
dificuldade em derrotar o oponente, pois o golpe que sofreu sangrava muito e o
deixava cada vez mais fraco. Quando o reflexo se preparava para golpear o
guerreiro sacro, sentiu o aço cortando em forma vertical, entre o ombro e a
cabeça. Quando isso ocorreu, foi possível ver que eles não tinham órgãos. Eles
eram puro reflexo, puro vidro.
Foi então que algo ocorreu: as criaturas refletidas começaram
a se esvanecer. Como se nunca estivessem estado ali. Mesmo aqueles que se
tornaram pequenos montes, como foi o caso da copia de Thror.
Quando o bater de armas terminou, os jovens aventureiros
puderam respirar aliviados. Todos colocavam suas armas em suas bainhas ou
aljavas, e reparavam o dano sofrido no combate. Foi realmente difícil uma
batalha contra eles mesmos.
O paladino Salles então foi agradecer ao grego Tzorv:
-Muito grato guerreiro! Nunca pensei que viria em meu
auxilio. Pensei que tivesse algum tipo de desavença comigo. Apesar de sermos
diferentes, como o reconheceu tão rápido?
-Hein!? – esbravejou o grego em uma careta mal feita – Hã!
Acho que foi pura sorte mesmo.
Federick se lembrou que não lidava com um espírito comum. Era
uma criatura que tinha na batalha seu maior prazer. Saiu de perto de Thror em
seguida. Ele ignorou o guerreiro da cicatriz por um bom depois disso.
[1] Energia
usada nas magias. Podem ser de origem arcana (que provém o poder através de sua
vontade) ou de origem divina (que é a energia cedida pelos deuses).
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