sábado, 19 de setembro de 2015

(Parte 41) Ruínas assombradas



Ela despertou em um lugar que conhecia bem. Cheio de sombras e crueldade. Onde antes havia um espelho, sabia bem. Agora surgiam olhares de desaprovação e maldade. Um inimaginável ninho de cobras perigosas. Se estivesse bem, e não sendo tratada como uma traidora chamaria o lugar como lar. Mas aquele era o castelo de Sinestro.
Halphy estava cercada por boa parte dos membros do Pacto de Guerra. Ainda assim, faltavam Daehim, Matadouro e Mallmor. Nikolai, desacordado e ferido também estava ali.
Queria que tudo fosse um simples sonho. Contudo, era realidade e nada mais seria como antes.
Estava sem nenhuma de suas armas. Nem as facas, nem a bestas, muito menos Vampira de Almas. Só lhe restava suas roupas rasgadas. Além de suas algemas, pesadas e com símbolos arcanos. Era óbvio que elas tinham grande poder. Notou que Nikolai também possuía um par ao redor de seus pulsos. Nenhum deles poderia usar magia.
Em um trono de pedra estava sentado Sinestro, coberto por manto só deixando só os olhos reptilianos a mostra. Uma espada estava acima das pernas do ser. Era Fim- dos- Dragões. A pouca expressão visível trazia certa raiva. Constatava-se que ele já soube da tentativa daquela jovem em tentar abandonar o Pacto de Guerra. Era claro como a luz esse fato.
-Sinto por suas atitudes Halphy... – começou o dragão que ainda estava sem sua forma original. Não deveria ter se passado muito tempo desde que ficou desacordada pensou a jovem assassina. Ela o interrompeu de forma pesada.
-Poupe-me Sinestro! Tem outros planos. Para mim e todo o seu maldito Pacto não é?
O líder daquele grupo se levantou com demasiada raiva.
-Como ousa levantar a voz para mim! Não passa de um animal! Um ser domesticado.
-Ouso isso e muito mais! Maldito é aquele que confiou em Coração Gélido. E mais ainda, quem o fará. Chamou-me de domesticada? Até um cão pode morder seu dono quando for maltratado!
Nesse momento, as garras dele levantaram o corpo de Halphy. Em questão de instantes, ele saiu do trono. Igual a uma assombração alguns diriam. Não que estivesse muito longe disso. Erguia a jovem pelo pescoço.
-Cale esse buraco cheio de fezes que acredite ser uma boca – disse ele enquanto a asfixiava. Em seguida, lembrando que ela ainda teria um propósito, lançou ela para longe.
Nenhuma reação vinha dos espectadores. Só os artistas daquela peça profana.
-Sorte sua ainda termos você como uma peça chave. Nossos planos necessitam de você.
Nikolai despertou com o golpe que jogou a jovem para longe. Ele a viu usando a parede para se apoiar. Lentamente se levantou. Seu corpo parecia moído, ainda assim tentava manter-se firme diante de tudo. Cada vez mais difícil. Ainda assim, ela ria.
Sua risada veio de forma irônica. Meio triste, ainda assim queria ferir seu antigo mentor. Já foi dito que as palavras trazem dor. E algumas outras coisas surgiram na sua cabeça com um sorriso enlouquecido.
-Não sei o que é pior: saber que fui usada ou me lembrar quem fez isso. Queria alcançar o poder, só que agora noto com tristeza, ele não estava em você. Pois caso o tivesse não teria ardis necessitando de humanos como capangas – e ao falar isso ela cuspiu no chão.
Ele ficou de costas tentando se controlar. Em seguida exigiu que as duas criaturas fossem retiradas de sua presença.
-Eu vou lhe mostrar quem é inferior! – gritou Halphy enquanto era levada por uma dupla de revenants. Essas criaturas ficavam nas sombras, imperceptíveis. Com a forma de uma armadura ninguém imaginaria que eram monstros.
-Halphy o que houve? – pediu o alquimista. Ele também era levado.
-Estamos sendo preso para mais tarde auxiliar os planos de Sinestro.
Enquanto eram arrastados, o dragão sentiu que algo estava errado. Não era para isso ocorrer. Pois o que ele queria estava perto de si e de vários outros.

Foram presos os dois. Em uma das celas do castelo. Uma das que passou poucas vezes quando participava do Pacto de Guerra. Por qual motivo pensaria naquele lugar questionou muitas vezes.
-Por todas as forças do oculto! – Nikolai falava isso enquanto batia sua algema contra a grade – Quem concedeu essas algemas para os servos de Sinestro? Eles não teriam capacidade para isso.
Halphy encostada na parede ficou pensativa. Lembrou-se da morte de Jean. Da mão de Raquel o atravessando com um golpe arcano. Era sua culpa isso acontecer com ele. Tão grande era sua sina. Será que alguém teria piedade dela, depois de suas atitudes covardes? Nunca ela pensou.
-Ei! Donzela? Poderia me ajudar a reclamar aqui?
A moça parecia ter saído de um transe. Lembrou onde estava quando notou Nikolai na sua frente, pedindo atenção.
-Desculpe... Estava em outro lugar.
Ele se agachou e se aproximou da moça. Parecia bem mais calmo, do que quando reclama de suas mãos presas.
-Não foi sua culpa minha cara.
-Do que esta falando Nikolai.
-Foi Raquel quem matou Jean. Não você.
Ela o olhou carinhosamente. Finalmente se levantou. Tentou arrumar a si como podia.
-Obrigado Laskov.
Foi até a direção da porta da cela onde estavam. Ficou de costas para ele.
-Eu sei que você sabe meus segredos – ele falou com tom sombrio.
A jovem virou seu pescoço na direção de Nikolai.
-Como sabe... Ah! Zacharias, não é?
O pobre alquimista afirmou com sua cabeça. Era constrangedor. Nunca pensou naquela situação a jovem.
-Eu não quis... Eu só... Perdoe-me – só agora notou o quão invasivo poderia ser aquele artefato.
-Você não pensou que o seu feito foi mais que uma carta? O que soube?
-Você trabalha para a Santa Sé.
-Parece pouco. Não parece algo que arrancaria de mim donzela.
Suspirou fundo a jovem antes de relatar:
-E da mulher que um dia amou.
-Ah!
Era a vez dele se sentar.
-Nunca pensei que voltaria a me lembrar de minha amada. Não desse modo. Se me recordo bem, eu era um alquimista em começo de treinamento. Só que tinha talento. Muito. E me apaixonei quase que por acaso. Eu pegava ervas para uma solução alquímica. Ela procurava algumas para um corte que sua mãe sofrerá. Não sei o motivo para isso acontecer àquela senhora. Algumas coisas ainda ficam nubladas em minha mente. O que é certeza... Éramos felizes. Sendo tolos ou não. Só que o destino é cheio de artimanhas. Ela era do legado de Andrômeda.
-Legado?
-Sim. Ao que tudo indica algumas mulheres que descendem de Andrômeda eram sacrificadas. Para um tipo de fera antiga. Deve saber da lenda.
-Andrômeda, oferecida a uma fera. Para aplacar o ódio de um deus. Não é isso? Nunca fui especializada com mitos gregos.
-Exato. Eu morava próximo a essa vila que mantinha os costumes. E cheguei tarde demais. Por isso sou assim. Cheio de vontades para tentar esquecer a dor.
-Compreendo.
A garota queria lhe conceder pêsames, ainda assim não o fez. Do que adiantaria? E de qualquer modo não havia necessidade para aquilo no momento. Nem tempo suficiente.
-Como podemos fugir – ela questionou.
-Eu estou pensando. Mas tem pelo menos dois revenants na passagem que nos concederia a liberdade.
-O problema nem é esse. Eu me refiro a essas coisas – apontando para as algemas.
-Deixe-me pensar...
-Vejo que estão em dificuldades – disse uma voz no canto da cela.
Os dois pularam de susto. Aquela cela pequena tinha outra pessoa? Impossível. Ainda mais sem nenhum item no local.
No lugar de onde ouviram aquela voz, uma forma estranha surgia. Começando por sua pele. Tinha escamas, como um marduk, só que essas eram mais brilhantes e coloridas. Além de lembrar mesmo, partes de uma serpente. Até os cabelos pareciam mais com uma cobra. Seus olhos totalmente e com um parentesco mais claro ainda com um ofídio. Garras de um poderoso dragão no lugar das mãos e pés – estes descalços. Possuía uma roupa que Halphy tinha certeza ser de pura seda muito cara. Nela, além de haver um estilo diferente de qualquer vestimenta que já viu seu contorno era recheado de desenhos. Estranho para a assassina e o alquimista.
-Quem é você? Ou melhor, o que é você? – perguntou Laskov.
-Parece um marduk.
Aquele ser cuspiu de lado. Estava enojado com a comparação.
-Perdoe-me, mas não me rebaixo a um nível de meio-dragão.
-Não vou tomar isso como pessoal, ainda. Então é o que? Ou melhor, veio de onde? – perguntou mais uma vez a jovem.
-Vim de uma terra muito longínqua. Na desconhecida, por vocês, Yamato[1]. Só que essas terras possuíram outros nomes. Até pelos homens do continente. É como uma ilha para vocês. Águas poderosas por todos os lados. Pelo que eu vi, ela não esta nos mapas de vocês das terras do Oeste.
-Não existem terras assim – soltou Halphy.
-Conhece pouco do mundo com seus olhos jovens, Brown.
-Sei...
-Também aquelas terras são chamadas de Hinomoto[2].
-Eu não quero saber disso! Por qual motivo esta aqui?
-Vocês são apressados. Meu mestre chama-se Yo-Long. Ele é o que vocês chamariam de um dragão. Para mim é como um deus. Pois foi ele que me ensinou a obter essa forma. Devo tudo a ele. Ele disse que você pode auxiliá-lo. E que lhe concederia o que quisesse. Se o libertasse.
Ela riu.
-Tem muita gente que quer muito de mim.
-Pode até ser. Mas ao menos não pode ficar do que já esta Brown.
Ao falar isso, em um piscar da dupla presa, o estranho homem saiu daquela cela. Ele se virou para os jovens antes de partir.
-Sou Long, um pupilo do dragão. Adeus Brown.
Eis que o homem caminhava para longe das grades. Uma nova alternativa surgiu para a jovem. O que não era muito bom de qualquer forma. Eis que uma idéia lhe veio à cabeça.
-O Portal da Verdade.

Estava uma vez mais no lugar que foi mandado após encontrar a Chama Gélida. Dessa vez estava tudo branco. Mas o imenso portão continuava onipotente e flutuante. Igual as forças mais antigas, perigosas e poderosas do universo. Era como se um medo enorme lhe surgisse na mente, só de encarar a construção. O motivo lhe era um mistério, mesmo já sabendo seu conteúdo. Que os mais loucos deuses parariam e se perderiam contemplando aquilo. Não era momento para aquilo.
-Kalic Benton! Onde esta?
Momentos depois, como por encanto, o mago mascarado apareceu. Ele a encarou.
-Você sabe que esta encrencada? Em um nível que nunca poderei lhe auxiliar, se é isso que pensou.
-Não me diga! Qual foi a primeira pista? Acho que o seu silêncio, enquanto Sinestro quase me enforcava já demonstrou bem isso.
-Interferir só seria um desperdício. Acha mesmo que eu o deteria? Qualquer um de nós não conseguiria nem sequer lhe causar dano. Mesmo naquela forma decrépita dele.
-Eu imagino mesmo.
O mago olhou impaciente para a moça. Sabia que ela queria algo dele mesmo assim. Ela sempre faz de tudo para se livrar.
-O que quer?
-Um método de fugir.
Ele riu. Nunca ouviu tamanha besteira. E Halphy nunca o ouviu rir tanto de algo ou alguém.
-Não há como.
-Mas você pode me ajudar.
-Disse bem. Eu posso. Tenho poder para tanto. Só que não o farei. Há uma grande diferença.
-Sinestro é um morto sem descanso. Não pode utilizar o dom da Lei em você. Mesmo que pudesse você nem seria afetado. Esse tipo de criatura, como vocês, é impossível ser afetada. Eu sei. Já tentei.
-Compreendo. De qualquer forma enfrentar Sinestro não se encaixa nos meus planos. De forma alguma.
-Você realmente é um homem difícil às vezes.
-Deuses! Você acha que seria fácil? – disse inconformado Kalic benton II.
-Não. Mas bem que poderia trazer uma solução.
-Entenda que não sou seu amigo. Nem tão pouco, seu aliado. E atualmente nunca serei mais nada seu devido as suas atitudes. Trair Sinestro é trair o Pacto de Guerra.
-Só me diga uma coisa: você crê em Sinestro?
Foi quando ele se calou, virou de costas e se afastou da assassina que parecia já desesperada.
-Adeus Halphy Brown.
-Espere! Tenho uma coisa a lhe falar.
Ele então parou sua caminhada.
-Eu eliminei sua mãe.
O mago colocou sua mão direita na máscara. Parecia refletir sobre algo.
-Você a queimou?
-Do que esta falando?
-Não ouviu? Perguntei se você a queimou.
-Acredito que não. Não. Não o fiz.
-Tudo bem. Então ela continua viva... Ou melhor, não esta morta. Adeus Halphy Brown.
Mesmo de costas aquele mago deveria imaginar qual era o rosto da assassina. Ela cortou sua cabeça, e a desgraçada ainda estava viva. O que lhe fez crer nisso foi à visão da destruição do Kalic Benton original. Realmente aquilo fazia sentido. Infelizmente.
Teria que voltar até Nikolai e se preparar. Samara ainda estava viva.

Despertou com Nikolai desenhando algo. Parecia ter uma cor vermelha, onde estava aquela forma. Então notou o ombro e o rosto do rapaz. Além, lógico, das suas mãos. Era vermelho sangue. Pois era sangue. O que ele fez, pensou ela. Foi quando uma idéia macabra lhe surgiu.
-Você se mordeu até sangrar? Enlouqueceu Nikolai!
Suas mãos formaram um círculo de transmutação. Grande e poderoso. Estava muito claro aquilo.
-Enquanto você caçava algo no plano astral[3], eu tentava outro modo de fuga minha donzela querida. E então? Obteve sucesso?
Balançou a cabeça em negativa. Um rosto de tristeza e frustração lhe veio rapidamente.
-Imaginei isso quando despertou minha pequena. Não se martirize. Convencer seria impossível. Eu acredito.
-O que pretende com isso – perguntou a aflita assassina – Esta sangrando muito e nem pode fazer magia!
Ele sorriu. Mesmo com a boca suja se sangue. Parecia sabre mais que ela. Ao menos estava feliz.
-Você aprendeu sobre a Arte e a Lei. Nunca sobre suas variantes. Nesse caso, a alquimia. Ela não é como magia. Dizem que um feiticeiro ou arcano de qualquer tipo age como um abridor. Por isso usam esse termo. O que realmente eles se parecem são chaves. Pois armazenam o mana em si. Seus corpos são um meio para os fins específicos. Já os que transmutam – alquimistas – não a armazenam. Usam a energia em tudo que existe para façanhas.
Em seguida tocou com ambas as mãos o símbolo. Nesse instante, as algemas se partiram ao meio com a força de um brilho arcano.
-Ainda bem que como você, mesmo os membros do Pacto que usam um pouco de alquimia, não entendem disso. Pois se soubessem me cegariam. Ou quebrariam minhas mãos. Talvez os dois... Bem, de qualquer forma logo estaremos livres, donzela.

Um grande barulho surgiu da cela. Poderiam tentar usar magia para fazer tudo de forma silenciosa e furtiva. Só que então se lembraram que seus vigias eram construtos. Imunes a ilusões.
Ainda assim magia era uma boa arma agora. Ela soltou uma faísca na direção do guardião. Isso o deixou extremamente lento. Ao menos uma vantagem contra estes seres.
Enquanto o outro, Nikolai atingiu com uma lança de pedra, ao qual usou parte da parede da prisão para criar. Atravessou a couraça atingindo o pentáculo. A armadura caiu e o jovem gritou de dor.
-Nikolai!
-Não foi nada. Usei o braço com meu ombro ferido. Vamos caçar nossos equipamentos. Adiante.
E os dois fizeram isso. O mais rápido que puderam, já que sabiam que logo seriam atacados.
Chegaram à câmara de espólios. Ali, naquele lugar, os servos de Sinestro depositavam seu butim. Ou seja, todo o ouro ou itens mágicos dos adversários caídos. Até de povoados indefesos.
Conseguiam enxergar onde estavam seus itens, inclusive Vampira de Almas e a besta. O alquimista pensou em legar parte do ouro – uma pequena fração – mas foi dissimulado pela jovem. Seria já muito perigoso sem o peso extra. Caso isso ocorresse o corpo ficaria lento como uma lesma. Realmente fazia sentido.
-Se for como diz... – falou um inconformado jovem.
Um detalhe é que ela encarou outra arma. Talvez seu maior símbolo de traição. Pois não feriu Daehim com ela, quando possuiu uma chance para tal. Tratava-se de um item que os Dragões obtiveram com justiça. Os mais antigos e sábios a chamavam de Silthar-Mor. Fim-de-Dragões.
Segurou-a com ambas as mãos observando bem seu brilho. E quantas lembranças ela conseguia trazer. Lembrou que foi um presente e de quando a pediu no Vale das Esmeraldas. Memórias de antes e depois dela. Por último, em como traiu os antigos colegas. Ela iria levar a espada, como oferta de paz.
-Será que me perdoariam? Eu...
-Donzela Halphy! Esta ouvindo? – disse o rapaz pedindo atenção. Um som de sino era claramente ouvido – Devem saber que estamos fugindo.
-Não é nada disso. O sino para fugas é outro. Fui instruída sobre isso por Kalic Benton. A construção esta sob ataque.

Eles corriam. O faziam por suas vidas. Para tal necessitavam cruzar a ponte. E mesmo estando longe do ataque ouviam vários sons. Alguns conhecidos, outros nem tanto. Grunhidos, barulhos de armaduras e poucos gritos que pareciam humanos. Jurariam até que ouviram o som de um urso.
E então uma idéia surgiu para Halphy: poderia ser que Brigid estivesse atacando a fortaleza de Sinestro. Ela com enxergaria aquele lugar. Em especial devido aos seus grandes poderes. Além disso, usando uma forma animal apropriada, era fácil rastrear qualquer um.
-Algo possível. Mas não é momento para nos preocuparmos com isso – soltou a moça, enquanto corriam. Precisavam sai vivos daquele lugar primeiro.
Passando por corredores iluminados só pelas chamas de tochas. E quando mais chegavam perto do lugar. Uma luz fraca surgia. Tratava-se da abertura para a ponte.
Enfim chegaram até o arco que concedia acesso ao lugar que queriam tanto chegar. O único problema é que havia sentinelas já ali. Alguns com espadas e outros com arcos.
-Revenants – disse Nikolai.
-São sei. Eu lido com eles.
-Donzela Halphy! – e antes que pudesse fazer ou falar qualquer coisa, ela partiu em investida. Não havia notado que tinha os ferimentos do ataque de Zacharias. Mesmo sendo entorpecida com as ervas raras, seu corpo não cicatrizou devido a um efeito colateral. Ainda que fisicamente continuasse forte, seu corpo tombaria diante alguns golpes. Ele só poderia ajudar naquele instante. O quanto pudesse e conseguisse.

Atacou um dos primeiros na frente. Não era uma combatente boa o suficiente para eliminar todos de uma só vez. Ao acabar com um pularia para o outro com Vampira ao seu lado.
Como uma boa ladina encontrou uma brecha na armadura. Conseguindo isso, com a lâmina rasgando o símbolo que mantinha aquele ser em pé. De certo modo foi até fácil. O problema eram os dois ao seu lado. Alguns ataques deles fizeram-na cambalear. Se Thror ainda estivesse com ela em combate. Poderia até ver a silhueta dele lidando com o outro oponente.
-Detesto admitir, mas eu sinto falta de uma retaguarda protegida – admitiu a si mesma.
-Não seja por isso donzela.
Eis que os inimigos são atingidos por energia bruta. Ainda assim, não de forma fatal. Pedaços de metal danificado caem das armaduras vivas. Um grande auxílio. Facilitando o ataque contras os símbolos de transmutação.
O que nenhum daqueles dois fugitivos notou foi que os revenants de trás levantaram finalmente seus arcos. Nunca haviam visto aquelas criaturas usando armas de longa distância. Cada um com três flechas preparadas. Foram então disparadas sem cerimônia.
Aqueles golpes não foram esperados. De modo algum. A primeira saraivada atingiu a área do estômago, o seio e o seu ombro do lado esquerdo. Isso a deixou atenta. Só que era tarde. A segunda leva atingiu o braço que segurava sua espada. Um grito pior que de um animal abatido surgia naquele lugar. E estranhamente, ele ecoava. O sangue escorria, jorrava. A quantidade do liquido escarlate era imensa. Tinha que se manter em pé. Trocou sua arma da mão hábil, assim usando-a como bengala. Abriu os olhos só para notar aquele que seria o último e fatídico golpe. Das três flechas, a única que atingiu foi mortal. No pescoço.
Seu corpo tremeu demais. Estática por enquanto e sem força, ela tombou finalmente. Ainda no chão se sentia leve. De repente estremeceu como um cão faminto. Gemeu como uma assombração. Era uma poça tão grande daquele líquido saindo do seu corpo que engolia facilmente sua saliva. O dia sumia em sua vista. E a vida também.
Nikolai chegou ao corpo desfalecido, daquela que sempre ele tratava por donzela.
-Halphy! Minha linda! Fala comigo! Vamos! Reage! Ofenda-me! Desistir agora não! Halphy! Não me abandone!
Enquanto ele falava, a jovem encarava aquele céu. Na verdade não sabia em que lugar sua visão deveria ver. Os sentidos sumiram e como dito, enxergava só a escuridão. Suas palavras, nem sentido faziam mais. Nada além de letras separadas e jogadas a esmo, sem conseguir obter uma forma. E tantas coisas, assim mesmo elas significavam. Em especial perdão. Pelo menos ao jovem Nikolai, ao qual nem imaginou causar tamanho mal. Seus atos canalhas ainda tinham motivos mais dignos em comparação e ela. Era um sujeito cheio de falhas, mas ainda assim, mais nobre.
Ela queria poder. Única, exclusivamente e simplesmente. Envergonhava-se disso agora. Pelo menos era sincera em sua mente. Nunca achou que aquilo era tão tolo.
Em seus instantes finais, lentamente se lembrou dos Dragões. E queria os contemplar uma última vez. Assim como Jean.
E Yo-Long a ouviu na sua própria mente. Atentamente.



[1] Antigo nome para o Japão.
[2] Outro nome para o Japão.
[3] Plano de

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