quinta-feira, 6 de agosto de 2015

(Parte 39) Caçador e presa


Em um único salto, a jovem alcançou o céu. Com suas asas quase coriáceas, se manteve no ar como um morcego. Ou algo pior.
Antes de procurar sua vítima pensou onde estariam Jean e Raquel. Ficou um bom tempo presa em uma armadilha. E deveriam a ter alcançado ou até ultrapassado ela. Só que nenhum sinal do rastreador e da mestra do saber. Algo estava errado em tudo aquilo. E isso a preocupava. O rapaz poderia ser um incomodo, mas entre todos que a cercavam ele parecia ser o menos terrível. E o único que não deveria guardar um segredo sombrio. Isso a fez lembrar que foi o único ao qual não usou Chama Gélida. Questionou um motivo para não ter feito isso. Não achou nenhum, no máximo confiava nele. Pelo menos é o que pensou.
Ao que parecia seus pensamentos turvaram-se. Queria encontrar Brigid. E enfim imaginou como o fazer.
Uma idéia que lhe surgiu foi que a elfa tentaria se ocultar. Como? Bem, não poderia ser em algum dos círculos de pedra dos druidas. Esses locais não trazem defesa alguma. Foi então que imaginou que havia alguma ruína por ali. Algo coberto por aquela vegetação mágica e imensa. Seus olhos tentavam se acostumar com tudo. E então, depois de muito tempo, o sucesso parecia estar à vista. Conseguiu notar as formas de um imenso castelo, soterrado por muitos arbustos e plantas.
Com suas asas sobrevoou o lugar, sendo que poderia haver outras pessoas ali. Druidas, guerreiros ou até algo pior. Obviamente, ainda fazia aquilo em uma distância segura. Ou seja, longe o bastante para não ser atingida. Mas perto o suficiente para ver quem estava lá dentro.
Era notável a ruína de um castelo. Havia fragmentos de ???
Que nada espantavam a ela. Era só mais um lugar como qualquer outro. Ela queria só encontrar a druida e eliminá-la de uma vez. Assim acabar com a chance de seu artefato ser finalmente selado. Atrapalhar Sinestro realmente era fazer o mesmo com Halphy pensou ela.
Desceu com calma diante do portão da construção. Era feito de madeira antiga. Estranhamente, não parecia envelhecida de forma alguma. Na realidade, partes da estrutura pareciam reforçadas com outros pedaços e possuíam efeitos arcanos. Pequenos e faziam brilhar com uma mágica única, maravilhosa. Os poderes da natureza são incríveis, isso tinha que admitir.
Colocou a mão, de forma que empurrasse a estrutura. Ela se abriu revelando um salão em forma de corredor. No meio do lugar havia uma luz.
Era Brigid Loghan e o seu selamento.
Dentro de uma série de símbolos ela evocava palavras de abjuração. Palavras de proteção contra o mal. Com certeza relativos a Sinestro, ao que tudo indicava e parecia.
Sacou Vampira de Almas, como tantas vezes fez. Era sua marca registrada agora. Um corte, uma morte. Quando estava correndo para eliminar a elfa, Halphy foi detida por uma muralha invisível.
-Ah! Nada é fácil na minha vida!
Brigid, antes ajoelhada, - tentando finalizar os ritos – levantou em um só golpe.  Colocou as mãos na cintura de forma única.
-Você deve ser a tal halphy Brown.
Enfim, as duas se encararam de forma mais calma. Nada que não tenham visto antes.
-Sou. E desculpe não me apresentar antes. Eu precisava eliminar você e seu marido.
Brigid conteve um sorriso com a mão em sua boca. Ela parecia controlar bem a situação em que estava. Pelo jeito, o inimigo era bem mais poderoso que suponha. Pena ela não imaginar que tinha Zacharias do lado dela. Ou a extensão do poder.
-Você lembra muito Ilianel
-Ilianel? Esse nome...
-Logo irá saber. Ou melhor, você vai se lembrar. Antes, não notou algo?
-Deveria notar o que?
-Olhe ao redor.
-Deve estar falando da barreira de energia.
-Isso esta mais para uma muralha de energia. E pensei que fosse mais inteligente, pelo menos. Note os escrito próximo de cada símbolo.
Era a vez de Halphy olhar atentamente para aquelas marcas. Cada uma para sua devida função perigosa. Ao menos, o que achava aquela assassina daquilo tudo.
Ao notar algo, se virou irritada para a druida.
-Qual o motivo de ter escrito Brown por todo o lugar?
-Pense bem.
-Ah é! Óbvio! Assim irão selar meu poder.
Dessa vez, a druida fitou ela de forma séria.
-Então é como imaginei. Você não sabe do que precisa.
Ela colocou a mão no cabelo e o arrumou. De modo que pudesse se acalmar.
-Antes de tentar mais uma vez me matar... Acredito que você deveria saber... Sou do seu sangue. Sou irmã da mulher que chamaria de avó.

-Como? – perguntou perplexa Brown.
-Sou irmã de sua avó.
-Um método bem inútil...
-Se quisesse mais do que lhe deter encontraria outras formas! – interrompeu Brigid – Não acha.
-Verdade. Não faria sentido. Eu acho.
-Bem, vamos começar por partes. Deve saber que Iliana, nome que assumiu quando deixou Avalon, fez isso em seiscentos depois de Cristo. Não sei. Não me lembro direito à época. Era muito nova... Para os padrões élficos. Nesse tempo, eu soube que a Guerra do Arco e do Machado eclodiu. Foi quando tudo mudou aos poucos em todas as terras. Humanos, elfos e anões. Todos estavam de certo modo se alterando drasticamente. O primeiro grupo começou a ter um aumento imenso em sua população. Devida a falta de conflitos e por aprenderem alguns truques relativos ao plantio e alimentação. Proteger-se e como obter o máximo dos terrenos também conseguiu auxiliar. Já os seres elementais, secretamente mantinham um conflito muito danoso para ambos os lados. E quando estávamos próximos do ano mil, as hostilidades cessaram. O que deixou os sábios de ambas as raças em dúvida: que teria feito seus líderes se deterem? Os atuais lordes dos anões e o regente élfico, sem motivo não atacaram mais ninguém. Na verdade, os dois grupos declararam que cada vida que poderiam ser perdidas não compensaria o esforço. Entende? Quase quatrocentos anos de morte, e sem mais nem menos... Acabou.
-E o que tem isso?
-A Guerra surgiu com o sumiço de minha irmã. E entre os anões, Mallmor matou o imperador.
-Já sei! Irá disser que foi culpa de Sinestro – falou com tom irônico a mulher que descendia do dragão – Conte-me algo novo.
-Sim. É culpa dele, em partes. Não o principal culpado, porém. Mas consegui ver que existe uma mão tão sinistra quanto. Seu nome é Kalic Benton I. Suas atitudes queriam que um conflito surgisse. Por se aliar ao dragão de esmeralda os planos seguiriam uma trama que atingiria toda Gaya. Nunca lhe veio à cabeça que o nome do grupo criado por seu avô é Pacto de Guerra? Entrarei nesse assunto daqui a pouco.
-Como se tivesse muito tempo de vida.
-Enquanto não puder quebrar essa magia, nunca irá tirar minha vida.
-Isso é verdade...
-Então se cale e me escute!
-Ai. Mas não demore.
Brigid sorriu. Parecia gostar de ouvir aquilo.
-Você realmente se parece com Iliana.
-Como assim?
-Em outro momento lhe explico.
-Espero mesmo.
-De qualquer forma, um ser tão poderoso necessitava de grandes conflitos. Entre os elfos e anões isso não era mais possível. Pelo menos não do jeito que se quer. Massacres. Talvez surja uma nova guerra entre raças. Só que se ocorrer será daqui a séculos. Um milênio eu diria. E qual seria outro modo de obter tão terrível batalha? Usar a raça mais patética para os outros povos de Gaya. Os humanos. Pegando sua tola crença em uma entidade. Alguns dizem que Urbano II foi o que preparou e planejou essas guerras sem sentido. Uma força antiga, na verdade, manipulou secretamente os aristocratas francos. Número maior que trinta e cinco mil homens partiram no ano de 1096. Maridos, jovens, sonhadores, vários deles tombariam. Ou vários deles cairiam por suas armas. Pessoas que ironicamente, eles matavam e possuíam uma divindade semelhante à deles. Pobres diabos. Eles teriam devastado tudo em nome do Deus Único, do Deus Cristo. E em 1099, a chacina terminou.
-E o que tem isso?
-A cruzada atual foi causada por essa mesma força sinistra...
-Que você acredita ter relação com Sinestro?
-Sim. E algo mais.
-Como assim?
-Maelstrom. Depois de que ocorreu e pesquisei cheguei a esse nome. Já o ouviu?
Algo naquela palavra, seu som. Isso fazia a jovem Brown se lembrar de algo. Aquilo parecia ter um significado. Qual era nem imaginava mais agora.
-Não me parece estranho isso.
-Sim. Como uma druida e exploradora sempre imaginei que o dragão tivesse algo haver com todo esse mal. Que fez Iliana deixar Avalon, todos nós que pesquisamos já sabemos hoje. E que há um segredo nisso tudo, bem, isso é mais que claro. O que acabei sozinha descobrindo, antes mesmo de me estabilizar em uma vila... – a sacerdotisa parou o discurso e tomou fôlego – foi que muitos dos envolvidos coma criação e aumentos desses conflitos sonharam e ouviram esse nome. Não importava se era um elfo, anão e humano, os principais líderes conseguiram manter isso em suas memórias. Como se essa palavra, ou melhor, algo por trás dela estivesse manipulando tudo. Não digo que eles não tiveram culpa. Suas ações ceifaram vidas incalculáveis. Mas se isso tiver obra de um terceiro instigando tudo explicaria muitas coisas.
Halphy ficou confusa.
-Nunca imaginou por que Sinestro fundou o Pacto de Guerra? Já lhe advirto que não sei o motivo. Mas já confirmei interessados nesse projeto.
-Como quem?
-Como um demônio chamado Syrus.
Dessa vez Halphy riu. É lógico que o faria. A elfa queria lhe enganar.
-Não minta mulher. Ele esta preso.
-Seu corpo e alma podem estar. Porém, ele era um dos principais generais de Hades. Ele esta tentando se libertar. Com a parcela de poder que lhe foi concedida por seu deus, e sabendo que só em seu plano de origem vai conseguir a divindade. Isso, pois só quem descende de alguma forma do aspecto do Senhor do Submundo conseguiria tal feito...
A assassina pediu a druida que parasse o relatório. Queria deixar os pensamentos no lugar. Se Syrus, que possuía uma fração de Hades também. Talvez realmente se tornasse um deus chegando ao plano infernal. E Zacharias poderia tentar o mesmo. Não imaginava como seria isso. O que já sabia era como eles pretendiam esse feito.
-O Portal Infernal.
-Isso mesmo. Quando Sinestro obtiver seu corpo de volta será o momento para agirem. Compreende? Além do que, mesmo possuindo os artefatos do Desalmado e do Cavaleiro da Pele de Platina, o dragão Sinestro não os quer para impedir o fechamento do portal. Pelo menos nesse ponto temos certeza. Seria loucura.
Suicidio era a palavra mais apropriada. Estava claro. O Portal Infernal era parte de uma estratégia maior do dragão. Nem ele, porém, teria como lidar com as legiões do plano Hades. Realmente havia pelo menos, mais três mentes perversas agindo nas costas do senhor do Pacto de Guerra: Zacharias, Syrus e o até então desconhecido Maelstrom. Se isso fosse o nome de alguém.
-Você foi muito bondosa me falando tudo isso – disse a assassina interrompendo seu próprio raciocínio – Mas que vou acabar com você... Isso eu vou.
Brigid balançou a cabeça de forma negativa. Parecia decepcionada como quem estava a sua frente.
-Então faça o seguinte. Use Chama Gélida. Já que imagino eu, já deve estar com ele sob seu poder.
Ela olhou para baixo na direção do artefato. De raiva, mais do que para provar seu poder, Halphy o usou. E quando notou instruiu a suposta parenta para encerrar sua magia. Qual não foi sua surpresa, quando notou a elfa rindo daquela ordem. Brigid parou um pouco e disse que mais tarde falaria daquilo também. De qualquer forma, estava perto de terminar seu diálogo:
-Você que é bondosa. Ou melhor, ingênua. Como ela também foi. Acha mesmo que estou selando seu poder pelo que pode fazer de mal? Óbvio que não. Ele é perigoso, mas não é isso o agravante. Eu sei quem é você, pois somos parentes. Com isso possuímos certo laço. Que eu fiz para saber onde estão aqueles que descendem de Iliana.
Agora estava explicado o fato de saber tanto sobre ela. Ainda assim, Loghan continuou:
-Minha vida inteira quis saber o motivo de Iliana abandonar Avalon. Um dia a encontrei. Disse que possuía uma filha. Estava cega. Quando questionei sobre tudo, me respondeu prontamente. Disse que o dragão a atraiu em sonhos. Poderia ter usado seus dons mentais relativos à Lei contra ela, mas talvez Avalon impedisse tais avanços de algum modo. Assim mesmo foi enganada. Pois viveu com Sinestro sem saber que ele fazia um ritual com a intenção de gerar descendentes poderosos. Já que poderiam vir a se tornar marduks, meio dragões.
E nesse instante, Halphy tirou um dos brincos revelando sua atual forma verdadeira. Queria saber o que ela pensaria daquilo.
-Por Morrigan! O que fez menina?
-Obtive mais poder. E sem essa forma provando que sou uma descendente de Sinestro, talvez não conseguisse manipular a Chama Gélida.
A elfa colocou suas mãos na cabeça em sinal de extrema tristeza. Pediu em seguida que Jalphy tocasse sua própria nuca. O fez receosa, mas notou uma marca quente ali. Como um símbolo. Que nunca teria notado.
-Em minhas pesquisas sobre o rito, encontrei sua mãe. Ela também possuía essa marca. Só depois de um bom tempo essa coisa surgiria naqueles que Sinestro criou com o ritual. Pois não estaria ligado com o dom de se tornar um marduk. É um segundo ritual. Tem algo relacionado com a necromância nele. Um imenso perigo para você. Seu mestre não me quer morta em relação à Chama Gélida. É por poder impedir os dois encantos. Sou imune a esse item!  Pois só quem tem o sangue dos envolvidos, ao que tudo indica – mas não foi maculado pelo dragão – pode deter isso. Eu posso ser a única a lhe salvar.

Por todas as almas torturadas nos bosques perdidos! O que foi dito ali fez sentido! Até demais! E algo de muito ruim pode acontecer com Halphy. Algo teria que ser feito. Mas nem imaginava o que poderia fazer.
Ao tênar começar um diálogo, foi ouvido um grande trovão das costas da assassina. Mesmo com a fumaça do portão, que havia sido destruído, sendo pesada, ela sabia de quem se tratava.
-Zacharias! – e então se virou para a druida – Brigid! Fuja mulher!
-Mas e o ritual? Quase o terminei!
-Não importa. Quem vem ai tem o poder suficiente para acabar com isso tudo que fez. Acredite em mim. Fuja! Nem um dragão dourado conseguiu enfrentá-lo em combate corporal! Saia! Confie no que digo.
A elfa fechou seu rosto de raiva. Só que assim mesmo acatou as ordens de sua parenta mais nova. Quebrou sua muralha de mana e tomou mais uma vez a forma de águia.
Halphy olhou por uma janela aquela que era sua recém descoberta família fugindo. Talvez tivesse falado com sua mãe depois dela sair da casa. Sem importância agora. Pois depois de tudo, os atos que cometeu teriam finalmente conseqüências.
Respirou fundo. Guardou a sua lâmina. Virou-se na direção do portão destruído. E se preparou para encarar um homem com os dons de um deus.

-Halphy... Você me decepcionou – falou isso apontando para a assassina de modo acusador.
Ela o encarou. Para a danação o poder divino. O desgraçado não poderia eliminá-la agora. Precisava dela por algum motivo.
-Nessa linha do tempo achei que você faria tudo para eliminar Loghan. Enganei-me.
-Do que fala seu louco?
-Ah! Vocês humanos... Se é que tem uma parte humana ainda. Mesmo você sendo uma feiticeira não compreende as nuances da magia temporal. Ou do paradoxo temporal. Os seres vivos podem criar possibilidades, e isso cria linhas de tempo. Cada uma possui chances de uma nova vida. Por exemplo, na que eu vi – e que é minha predileta – você arrumou um jeito de matar Brigid, antes que falasse alguma coisa.
-Eu não ligo para nada disso! Descobri parte do motivo de estar do lado de Sinestro. Mesmo sendo mais poderoso que ele você quer alcançar a imortalidade, ser um pleno. Não é isso?
Ele bateu palmas lentamente de uma forma irônica, sarcástica e maligna.
-Até que enfim. Compreende sua função nesse mistério[1]? Talvez. Mas só em partes. Todo enredo foi criado por alguém. Enquanto não souber nada irá mudar.
-Chega de enigmas! – aquilo ecoou por toda a construção – Só consegui notar depois de perder meu tempo com você que aqui não é o meu lugar. Ao lado de vocês. Junto ao Pacto.
Começou a caminhar para daquele lugar. Ficou de costas para o estranho Zacharias. Quando esta sairia daquele lugar ouviu do clérigo.
-Onde pensa estar indo?
-Para qualquer lugar longe de vocês. Fique despreocupado. Ninguém saberá de seus segredos.
-Ah! Halphy... Gosto muito de você, mas esse não é o problema.
Ela continuou seu caminho. Notou que na frente da porta havia uma figura conhecida.
-Raquel. Onde estão Jean e Nikolai?
Em seguida viu a cena bizarra do sapo que servia a mestra do saber arrastando dois corpos. Algo horrível.
-Jean! Nikolai!
Halphy aproximou-se dos dois afastando aquele ser pegajoso. Examinou a ambos. Os dois ainda respiravam. Feridos mas vivos.
-Quem fez isso com eles? – exigiu a assassina exaltada.
-Fui eu – disse Raquel de forma seca e cruel.
A marduk levantou os olhos de forma espantada. Não conseguia compreender que justo a Raquel tenha feito isso. Nunca. Nem em dez vidas élficas. Porém é que ela disse isso. E parecia muito orgulhosa do que fez.
Em seguida a mestra da pequena criatura pediu uma pedra ao sapo. Mais uma imagem bizarra para os olhos de Halphy. Ela apontou aquele item para sua antiga líder.
-Esta vendo isso? É um item criado por Sinestro. Ele impede que um usuário da Lei afete um que não a utilize. Chamado de o Olho da Providência. Bem pretensioso, não acha?
-Por qual motivo atacou eles? Como Sinestro fez isso comigo? Sou sua descendente!
-Correta minha querida. Uma única coisa que não deve ter imaginado: Sinestro nunca deixou de estar de olho em você.
E com um estalar dos dedos uma magia se dissipou. Estava sobre o sapo. Ou melhor, um duende. O mesmo que espionou os Dragões da Justiça. Sempre havia alguém para detê-la caso fosse contra o mestre do Pacto de Guerra.
-Desgraçado! – rangeu os dentes de raiva. Quase até sangrar.
Raquel riu daquilo.
-Desgraçado? Ele? Você traiu seus antigos amigos. Viu um ser quase divino, que gostava de você, ser morto na sua frente. Queria matar pessoas que nem sequer conhecia. Desculpe, mas o termo que usou é mais apropriado, para você mesma.
Em seguida a essa frase a jovem se levantou. Com a arma apontada para o pescoço de sua recém descoberta inimiga. Isso ocorreu, pois um escudo de origem arcana a bloqueou.
-Outra coisa que vocês não, sabe é que me fiz de tímida para permanecer incógnita. E fazer você não saber a verdadeira extensão dos meus poderes.
Em seguida a isso, uma explosão surgiu. Algo que feriu Halphy gravemente.

Foi lançada para fera daquelas ruínas. Girou em pleno ar. Seu corpo estava cheia de feridas imensas até. Ao cair no chão, gritou de dor, pois suas costas devem ter atingido uma pedra extremamente pontiaguda. Aquela magia a teria matado em começo de carreira. Pela primeira vez, ela queria que aquilo realmente acontecesse.
A dor fazia seu corpo inteiro contorcer-se. Mal sabia ela que havia muito mais nisso. Algo cruel iria ocorrer.
Raquel acordou Jean. De modo bruto, obviamente. Em seguida, o conduziu pela porta para que pudesse ser visto por Halphy. Ela pretendia algo.
-Eu não posso matá-la. Algo que foi uma instrução do próprio Sinestro. O que não significa que sou impedida de torturá-la. Sabia de uma coisa? Eu já tinha conhecimento sobre Nikolai ter sido mandado pela Santa Sé até nós. Só que acabei descobrindo algo com relação ao nosso rastreador. Jean queria nos abandonar após o Mausoléu do Silêncio. Não o fez por qual motivo meu amigo?
Mesmo com um dos olhos extremamente ferido, uma das pernas aparentemente quebrada e seu braço tremendo pela dor, o guerreiro florestal encarava a mulher de forma impassível. Forte, mesmo na dor.
-Fale! – e quando Raquel disse isso, ela colocou o dedo em cima do olho com a ferida.
-Raquel! Pare! –gritou uma fraca e acabada assassina. Nada poderia fazer.
-Nunca! – ela soltava risadas de satisfação com aquilo tudo – Fale Jean. Por qual motivo não nos abandonou?
Depois de terríveis torturas contra o jovem, ele falou:
-Eu gosto dela!
-Gosta é? – disse a jovem cruelmente mais uma vez.
-Pare Raquel! Eu faço o que quiser! – implorou Halphy.
-Fale mais Jean. Fale a verdade – exigiu aquela mulher.
Quando falou aquilo, a mestra do saber espremeu com as unhas o ombro do rastreador. Até que lhe fez gritar. Tinha unhas longas notou Halphy só agora.
-Eu me apaixonei por Halphy! Sinto amor por ela. Decidi que mesmo achando os seus atos errados a acompanharia por onde fosse. Eu sinto que a amo. Mesmo a conhecendo pouco. O que quer mais de mim?
Halphy olhou com a expressão até de felicidade. Nunca imaginou aquilo, só que seu coração se encheu de alegria juvenil. Tola, mas cheia de amor agora. Quanto tempo não sentia aquilo. Era mais que uma mera paixão. Isso admitiu em seu coração. E sorriu docemente até.
Ao falar aquelas palavras Jean decretou sua pena de morte. Pois seu peito foi atravessado por um golpe arcano da mão de Raquel. Sangue pulsante e quente. Fazendo o corpo finalmente tombar. Com os olhos fechados cheios de uma estranha alegria. Ele partiu para o outro mundo sem remorsos, pois se declarou.
Os corações, quando falam o que sentem transbordam de alegria.
Não houve tempo de reação para Halphy, pois foi desacordada por Zacharias. Talvez tenha sido por meios arcanos, mas queria deixar aquela moça bem. Pelo menos por enquanto. Pois um inferno na terra viraria a dela de agora em diante. Os planos de Sinestro prosseguiam.

Em outro lugar, muito distante dos últimos acontecimentos citados, Mallmor invadia uma igreja. Estava no território onde os homens mais poderosos detinham o titulo de César na antiguidade.
Um padre pedia clemência a um anão. O Principe Negro dos Anões achava engraçado aquele fato. Um dos sacerdotes que deveria afirmar que seres elementais não existiam pedia piedade de um. Quanta fraqueza.
-Serei piedoso com você monge – assim que disse aquilo, com suas poderosas manoplas de ferro quebrou o pescoço do homem – Humanos franzinos.
Toda a parte principal da construção foi revirada. Bancos destruídos, cruzes partidas ao meio, sangue escorrendo por todos os cantos. Um massacre.
Passando por corpos de monges diversos – e mortos de diversas formas – um dos servos do anão chegou até Mallmor. Ele carregava uma flor de tom negro, completamente petrificada.
-Aqui esta meu senhor. Muitos homens pereceram para obter tal relíquia. Havia armadilhas no local meu senhor.
Suavemente o líder da Aliança dos Mestres do Martelo estendeu sua mão. O mensageiro lhe entregou aquela rosa sinistra. Agora era possível ver os detalhes nela.
-Que as almas deles partam para o Imperador dos Reinos Além das Nuvens. Pois foi dito que eu encontraria meu destino ao encontrar a Rosa Negra para Sinestro. Mande essa relíquia até Kalic Benton II – devolveu o item a quem havia lhe entregado – Pois não faremos mais parte de seu bando de carniceiros. Vamos nos dirigir para perto de Jerusalém.
-Sim meu senhor! – e ao falar isso bateu em seu peito com força tremenda. Deixou o poderoso anão sozinho naquele lugar.
Finalmente, Mallmor colocou sua mão direita na altura do peito. Não sabia se era dor ou mau pressentimento. Talvez os dois. E acreditava Brown esperava estar completamente errado.



[1] Teatro