Ele
estava cansado carregando uma espada. Corria com toda a força de suas pequenas
pernas. Um anão nunca foi treinado para correr. A forja, combate, defesa,
alvenaria, ourivesaria, e tantas outras habilidades são dos pequenos elementais
de terra. Os passos dele, no entanto não foram feitos para uma carreira como
aquela. Aquela neve caia mais forte por todo o lugar. As árvores não concediam
nenhuma cobertura – nem para um eventual combate, nem para se refugiar. A noite
caia com seu manto sombrio igual a uma mortalha, de forma bem conveniente.
Para os padrões de sua raça era um
jovem. Só tinha noventa anos e sua barba mal alcançava sua cintura. Ainda tinha
a juventude nos olhos. Diferente dos que conheceu, há muito tempo nas terras
daqueles chamados Lordes Anões da Rosa dos Ventos. Cheios de problemas entre
si, em como seus itens e riqueza tinham que ser maiores do que seus
irmãos. E o que interessava tudo aquilo,
naquele momento? Primeiro tinha que lembrar que se tratava de um bando de pederastas,
já que preferiram o calor do ouro ao das batalhas. Além disso, estava em uma
situação perigosa.
Enquanto descia a colina nevada era
possível notar aquela massa branca dificultando cada passo seu. A respiração,
mesmo a de um ser como ele, parecia falhar. Isso sem contar os cortes e golpes
em seu corpo. Mesmo usando as diversas camadas de couro e peles de animais
diversos. E atrapalha mais ainda, seu movimento. Pior seria sem elas. Tentava
se esconder para não sofrer um novo ataque. Estava cheio de dor por adagas de
goblins.
Os pequenos duendes verdes usavam,
naquela região, facas com pedra criada na própria Jotunheim. Com o mal da
traição existente nos corações de gigantes do gelo. Aqueles mais agourentos
muitas vezes, falam que na verdade, aqueles itens eram presentes de Loki as
criaturas das trevas. Chamam-nas de facas
frigidas.
Perseguidores menores, porém mortais
quando queriam. Fediam como carne podre de um rato gordo. E eram mais feio que
estes animais. Olhos grandes cheios de malícia e um sorriso amarelo pelo podre
de carne em seus dentes. Quase sempre de animais pequenos ou resto de homens.
Sim, pois a carne dos humanos era uma iguaria rara. Ainda assim, muito
apreciada por aqueles pequeninos monstros. Sua armadura era uma mistura de pequenos
pedaços de cotas de malha com um arremedo de escudos pequenos. Lembravam mais
tartarugas de pé, por conta da pele verde e verruguenta.
Ainda assim, os quatro pequenos
seres, eram só batedores. A verdadeira ameaça era um morto faminto.
Estes seres que surgiam do mal,
muitas vezes conseguiam vida própria. Uma lenda diz se tratar de almas, que
voltam aos seus corpos devido a assuntos não resolvidos em vida. Esse mito não
esta errado, só não eram toda a verdade. Alguns magos, conhecidos por necromantes
– que brincam com a força da vida para impedir a morte – muitas vezes, criam
servos de esqueletos e corpos pútridos de mortos. Animais ou humanóides, para
seus intentos tanto fazia. E esses arcanos profanadores de túmulos, também
queriam impedir que seus corpos alcançassem a vida. Para isso, obtinham meios
de prolongar sua existência. Para isso, se tornavam seres com uma vida
atormentada. Que devoravam sangue, carne e qualquer fluido existente em um ser
que esteja vivo. Chamados também de mortos sem descanso, o canibalismo era algo
comum. Se é que eles poderiam ser colocados no mesmo patamar de qualquer raça.
O jovem Deenar carregava a última
lâmina que sobrou do comboio em que participava. Como um símbolo sagrado. Aquele
maldito ser apodrecido era um perigoso mago. Destruiu cada item de metal que
servia como uma arma. Seu pai havia lhe concedido uma lâmina mágica, o que
explicava só aquele pequeno artefato continuar inteiro. Em seguida, os goblins
fizeram seu ataque terrível e cheio de maldade. Muitos pensam que anões, mesmo
sem armas, deveriam lidar bem com esses seres. Só que os duendes cruéis estavam
armados com facas frigidas e estavam acostumados com o frio do norte.
Quando ainda vivia no reino que os
mortais mais tarde chamariam como Inglaterra, o jovem anão nunca esteve tanto
tempo em um lugar tão frio. Já passou por problemas assim, mas não em tal
temperatura. Chegaram naquele lugar no pior inverno de todos os tempos. Maldito
tenha sido o momento, em que Mallmor matou lorde Daigon, mestre do Noroeste.
Temendo que uma guerra surgisse, Drinar, pai de Deenar, juntou alguns homens
consigo para longe do território antigo de seu povo. Ele temia que algo nas
sombras conspirasse contra todas as raças sobre a face da terra. Pena que nunca
mais poderia confirmar seu temor. Já que um dos pequeninos monstros cortou seu
pescoço.
Aquela imagem lhe voltava a sua
mente, como um duro e cruel chicote farpado. Nada pode fazer se não correr. Um
ato de covardia em sua raça, porém, a arma precisava ficar longe do inimigo.
Pouco antes do massacre de seus irmãos de combate e seu pai, aquele líder cruel
e sem alma exigia uma lâmina. Deveria ser o item que agora carregava. Por isso
seu pai deixou aquela arma com ele. Ela o protegeu. Maldita tenha sido essa
decisão, bendito seja o coração dos progenitores benevolentes.
Deenar estava em uma das pedras da
colina. Sem querer encontrou um buraco abaixo dele. Talvez fosse a antiga toca
de um animal. Agora, era o lugar onde poderia sobreviver. Fugir. O corpo
dolorido. Não revidar. Era algo incomum na sua raça. E isso deixava sua honra
manchada. Deve até de colocar a mão em sua boca para impedir que o ar frio
saísse de sua boca, podendo denunciar sua localização atual.
Pensamentos confusos, cheios de
raiva e humilhação. Foram cortados por passos e sons dos seus perseguidores.
-O pequeno deve ter descido por aqui
– foi o que ouviu da voz que parecia ser de um dos goblins. Parecia pequena e
esganiçada. Com certeza não estava muito longe. Sabia que era um deles, pois
seu som de cansado lembrava as risadas medonhas no combate anterior.
-Será que já chegou ao pé desse
morro? – outra criatura falou. Era possível escutar seus passos na pedra. Com
certeza estava acima da pedra.
-O mestre não vai gostar se ele
conseguir fugir com a espada – já era a terceira voz que escutava. Mais fraca
entre todas.
-Vamos descer desse lugar – dizia o
primeiro – Precisamos daquilo para a Senhora do Frio Eterno.
Que título era aquele pensou Deenar.
Nunca ouviu que, naquele lugar, que já foi berço de grandes guerreiros vikings
existisse tal ser. Nem lendas, nem acontecimentos estranhos. Será que o pai
havia trocado os supostos problemas nas terras de seu povo por um demônio pior
ainda? Antes de tudo, teria que sobreviver aquela perseguição.
-Devemos então descer – disse umas
das vozes que escutou. Considerava ser do segundo goblin. Menos mal, visto que
era ele quem estava acima da pedra.
Após isso, só ouviu o debandar
daquelas asquerosas formas de vida, para baixo daquele lugar. Na direção do pé
daquele pequeno morro. Eles pareciam algum tipo de animal atrás de carniça. Só
que mesmo isso estando somente em pensamento, o anão corrigiu completamente.
Nem uma fera, seria tão sádica quanto aqueles seres.
Cada vez estavam mais distantes
aqueles barulhos dos diminutos. Guinchos e chios terríveis, cheios de frenesi e
malícia. Deveriam ter se deliciado ao fazer a todos os membros, da comitiva de
anões, morrer com suas armas. Acrobatas malditos, carniceiros piores ainda.
Ainda dentro da caverna improvisada, se lembra quando um deles pulou em um
salto nas costas do pobre Narnor. Parecia que um sapo grudou em suas costas, e
sacou uma adaga. E com ela perfurou sua garganta. Várias vezes.
Enfim, o som daqueles repugnantes
monstros cessou. Ao conseguir notar isso Deenar, encostou de forma mais calma
na parede da toca. Viu que era até reconfortante o lugar, se não fosse tão
apertado. Mesmo aos padrões de um anão. Respirou com alívio, finalmente.
Seu maior erro naquele momento.
Sem nenhum aviso uma cabeça surge na
abertura do buraco. Era um dos goblins de ponta cabeça naquele lugar. Era claro
que Deenar se esqueceu que havia quatro deles. E pior, era o melhor rastreador
com certeza. Já que conseguiu ouvir até o barulho do anão debaixo daquela
pedra.
-Escorpião! Escamoso! Gélido! Voltem
aqui! – disse aquele ser. Em seguida, com seus braços longos ele o puxou para
fora. Estava com dificuldades, até alguns pares de braços lhe auxiliarem. Não
poderia arriscar usar aquela arma, pois se caísse nas mãos deles... Algum de
ruim poderia acontecer.
Depois de uma grande dificuldade os
goblins finalmente o fizeram sair. Com isso, sem querer, o rolaram abaixo
daquele morro. Era horrível. Quando a neve não cobria seus olhos, Deenar tinha
que ver cada uma daquelas figuras purulentas lhe perseguindo. Parecendo cães do
inferno que os seres humanos sempre mencionavam. Em um dos giros que sofreu,
notou uma pedra. Agarrou-se a ela como sua única salvação.
Ergueu seu corpo já ferido e coberto
por neve pesada. Estava tonto. Um dos seus algozes pulou em sua direção. Só
estendeu seu braço, o enrijeceu e bateu bem na garganta da criatura. Isso fez
ele se afogar com sua própria saliva e cair. Ainda assim, não o matou. Pena,
pensou o anão acuado. Os outros três já o cercavam.
Notou que quase nada os
diferenciava. Com exceção de seus olhos. Aquele que havia feito cair, tinha
olhos de cor cinza. E acreditava se tratar do mesmo que o tirou do refúgio
improvisado. Bem feito então. Havia ainda os outros. Cada um com tons nos
olhos, completamente diferentes uns dos outros. Os outros tinham amarelo, verde
e azul em sua área de visão. Não que o guerreiro ligasse para isso. Eram
assassinos. Atrás do item que seu pai lhe confiou.
-Não vão obter o que querem! Sumam
criaturas das trevas!
-Por qual motivo não usa a espada
anão? – disse o de olhos amarelados.
O guerreiro notou aquele intento
sinistro do duende. Viu um dos homens que servia ao seu pai sendo pego nesse
truque. Assim como Deenar, Gainar usava uma espada mágica. Ao qual não foi
afetada pela magia sombria do mestre daquelas criaturas. Contudo, aqueles
pequenos eram habilidosos no desarme em combate. Tática suja, mas que
funcionava bem em qualquer campo de batalha.
-Não irá me ludibriar pequeno
monstro! A lâmina confiada por meu pai não será tomada por você ou seu mentor!
-Você quem sabe – falou isso o mesmo
goblin saltando com uma adaga. Parecia uma aranha quando o fez.
Dessa vez, o pequeno elemental de
terra se agachou e notou em que direção estava vindo o oponente. Quando viu
corretamente, como se o tempo desacelerasse, levantou seu punho cerrado
exatamente contra o queixo de seu inimigo. Um golpe preciso, que fez os dentes
podres voarem como aves ao por do sol.
O problema é que esse incauto
adversário tinha parceiros. Dois se prenderam aos braços de Deenar, enquanto o
outro prendeu suas pernas ao redor do pescoço. Ao fazer isso, golpes seguidos
do punho do goblin fizeram o anão cair para trás. Dessa vez sem rolar, já que
os covardes seguravam seu corpo. Estava preso.
-Bem, agora que tivemos sua atenção.
Nosso mestre vai querer falar com você – disse aquele que pulou em seu pescoço.
Era o com olhos azuis.
-Me deixa cortar ele Gélido! –
exigiu o de olhos amarelos.
-Calma Escorpião! Vamos brincar. Sei
que os anões sentem grande orgulho por suas barbas. Que tal arrancar um naco
por vez desses pêlos sujos... – quem falou isso era aquele de olho cinza.
-Isso mesmo Fumaça Fétida! – disse o
com olhos verdes e que erguia sua arma. Como uma sentença.
-Desgraçados! Eu irei... –
repreendia Deenar, antes de ser interrompido por uma voz sombria.
-Silêncio, ser ignorante! E vocês
meus lacaios... Levantem-no e me tragam sua lâmina. Preciso averiguar isso...
Ao erguerem ele, o fizeram com
malícia. Colocaram suas unhas nas feridas do ombro esquerdo e do pulso direito.
Isso fez ajoelhar pelos golpes sofridos no corpo. Um grito de dor surgiu, mas
foi logo abafado por um golpe poderoso do tal Gélido. O mesmo, em seguida,
sacou sua lâmina na bochecha do torturado.
-Grita de novo e lhe arranco a carne
e os olhos... Porco anão! – em seguida cuspiu no rosto de Deenar.
-Boa Gélido! – disse rindo o com
olhos dourados.
-Escorpião – disse aquela voz na
direção daquele goblin sorridente – Pare de graça e me traga logo a espada nas
costas desse anão podre.
Finalmente, mais uma vez, Deenar
vislumbrou a face da criatura que controlava aquele bando. O mesmo que comandou
aquele massacre momentos atrás. Suas vestimentas lembravam uma cota de malha
completamente destruída. Pouco lembrava uma defesa. Agora o corpo era um
detalhe a parte. Esta criatura trazia a sua memória vagamente a imagem de um
cadáver humanóide. Seus olhos cruéis e famintos ardiam com o fogo das trevas. A
carne ressecada e esticada, até grande parte dos ossos cobria seu corpo. Andava
com certa dificuldade, devido a forma defeituosa de suas pernas. Por último, a
boca lembrava qualquer coisa, menos um humano. Já que sua fileira de dentes,
nem coberta por lábios era. Uma abominação.
O goblin, chamado Escorpião, foi até
as costas do guerreiro e dele tirou um embrulho. Com certeza era o item
desejado. Em seguida, caminhou até o morto sem descanso, entregando a lâmina de
forma servil.
Ao desembrulhar aquele item, a
criatura sorriu com sua bocarra maligna. Lembrava um pesadelo com forma
maligna. Ainda mais com aquela felicidade macabra.
-Minha caçada obteve sucesso. A
mestra irá ficar feliz. Finalmente obteve a Espada do Amanhecer. Ao que parece
veio de outras terras. Aquela que foi forjada pelo anão Martelo de Rocha Rúnir.
Dada de presente para o herói Knot. Os boatos falam de uma força dentro desse
metal, que pode eliminar qualquer ser que fez um pacto das trevas – e ao
terminar te falar aquilo sorriu na direção de sua, até então, caça guerreira –
Obrigado anão. Minha mestra não irá temer mais ninguém. Terá uma morte rápida...
Mas a vocês, meus pequenos lacaios eu lhes concedo a chance de dividir sua
carne. Divirtam-se.
O medo surgiu no coração de Deenar.
Ainda que isso lhe viesse ao coração como uma adaga gélida, não se deixou
abater:
-Eu juro pelo nome de meu pai,
Drinar, que ainda essa noite sua existência será apagada da face desse mundo!
-Drinar deveria ter lhe falado que
nunca deveria fazer juras, que não pode cumprir – disse Fumaça Fétida.
Enquanto seu mestre subia a encosta
do morro, um dos goblins notou uma figura sombria surgindo. Um homem que carregava
uma variedade de peles pesadas, tanto de lobos, quanto de ursos. Evidente esse
fato pelos olhos, dentes e orelhas das feras o recobrindo. Seus movimentos eram
tortos e sem coordenação. Todos ali imaginavam que estavam vendo um bêbado a
sua frente. Porém, sues olhos, mesmo entorpecidos diziam muito mais. E os
cabelos e barba negros se confundiam com a noite sem estrelas atrás dele.
Estendeu sua mão coberta por uma luva negra, com certa delicadeza. Em seguida
proferiu enquanto fechava os olhos:
-Por Kanglor, senhor da ira, que
meus inimigos sejam revelados com meu olhar. Que eu enxergue a semente do mal
em seus corações.
Logo em seguida, o homem parou por
alguns momentos. Os goblins até pensaram em atacar, mas foram repreendidos por
seu mestre.
O homem levantou seu olho na direção
de todos.
-Deixem o anão ir. É só isso que
digo – suas palavras lembravam as de um rei exigindo algo. Como se tivesse um
grande direito sobre tudo aquilo ao seu redor. Nenhum deles entendia como um
mero humano com aspecto debilitado pela bebida tinha aquela aura de poder? Os
esmagava sem sequer mexer qualquer parte do corpo que não fosse sua boca. Pior
que um monstro, alguns ali pensavam.
Arrogante, Fumaça Fétida grita:
-E se recusarmos? Quer que o
soltemos e nos poupará? – disse em um tom quase de zombaria. Mesmo que o medo
lhe falasse mais alto na alma.
O homem mexeu sem pressa em seus
cabelos. Encarou com fúria aquele que soltou as palavras tolas.
-O anão não cometeu nenhum pecado.
Por isso estou aqui. Mas vocês... Fedem ao mal. Nunca os pouparia. Só quis
deixar que tivessem feito algo de bom nessa vida. Porém...
Nesse mesmo instante ele saltou. A
distância entre ele e os goblins era imensa. Ainda assim, seu salto foi
preciso. Como um relâmpago. Ignorou a abominação que os liderava e ficou de
frente ao anão. Nem sequer fantasmas seriam tão aterrorizadores, quanto essa aparição
repentina.
Após seu surgimento, o estranho com
cabelos negros, pegou na cabeça do goblin que segurava o braço esquerdo de
Deenar. Em seguida, com toda a força de seus punhos enfiou o crânio de sua
vítima na neve. De maneira tão bruta que chegou a terra. E de modo mais
violento fez isso várias vezes seguidas. Ao ponto que só se ouviu barulhos de
dor e agonia muito rápidos. Além de ser possível notar um esguicho de sangue
caindo na face do humano. Cena tão aterradora que fez os outros duendes
tremerem de medo.
-Escamoso! – gritou aquele que
chamavam Fumaça Fétida.
Todos os outros três colocaram suas
armas a mão. O pavor surgiu em seus corações. Enquanto em Deenar, uma chama de
esperança se acendeu. Mesmo com um salvador tão brutal, sua alma sentia alívio
de encontrar aquele homem. E o morto sem descanso ficou paralisado. Se um ser
como esse tivesse sentimentos, muitos poderiam falar que era medo. Puro e
simples.
-Atacar! – disse Escorpião entrando
em investida contra seu novo inimigo.
Cada um dos três atacou ao mesmo
tempo seu alvo grande. Ainda assim, conseguiu lidar com cada um em poucos
instantes.
Pegou um deles no ar, puxando
próximo de si. Foi golpeado no peito. Era possível ouvir os estalos dos ossos
partidos e até as costas do diminuto ser envergando. Ainda assim ele distribuiu
mais cinco murros na criatura pequena. Os olhos saltaram de suas órbitas. Jogou
aquele corpo para longe.
Duas lâminas se aproximaram dele.
Foi quando eles atacaram o oponente, que notaram a habilidade seu inimigo na
defesa. Pois em um giro rápido do corpo o estranho girou sua perna fazendo
aquele golpe ser ineficaz. A outra tentativa também falhou, mas por pouco não
atingia com eficácia. Iria pegar a perna esquerda. O goblin ao fazer isso, nota
algo que existe abaixo daquelas peles todas. Uma armadura completa.
Como um homem conseguiria se
movimentar tão bem usando todo aquele peso? Não poderia ser comum. Qualquer se
sentiria esmagado por tudo aquilo.
Esse simples pensamento fez com que
perdesse o foco da batalha. Isso foi suficiente para ser atingido. Dessa vez
não foi um golpe físico. Era algo mais arcano. Uma magia.
Sem nem pronunciar uma frase
completa, da palma daquela mão esquerda brotou a rajada poderosa de energia.
Queimando a pele completamente de aquele ser pequenino. E enfim, caiu de
barriga para cima. Estático, sem movimento algum.
-Não servem nem para alimentar os
porcos... Cheiro podre. Esse deve ser o que ouvi chamarem de Fumaça Fétida. E
você... – falou aquele homem apontando para o goblin remanescente – Fuja agora.
Faça logo enquanto me sinto benevolente.
A baixa criatura titubeou um pouco.
Ainda assim, ficou de costas e correu como nunca fez antes. Ao que parecia pelo
menos. Era como se tivesse visto um demônio. Porém, era bem pior que isso. Foi
o que Deenar notou.
Aquele anão, mesmo com dificuldade,
apoiou-se em seu joelho. Com certa dificuldade. Olhou para o semblante daquele
que foi seu herói.
Era finalmente a vez de aquela
abominação atacar, porém, ele tinha que eliminar o goblin fugitivo antes. Em um
gesto rápido com a sua mão uma lança negra surgiu nela, e a fez ser lançada na
direção do desafeto. Atravessou o pescoço de forma mortal. Não havia mais
nenhum daqueles humanóides pequeninos vivos naquele morro. Só Deenar, o
estranho e o morto sem descanso.
-Matou seu próprio aliado? – gritou
inconformado o anão.
-Calado ser inferior! Isso é entre
os seres de grande poder – exigiu o morto vivo, em seguida se virando ao humano
misterioso – E você... Por acaso acredito se tratar do tal Homem Santo
mencionado por tantas criaturas nos últimos tempos nessas terras. Sim. Talvez
seja aquele que veio pouco depois do ano mil até aqui. Protege os humanos e
aqueles em dificuldades. Posso lhe ser bom. Tome... Esta arma! Minha mestra a
quer para se proteger de criaturas perigosas. Como o tal Deus Cristo do qual,
tanto ouvimos falar. Ouvi que recitou uma oração ao deus atlante da fúria.
Kanglor, não é? Que tal eu lhe entregar isso como sinal de boa fé entre nossas
crenças?
Ao falar isso, jogou aquela lâmina
que Deenar guardava antes no chão, próximo do rapaz. Ele a ignorou
completamente.
-Não sei quem é pior: os goblins,
por atacarem como um bando abutres carniceiros, ou você, por ser tão covarde
para nem sequer valorizar aqueles que antes o serviam.
Nesse instante, a abominação riu
mais uma vez. Não havia palavras na mente do anão Deenar, para definir a visão
de aquele ser sorrindo tão insanamente. Mesmo sabendo que talvez fosse
destruído, gargalhava de forma demoníaca.
-Só por ser um arcano também, acha
que eu irei lhe poupar? Uma criatura como eu possui habilidades brutas
similares a magia. Forças antigas, como essa!
Após dizer isso, aquela criatura
maligna abriu a bocarra. Dela sons terríveis brotavam. Aqueles que escutassem
sentiriam a idéia de blasfêmias. Nem demônios suportariam tais profanações em
forma de palavras. Os deuses nunca ensinariam tais coisas aos mortais, se não
quisessem que o mal se propagasse. Estava cheia de malícia e crueldade em cada
silaba.
Depois dessa dança sinistra com sua
fala, o ser maligno se regozijou de seus poderes. Já o humano se mantinha
estático. Talvez, morto. Deenar não foi afetado, pois desde o começo não era
alvo daquele diabólico poder.
-Que tal mortal? Se sente bem?
Acredito que não! Visto que tanto quis se sentir superior, mas seu corpo não
suportou...
-Agora já sei.
Deenar e a abominação se espantaram.
Vinha do humano aquela frase. Ele ainda estava vivo.
-Como se mantêm vivo? Nunca nenhum
mortal sobreviveu a meus ataques.
Ignorando aquele espanto, o homem
continuou:
-Você é o pior estrume dessas
terras. Por Kanglor, juro que responderá por esse ataque. Oh, senhor da ira.
Lâmina que se erguerá no momento certo. A fúria deve ser usada em um instante
perfeito. Cheio punição. Nunca com vingança. Venha a mim deu atlante! Venha a
mim Kanglor! – e enquanto falava, apontava seu braço esquerdo na direção do
monstro.
Em alguns instantes, uma luz
purificadora surgiu naquele lugar. Com tanta força benigna, que reconfortaria até
o corpo mais ferido. E sem que o monstro pudesse resistir àquela energia
começou a queimá-lo. Fazendo aquele ser sumir lentamente no ar.
-Como pode? Pensei que fosse um
mago! Mas são dons divinos! – disse a abominação sendo queimada aos poucos.
-Que só um sacerdote ou um paladino
conseguem utilizar. Correto. E eu sou o segundo. Um que viveu em uma ilha onde
Artur Pendragon foi rei. Na época em que ele ainda estava nela.
Uma face de espanto surgiu na
abominação. Antes de sumir, eliminada pelas chamas sagradas despejou:
-Já sei de quem se trata! É um dos
Imortais Esquecidos! O paladino de Kanglor! Um deus esquecido pelos homens!
Não! Não pode ser!
E após essa revelação, o monstro
sumiu da existência.
O recém descoberto paladino desceu
na direção do anão. Este se mantinha de pé com dificuldade. Aquele humano pegou
a espada para Deenar.
-Use-a, como apoio por enquanto.
-Grato senhor. Qual é o nome de meu
salvador?
-Não trago mais um nome. Pois não
mereço ter um nome novamente. Trate-me como os das vilas me chamam se quiser.
Homem Santo. Apesar de que isso não faz sentido para mim. Além do mais, se
chegasse mais cedo, seus amigos estariam vivos.
-Se ao menos tivéssemos alcançado
Barad-Strongor...
-É muito longe jovem mestre anão – e
ao falar isso, aquele estranho sentou ao lado de Deenar – Nunca alcançariam tal
lugar. Não em segurança.
-Compreendo... Ainda assim... Não
tenho mais ninguém. Meu pai e irmãos de combate se foram. Para sempre. E estarão
ao lado do Supremo Imperador. Enquanto eu vivo nessas terras frias. Minha única
chance de entrar em Barad era meu pai.
-Não te reconheceriam mesmo com essa
lâmina?
-Meu pai furtou isso do tesouro
imperial. Antes de sairmos das nossas terras natais, devido a Guerra do Arco e
do Machado. Fugíamos dela.
-Ah! A Guerra Secreta – depois de
falar isso, o paladino tirou – não se sabe de onde – uma garrafa de vinho. Deenar
recusou
O dia estava raiando. E os dois ali,
fitavam aquele sol que cauterizava as feridas emocionais. Não sabiam como isso
ocorria, mas aquela luz trazia paz aos espíritos. Foi quando o anão finalmente
sentiu o bafo de bebida vindo de seu salvador. Pois ele falou:
-Sei como é perder alguém. Não ter
onde colocar suas raízes. Sei bem o que isso significa. Apesar de que tenho
filhos e eles são mais crescidos... Só que nem mais querem saber de história
comigo. Por isso vim até aqui. Eu necessito de um aliado, já que não tenho mais
ninguém. Mas preciso de um escudeiro... Um aprendiz. Quer me seguir na proteção
dessa terra?
Nesse momento, Deenar colocou a mão
em seu rosto. Era duro admitir que aquele paladino, era realmente um homem
bondoso. Pois lhe salvou duas vezes. As palavras não eram corretas. Pedras
choravam.
Nos dias que passaram, aquele anão
se tornou um poderoso clérigo. Servo de um paladino. Treinou muitas coisas boas
e habilidade divinas. Todas com o olhar atento de seu mentor espiritual James
Gawain. Descobriu o verdadeiro nome de seu salvador depois de certo tempo.
Porém, nunca pronunciou isso a ele. Respeito pelo que fez naquela noite
fatídica. Que ainda assim criou uma nova vida para o jovem elemental da terra.
Alguns anos se passariam, e a lenda
do Homem Santo se propagou naquela terra. Estranho fato, visto que antes,
aquele território cheio de pessoas que adoravam a Odin... Atribuíssem um nome
tão cristão aquele paladino. Apesar de que, convenientemente, esse título tinha
grande significado a ele. Visto seu altruísmo em relação aos mais necessitados.
Deenar descobriu que ele era membro
de um grupo de heróis lendários, chamado Imortais Esquecidos. O estranho
residia no fato de quase não haver dados sobre seus feitos. Mesmo aqueles
tratados como mitos. Até mesmo pelo meio oral. Quase que por encanto suas ações
eram esquecidas pelos mais simples, percebeu Deenar. Isso ao menos, em partes,
explicava a falta de conhecimento do povo sobre este herói.
Então, houve um dia em que mestre e
aprendiz tiveram que se separar. Devido ao encontro com aventureiros, James
finalmente retomou seu nome. O Lobo Sagrado, o Cão Branco dos Gawain. Era quase
como se fosse um funeral, pois o tom de voz era triste e melancólico. Quase
igual à de um homem que sabe ser portador de doença incurável. Seja como for,
aquele foi o último momento em que um se viu pelos restos de suas vidas. Cada
um pediu em seu coração, que sua divindade patrona protegesse um ao outro.
E o anão cumpriu sua função como
aprendiz, pois ele assumiu o manto de Homem Santo. Ajudou os feridos do
massacre a Barad-Strongor. Atacou os homens que traíram os cristãos. Destruiu o
último dragão nas terras do norte. Quando o momento chegou de partir desse
mundo, ele passou esse manto a outro discípulo. Pois é isso que se faz com um
legado. Não importa como ele seja. A tradição se faz assim. Com laços
verdadeiros de amizade.