quinta-feira, 18 de junho de 2015

(Parte 36) Chama Gélida


Cinco dias depois dos acontecimentos, Halphy foi mandada em uma missão.
Visto que o cargo de lideres do Pacto seria dividido entre Kalic e ela. O dragão achou melhor vê se a garota era digna de tal função. Para isso criou um grupo ao qual estaria com ela nessa empreitada. Inicialmente, achou que era tolice. Mas além de não querer contrariar seu mestre, ela sabia que havia um motivo para tudo isso. E estava certa.
Quando lhe foi revelada a verdadeira finalidade de sua comitiva, ela acabou com todos os momentos queixosos. Desde que ela obtivesse, finalmente, a Chama Gélida, na mais importava.
Esse era mais um dos artefatos que a humanidade nunca deveria ter conhecimento, ou sequer imaginar tal item. Quando Sinestro obteve o Tomo dos Lordes Segredos, ele procurou ser mais forte que qualquer dragão e a imortalidade. Assim obteve os dois com um dos ritos ali descritos. Tratava-se de um ritual parecido com que os humanos usavam para se tornar um morto sem descanso. Chamado de Ritual do Dragão de Ossos. Nele, o coração de um dragão era extraído com suas próprias garras. Antes disso, preparar seu próprio corpo para qualquer eventualidade, tentando sobreviver sem o órgão. Após completa essa parte do processo, fixar tiras de metal no condutor de emoções, todas com letras arcanas poderosas. Foi isso que o líder supremo do Pacto fez.
Só que ele fez muito mais.
O coração de um dragão é a fonte de seus poderes. E com isso em mente, fez um artefato. Lembrando que seus dons eram relativos ao controle das vontades alheias. Seu nome não possui tanta relação com essa habilidade. A Chama Gélida. Era esse item que Halphy tanto queria.
Obter tal força controlaria qualquer ser pensante. Assim, tomar o poder em qualquer condição em um reino seria magnífico. Forças antigas que conquistariam impérios de homens ou até mesmo os mundos elementais. Humanos, elfos, ogros, goblins, bruxas, doppellgangers, gênios, gigantes... Nenhuma criatura em toda a Gaya estaria livre de sua mente e perigosa.
Não era o momento para se vangloriar de tal força. Isso, pois ainda não obteve tal item, pensava ela.
Seu grupo era um tanto incomum: Nikolai Laskov, alquimista de extrema habilidade que veio de terras gélidas do Oriente; Raquel, mestra do saber, conhecedora de várias línguas e uma grande arcana; Jean, rastreador que se encontraria com eles no Reino da França; Zacharias, o único ao qual Halphy recusou de ter em seu grupo.
Ele era perigoso, pensava ela e o disse a seu mestre. Não foi aceito assim mesmo, pois fazia parte do plano, disse Sinestro.
Falado isso, a agora marduk, tomou um navio em direção ao reino de onde partiu meses atrás. Lá, em uma floresta fechada, existe o Mausoléu do Silêncio.
Quando Sinestro criou a Chama, o guardou muito bem. Mesmo assim, foi descoberto por heróis querendo o destruir. Contra todas as expectativas, o bando não conseguiu destruir o coração. Para proteger a humanidade, o mago levou tal item até Uriel, rei dos faunos e das fadas. Este, notando que nada em Gaya destruiria aquela coisa, pediu que o seu mais fiel servo protegesse o artefato. O chamava de o Silencioso, um perigoso menestrel que aprendeu com Taliesin[1]dedilhar em liras. A música tem o estranho poder de ferir nas mãos certas, e seus poderes eram únicos, alguns diziam.
Então, Halphy partiu em um navio com os membros de seu grupo. Seus únicos problemas eram os encontros casuais com Zacharias. Ele mesmo era reservado. Nem ligava tanto para as investidas de Nikolai, quese revelou um jovem cheio das vontades da carne. Tentava a flertar, assim como Raquel, sempre que podia. Era a única reservada daquele bando de loucos, pensava a assassina sobre a mestra do saber. Ficava como uma verdadeira rata de biblioteca com seus tomos. A marduk gostava dela. Conseguia conversar, além de ser uma das poucas mulheres em todo o castelo. No navio nem se fala.
Quando estava para o seu navio atracar no porto, ela colocou os brincos que recebeu de Kalic Benton II. Eles serviam para ocultar sua pele e asas naturais, ou seja, as de dragão. Não gostava daqueles subterfúgios. Porém, necessários se quisesse não provocar confusões desnecessárias.
Enquanto tocava os presentes pelo mago mascarado, fitava o horizonte em direção das montanhas. Notou que já as viu. E não muito tempo atrás passou por elas, cheia de sonhos. Era o porto do qual partiu com os Dragões em Salva Ventos, navio de Joseph. Não eram saudades, simplesmente lembranças de um tempo infantil. Aventuras tolas nunca mais.
O navio, que era do Bando do Tigre Demoníaco, atracou no cais daquela cidade. Cheio de vida como antes. Marinheiros carregavam e descarregavam das embarcações com velocidade única. Só uma coisa havia de diferente: um homem bem armado a esperá-los. Era o guia deles.
Jean era um rastreado competente que sabia onde se encontrava o Mausoléu do Silêncio. Não com exatidão, mas conhecia a floresta em que estava aquela construção. Iria se tornar um problema sem aquele sujeito.
Aquele rastreador, como muitos outros, usava uma cota de malha leve. Nada que pudesse impedir seus movimentos precisos. Além disso, usava uma pequena camada de peles, já que ainda era inverno. Portava três espadas. Duas ficavam em forma de X nas costas, e uma na cintura, que era longa. Ainda portava um arco longo bem trabalhado manualmente. Sua aljava estava do lado contrário ao da espada com a lâmina maior. Botas sujas, cheias de lama e pêlos completavam o conjunto.
Ele remexeu os cabelos loiros, todos desgrenhados, como se estivesse acabado te acordar. Quando notou o quarteto – de duas mulheres e dois homens – notou que se tratava do grupo que iria guiar.
Não é necessário descrever o sacerdote Zacharias e a bela Brown, só que Raquel e Nikolai não foram citados devidamente até agora.
A jovem possuía cabelos mais desgrenhados do que os de Jean. Usava casacos diversos para cobrir seu corpo, deixando a mostra só a cabeça. Seus olhos tinham sido forçados várias noites devido ao excesso de leitura. Talvez o único detalhe digno de nota fosse seu familiar, um sapo. Engole Moscas, nome meio óbvio para tal animal. Porém, seu tamanho, e as várias bolhas no corpo do pequeno colosso impediam qualquer um se aproximar dele. Especialmente, por ela o colocar em suas mãos como uma mascote. Horrível, mas seu pequeno xodó era aquela cria do pântano. Quem entenderia tal pessoa?
Já Nikolai era um caso bem diferente. Além de flertar com qualquer ser que use saias e tenha voz fina, usava trajes magníficos. Uma camisa branca de seda lhe cobre o peito ao qual era possível notar um amuleto com o símbolo de Ouroboros[2]. Usava calças negras que pareciam ser de um tecido fino. Tinha também um casaco de cor vermelha gritante, como a capa dos reis. Seu cabelo castanho claro era preso em um simples rabo de cavalo que sempre jogava a frente do corpo.
Todos desciam do navio com relativa calma. Jean por outro lado sem paciência alguma, surgiu na frente do grupo. Para seu azar era Halphy.
-Por qual motivo se atrasaram tanto? Estou nessa cidade já há cinco dias.
No mesmo instante, Halphy, sacou a sua arma arcana e disse:
-O motivo não importa. E se me desafiar mais uma vez, enfio minha Vampira no seu peito.
E quando o brilho escuro da lâmina passou diante do rosto de Jean, foi notável uma gota fria escorrer de seu rosto. Antes que perdesse o guia, Raquel interferiu:
-Com licença... Mas para... Senhor Jean? É isso?
-Isso. Sim sou Jean – voltou-se para a jovem estranha e tímida – Mas sou jovem demais para ser tratado como senhor. Meu nome já me basta. Iremos até a floresta. Lá, pelo que se sabe, fica o mausoléu. Que na verdade nem merecia esse nome.
-E por que diz isso rapaz? – se intrometeu Nikolai – A minha cara donzela vai querer saber.
Halphy bufou de raiva, mas até que tinha certa razão aquela pergunta.
-O que esse alquimista tolo falou tem sentido.
Jean sorriu.
-O Bando do Tigre Demoníaco já tinha me contratado há um mês. Nesse tempo, notei que o mausoléu precisa ser mantido de alguma forma, em relação a alimentos. O lugar tem um fornecimento concedido por elfos e faunos. Significa que o caminho é bem guardado e seus rastros são bem ocultos. Nada que um exame bem detalhado na floresta não nos auxilie. Algo que já fiz anteriormente de forma parcial.
Ela admirou a perspicácia de Jean. Já adiantou parte do trabalho. Notava-se que era esforçado. Continuou:
-Preparem suas armas. O lugar é perigoso. Lendas falam sobre perigos horríveis na floresta, como sombras, ou demônios em forma de espadas. Mentiras para proteger o lugar crêem alguns. Bem, levem suas coisas e se preparem para andar, pois vamos andar o bastante. O frio parece ter diminuído nessas terras.

Uma boa recordação? Não nem isso. Lembrou de seus antigos aliados. Como quando deve que salvar a vida de lacktum. Ou ficaram acampados sobre a luz das estrelas. Ou salvaram as vidas em Starten. Tantos acontecimentos de meses atrás que lhe causaram problemas. Poucas experiências proveitosas.
-Minha donzela Halphy... Ou como diriam os homens daqui... Mademoiselle, o que esta lhe importunando? Juro que farei o que for preciso para acabar com esse rosto de angustia – Nikolai falou.
-A única coisa que me importuna é você. Estou bem.
Começou a andar mais um pouco a frente se afastando do alquimista. Este, por sua vez, saiu na direção da mestra do saber. Sendo introvertida, vez ou outra, o pobre Nikolai encarava Engole Moscas que ela usava como um escudo.
Quando a líder do grupo se movimentava, olhou poucas vezes para trás, pois notava Zacharias. Ele caminhava solitário. Não que ela ligasse para isso, assim como ele.
-Ele te faz ter calafrios? – Jean falou para Halphy, que se espantou – Se não, você é extremamente corajosa moça. Parece que ele me olha como um prato farto de comida.
Não queria admitir, mas o rastreador estava certo. Aquele homem era algo ruim. Fosse um sacerdote ou não. Talvez um demônio, mas nem isso tinha certeza. Parecia um ser único e nunca entendeu tanto de demonologia.
-Você já viu um demônio? Eu acho que ele é aquilo que criaturas diabólicas temem a noite – falou Halphy.
-Será que há noite no Inferno?
-Não sei. Se houver, ele deve ser o pior ser daquelas terras.
Jean riu da resposta. Halphy o acompanhou. Isso foi notado pelos outros membros do grupo. Parecia que aquele encontro entre eles no cais nunca havia ocorrido. Ofensas nunca teriam sido feitas ou armas sacadas contra o outro.
-Queria lhe pedir perdão Jean. Estou com muitas coisas na cabeça. Se em algum momento fui grosseira...
-Halphy – interrompeu o homem – não se preocupe quando a isso.
-Obrigado. E essa será a última vez que lhe peço desculpas.
E ela continuou mais a frente.
Ao que parecia, esse era o jeito dela de pedir desculpas. Um modo bem complicado, como toda boa mulher faria.

Finalmente, chegava a Starten. Aquela cidade que foi sua primeira grande desventura nos dias participando do seu grupo antigo. Ela na verdade já sabia que não estava em uma equipe agora. Estava mais para uma guilda ou um exército. O Pacto de Guerra.
Não havia mais sinais da vila que um dia conheceu só suas cinzas. Nada a não ser pequenos vestígios de casas queimadas ou paredes destruídas. Se não fosse pelos sinais claros de confronto, alguns diriam que uma tempestade arrasou aquele lugar. Realmente as trevas se apoderaram de tudo ali.
Jean levantou pedaços de madeira que antes serviam como vigas. Encontrava só corpos e destruição.
Raquel se horrorizava. Nikolai aproveitava a situação, abraçando-a todo tempo. Fingia a consolar.
Halphy só contemplava o que ocorria de longe, tentando saber se tudo aquilo era sua culpa. Ou talvez tenha sido uma das Alianças. Quem sabe uma monstruosidade em especial. Nunca seria uma certeza, já que não havia ninguém naquele lugar. Ou havia?
Zacharias, soturno como um morcego, surgiu junto a uma figura humana. A jovem recém transformada em marduk não reconheceu aquela figura, sabia que era um homem, no entanto. Talvez fosse um simples aldeão daquele lugar ou uma cidade próxima. Não havia como saber.
O sacerdote havia acorrentado o sujeito. Ninguém viu aquela corrente com ele antes, mas era muito grande para ser algo natural. Com certeza deveria ter feito algum mágico e agido como um batedor.
-O que esta fazendo Zacharias? – perguntou uma curiosa Halphy.
-Quem é esse sujeito? – indagou Raquel.
-Qual o motivo de trazer esse traste a frente das damas? – disse um eloqüente Laskov.
O pobre homem tinha cabelos curtos, uma barba rala e parecia ter no máximo vinte anos. Camisa branca manchada pelo tempo e uma pequena pele de animal. Suas calças estavam rasgadas e nem possuía botas, visto que era notável o seu pé ensangüentado.
-Este aqui nos espreitava até alguns momentos atrás. Sua arma esta ali – falou apontando em uma direção – Um belo arco curto.
-E eu estava mesmo fazendo isso. Precisava de comida! Desde que nossa vila foi devastada pelos mortos famintos. Além de toda a sorte de criaturas que terminou com boa parte da vila.
-Oh! Vejam que pobre diabo. Não acham? – disse o clérigo de Hades soltando um sorriso largo e sem um pingo de bondade.
-O solte logo – disse Halphy indo na direção dos dois. Porém, o homem que serve ao Senhor do Submundo interrompeu a caminhada dele se colocando na sua frente antes.
-Estou aqui, entre outros motivos, para definir você como um membro do Pacto de Guerra. O maior poder esta em conseguir deixar nosso coração gélido como uma pedra. E para isso lhe peço que faça o pecado de matar um ser vivo. Sem nenhum motivo.
Ela ergueu a sobrancelha direita em desaprovação. Notou com tristeza as atitudes de Zacharias desafiando a voz de comando dela. Como se não fosse ninguém importante. E para o sacerdote não era mesmo. Que outras coisas ele estaria querendo ali?
-Não farei nada do que quer. Eu sou a líder desse grupo. E mesmo que não fosse, que direito tem sobre a vida e a morte dele?
O homem riu de maneira a conseguir deixar aflito o mais inútil e pequeno verme da terra. O som fez vibrar aquele chão como um terremoto antes da explosão de um vulcão. Realmente ele acreditava ter direito sobre tudo e todos.
-Faço isso como um favor ao poderoso Sinestro. E se acha que matará ele...
-Espere! – disse o acorrentado ao olhar atentamente Halphy nesse ínterim – Não a conheço de algum lugar? Como se...
Quando tentava formular a pergunta, as mesmas correntes que o aprisionavam começaram a sufocar plenamente. Comprimia tanto seu corpo que o fazia tentar gritar, espernear e soltar urros de dor. As cordas de metal o cercavam como uma cobra em um bote. Era estranho, pois aquele item parecia aumentar gradativamente. Tão veloz como o vento elas eram. Enfim, a ponta perfurou os olhos do homem fazendo-o gritar de um modo desesperado de dor. Finalmente o corpo todo tombava em cima de uma estaca de madeira. Estava morto.
As correntes de desataram do infeliz, deixando uma flor vermelha no peito do falecido. Era o tom escarlate do ser humano se soltando de modo grosseiro do infeliz que foi encontrado por Zacharias.
Todos mostravam suas opiniões de modo claro.
-Que nojo – disse Nikolai, mostrando bem os dentes.
-Pobre coitado! – falou Raquel inconformada.
-É assim que agem os homens que servem o tal Pacto de Guerra – soltou de forma rígida o rastreador cheio de fúria com aquela cena macabra.
O sacerdote do horror fez aqueles itens metálicos sumirem em sua túnica. Era cheio de truques aquele homem.
-Odeio que me interrompam. Bem, como dizia, quero que você saiba... Não será ele quem morrerá pelas suas mãos. É alguém bem mais importante na sua vida.
Ele então deu as costas e pediu que o grupo acompanhasse. Calmamente, era possível notar que se dirigia até o cemitério daquela cidade fantasma. E Zacharias sumiu rapidamente de suas vistas.

O primeiro confronto teria sido ali. Onde tudo começou. Cheio do cheiro de sangue e podridão de uma Canção dos Condenados. O poder que ali residia era grande para eles na época. Só que naquele momento, ela notava o quanto cresceu de forma arcana. A antiga ladina era agora uma assassina. Sua pele de uma meio elfa de segunda geração, agora foi substituída pelas escamas de um dragão esmeralda. Suas ambições, ainda continuavam as mesmas. Domínio
Várias sepulturas estavam abertas. Com a neve caindo dentro daquele lugar, preenchendo-os. Como se fosse um terrível funeral. Nada estranho para alguém já acostumado com aquele tipo de magia negra.
Ela mexeu com os cabelos de modo a esquecer o que ocorreu naquele lugar. Como se não tivesse sido nada pisar naquele cemitério. Até ela admitia, em sua mente que não era verdade.
Sem saber o que fazia era uma visita ao passado recente. Cheio de complicações e combates desnecessários. Perdas irreparáveis, algumas vezes.
Morte era realmente a canção que tocava ali, como um réquiem.
Por fim, chegaram de uma estrutura que Halphy conhecia bem. Na verdade só ela deveria ter visto aquela construção dentro do grupo. Era o que achava.
-Foi aqui que repousava o corpo de Sinestro. Pelo menos é o que eu lembro. Na época, pelo menos, não imaginava as proporções que esse lugar teria em minha vida. Afinal, qual o motivo do desgraçado Zacharias de nos trazer até aqui?
Surge de uma sombra o homem careca que servia a Hades. Correntes novamente eram ouvidas, trazendo consigo o peso de um corpo. Só que dessa vez, não era um homem. Era um goblin, um duende verde.
-Zas!?

O que aquele homem queria? Matar o sacerdote? O ser pequenino que servia a Caliban se debatia. Seu poder não deveria ser páreo para eles. Para que lidar assim com ele.
O velho Zas estava ferido e com os pulsos presos por uma corrente. O rosto marcado por torturas como fogo ou ferro. Talvez os dois ao mesmo tempo – fazendo qualquer um que observasse tal cena sentir no mínimo pena. Um mero goblin, que deve estar a serviço de seu deus até o fim.
Maldito seja Zacharias, pensou a recém transformada marduk.
-O que você quer que seja feito? – ela perguntou.
-Pegue sua Vampira de Almas e corte o pescoço dessa criatura ordinária.
Não só ela, mas todos ali ficaram surpresos com aquela atitude. Eles estavam assim por um homem que serve a Sinestro conceder tanto crédito a um mero goblin. O que lhes causava um grande alvoroço.
Halphy mostrava certa raiva junto com surpresa. Só que sua face alterou a expressão, criando um sorriso malicioso. Como se ela já tivesse uma resposta para aquilo, começou a se mover na direção dos dois.
-Eu não irei o matar com a Vampira.
Todos ficaram três vezes mais espantados que antes. Raquel e Nikolai já conheciam a reputação de Zacharias, como um hábil torturador. Eles temiam seu próximo passo. Já Jean, este gostou da atitude da mulher. Tinha terminado de crer que Halphy era uma pessoa fria e sem coração. Talvez estivesse errado sobre ela.
-Se não o fizer, reportarei sua insubordinação ao mestre.
Antes te falar qualquer outra coisa a mais, Halphy interrompeu o clérigo.
-Realmente, eu não o irei matar com minha arma principal – falado isso sacou uma adaga – Quais são suas últimas palavras goblin?
-Esse dia passará a ser o mais negro da história!
-Certo...
Falado isso, uma adaga percorreu o pescoço do duende. E o sangue jorrou bem lentamente. Como cálido rio escarlate.

Como ela pode, pensou Jean. Que atitude mais grotesca a daquela mulher. Dane-se que era uma assassina. Ou que a vitima um duende verde. Ninguém tem o direito de tratar as pessoas ou criaturas desse modo. O golpe foi profundo, mas sem força. Uma lâmina bem afiada fez bem aquele serviço cruel e maligno.
Uma mulher cruel rasgava ou matava quem fosse necessário. Havia se tornado uma temível assassina a jovem. Não que isso importasse para a jovem marduk. Era agora uma criatura sem coração.
Pegou um trapo que tinha consigo e limpou com cuidado a lâmina de sua arma. Não parecia se preocupar com o fato que havia matado um duende verde. Muitos pensam assim. Só que não quando se conhecia o ser morto. Nenhum sentimento. Fria.
Jean pegou suas coisas e voltou para seu caminho como guia.
Já ela embainhou a lâmina. Era uma vida a mais ceifada por sua arma. Uma a mais para a longa lista. Menos uma no mundo para Halphy.
-Muito bem – disse Zacharias ao se aproximar da moça – Agora, tratemos de negócios... O Silencioso.
-O que tem? – disse sem olhar para trás a moça assassina.
-Dentro do Mausoléu existem três câmaras principais. Cada uma representando um elemento: terra, vento e fogo. Representando um dos elementos da natureza. Terá que passar por todas para conseguir três pedras que abrem uma área subterrânea. Lá estará o Silencioso e o item que almeja.
Ela consentiu com a cabeça e se virou na direção do sacerdote.
-Esta bem então, mas saia de perto de mim! Você me enoja.
Falado isso, a moça saiu em direção ao caminho que deveriam trilhar. Os outros já saíram atrás dela, foi o que notou. E por ultimo o homem careca falando:
-Ah, minha cara Brown! Não é de mim que todos sentem nojo. Pois de minha pessoa eles tem é medo.

Depois de alguns dias, chegaram até a floresta em questão. Era mais um pântano lodoso e perigoso. Notava-se de longe. Visto que por todo o lugar não havia som nenhum. Nem sequer o farfalhar de folhas ou gracejo de animais, que pelo jeito, sumiram daquele lugar.
Era estranha a sensação de estar em uma floresta sem animais. Como quando se entra em um quarto vazio. Sem nem sequer uma cama. Preenchem-nos com um sentimento incomodo. Bizarro em algumas situações até. Ou até mesmo parecido com um corpo sem alma.
As árvores não se agitavam, só quando esbarravam ou tocavam em seus galhos e folhas. O vento quase não fluía só o suficiente para manter respirando quem ali adentrasse. E quem precisasse disso. A água parada e suja, só aumentava ainda mais a sensação de que o lugar parecia perdido no tempo e espaço. Um verdadeiro pântano assombrado por mortes. Esquecido por alguns deuses da natureza.
Engraçado notar que o sacerdote caminhava por cima do liquido. Com toda a certeza por uma magia, mas mais uma vez ele não pronunciou um encantamento sequer. Assim como fez com as correntes.
Enquanto isso, o resto do grupo estava no lodo. Literalmente. Sujos e imundo guardavam as forças arcanas para quando alcançassem o Mausoléu do Silêncio. E como pelo jeito não havia nenhuma criatura peçonhenta, a preocupação com animais sumiu por completo.
Olhavam de longe enquanto que Jean finalmente voltará da sua busca. Parecia ter notícias no semblante. Usou os galhos podres mais firmes para cair no lodo, sem fazer alvoroço ou barulho pelo menos.
-Notei que havia dois guardas élficos. E bom estarmos preparados com ataques a distância.
-Deixe isso comigo – disse Halphy mostrando a besta e os virotes – Mais alguma informação?
-Nada mais.
-Bem, vamos então?
Após isso, o grupo saiu do lamaçal e alcançou a área de terra. Limparam o que tinha de sujeira na roupa e continuavam aquele caminho. Zacharias riu deles de forma contida, como se tivesse visto um bando de cães se limpando. E o pior, disse isso no rosto deles.

Dois projeteis atravessaram o ar. Atingindo a garganta dos elfos.
O grupo começou a correr na direção da estrutura. Os primeiros a chegar à entrada foram Raquel e Nikolai. Ao se aproximar, conferiram se haviam mesmo falecido aqueles guardas.
-Esse aqui morreu! – gritou Raquel.
-Esse aqui também! – falou com certo orgulho o alquimista – Senhorita Brown tem uma pontaria perfeita.
E o homem notava que Halphy arrumava sua besta nas costas. Nada a deixava animada. Nem a forma do lugar. Mais parecia uma velha cripta ao estilo dos celtas. Com símbolos sidhe e inscrições. A mestra do saber já conferiu magicamente: não havia perigo nelas.
-O que fazem os símbolos então? – perguntou um Jean arrumando seu arco.
-Bem, o primeiro parece deixar invisível essa área para os mundanos e as pessoas inexperientes[3]. O segundo parece extrair mana para as câmaras do Mausoléu. Por último, aquele signo parece ter uma força bem maior como se fosse um selo – explicou Raquel.
-Como assim?
-Eu não sei... Deveria entrar e observar. Com cuidado e atenção.
-Certo...
-Vamos entrar então? – perguntou Zacharias sorrindo de forma macabra.
-Vamos.
Surgia na porta escadas, e com elas, luzes. Cada uma mais forte que a outra. Não deixando o lugar mais sinistro. Na verdade era completamente agradável em comparação a parte de fora.
Quando chegaram ao final, um salão oval, bem claro, os recepcionava. Ao centro havia obeliscos ao qual faltavam pedaços de suas pontas. Na base deles escritos em élfico. Além de aberturas para outros lugares. Três, para ser mais preciso.
-Mas que raios são essas coisas? – soltou Halphy.
-Esta em élfico – Nikolai respondeu.
-Que esta em élfico, inteligência baixa, eu sei! Quero saber para onde vão aqueles túneis. Pois esqueceu que sou meio elfa?
-Na verdade, esqueci. Eu vi a sua aparência verdadeira depois do rito. Quem não esqueceria esse detalhe? Mas juro que continuo amando você.
-Cale a boca! – ao falar isso, só se escutou um forte golpe na cabeça do sujeito.
Em seguida ela leu:

Em um, o destino o levará
Como um dia de verão
Mas cuidado, pois nada deve me controlar
E parar é o que melhor fará

No outro, o destino irá contra
Como dia em que a fortuna o abandonar
Veja sempre leste até oeste
Começando por onde o Sol jaz a sombra

O último, o destino será forte
Como Ícaro até Apolo
Que a vontade lhe trará vitória
E com fortitude não haverá morte

Lembre-se: o segundo será o primeiro
E tudo será assim, até o silêncio

-Imagina o que seja isso? – falou Jean de pé ao lado de uma Halphy agachada.
-Uma adivinha com certeza. O problema é saber sua finalidade. Pode ser qualquer coisa. O que sabemos ao certo é que se refere aos obeliscos e as portas. Deve se referir a armadilhas.
-Bem o que faremos?
-Nós? – ela retrucou enquanto se levantava – Você quis dizer eu. Visto que não vou deixar outros fazerem o meu serviço.
Após se arrumar, ela pegou sua espada e disse:
-Começarei pela entrada do meio.

Não queria ser a primeira por achar que fosse mais competente. O fazia por temer ser roubada. Onde quer que esteja a tal Chama Gélida, alguém poderia tomar. E era dela. De mais ninguém.
Rachel não tinha competência, mas já Zacharias, Nikolai e Jean eram maliciosos. Havia certa crueldade em alguns. Nem tanto o rastreador. Porém, o sacerdote e o alquimista eram outro caso.
Enfim, Halphy tirou isso de sua mente. Qual o motivo em pensar tal bobagem? Não é a sua personalidade aquilo. Algo acontecia, e já sabia o que era. A corrupção.
O mesmo que sentiu com os itens do Desalmado. Que sensação horrível. Como se fosse tudo para ela.
Teria que ignorar esse sentimento opressivo. Obter o item sim, ser consumido por ele jamais.
Entrava por um corredor espaçoso. Pouco iluminado, mas que concedia passagem a um salão. Uma luz forte e clara surgia dele.
Halphy seguia na frente. Seguida por Jean, Rachel, Nikolai e Zacharias. Estranho era ver ela envolvida com seu novo grupo. Não foi a mesma coisa, soque mesmo assim, nenhum deles possuía laços afetivos. Isso explicava muito. Talvez, os amigos sejam mais esforçados.
Chegou ao salão para conferir, o que havia naquele lugar. Notou uma sala maior. Muitas rochas – pequenas e grandes – em uma área imensa. No centro, existia um desenho da Rosa dos Ventos. Era algo estranho, pois notava que a localidade era uma construção de elfos. Notava no fim daquele lugar um brilho forte.
Imaginou que o melhor fosse entrar de uma vez ali. Um engano.
Ao colocar o pé dentro do local, viu pedras sendo arremessadas. Eram só algumas, porém notou elas voando, como se tivesse acionado alguma armadilha.
Seus conhecimentos como uma ladra a ajudariam. Uma pena nunca mais ter treinado aquelas perícias em especial. Só que ali não era momento para isso.
Notando que as pedras voavam na direção de sua cabeça, ela abaixou rapidamente. Deslizou a perna de modo que pudesse desviar do golpe. Foi bem sucedida.
O ataque continuava mesmo assim. Golpes terríveis de pedra como se fossem jogadas das mãos de um gigante. Todos em seqüência. Enquanto notava isso, refletiu, notando algo único.
-Senhorita Brown saia desse lugar! – exigiu o alquimista.
-Halphy! Saia! Fuja – gritou Jean desesperado.
-Não! Já entendi esse sistema! Posso não saber mexer tão bem em armadilhas, só que sei quando algo esta em ordem!
Ignorando o espanto do grupo, ela continuou caminhando até aquela luz estranha na sala. Mesmo com as pedras sendo lançadas, Halphy mudava o corpo com todo cuidado. Nem parecia ter peso. Como uma pluma.
Falava para si mesma enquanto atravessava o caminho.
-A seqüência é igual ao caminho que o Sol faz, mas aonde ele deita... É onde ele deita!
Uma única coisa com que ela não contava era a velocidade que aumentava era a velocidade que aumentava nas pedras. Visto que cada uma nova leva de pedregulhos era mais perigosa. Golpes violentos pelo aumento da velocidade.
Cada impacto das pedras causava destruição na parede de trás, quebrando também o teto. Parecia que se não fosse um golpe de algo inerte, ela morreria esmagada. Um próximo ataque talvez fosse o fim da garota. Perigoso.
Espadas e facas não serviriam para nada. Visto que mesmo sendo itens fortes, nada dura para sempre. Nem os de origem arcana. E não queria perder as poucas armas dela. Combate não era a prioridade para ela. Que não ocorria com tanta freqüência. O verdadeiro problema era perder os itens de profissão.
Mesmo assim, ela sobreviveu, alcançando seus intentos. Ela pegou o item brilhante.
-Peguei!
Após gritar isso, a assassina se sentiu bem. Lembrou-se certa vez, de quando roubou uma maçã. A sensação era a mesma. Com importâncias diferentes, lógico. O que importava era a conquista de seus objetivos.
Todos os membros do grupo estavam se aproximando da marduk. Falavam em como ela era rápida, esperta e corajosa.
Segurando uma pedra com runas da terra, apertou bem. Tentava entender o que estava ocorrendo. O pequeno item deveria servir para encontrar com o Silencioso. Até já imaginava.
-Vamos até a próxima entrada! Tive uma idéia.

Após saírem e entrarem pelo corredor direito, Halphy falou o que talvez tenha descoberto.
-Cada pedra deve ser coloca nos obeliscos. Na sua ponta. Em uma ordem precisa.
-O que disse não é nenhuma novidade – falou Zacharias, cheio de malícia.
Ela se voltou para o sacerdote, quase desembainhando sua principal arma. Conteve-se, no entanto. Não sabia se era por conta do medo daquele ser ou se o bom senso falava mais alto.
-Ao que parece os textos servem para muito mais. Ensinam-nos como cruzar os desafios – concluiu a assassina.
-Lembra-se das três? Das três charadas?  - perguntou o simplório Jean.
Moveu a cabeça de forma positiva. E ainda falou:
-Não sei qual será o próximo desafio. O que sei é que aqui não é um lugar tão difícil quanto imaginava. Acredito que o próximo desafio será fácil. Só devo tomar cuidado para não pisar no salão sem tomar o devido cuidado. Isso, com certeza, eu terei que lidar com todo cuidado.
Quando terminou sua fala, a garota chegou na nova câmara. Cheia de luz natural, algo diferente do outro local. Estranho até, visto que na última vez o lugar estava com um brilho mágico. Isso, sem contar o fato de que estavam em um pântano. O sol não devia estar forte para isso.
 Ao chegar à porta, Halphy notou algo. Uma lufada de vento, que vez ou outra enfraquecia. Estranhamente, não havia abertura no solo de onde ela surgia. Mais um dos efeitos arcanos daquele local.
Sem avisar, um vento tão forte quanto um pequeno vendaval surgiu. Era poderoso o suficiente para erguer um corpo no ar.
Prestando melhor atenção, aquele quarto não era como o anterior. Seu tamanho possuía uma tremenda diferença do outro local. Alto como uma torre pensou.
-Como deve funcionar esse lugar? – perguntou Jean sem nenhum alvo em especial.
-Eu acho que notei o nosso objetivo. Olhem! – e ao falar isso, Nikolai aponta para um brilho próximo ao teto.
Um item arcano com certeza, como o que estava na mão de Halphy. Mais uma pedra para o uso nos obeliscos acreditava.
Ela então fez algo que assustou Jean: revelou suas asas. Com formas dracônicas. Parecia estar lentamente as abrindo. Como se acorda de um profundo sono.

Halphy saltou ao ar, aproveitando o espaço mínimo. Esse seria fácil. As asas facilitavam o trajeto. Nada a impediria. Imaginou que os ventos sopravam em determinados momentos. Acreditando nisso voou bem rápido.
O rastreador, mais atento notou aqueles planos da jovem Brown. Pelo pouco que reparou ela estava errada.
-Brown! Volte! O vento...
Sem tempo. Uma rajada surgiu vinda do nada, como antes. Levantou muito velozmente o corpo dela. Passou tão rapidamente por aquele item que buscava que mal o viu.
Jean voltou a gritar:
-Use a espada para se prender a parede!
Dessa vez ouviu o homem da floresta. Girando em pleno ar sacou sua principal arma. Cravou sua lâmina entre as pedras da sala. Segurava firmemente o cabo do item salvador. O vento não cessava, tentando ser cada vez mais forte contra o corpo pequeno. Ela tinha que ser forte, porém. Não. Ela já o era. Sua mente lhe concedia pensamentos tolos que tinha que ignorar como fraqueza. Rangia as presas e se apoiava mais ainda na arma. Repetia uma única frase como uma oração:
-Não vou perder!
O vento então cessou. Sem avisos. Poderia respirar finalmente.
-Halphy! Olhe para cima! – gritou mais uma vez o rastreador.
Quando levantou a cabeça, notou o que Jean tanto quis mostrar. Havia um conjunto de cristais brilhantes presos no teto. Fortes e resistentes como um metal antigo. Em alguns pontos ela notava que produziam luz própria. Assim, simulava a força do sol naquele lugar cheio de magia. Algo que realmente a preocupava eram as pontas daqueles itens. Afiadas como uma lâmina do mais puro aço de Damasco. Seria uma morte rápida, se flutuasse sem rumo na direção daquelas pontas.
-Obrigado por me fazer notar – disse ela fazendo um gesto de agradecimento. Ouviu um, de nada, bem veloz.
Começou a fixar sua espada de modo que descesse a parede com relativa calma. Além é lógico, de uma faca. As colocava nos vão de cada tijolo daquele lugar, as usando como escadas. Simples e humildes. Serviam para os seus intentos pelo menos.
Cada novo tijolo era uma chance de alcançar a pedra com runas. E o vento, vez ou outra surgia. Isso a deixava com medo, visto que as asas poderiam se abrir sem sua vontade. Os movimentos eram friamente calculados. Sem pânico e com toda a calma.
O pior é que nenhuma das magias que conhecia serviria para aquela situação. Eram normalmente para assaltos e mortes. Quaisquer uma que a fizesse manter presa na parede seria dissipada por alguma pressão do ar. Era preferível não gastar uma sequer nessa situação perigosa. Não sabia como seria seu encontro com o Silencioso. Um pouco a mais de mana sempre faria diferença.
Depois de muita dificuldade, Halphy finalmente chegou ao nível onde a segunda pedra estava. Com uma das mãos livres, começou a tocar o item. Moveu o braço rapidamente e agarrou-a, quando ouviu:
-O vento Halphy!

Mais um dos ataques daquele elemento da natureza. A adaga havia voado de sua mão. Uma única coisa segurava a jovem naquela estrutura. Era sua força sobre Vampira de Almas. Aquela arma presa contra a parede do salão a impedia de ser esfaqueada contra os cristais do teto.
Nikolai que a tudo via desesperava-se abaixo dela.
-Pragas do Egito! Que desafio mais demoníaco!
-Cale sua boca! Não é você que esta passando por eles! – um irritado rastreador.
-Eu sei. Mesmo assim...
-Silêncio os dois – gritou Raquel. Parecia a mais centrada do grupo. Sendo que Zacharias era um poço de risadas escorado na parede. Parecia que tudo ali para ele era fácil e simples. Como brincadeira de criança.
Enquanto tudo isso ocorria, Halphy tentava manter-se viva. O que talvez conseguisse, visto que aquele vento arcano cessou.
Com sua destreza única, retirou a lâmina da parede. Caiu, como um gato diante do grupo. Em seguida pulou na direção deles. Eles abriram espaço para não atrapalharem a assassina. Não se esfolou ou se machucou de nenhuma forma. E antes que alguém lhe estendesse a mão levantou-se com um pequeno salto. Assim, ao menos, não bateria na parede ou no teto.
Agora faltava só um desafio.

O ultimo corredor, o ultimo teste enfim. Halphy o percorria com uma total falta de temor. Sem pensar atravessava toda a extensão daquela catacumba. Visto que parecia mais um local de diversão. Nem o perigo a sua vida iminente fazia com que temesse algo. Uma mulher como poucos.
Enquanto se aproximavam do objetivo, Jean formulava perguntas como, o que estavam caçando. Ouviu sobre a Chama Gélida e seu protetor. Mesmo assim, não sabia suas propriedades. Mal sabia do que realmente tratava-se.
O grupo ficou então um bom tempo caminhando na direção da última pedra. Foi quando Zacharias fez à primeira atitude altruísta, pois gritou:
-Halphy! Cuidado!
Chamas surgiram como um fantasma diante da jovem. Estavam cheias de fúrias. Poder o suficiente para incinerar. Ela voltou um pouco para trás. E em seguida falou baixo, quase que para si:
-Vontade lhe trará vitória.
Falado isso, saltou como uma lebre. Quando notou o grupo gritava oseu nome. Ela ria por de trás das chamas.
-Estou bem, seus tolos! Fiquem! Eu prossigo!
Ela notava que havia mais perigos no lugar. Mesmo assim, não se abateria pelo fogo na sua frente. Pulou no território flamejante mais uma vez.
Com cuidado foi se afastando para um salto preciso. E outro salto foi aparecendo. Nada a impediria.
O fogo poderia lhe causar grande dor, visto que os dragões esmeraldas não eram imunes a isso. Os que eram dourados e os de sangue eram. Isso deixava Halphy preocupada, visto que sua imunidade era ao som. E sabia que os inimigos usavam o elemento – seja de forma mágica ou comum – em combates. Pena, pensava ela.
Só que agora, a assassina estava próxima de seu objetivo. A última pedra estava ao seu alcance. Ela conseguia ver a luz naquele lugar mesmo com as chamas. Uma força diferente do fogo.
Eram só alguns movimentos. O fogo em sua frente não a interromperia. O final do percurso esta próximo. Só o instante certo já aliviaria sua ansiedade. A pedra estava próxima.
Foi quando ela gritou.
O seu pulso foi queimado com aquele golpe rápido. A jovem ambiciosa quase conseguiu com sua tentativa. Querer aquele poder a fez berrar com uma dor colossal. Maldita seja a sorte daqueles que almejam o poder. Só que ela tinha muita vontade e poder.
Enfiou de uma só vez a mão dentro do fogo. Finalmente, alcançará a terceira pedra. Assim, fazendo as chamas finalmente cessarem. Com os desafios finalizados, se ergueu vitoriosa do lugar onde passou por tamanhas provações. Que para ela, agora, nada mais importavam.

Voltaram ao salão principal. Acreditavam que havia anulado todos os poderes no mausoléu. E não queriam conferir. O que restou foi retornar ao lugar com os obeliscos.
Halphy os contemplou assim com certo cuidado. A primeira pedra obteve no salão do meio. Tinha runas de terra ela. Já sua segunda conquista lhe parecia ter um símbolo referente ao ar. Não havia notado antes pelo perigo que ocorreu. A última peça era vermelha e tinha um símbolo escarlate.
-O que foi senhorita Halphy? Coloque as pedras e pronto! – disse Nikolai.
Jean deu um golpe na nuca do alquimista. Se fosse só colocar pedras nas pontas de um obelisco seria fácil encontrar o Silencioso. Elfos nunca fazem coisas fáceis.
Ela olhava para os obeliscos.
-O segundo será primeiro... O segundo...
Colocando aquelas pedras da esquerda para a direita, as posicionou da seguinte forma: terra, vento e fogo. Ao fazer o último movimento, um silêncio surgiu.
Os obeliscos se movimentaram abrindo um caminho subterrâneo. As pedras gemiam como se há muitas eras não chegasse a fazer aquilo. Não havia aranhas, teias ou quaisquer tipos de criatura pequena ou rastejante. Mesmo trazendo a aura arcana dos elfos, era algo com certa força sinistra.
Halphy deu o primeiro passo na direção daquele lugar. Mas tremia. Ao ver isso, Jean colocou sua mão sobre o ombro dela. Ela aceitou a afeição.
Finalmente desceu a escada.

Cada novo passo parecia uma pesada pedra na escuridão, jogada por uma mão invisível. O grupo parecia incomodado com a força arcana do lugar. Finalmente, Halphy compreendia que nunca foi o dito lado mal que sempre temeu. Era o desconhecido. Isso estava mais claro agora, sendo que participava de um grupo maligno agora. Ou o que considerava uma sociedade de má índole antes.
Ao tocar o chão daquela escadaria escondida, notava estar mais perto de seu objetivo. Suas pernas não contribuíam. Enfraqueciam. Não por medo ou raiva. A ansiedade falava mais alto. Passando pelo dito Silencioso conseguiria seu objetivo. Domínio e poder.
O grupo atrás dela via tudo com relativa calma e paciência. Jean em uma mão segurava uma tocha e na outra uma espada. Nikolai em pouco tempo criou uma lâmina reluzente. Raquel abraçava seu tomo como se fizesse parte de sua vida. E como sempre Zacharias se sentia confortável com tudo aquilo.
Chegaram ao ultimo degrau e ao fim da escada. Mas havia mais que terra ali. Surgia água naquele lugar.
Água negra e lodosa, encharcando qualquer calçado. As paredes eram negras dando uma impressão de infinito. Ainda assim, o líquido abaixo deles é o que realmente não os deixava bem. Parecia algo estranho de tudo aquilo que já viram.
-O que é isso? – disse Nikolai com certo receio.
-Não vê que é água? – falou a mestra do saber cheia de nojo.
-Espere! Nikolai deve estar certo – interrompeu a líder do grupo – Pode sentir como se estivesse no meio de uma Canção dos Condenados. Só que...
Foi então que Zacharias apontou em uma direção, já transparecendo que sabia o que ocorreria. Naquele lugar onde o sacerdote apontou surgiu um. Um de vários. Todos com roupas e aspectos élficos. Na verdade sempre estiveram ali. Eles que não notavam até então. Deitados e silenciosos.
Com isso o grupo temeu por sua vida. Pensaram em mortos famintos. Nada ocorreu como imaginavam, porém.
-Que inferno é esse aqui? – gritou Jean. Logo foi detido pela assassina.
-Os elfos de Árcadia enterram seus guerreiros assim. Minha mãe uma vez me Comentou sobre isso – disse Halphy relembrando.
-Que ato mais mórbido... Qual o motivo de nos encontrarmos com isso? – disse uma Raquel transtornada.
-Por isso o chama de Mausoléu do Silêncio – respondeu em definitivo a líder daquele grupo – Parece que não são normais como os nossos tratamentos dos mortos.
Nesse instante mórbido, a marduk pensou em como seria para os dragões lidar com os seus mortos. Difícil de imaginar tal cena. Afinal, agora era metade dragão. Ou pelo menos uma pequena parte. Nunca entendeu bem aquilo.
Pediu que o rastreador iluminasse o caminho. Mais a frente havia uma estrutura. Lembrava mais um trono, ou algo bem próximo disso. Visto que nele estava sentado um vulto.
Quando mais se aproximavam, os corpos e água sumiam. Deixando abaixo de seus pés uma estrutura de mármore. Cheio de detalhes em élfico. Parecia que o mana exalava deles.
E naquele trono estava uma criatura única. Um sátiro.

Criatura mítica das lendas, os sátiros têm um parentesco distante com fadas. Poderes de sedução fortes, quase como uma sereia. Tão mortais como uma. Recebiam dons musicais que ajudavam nas conquistas. Suas magias eram quase sempre relativas à força de seu charme. Tinham pernas de bode, assim como o rabo desse tipo de animal. A parte de cima era de um homem, com exceção do par de chifres. Cada um deles não usava nenhuma vestimenta, visto que era como se fizessem parte da natureza.
O tão famoso Silencioso não era diferente.
Os pelos que ficavam nas partes baixas de seu corpo eram negros como uma noite sem luar. Os cabelos do mesmo tom, longos e jogados todos para trás. Os córneos finamente adornados com pedaços de metal fino e pedras preciosas. Não portava mais nada a não ser uma lira.
Seu semblante não era de fúria. Mas também não trazia nenhum convite. Com uma das mãos carregava seu instrumento, cheio de detalhes do período helenístico.
Quem era Halphy já sabia. O Silencioso estava na sua frente.
-Fale Silencioso – disse a líder do pequeno grupo.
O sátiro riu rapidamente.
-Sim sou o Silencioso. E quem é você jovem de pele escamosa verde?
Ela saltou de raiva e espanto.
-Como percebeu?
-Sou protetor daqui por um bom motivo. Minha magia que dissipa ilusões já estava ativa. O que me impede de ser enganado por quase todos vocês. Com exceção do careca ao fundo.
-Muito grato – disse um Zacharias sorridente e sarcástico.
O Silencioso fitou aquele homem com temor. Parecia ter encontrado um perigo grande, visto que já guardava um. De qualquer forma o bardo não recuou. Esbravejou:
-Olhe o meu semblante! Sou o Silencioso! Guardião do mal da Chama Gélida! Aquilo que manipula a Lei do Domínio! Para obterem esse item, precisarão me matar.
Sacando a lâmina, Halphy pronunciou:
-Seja feito a sua vontade. Grupo ataque!
-Finalmente! – gritou Nikolai batendo as palmas da mão. Com isso surgiu duas lanças de metal que prontamente usaria.
Já a mestra do saber pretendia atacar com uma magia.
Porém, antes que ela e a marduk fizesse algo, ouviram o toque da lira. Foi então que tudo silenciou. Literalmente.
Halphy e Raquel não conseguiam pronunciar nenhum encantamento. Nenhuma magia seria lançada ali. De nenhum tipo.

Diante disso, sacou Vampira de Almas. A assassina queria ver sangue. E o Silencioso sabia disso. Saltou na parte de cima do trono brincando com ela. Nem poderia gritar de raiva.
Cercaram o protetor da Chama Gélida. Era Halphy, Jean, Raquel e Nikolai. Cada um com uma arma já que a mana não se manifestava.
Uma das lanças do alquimista foi jogada contra o sátiro. Sem efeito imediato. Mas foi o bastante para uma distração.
Halphy enfiou Vampira na altura do ombro de seu oponente. Ele não gritou, mesmo podendo. Era o único ali que podia expressar qualquer som, estava claro. Ao invés disso, gemeu segurando a dor. Isso, visto que a assassina saltou para alcançá-lo.
Ela preferiu manter-se no ataque corporal, sendo que com a besta era ineficaz. A aura mágica dele parecia imune as setas de flechas e virotes. E aquela arma era um presente de sua mãe. Não poderia perder aquele item por uma bobagem.
Raquel tentou atacar a pele do bardo sátiro quando esse chegou ao chão. Não obteve a mesma sorte que sua líder. Caiu ao chão com seu próprio ataque.
Jean parecia estar pronto para o combate. Sua lâmina cruzava com a de Halphy vez ou outra, já que tinham o mesmo alvo. O barulho de metal zunindo, invés do som de choque era o que mais ocorria. Ou melhor, o que deveria ocorrer. O som havia sumido daquele grupo mesmo.
Zacharias era o único ainda ali sem mover uma parte sequer de seu corpo. Parecia contemplar algo. Talvez a tolice dos companheiros, ou quem sabe quisesse ver o quão poderoso era o sátiro. Nunca se sabia quando finalmente agiria. Só que ele decidiria quando queria fazer algo a respeito.
Foi só quando Halphy balançou mais uma vez sua lâmina que notou quão inútil estava sendo seus golpes. O homem com pernas de bode golpeou a jovem rapidamente, quase quebrando seus dentes. Fez isso, apoiado com uma só mão no chão. Era um acrobata nato.
Após o golpe, passou por trás do grupo. Com a lira ainda em mão, tocou rapidamente um acorde. E ao fazê-lo, paralisou as pernas de Jean. Como? Através de algas que brotaram das águas onde jaziam os mortos. Normalmente fracas essas plantas aquáticas tinham a força de uma corda.
Feito esse encanto, o Silencioso girou seu braço rapidamente acertando com o punho seu peito. O que ocorreu não foi um ataque com a mão fechada, mas com suas garras.
Na região do peito de Halphy, suas vestimentas estavam encharcadas de sangue. Golpe rápido e certeiro. Fez vacilar pela dor causada. Assim mesmo, a assassina não desistia da idéia. Matar o oponente era conquistar aquele artefato.
O sangue jorrava na água deixando tal lugar com tons de profano.
Mais uma vez Raquel saltou, feito o seu sapo familiar. Não obteve sorte no seu golpe voador com a adaga.
Já o alquimista, ainda com uma das lanças, golpeou com energia aquele ser metade bode. Ele o fez sangrar bastante até, só que ainda parecia bem para o combate. Mesmo com a parte do corpo que era humana com tamanha palidez.
Era rígido, forte e firme, como todo o homem deveria ser. E corajoso. Isso todos tinham que admitir. Poderia estar sozinho, porém se mantinha firme no combate.
A espada de Halphy girava mais uma vez acertando o chão. Cada golpe ou tentativa não danificava Vampira de Almas, só cansava seu punho por conta disso. Isso sem falar da tonteira e a falta de sangue. O primeiro golpe foi forte, a moça ficou desestabilizada. Vez ou outra usava a arma como um apoio.
O bardo tocou mais uma vez sua lira. Outro som maravilhoso. Um verdadeiro bálsamo, uma cura verdadeira. A força curativa. Seus cortes e golpes foram curados. Nenhuma ferida se encontrava nele.
Ela esbravejava gritos de raiva sem sentido. Afinal, nenhum barulho era escutado. O que deixava ela ainda mais perturbada, frustrada e – em especial – tonta pelo cansaço.
Nikolai usou parte do poder ao qual imbuiu sua lança. Estranhamente, não deixou de fazer magias, Lógico. Era o único que não precisava de forma gestual em seus atos. Só seu poder era reduzido. O Silencioso desviava do golpe como se estivesse fugindo simples vermes.
Enquanto isso, Jean se soltava das plantas que vinham do leito. Jogou a espada que usou para se libertar no chão. Sacou o arco longo e pegou três flechas. Um colocou na arma e disparou. A seta foi bloqueada por uma barreira invisível. Era uma pena Halphy não poder avisar o rastreador. Ninguém ali, nunca pensou que o som seria tão importante.
Parecia que o oponente estava escutando os movimentos e as conversas dos jovens. Como seria possível? Será que aquilo era verdade, ou só um delírio dos jovens que serviam ao Pacto de Guerra? Nada mais importava.
O rastreador tentaria um novo ataque. Jogou arco e as duas flechas na água e abaixou-se pegando a arma que havia lançado ao chão, pouco tempo atrás. Ergueu-se em uma investida furiosa com a espada longa. O sátiro deve então que bloquear desesperadamente esse golpe com o corpo de sua lira, que parecia ser bem mais resistente do que se imaginava. A investida continuava, com um giro da espada que visava o pescoço. Este foi parado com sua garra. Por último a tirou rapidamente e enfiou na coxa do bardo. O golpe, finalmente, acertou o alvo.
O Silencioso afastou-se um pouco cansado. Ainda estava em melhores condições que Halphy, pelo menos.
A fraca mestra do saber tentou usar a adaga contra o oponente. E como da última vez, não surtiu efeito. Errou nessa nova tentativa.
Halphy atacou pela terceira vez. Pensou que acertou. A tonteira, a perda de sangue e a falta de som nublavam sua percepção do que realmente acontecia. O que propiciou um contra golpe de seu adversário. Isso lançou a jovem para longe, próximo aos corpos do mausoléu.
O resto do grupo via aquela cena com espanto e temor. Sem som algum, criando uma angústia indescritível.

A cabeça dela levantou da água. Não por vontade própria, mas por ajuda de alguém. Ela via a luta de forma turva continuar, pois o sangue cobria sua vista. O estranho ajeitou a marduk contra seu peito, como um encosto. Ela não se sentia bem perto desse ser, o que não podia evitar visto que nenhuma parte de seu corpo consegui se mover sozinho. Assim, apesar da dor e da dificuldade, virou a cabeça para ver quem lhe estava auxiliando, trazendo com isso uma grande dor. Teria gritado se pudesse: era o sacerdote Zacharias.
-Você não deve morrer. Pelo menos não agora.
Ele falava? Como isso era possível? O poder do Silencioso era pleno sobre aquele lugar. Como só ele, que parecia não ter um deus ao qual orar, conseguia aquele feito? Desgraçado, pensava ela.
-Você irá viver. *Eu, Senhor do Submundo, lhe ordeno... Erga-se sem nenhum ferimento. Até o momento em que me encontrará.
Uma luz negra fluiu do peito da garota, até a mão do misterioso homem. Isso fez com que fosse curada plenamente. Nem as marcas dos golpes recentes, nem o cansaço e a tonteira de antes lhe incomodavam. Uma verdadeira cura completa.
Ela desencostou-se daquele homem sombrio, notando que suas cicatrizes sumiram. Não acreditava no que enxergava. Que tudo vá para os infernos pensou. Era o momento de matar aquele oponente. Fitou o clérigo, depois, virou-se para perto da água onde achou sua lâmina mágica que havia derrubado com o último golpe que sofreu. Tirou ela da água erguendo ela calmamente. Os respingos deixavam a arma como se tivesse acabado de ser forjada, assim tentando esfriá-la.
Segurando o cabo com as duas mãos, Halphy mirava com ódio enquanto a batalha prosseguia na sua frente. Fechou os olhos, como se entrasse em plena concentração de um duelo. Em seguida, os abriu e correu na direção do bardo.
Nikolai e Jean o cercavam. Raquel havia sido muito ferida. O jogo de vida ou morte estava empatado. Eis que o sátiro surpreso grita:
-Não é possível!
Quando terminou de falar isso notou o peito trespassado por Vampira de Almas. Enquanto isso ocorria, notava que seu encantamento perdia força, já que ouvia o grito de fúria da Brown. Ele notava o seu fim nas mãos da assassina.

O sátiro se afastou da arma, deixando o corte em seu peito como um enorme buraco no corpo. Caiu no chão fazendo um enorme barulho. Um som cheio de derrota e vergonha.
Arrastou-se por aquele chão até o trono. Sangrou até cobrir todo o lugar que estava seco antes. Como uma serpente vermelha de líquido quase negro. Virou-se na direção de seus algozes com certa fúria. Encarou o alquimista, a maga, o rastreador, a assassina e o estranho sacerdote. Bufava com dor.
Ninguém o impediu, nem sinal algum foi mensurado para tal ato.
-Eu só não a amaldiçôo, pois quando tomar para si a Chama já conseguirá isso.
Abaixou a cabeça e cantarolou algo na língua dos elfos. Morreu sentado no trono.
Jean, que muito pouco sabia sobre esse idioma, perguntou do que se tratava tão sinistra canção. Então ela, a líder, traduziu, visto que era boa com línguas. E aquele sabia falar e escrever como língua nativa.
-Ele disse, que a chama não toque meu coração. Nem que se afaste de minha vista. Os demônios me tentaram essa noite. Mas o verbo não me faltará.
Falado isso, atrás daquela magnífica cadeira, estava um brilho surgindo como um compartimento secreto. Mais uma vez, a jovem se adiantou até ele.
Seu brilho inicial era de um verde ofuscante que tomava todo o espaço. Foi diminuindo gradativamente, ainda mantendo sua força arcana. Lembrava uma pedra preciosa, como uma esmeralda. Um pedestal, formado pelas garras de um dragão, o prendia. Nada que uma forçada em sua base de madeira não quebrasse.
Ela o fez.
Quando enfim o arrancou tomou em seu poder um item esverdeado, cheio de uma... Coisa... Magnífica. Independente de qual o seu verdadeiro conteúdo. Ele preencheu todo o lugar com a luz que havia nele.
Foi então que tudo começou a ficar distante em sua mente, como quando se acorda do mais belo sonho de toda a sua vida. E ela sem saber que era exatamente o contrário disso tudo. Ela estava para adentrar um universo cheio de sonhos, verdades, mentiras, alucinações, perigos, entre tantas outras coisas. Finalmente Halphy conquistou o que tanto ambicionava e queria, como uma criança mimada que obtêm o que pede ao pai. Só que com isso também havia aberto o Portão da Verdade.



[1] Um dos mais antigos poetas da língua galesa. Seus dons são extraordinários assim como seus feitos. Seu nascimento esta ligado a Ceridwen, assim como sua sebdoria.
[2] Ouroboros é um símbolo representado por uma serpente ou dragão devorando a própria cauda. O símbolo tem várias interpretações, mas o mais provável é eternidade sendo que tudo volta para o seu ponto de origem.
[3] Pessoas sem habilidade arcanas ou divinas.

sexta-feira, 12 de junho de 2015

Fragmentos de Contos - O filho do mago: Lucius


Ele se feriu. Pouco, mas ainda era uma criança. Chorava como um filhote que perdeu a mãe, alguns garotos de Van Sirian falavam. Seu joelho sangrava pouco, ainda assim, isso é o bastante para várias risadas cruéis e malignas dos jovens, que eram filhos de camponeses. Nem sempre isso era possível.
Pouco tempo depois, o barão daquele lugar havia chegado. Estava montado em um corcel de pelos castanhos. Ele deixou sua montaria e dispersou todos ao redor. Era possível notar que seus cabelos vermelhos estavam jogados para trás. Diferente de seu passado em que colocava os cabelos para cima. Tinha uma capa feita com um belíssimo couro trabalhado. Um broche o prendia com a forma de um lobo negro. Ele fitou aqueles que ridicularizaram seu filho. Surgiu silêncio. Dessa vez ele queria que ficassem quietos. Não por se achar superior e sim por ser um pai zeloso.
Em seguida, agachou-se e olhou para a criança chorona dizendo que não era nada. Carregou o rapaz, colocando-o em cima do cavalo. Subiu então, em um só salto. Por fim, fez com que ele atravessasse o lugar como um raio.
O garoto, sem o pai pedir, falou qual motivo para aquele ferimento. O líder dos garotos estava machucando um cão da vila. Um mero animal. Ainda assim, algo que não poderia deixar impune. Lacktum disse o que era esperado: justiça sem a força adequada não significa nada. E quando não se tem a força suficiente, o jovem perguntou.
-Filho, o mundo que conhecemos não é justo. Pode até fazer o bem para várias pessoas. Ainda assim, não receberá nada em troca. E não é algo que estamos acostumados. Nós queremos der uma recompensa. Até você. Mesmo que não note.  Seja para si mesmo, um amigo, a família, um amor, um deus, um bem maior... Não importa sempre nos importamos conosco. O que nos difere dos egoístas é que ao invés de vivermos reclamando... Nós mudamos o mundo.
O garoto sentia aquele vento frio, enquanto continuavam a cavalgar. Olhou para o pai com confusão.
-Meu pai... Eu não sou forte como o senhor. Nem treinado nas espadas como mestre Tzorv. Muito menos controlo a natureza como o metamorfo Naara, brinco com o vento igual a Tom ou curo feridas na pele da mesma forma do monge Arctus. Que dom eu tenho em fazer algo? Nenhum! Só tenho oito anos
Lacktum sorriu com a expressão do filho enquanto mantinha o cavalo no caminho do castelo, que um dia foi dos Hein Hagen.
-A idade não faz diferença meu progênito. Quando se quer algo de verdade você pode até mudar a realidade do universo. Porém, antes de desistir... Primeiro tente começar meu querido! O melhor que devo fazer é lhe contar uma história. Sobre alguém que nunca lhe falei. Um dia você possuiu um tio...
E assim, um dos filhos de Van Kristen se tornaria mais um arcano nesse mundo.

quinta-feira, 4 de junho de 2015

(Parte 35) Ambição profunda


Nesse ponto, deixamos os Dragões da Justiça para focalizarmos em outra personagem da trama. Tão importante quanto Lacktum, Thror e Arctus, suas ações distantes do grupo causaram fatos que culminariam em grandes conflitos e – obviamente – conseqüências. Deve já ter consciência de que falo da meio elfa Halphy Brown. Suas atitudes no Portal de Ixxanon a colocaram como um importante membro do exército de Sinestro e controlado por Kalic Benton II. A organização conhecida como Pacto de Guerra.
Após tudo que ocorreu aquela assassina estava pronta para obter o que queria. Um exemplo claro estava na dedicação ao grupo que adentrou. Parecia querer mostrar que sua ação ousada a tornaria única herdeira do Último Dragão de Esmeralda. Seu sangue, dele pelo menos era. De todas as formas possíveis e imagináveis, alguns diriam. Será que todo esse segredo sua mãe conhecia? Tantas coisas que poderia saber ou não. Muitas vezes os pais nos falam certos fatos para nos proteger. Consideramos isso como mentiras. Mas existem aqueles que nunca perguntam nada sobre o seu próprio passado, e ficam tristes quando envelhecem. Qual o direito de uma pessoa que nunca se interessou sobre sua própria vida, reclamar sobre ela?
Saber sobre sua infância é algo duro. Necessário às vezes para se saber quem é. Obrigatório para se definir quem é.
Mesmo assim Halphy estava disposta a aprender o ofício de matar. Já permanecia no castelo há alguns dias[1]. Aprendeu costumes e técnicas daqueles que matam, não por liberdade, não por serem forçados, não por lucro, mas pelo prazer de obter a vida e morte de alguém em suas mãos.
Aprendeu com alquimistas como cobrir sua arma de veneno. Com ladinos mais experientes, a como usar as sombras para um manto sombrio lhe defender. Os necromantes lhe ensinaram a Arte, sem a necessidade de ser pura ou magia negra, contudo criada para o subterfúgio, engodo ou ilusão. Suas habilidades físicas também foram ampliadas para que estivesse preparada. Um corpo saudável seria perfeito para o uso da magia, ela dizia. Talvez, por magos necessitarem de uma grande força de vontade. Dedicação que não enxergava nos arcanos que conhecia.
Certa vez, Halphy despertou no quarto que lhe concederam com um ânimo muito maior que o comum. Nele, havia todas as comodidades concedidas a uma princesa. Queijo de ótima qualidade, pão que parecia ter vindo do oriente, uvas vindo da parreira mais frondosa, leite morno, pedaços de carne finamente preparados com ervas temperos, entre tantas coisas em um refinado café da manhã.
O quarto estava bem trabalhado, pelo menos, ao que ela imaginava. Era cheio de detalhes que só Halphy não gostava. Mesmo assim ele era só dela, ela dizia, e de mais ninguém. Pois só ela poderia adentrar o lugar. Até a comida era deixada na frente do aposento, ao qual saqueava com cuidado – com medo de falharem as medidas.
Eis que alguns momentos após o desjejum o som oco da madeira surgiu. Era a porta de seu quarto ecoando tal perturbação aos seus ouvidos.
-Quem é que me acorda e não teme ser fulminado pelos meus poderes? – disse com tom de voz, tentando imitar Kalic Benton II.
-Kalic Benton – respondeu o mago de certo modo irritado.
Ela saltou de assombro. Nos poucos dias em que esteve ali, era a primeira vez em que o mago se dirigia à assassina. Não sabia como deveria se sentir: emocionada, aliviada, triste, preocupada ou com medo? Sim. Definitivamente era medo.
Abriu a porta com delicadeza e certo ar de ironia. Piscou de modo a deixar Kalic irritado. Nunca tinha certeza se suas provocações haviam obtido o resultado esperado, por conta da máscara que ele portava. Melhor assim. Esqueceu-se de que o mago tinha um rosto deformado, uma face morta.
-O que quer? – perguntou cinicamente aquela jovem.
-Por acaso se esqueceu? Hoje será um dia importante para você mulher.
-Ah sim, sim! Sinestro irá despertar.
Kalic alterou o tom de sua voz finalmente. Estava agora visivelmente irritado. Seus intentos funcionaram, pensou Halphy. Ele falava de forma áspera.
-Sabe muito bem, tanto quanto eu, que não é só isso. Deve estar preparada. O ritual para você já esta pronto.
Halphy estranhou tudo aquilo. De onde surgiu tal história? Ritual? Para ela? Que maldição era aquilo? Por enquanto continuaria naquele jogo. Afinal, se estava naquela situação, foi porque quis. E enquanto estivesse ali teria que a aturar. Pelo menos enquanto ela não pudesse escapar da influência de Sinestro. Mal sabia ela que não seria fácil.

Depois de trocar a roupa adequadamente, Halphy seguiu Kalic. Não sem antes ela fazer uma piada com o mago dizendo que o arcano era um depravado. Mesmo por baixo da mascara era possível notar os olhos dele revirando com raiva da brincadeira. Não ligava para acordar uma dama como ela. Para ele, não havia nenhuma ali.
Ela havia mudado o traje. Deixava bem a mostra o busto. Também mostrava bem a coxa esquerda, tratada com pétalas de rosas brancas e óleos orientais, além de fragrâncias raríssimas. Fez isso por todo o corpo. Suas mãos eram protegidas por luvas de couro preparadas para a tarefa de um ladino. Também serviriam para alguns propósitos de uma assassina. Ela prendeu Vampira de Almas nas costas com uma tira do mesmo material das luvas. Andava com uma mão sobre ela – como se estivesse preste a sacá-la – e a outra livre. Além lógico de tentar deixar evidente sua pele macia de forma a atrair olhares. Não era algo que obtinha muito ali, afinal, todos se concentravam demais em seus afazeres.
Certa vez, ela querendo provocar um dos jovens necromantes causou uma confusão. O que só não acabou com a morte do mago que lidava com a Arte sobre a vida e a morte, pela própria intervenção de Halphy. Ela gostava de ver quando os homens se sentiam atrapalhados perto dela.
Caminhavam pelos corredores frios do gigantesco castelo. Por fora, uma pessoa comum enxergava as ruínas de um castelo antigo, devastado por uma guerra talvez. Poderia até ser uma construção da época em que os romanos invadiram a ilha. Só por dentro – e se a pessoa soubesse a palavra mágica certa ou possuísse poder arcano ou divino – veriam a estrutura do lugar: duas torres com tijolos negros como a noite, ligadas por uma passarela. Cada uma das estruturas tinha sua finalidade. Enquanto na edificação ao sul ficavam os dormitórios, além da sala onde estava o espírito de Sinestro, ao norte permaneciam os aposentos onde ocorriam experimentos, celas e lugares para rituais. O único modo de sair de lá era através da estrutura com os quartos.
Chegaram a uma sala ao qual estava pronta para algo. Provavelmente um rito. Havia signos por toda parte. Todos simbolizavam forças antigas que só dragões conheciam. Apesar de não conhecer o significado, Halphy sabia serem de origem dracônica. Também era possível enxergar no chão uma espécie de pentáculo. Nele estavam pedaços de alguma coisa que já teria sido um invólucro. Um ovo mais precisamente. Só que eram cascas diferentes das de uma ave ou serpente. Parecia que aqueles pedaços, no entanto, estavam cheio de escamas e não lisos como qualquer outro. Por último, cada fração daqueles resquícios de começo de uma vida estava marcada por uma tinta verde com escritos.
-Et ascendebatur ad solium, et quem superare... Et... Furore procella dissipet funebribus... Gladis et aquilae do in holocaustum, et in funebribus... Chorus draconum. Mas que praga é essa? Kalic me responda.
-Nem eu sei exatamente. Um rito ao qual Sinestro pediu que você passasse. Tive que usar as cascas de um ovo que encontramos.
-De dragão?
-Sim.
Halphy se virou na direção do mago. Estava com uma face surpresa.
-Como obteve a casca de ovo de um dragão? Esse aqui parece ser de um...
-Monte Etna onde estaria aprisionado Tífon[2]. Dever ser mesmo a morada final dele, já que havia na Era Mitológica, um índice de dragões das tempestades. Aquele gênero de cor azulada conhece?
-Kalic, nunca teria encontrado um dragão de perto até encontrar Daehim.
-Imaginei – falou em tom de deboche o mago mascarado.
-O que quer? – perguntou a assassina meio elfa.
-Tire suas vestes e deite-se entre os pedaços do ovo de dragão.
Pensou em fazer uma piada, porém, estava vendo que Benton não estava para brincadeira. Que intento ele teria para isso tudo? Ninguém, além dos dois, estava ali. Poderia ser qualquer coisa.
Tirou as vestes calmamente, quase como um ritual. Um processo lento, deitando no chão, frio. E olhava para tudo com cautela. Algo raro, já que sentia medo que aquilo lhe matasse. Apostou, no entanto, que Kalic necessitava dela viva para Sinestro.
Kalic Benton proferiu palavras. Arcanas. Negras. Demoníacas. De dragões.
Em seguida, cada pedaço daquele ovo de dragão das tempestades se elevou. Com poderosa magia. Força antiga, ritual nunca visto por homens mortais. E ela se lembrou do que leu nos fragmentos.
-Eu subirei no trono. Superarei a fúria dos reis. Destruirei qualquer tormenta de espadas. Os abutres farão um festim – e proferiu com força a última parte daquela oração profana e mística – Com a dança macabra dos dragões!
Nesse instante, as cascas giravam ao redor de Halphy, cada vez mais rápidas. Até parar de modo rústico. Único. Lentamente eles cobriram seu corpo. E a cor azulada sumiu, deixando lugar para uma casca verde. Verde esmeralda.
Dentro do ovo era quente, aquecedor. Como a força de um colo materno. Cheio de vida. Poder acolhedor e gentil. Bondade dentro de uma mãe. Para doar vida. Criar vida. Dom divino quase.
Seu corpo começou a se contorcer cheio de poder agora. Quase se tornasse um vício. Nem parecia que estava dentro de um ovo. Tinha uma impressão de vôo, como se fosse uma ave, um morcego ou até, sim, um dragão. Um magnífico espécime reptiliano alado. Poderoso e cheio de força.
Foi quando olhou ao seu redor, que notou as letras derreterem e tocarem sua pele. Linhas vermelhas naquele espaço fechado, que se tornou o seu mundo, cobriam cada pequeno espaço de seu corpo. Então, houve a transformação.
A magia que percorreu todo o seu ser em forma de letras, agora sumia deixando outra coisa no lugar. Escamas. Duras de tom verde brotavam do que era sua pele. O que lhe deixou apavorada. Nem tanto, comparado com o que viria a seguir.
Ela sentiu os dentes que usou tantas vezes para mastigar, tornaram-se presas. Rompiam no lugar da antiga mandíbula com uma nova fileira, até certo ponto da boca.
Começou a sentir dores terríveis na costa. Isso a fez tossir sangue. Praticamente, entre as costelas, brotavam dois pares de asas da mesma cor. Verde, como uma folha de árvore, verde como certas pedras preciosas. Uma esmeralda.
Surgindo as asas, a casca se partiu. Brown se viu sentada com as mãos entre as pernas, e o rosto acima do joelho. As asas pareciam tremulas, ainda se enchendo com o ar. Como as de um filhote. Respirava com dificuldade, notando ao seu redor certo líquido de aparência gosmenta. O ovo foi se partindo lentamente, como quando um ser nasce. Mas ali renasceria.
Ela levantou daquela posição de modo magnífico. Só suas asas que ainda não a obedeciam totalmente, se mexendo e contorcendo contra a vontade ainda.
Era uma forma entre mulher e dragão. Uma nova Halphy havia surgido.
-Por Jotuheim, o que Sinestro fez para você?
Halphy um pouco de dor na nuca, mas ignorou. Arrumou como pode seu cabelo. Usou as recém adquiridas asas para cobrir suas partes de modo rápido. Finalmente começava a controlar suas asas. Ela nunca notaria um símbolo em sua nuca.
-Se acalme Kalic Benton II. Meu corpo parece tão poderoso. Nem lembro à esquelética Halphy de antes. Tanto física quanto mentalmente. Essa forma parece definitiva. Não me entristeço com isso, entretanto. Pare de olhar assim com espanto. Sinestro só que me vestir adequadamente para nosso novo encontro.

A jovem Brown usou o mesmo tipo de roupa de antes, com toque mais escuros e mais escuros e sinistros. Sem deixar de lado a sensualidade que priorizou antes. Ela realmente queria matar os homens com seus contornos generosos, ou com uma adaga no peito. O que fosse mais útil a ela.
Ela andava com Kalic em direção ao salão principal. Onde estava o espelho contendo o espírito de Sinestro.
-A magia que sente dentro de você deve ser a força bruta do mana dracônico.
-Como assim?
Kalic então começou a explicar:
-Cada cor e tipo de dragão têm sua ligação natural a um elemento. Os de sangue[3] controlam o fogo. Os de esmeralda[4] já possuem controle sobre o som. Os das tempestades[5] manipulam o poder do trovão e do relâmpago. Os das trevas soltam jatos de fogo negro, energia profana e corrosiva. Cada um com seus devidos dons magníficos e respectivos.
-Por que não falou dos dourados[6]?
-Os odeio.
-Imagino que sim – pensou reflexiva a, agora, meio dragão, sobre aquele assunto. Necromante e mortos sem descanso são os alvos da maior fúria dessa espécie. Sabe-se que se um ser desses estiver próximo do seu covil, o caçam com unhas e dentes. No caso, garras e presas.
Finalmente, o tão esperado encontro. Chegaram ao salão.
Havia uma corte praticamente formada ali. De um lado ficariam Lyon Coração Solar, Mallmor, Diogo Fernandez e Kalic Benton II. Já do outro estavam Matadouro, Daehim e um ser que parecia um sacerdote. Todos estavam ajoelhados.
Lyon tinha cabelos castanhos, quase pareciam loiros. Usava uma armadura de cor prateada com símbolos dos nórdicos. Poderoso, parecia carregar uma lança nas costas. Manoplas fortes e cheias de poder arcano. Olhos castanhos, com o aspecto de casca de algumas árvores.
Mallmor portava a mesma armadura de quando ele invadiu a torre de Azerov. O manto que usava por cima dela tinha o símbolo da Rosa dos Ventos. Tanto machado  quando o martelo que portava estavam colocados a sua frente.
            Diogo Fernandez, cavaleiro com roupas extremamente formais. Diferente da enorme couraça com a qual Halphy encontrou em Van Sirian. Cobria o rosto, sem motivo aparente.
Kalic deixou Halphy e ficou junto aos líderes das Alianças. Ajoelhado, assim como todos os outros. Antes, pediu a que a jovem caminhasse em direção ao espelho onde estava aprisionado aquele poderoso espírito.
Agora olhava para o lado contrário, enquanto caminhava.
Matadouro estava ali, cheio de força arcana profana. Sua musculatura denotava o seu poder também. Visto que havia parte do seu corpo com runas arcanas, brilhantes em dourado. Contrastando com sua pele quase azul.
O dragão Daehim assumiu sua forma de elfo negro como no Vale das Esmeraldas. Só possuía manoplas de metal sobre o robe roxo e preto. Seus dentes ainda pareciam uma ponta de montanha altamente escarpada.
Por último, o homem com vestes de sacerdotes. Parte da roupa era vermelha e a outra negra. Na cintura carregava o que era o símbolo de Hades. A cabeça de um bode negro. O maior problema era a sensação de desconforto que a jovem sentia. Algo opressivo, esmagador, sufocante, angustiante e terrivelmente perigoso. Nenhum exemplo seria possível definir a sensação da assassina, sobre aquele homem.
Os olhares se cruzaram como uma presa e caçador
Ela subiu, enfim, as escadas. No fim delas, o espelho onde a alma de Sinestro residia.
-Ah, Halphy Brown! Vejo que voltou a me visitar... Parece que teme a minha presença.
-Sua voz mudou – disse a jovem, ignorando o espírito dracônico.
-Os poderes que irão me ressuscitar, fortalecem-me mais. E consigo controlar certos aspectos do meu ser. Entre eles, minha poderosa voz. E até meu corpo. Vejo que esta muito bem trajada, com a pele de um marduk de espectro esmeralda como eu havia planejado.
-Espere! – disse uma confusa Halphy – Corpo? Quer disser...
-Não minha cara. Ainda não alcancei a plenitude de minhas forças. E obter meu corpo só quando conseguirmos as peças que faltam dos conjuntos do Desalmado e do Cavaleiro de Platina. Trouxe um deles para mim, além da Fim-dos-Dragões, não é?
Ela abaixou a cabeça em afirmativa. Em seguida, um mago surgiu com as peças antes citadas dentro de uma caixa finamente ornamentada e selada magicamente.
Aberta, era possível ver os dois itens: uma máscara com tom de pele humana e um lamina poderosa e antiga com inscrições dracônicas.
Dentro do espelho, o aspecto espiritual se remexia. Cheio de mana, fúria e jubilo.
-Tenho tudo praticamente para vencer! Obter a força para alterar esse mundo podre. Mas antes tenho algo a lhe contar.
Halphy sentou na escada, como uma criança atenta. Ficaria assim, pois escutaria uma história. E não é preciso ser um sábio para descobrir que quando um dragão fala, é bom ouvir.

Um dia, os dragões assim como os deuses, tocaram o chão dessa terra tão sofrida. Sem se preocupar com a caça ou morte, muito menos com o amanhã. Essa era, dourada para eles, foi denominada Mitológica.
Não existe um registro correto desse período, pois foi nela que os homens tiveram que encontrar forças para superar os demônios, mortos famintos, harpias, gigantes, duendes, trolls, serpentes marinhas, krakens, sereias, animais colossais e lendários, gênios e entidades. Nesse período, surgiu o termo herói.
Quando a maior desgraça caiu sobre os dragões, foi que eles notaram que a humanidade representava um perigo iminente. A primeira história de um suposto mortal matando um dragão.
Pouco se sabemos sobre isso. Talvez a história fale de Marduk ou Hércules. Quem sabe não se referisse ao simples humano Siegfried? Ou até um poderoso guerreiro do oriente, onde os dragões eram lordes e deuses? O que realmente importava era que fez com que dragões pela primeira vez temessem as armas dos homens – fossem constituídos de mera carne ou possuidores do sangue de uma divindade.
E essa Era deve seu fim quando uma grande maioria dos dragões deixou Gaya para sempre. Um êxodo dos dragões desse plano.

Quando essa era ainda podia ser chamada de nova, alguns ovos eclodiram, concedendo a vida para seis dragões. Um deles, o mais novo, possuía força e velocidade acima de tudo e todos. Sua mãe o chamou de Brilho de Orvalho, pois quando suas escamas reluziam, lembravam as gotas de águas refletidas nas folhas dessa planta.
Cresceu para ser mais poderoso ainda. Apesar de manter-se nos caminhos da magia bruta que só dragões obtêm, o seu forte era o dom sobre as mentes. Conseguia manipular, dominar e controlar qualquer ser vivo mais fraco que ele. Haviam o denominado Coração Gélido, pois seus poderes superavam o brilho de suas escamas. Agora usava outras criaturas como suas marionetes.
Porém, ele mesmo havia encontrado um nome mais forte. Um título de nobreza como costumava chamar. Algo para trazer respeito aos corações dos aliados e temor aos inimigos. Nem Coração Gélido, nem Brilho de Orvalho. Sinestro, o Manipulador, de asas brilhantes como esmeraldas, mas com o coração frio como o mais puro aço moldado.

Essa parte da história se refere ao período em que Sinestro deveria possui não mais que dois séculos de vida. Quando isso ocorreu, não podemos precisar. Visto que éons podem ser calculados com a velocidade em que uma estrela se movimenta ou em que uma vida se esvai. Nunca podemos ter plena certeza sobre isso.
Era uma tarde de verão – ele se lembrava perfeitamente disso – quando viu algo que não era comum: existem histórias, que relatam sobre a força da Morte. Visto que um grande desastre ocorre, ou uma criatura de grande importância definha, as lendas relatam que nenhum ceifador surgirá. O próprio aspecto virá. E era isso que o Manipulador enxergava.
Ele estava vendo Morte. A Dama Pálida. E ele se apaixonou perdidamente naquele instante.

Existem certas coisas que nunca, realmente, existiram. Impossível, incrível, invencível, invulnerável ou imbatível. Essas palavras nada mais são do que isso, palavras. Nem mais, nem menos. Pois no mundo, criamos essas palavras para nos referir ao que não é possível, ao que não acreditamos algo que não podemos vencer, quando sentimos que não podemos ser feridos ou detidos. Nunca existirá um ser assim, contudo. Pois essas palavras foram criadas pelos próprios homens com a finalidade de limitá-los. Porém, elementos, força e vontade são aspectos do mundo que realmente existem. Entre eles a morte. E a Morte é poderosa.
Um grande poder, que era algo que o dragão respeitava. Dizem que os aspectos sim são eternos. Dragões e deuses até podem morrer, mas enquanto os humanos se fixarem em aspectos de sua vida, estes seres perpétuos nunca acabarão. Assim era com a Dama Pálida.
Confundiu admiração com amor e cortejou Morte. Visto de quem se tratava, ela não alterou. Ignorou o dragão.
Isso fez dele um enlouquecido, como todo o homem obcecado. Pois lembrava mais um mortal naquele tempo. Uma pessoa cheia de medo de não alcançar sua musa inspiradora, a dama que faziam o seu coração gélido aquecer.
Um plano estava para surgir. Foi quando Hades encontrou com Sinestro.
Este lhe propôs em segredo que obtivesse a Lanterna dos Condenados como um modo de subornar sua amada. De qualquer forma, obteve sucesso em capturar o item, mas fatores acima de seu controle com que ficasse, literalmente, preso em Gaya[7].
Quando o famoso êxodo ocorreu, Sinestro não pode partir desse mundo. Na verdade, ele não sabia que seu curso de história o faria perder muito mais que companhia de seus irmãos dracônicos.
Voltou sua mente em como obter, uma vez, o afeto de sua amada. Mesmo com a posse da Lanterna dos Éons, como muitos sábios a chamavam, era impossível controle pleno sobre tal artefato. Elaborou mais uma vez seu plano profano e sem saber o mundo iria correr mais uma vez perigo.
Inicialmente usou Ilianiel – nome que mais tarde seria trocado por Iliana Brown – para um ritual frustrado por dois dos mais fortes heróis de Gaya. Seus intentos nunca concretizados o fizeram desgostoso de tudo e todos. Adormeceu[8] e só despertou quando fossem passados milênios. O destino, este eterno brincalhão, fez seu truque mais conhecido: mexeu com várias vidas.
Em certo período, com a influência do dragão e sua magia bruta, homens lagartos se sentiram atraídos para a área onde a fera repousava. Já grupos de humanos chegavam à região por conta das esmeraldas que Sinestro produzia, mesmo estando completamente desacordado.
Poucos sabem, mas a permanência de um dragão pode alterar a estrutura de certas regiões. Até mesmo criando jazidas em alguns lugares de certos minérios e pedras preciosas.
Nessa época, apareceu Galran Coração Prateado. Ele entrou no covil do temível ser sozinho e enfrentou um poderoso dragão... Ou o que ele acreditava ser um. Na verdade, se tratava de Kiloch, um ser da raça de lagartos que unificou os que viviam a paz para o Vale das Esmeraldas.
Com todos os ruídos provocados pelos humanos, Sinestro despertou. Mais uma vez Galran foi contra a nova ameaça com o machado forjado usando sangue de seu antigo oponente. O resultado não foi o mesmo. A única marca do Coração Prateado que foi deixada foi seu filho, Galtran.
O jovem de cabelos vermelhos jurou vingança contra o dragão. Com o auxilio de seus irmãos de armas, virou mestre no combate com dois machados. Ao completar a idade adulta levou seus aliados dos Imortais Esquecidos até o covil da fera. Com o auxilio dos aliados, não o derrotou, mas a fez sair de seu covil. O que não impediu que o monstro fosse pelo menos duas vezes ferido.[9]
Desperto completamente, o dragão se fixou em seus desafetos: Hades, o arcano que invadiu o Além com ele, o Cavaleiro de Platina e o Desalmado. Fobos nunca lhe fez nenhum mal, na verdade o considerava mais que fora traído. Iliana não era mais que uma pedra, que talvez lidasse mais a frente. E os Imortais, na época em que acordou nada mais eram do que formigas.
Então quis obter o poder máximo que os mortais alcançaram, mas que os dragões rejeitaram. Era um modo de se tornar um morto sem descanso.

O destino pode ser extremamente cruel e caprichoso. Prova disso esta em como Sinestro obteve o poder que desejava. Encontrou em suas buscas um homem, um cavaleiro que desonrou a ordem que servia. Seu nome era Kalic Benton, o primeiro.
Ele havia usurpado dois itens de grande importância da Ordem da Orquidea Negra. Eram um grimório com a capa moldada a ouro – assim como suas páginas – e uma espada com poderes arcanos próprios provenientes de outro plano, ao que tudo indicava. Chamavam-se, respectivamente, Tomo dos Lordes Segredos e a Lâmina das Tormentas.
O Lorde Sombrio, como Kalic benton I era conhecido, recebeu uma proposta indecoros. Sinestro receberia o Tomo e em troca entregaria uma profecia antiga a qual poderia controlar o destino do mundo, ao que tudo indicava. Sua resposta foi afirmativa.
Não foi difícil para o dragão obter a tal profecia.
Com o grimório, Sinestro concretizou o ritual ao qual se tornava um morto sem descanso. E assim, seu alvo se tornou Hades. O único que sabia como lidar.

Durantes os conflitos em que o Portal Infernal foi liberado, os planos do dragão esmeralda se concretizariam. Pretendia enfrentar o deus ctoniano com a energia absorvida do plano demoníaco. Porém foi interrompido. Primeiramente pelos Imortais Esquecidos, que acreditaram o ter derrotado. Em seguida, qual não foi sua grata surpresa quando encaro os homens que junto a Iliana o fizeram adormecer. Esse combate culminou com a perda de seu corpo[10].
E o resto é só parte do que as lendas contam.

Halphy ouvia a todos os detalhes com cuidado e precaução. Sabia que naquelas palavras existia verdade, porém, nem toda ela.
Levantou-se e perguntou qual o motivo que guiava o dragão agora. Ela queria saber exatamente os intentos daquele ser extraordinário.
-O Pacto de Guerra irá obter força para trazer paz de uma vez por todas no plano caótico de Gaya. Onde os deuses falharam, nós triunfaremos. Pois fiquei farto de que minhas forças foram suprimidas pelas entidades chamadas bondosa. Vamos alterar esse plano, com toda a nossa força. Usando as três Alianças como nossas armas e prova de vitória.
-Então – disse a assassina ajeitando os cabelos – sua paz será a força. É isso?
-Sim. O Pacto de Guerra conquistará isso!
Todos ali, com exceção de Halphy e Kalic se levantaram e gritaram, de forma poderosa. Como os bárbaros dos povos antigos, urravam feitos os animais poderosos que as canções ancestrais de Atlântida ou Mu falavam.
De qualquer modo, o grupo dos membros daquela profana união iriam se apresentar formalmente. Todos indo a frente.
Mallmor colocou seu manto de lado e usava o martelo como apoio. Abaixou a cabeça e proferiu:
-Mestre da Aliança dos Mestres do Martelo, Mallmor. A seu dispor.
Assim que terminou, o antigo lorde anão saiu da frente do espelho com humildade. Parecia cansado, notou Brown. Deveria ter estado em combate recentemente.
Em seguida, com o elmo abaixo do braço, Lyon Coração Solar se ajoelhou. Com a cabeça abaixada o cavaleiro disse rapidamente:
-Mestre da Aliança dos Mortos Despertos. Minha lâmina esta a sua disposição.
Ao falar isso, piscou para a jovem. Ele era um verdadeiro galanteador. Porém, a jovem com pele de dragão sabia lidar com isso. Bem por sinal.
Após o flerte, foi vez de um homem que não fez nenhuma referência física. Debaixo do capacete proferiu secamente:
-Mestre da Aliança dos Imortais, Diogo Fernandez.
Ao falar isso, sacou a espada, colocando-a na frente do seu corpo. Como um enorme obelisco.
Alguns acharam até que fosse um ataque do cavaleiro.
Sinestro, dentro do espelho, gargalhava por dentro do vidro. Como os homens são fracos pensou o espírito.
Era só seu sinal de respeito
-Além destes, que são meus homens de confiança, temos as tropas especiais – disse o dragão, depois de deter seu riso histérico – Matadouro, ogro mago, rei de sangue dos ogros. Daehim, patriarca dos marduks e qualquer ser com sangue dracônico. E Zacharias, o sacerdote, mestre dos ritualistas. Seus conselhos nas sombras nos forneceram o poder necessário até agora para nossa luta.
Finalmente, soube quem era o estranho careca. Talvez a outra maior presença dentro daquele recinto era do seu ancestral, Sinestro. O que dizia que ele deveria ser no mínimo mais perigoso que um dragão.
Dentes que pareciam serrados como os de um predador. Olhos de águia ou de uma assombração. Não sabiam ao certo. Fazia um silêncio mórbido, como de um demônio que visa uma alma pura e limpa, cheia de esperança antiga.
-Onde estão os membros daquela tal guilda?
O espírito não compreendeu inicialmente, quando se conscientizou do que era tratado.
-O Bando do Tigre Demoníaco? Em missão a caça de um artefato. Deixe de se fixar nisso. Agora é o momento de Sinestro mais uma vez, obter um corpo.
Com isso dito, magos trouxeram lentamente um sarcófago que Halphy conhecia. Há seis meses ela se lembra ter visto os símbolos em uma tumba antiga na já esquecida vila de Starten. Então no fim, aquele corpo nunca foi o verdadeiro. Sinestro estava poderoso naquele momento. O que foi depositado ali nunca foi seu invólucro original. Então o que seria? O pensamento foi interrompido. A tampa do tumulo foi partida ao meio.

Mais uma vez, um arrepio subiu na espinha de Halphy. E não só ela teve essa sensação. Era visível que aqueles sem o toque da Canção dos Condenados sentiam isso, com exceção de Matadouro. Algo súbito e sinistro.
Uma parte da tampa esmagou um dos magos que a carregava. Fazendo imediatamente o sarcófago cair, sendo que os outros arcanos se sentiram acuados.
Era outro medo, era outro perigo. Não foi como quando encarou Zacharias. A sensação não era a mesma. Quase como quando se sabe que em determinado quarto existe uma cobra. Com o sacerdote não se saberia coisa alguma. De um modo ou outro, o animal não deixa de trazer perigo.
Finalmente, o conteúdo daquele caixão de pedra era visível: um corpo quase petrificado, com características de homem e dragão. Cheio de força e poder, os olhos daquele ser pareciam transbordar necroplasma. Ali, a Canção dos Condenados falava por ele.
Sombras saiam de todas as partes daquela criatura. Como a força de um demônio que acabará de fugir do Inferno. O que não estava longe da verdade.
Levantou-se vagarosamente como uma lua cheia sangrenta flutuando sobre um massacre.
Com um estrondo, levantou-se. Havia fúria em seu olhar reptiliano, cheio de força e poder. Com a mesma velocidade que se levantou, pulou na direção do espelho. Halphy iria impedir aquele monstro, quando ouviu de seu novo mestre:
-Não o detenha! Preciso disso!
Foi quando o ser – parte homem, parte réptil e parte morta – atravessou o espelho com seu punho esquerdo. Fez estilhaçar aquele objeto o fragmentando em pequenas estrelas negras se desprendendo de um céu noturno. Todos pensavam que algo horrível ocorreu. Só não era o que imaginavam.
O ser ria. Finalmente, falava algo em vez de grunhir. Ria freneticamente. De maneira tão sinistra quanto... Sinestro.
-Limpem essa bagunça no meu salão.
Todos ao redor estavam estarrecidos. Seria aquela a nova forma do dragão de esmeralda? Uma nova casca do ser que guiava o Pacto de Guerra? Virou-se calmamente para Halhy e disse:
-Aqui estou jovem Brown.
Eis que faíscas circularam aquele corpo. Concentraram-se na ponta de seu dedo indicador e este apontou de forma simples para o teto. Feito isso o raio disparou até aquela estrutura ruir, abrindo um imenso buraco. Surgiu – e sua fonte era o próprio Sinestro – um pilar forte e tão poderoso que atravessava o céu nublado. O preenchendo não só com aquela faixa de energia, mas com relâmpago e trovões.
Halphy sentia o poder proveniente do ser. Sentia medo, mas também excitação. Aquele turbilhão de sentimentos profanos só demonstrava que ela acertou ao se unir ao Pacto de Guerra. As únicas pessoas que sorriram com aquele baile profano de poder era ela e Zacharias.



[1] Os trechos a seguir, falando sobre Halphy, se alinham com os citados no Capítulo Um: Depois da escuridão do Livro V: Eu desejo um anjo.
[2] Monstro criado por Gaia que teria braços poderosos, cem cabeças de serpente e olhos que expeliam fogo. De cada uma das cabeças saiam sons terríveis. A titã teria sido auxiliada por Tártaro, outro deus da primeira geração.
[3] Dragões com escamas vermelhas
[4] Dragões com escamas verdes
[5] Dragões com escamas azuis
[6] Dragões com escamas douradas
[7] Livro V: Eu desejo um anjo – Capítulo II: Para o outro lado das paredes da Morte.
[8] Livro V: Eu desejo um anjo – Capítulo I: Depois da escuridão.
[9] Fato citado rapidamente no Livro IV: Mestre das Marionetes – Capítulo I: Coração sangrando.
[10] Livro I: Através das colinas e muito mais além – Livro: VII: Escuridão do desconhecido.