sábado, 4 de abril de 2015

(Parte 33) A besta

Imagem meramente ilustrativa.


Introduzimos aqui três personagens que tem seu próprio modo de agir e pensar. Todos viviam no norte gélido. Nem todos nasceram naquelas, porém. E nenhum deles descendia dali.
O líder era um anão. Como poucos de sua raça ele não imaginava de que direção descendia. Cada anão tem um vinculo de sangue com um dos clãs antigos. Cada um desses grupos possui um titulo referente a uma das direções da Rosa dos Ventos. Há uma lenda que diz serem os criadores da verdadeira Rosa dos Ventos, mas como uma enorme pedra preciosa.
Ulfgar era sua graça. Guerreiro experiente até. Poderoso e perigoso, mas que ainda treinava como sempre ressaltava. Seu rosto era bem coberto pela barba. Assim mesmo, pequenas cicatrizes eram vistas pela face do pequeno elemental da terra. Usava capuz e um martelo. Sendo raros aqueles que seguiam os passos do pai de tal maneira, se tornou um paladino de Thor. O pequeno martelo, presente do pai, tinha mais marcas do que o rosto, e era bem mais velho que seu atual portador. Ao menos em comparação a um anão. Sua barba como seus longos cabelos, eram dourados.
Já seu aliado era um elfo de nome Bahamunt. Bem magro e cheio de vida. Adorava falar. E sua aparência colaborava: belo, com cabelos loiros esvoaçantes, longos o bastante para fazer algumas tranças. O arco longo no peito feito de madeira humilde demonstrava ser resistente. Sua face não demonstrava, mas era quase um adolescente entre os sidhe, mesmo não parecendo.
Seu único e maior problema era a loucura. Muitos acreditavam até que fosse tomado pela lua, porém, talvez só tivesse caído no chão de cabeça quando criança. Ou até caído em uma poção mágica celta nos primeiros anos de vida. Seja lá como for ele soltava essas perolas. Cada uma pior que a outra...
Tudo compensado por sua destreza e presteza natural. Bom como os elfos e superior a eles na arquearia. Armado com seu simples arco, Bahamunt derrubava ogros desde que era uma criança. Seu dom natural o qualificaria a Ordem do Arco Místico. Nunca encontrou alguém desse seleto grupo, no entanto. Enquanto não o fazia, ele treinava como um louco. Ou mais.
Siegfried era o último. Humano e cheio de vida. Ele estava armado com uma espada bem mais longa que as comuns. Presente do pai. Estava cheia de falhas. Rachaduras e fragmentos, manchas de sangue e gordura. Era um legado.
Seu físico era extraordinário. Muito mais forte que qualquer homem do ocidente. Treinou desde cedo com armas e carregando pedras pesadas. Mesmo sendo bruto em aspectos físicos, desde cedo o guerreiro cultivou as gentilezas e cuidados dos nobres. Era um homem cheio das qualidades dos cavaleiros.
Com um passado cheio de cicatrizes, assim como seu corpo, Siegfried foi torturado como um escravo naquelas terras do norte. Ele e seu pai trabalhavam como mineradores em um lugar conhecido como Ribe, terra de horrores e tortura. O que sabia sobre estar ali era uma fuga de um lugar muito distante, quando ele ainda era uma criança de colo. Isso explicaria os modos de cavaleiro.
Nos últimos anos, Songard, pai de Siegfried, adoeceu misteriosamente. Dores horríveis por todo o corpo – mas especialmente – fazendo com que mais tarde tivesse ataques terríveis. Tempos depois o guerreiro descobriu que se tratava de uma doença rara chamada mal do catoblepas. Estranho que soube que era uma doença originária das terras gregas.
Tudo bem, pois agora Siegfried caçava uma cura ao seu pai. Moverias céus e terras por ela. E para tanto, matou um homem com as mãos nuas e lhe roubou suas armas. O que lhe fez se tornar um homem caçado em sua própria cidade.
Fugiu da região onde morava e levou seu pai até uma antiga área de mineração onde poderia o deixar seguro. Levou a espada dele, mesmo enferrujada como um símbolo, o lembrando de quem era. Jurou voltar e o salvar daquela maldição. Custasse sua vida ou sua alma, ou até mesmo os dois. Mesmo assim nunca acreditou em coisas como espírito.
Em suas buscas acabou conhecendo Ulfgar e Bahamunt. Com a intervenção dos sacerdotes do Deus-Cristo nas terras do norte, os serviços ficaram escassos. O que fez com que o destino unisse a todos, sendo que aceitaram o mesmo serviço de eliminar um bando de duendes em uma floresta. Não haviam se entendido inicialmente, mas o fato de descobrirem que o líder dos inimigos era um ogro os fez cooperar. Desde então os três se uniram em um grupo de guerreiros poderosos por aquela terra cheia de canções de gelo e fogo.

Os três estavam montados: dois em corcéis bem fortes e o mais baixo em um humilde pônei. O anão e o homem conversavam sobre a próxima aventura. Enquanto o louco elfo discutia com as nuvens. Era o que pensavam os outros dois.
-Bahamunt – soltou o humano – me diga... Com quem afinal fal?
O elfo, olhando com ar de raiva lhe disse:
-Lógico que não estou falando com ninguém! Dialogo comigo mesmo.
O anão bateu em seu rosto tentando segurar a raiva.
-Orelhudo de uma... Diga-me o que quer? Que eu use o meu martelo no seu crânio agora ou quando chegarmos à taverna mais próxima?
-Deuses! – respondeu extremamente ofendido contra o diminuto paladino – Não compreendem o que significa refletir? Sei muito bem o que significa isso. E, portanto o faço.
-Você vai é saber o que é a palma da minha mão! Pare de manha e loucura. E louco você não é. Pois não joga fora as moedas que possui. Move teu cavalo com mais rapidez, pois esta ficando para trás!
Siegfried apaziguou os ânimos.
-Ei! Todos calmos rapazes... Não se irritem, por favor. Já temos muito que enfrentar a nossa frente. Esqueceram?
-Você esta certo – se alegrou o elemental da terra – Me diga, o que fazemos exatamente por aqui?
            Estavam no litoral daquelas terras[1]. Muitos diriam que era o extremo norte do mundo. A vila costeira ao qual se dirigiam era alvo de ogros. Poderosos e perigoso, ao ponto de causar dano à torre de vigilância daquele local. Os guerreiros e homens saudáveis haviam viajado para caçar e só voltariam em duas semanas. Então mensagens e pedidos de socorro foram enviados aos vilarejos próximos. Era ai que o trio entra na história.
-Ogros! Adoro esmagar crânios de ogros! – falou eufórico o anão.
-Ogros? Detesto ogros... Urinam por todo o lugar e fedem a estrume de porcos – disse em contra resposta o elfo.
Quando notou que os dois iriam novamente brigar e discutir, Siegfried apaziguou a cólera de ambos:
-Parem já! Não importa se é bom esmagar crânios, ou muito menos se fedem a estrume, esta bem? O que importa é cumprirmos com a missão de eliminar aqueles seres.
-Esta bem Siegfried... Mas como o faremos? – questionou Ulfgar.
-Bem, soube que eles vivem em uma caverna próxima da vila. Talvez seja nosso ponto de partida. Mas há algo estranho... Não parecem as atitudes de ogros comuns. Talvez estejam sendo coordenados por uma inteligência maior.
-Como o que?
-Não sei. Mas iremos nos precaver.
-Muito sábio você é Siegfried. Para um homem mortal, digo.
-Nós humanos somos sábios quando nossas vidas estão em risco. Ou nossos bolsos.
-Sábio até demais – sorriu Ulfgar – Afinal, sem moedas, sem bebidas!
-Isso mesmo sábio e pequeno ser. Brindemos! – falou um alegre e festivo Bahamunt.
-Elfo... – novamente falou o anão em um de seus acessos de controle  - você esta segurando o vento. E não possuímos bebidas conosco.
-Como não? Veja – mostrando o ar ao redor de sua palma – um lindo odre.
-Veja! Um idiota sidhe!
Nesse momento, Siegfried parou a rusga entre os dois. Conseguia enxergar alguma coisa no horizonte.
-Os dois calados e façam suas montarias correrem. Não notam mais a frente aquele ser estranho cambaleando?
Falado isso, fez com que seu cavalo corresse com a velocidade de uma flecha disparada no ar. Mesmo sendo um homem que viveu entre os brutos do norte, sempre soube tirar o maior potencial dos animais. Em especial, de suas montarias. Talvez fosse mais um dom que o jovem Siegfried tinha.
-Eu notei! Óbvio que notei! – disse um elfo olhando para o vazio, já que Ulfgar também trotava na direção apontada pelo humano.
-Deuses nórdicos, em especial meu bom pai Thor, guiem meu martelo contra o mal e não o crânio dessa criatura de orelhas pontiagudas.
E fazia seu pônei disparar na mesma direção do aliado. Bahamunt antes de seguir a mesma direção, soltou:
-Será que Ulfgar também consegue te ver? Que ótimo isso seria, não é meu amigo?

Estava em Van Sirian de frente ao pai. Dwalin Van Kristen, extremamente forte e perigoso quando irritado ou ficava furioso. Seu filho, o jovem Lacktum , não era o que queria. Fraco, cheio de mimos. Nem parecia com o ancestral William. Maldição! Nem um de seus camponeses era tão fraco.
-Praga! Levante filho!
Era em um descampado. Longe do baronato. Mas ainda era possível ver a ponta de uma das torres. O lorde estava de pé com um galho de árvore como se fosse uma arma. Colocava de lado de uma maneira ameaçadora usando as duas mãos no item para provocar mais dano. E foi o que causou.
-Ai! – gritou o jovem e inapto Lacktum – Pai pode parar? Meu ombro arde e minhas mãos não conseguem segurar a arma. Dói demais!
Nesse mesmo instante, o guerreiro tinha um brilho negro em seus olhos. Misto de satisfação, por torturar alguém, com raiva, pelas frases de fraqueza do filho.
-Isso não é momento para fraquezas! Essa será sua vida! Quando meus ossos fraquejarem e seu corpo passar por varias estações, deverá ser um forte lorde. O povo de Van Sirian contará contigo! Sua espada será o que proteger os mais mansos. E para isso deverá ser feroz. Feroz como o lobo que é nosso brasão, Lacktum.
E então Lacktum  investiu contra o pai. Também portava um galho como arma.
Seus golpes eram curtos, fracos e lentos. Diferentes de quaisquer uns dos causados por Dwalin. Parecia que o pai atacava como a um inimigo de verdade. E então, em um momento de distração, o pai começou a enforcar o filho com o pedaço que tinha.
-Vamos! Liberte-se! Liberte-se futuro barão dos Van Kristen!
A espada de madeira improvisada bloqueava completamente a respiração de Lacktum. Pouco a pouco o garoto de cabelos ruivos perdia a luta contra o terrível mentor. Seus braços e pernas não tinham mais firmeza. Os olhos se fechavam.
Antes que isso ocorresse, Dwalin jogou o filho contra um tronco podre. Em seguida, visivelmente descontente, tomou um belo gole de um odre que trouxera.
-Este é o futuro dos Van Kristen! O herdeiro de William! O primogênito de uma família tão nobre... Estaria mais bem servido com sua irmã. Ela possui mais força que você.
O jovem Lacktum se irritou jogando a madeira contra o chão. Seu rosto estava vermelho e sujo. O tom escarlate poderia ser pelos golpes sofridos dos abusos físicos no treino ou pela raiva de seu jovem coração. O que importava mesmo para ele, na verdade, era o ódio que seu pai plantou em sua alma.
-Cale a boca!
Nunca antes aquele garoto havia levantado a voz contra o pai. E aquele momento ficaria marcado na alma de ambos.
-Você finge ser meu pai, mas seus atos lembram os de um monstro, como aqueles contos que minha mãe falava. Nunca vi um homem gritar ou espancar tanto um filho como você a mim. Nem os camponeses que te servem fazem isso! Deveria me conceder amor.
Em um impulso único, Dwalin golpeou o rosto do filho com um dos punhos. O som foi tão forte que o som desse ato assustou as aves que dormiam nas árvores. Os olhos do garoto tremeram antes de chorar encarando o pai novamente, caído de joelhos.
-Tire as calças e entregue a sua irmã. Ela é mais homem que você.
Lacktum cerrou os dentes e fugiu da presença do pai. O barão iria se movimentar, até que refletiu e decidiu que não valia o esforço. Era visível em sua face.
A mãe e a irmã do jovem surgiam do outro lado do descampado, quando viram o mesmo corre para a floresta. Iriam o deter, mas impedidas pelo patriarca Van Kristen, nada fizeram. O garoto cobria seu rosto lamentável com o braço esquerdo.

O garoto corria ligeiro como uma corça em fuga. Sua cabeça estava cheia de duvidas, pensamentos nublados, espírito confuso. Ele queria ser digno do pai, mas não era forte. Nunca seria. Nunca seria. Como era possível vencer do mesmo que o pai, um guerreiro? Um cavaleiro de tamanha força, poder único... Ah! Ele nunca seria como o barão de Van Kristen.
Sua raiva deveria ser contra o pai, mas aquilo que falou era da boca pra fora. Tinha raiva de si mesmo. Ficava com ódio de sua fraqueza, ou até de sua baixa força de vontade. Maldito tenha sido o destino que usa as pessoas tão fracas para seus desígnios, pensava ele. Com ser o que seu pai queria?
Ele encontrou um poço. O mesmo em que se escondia nos dias das surras e castigos. Sabia que seria como antes, mas fugia assim mesmo. Apanharia um momento ou outro, mas ao menos estaria a salvo naquele lugar. Seu pequeno lugar secreto. Um  refugio encantado. O poço dos desejos como chamava.
Tudo lá dentro parecia possível. Os sonhos mais fantásticos, as viagens mais mirabolantes, os confrontos mais mirabolantes, os confrontos épicos que obteve. Tudo em sua cabeça. Mas ao menos para isso servia; esquecer dos golpes que sofreu do pai. E da omissão da mãe. A pobre coitada nada poderia fazer a não ser tratar das feridas do primogênito. A mulher sempre possuiu o papel secundário dentro da sociedade. E com a senhora Van Kristen não era diferente. Submissa e fraca.
Certa vez, o jovem Lacktum acreditou ter visto uma fada ver voado entre as pedras do poço.
Desceu com cuidado os blocos que formavam quase uma escadaria natural. O fundo dele estava sem água nenhuma, porém, ainda úmido. Nem se importava. Preferia o frio daquele lugar ao calor obtido com as pancadas do pai. Para onde mais iria? Quem acolheria o menino fugitivo de um feudo?Ficou sentado e encolhido.
-Olá! O que faz ai mestre?
Lacktum ouviu uma voz surgindo do alto. Lá viu uma silhueta cinzenta e uma luz que parecia vir dos olhos dela. Desceu até o lugar onde estava o jovem Van Kristen viu quem era o sujeito. Um rapazote de treze anos vestido com roupa bem leve e que tinha cabelos castanhos que pareciam com os de seu pai. Apesar de humilde era bem apessoado e bem vestido.
-Jovem mestre, o que faz aqui? Todo sujo e nesse pequeno lamaçal?
O jovem Lacktum se levanta:
-Eu sou um dos Van Kristen. Sou seu superior. Não sabe quem eu sou?
O estranho achou esquisito:
-Mas mestre, já sabia quem era antes de descer o poço. Além disso, o senhor mesmo disse antes de me fazer a pergunta.
O primogênito se sentiu incomodado. Errou de maneira terrível o modo de falar e agir. Quando notou isso, desatou a chorar.
-Se acalme jovem mestre – falava isso enquanto o abraçava. Era estranho ter aquele desconhecido sendo tão afetuoso com ele. Mais do que seu pai pelo menos. Jamais se lembrou de um momento de afeto do barão de Van Sirian. Carinho vindo de Dwalin era algo raro como encontrar pérolas em um deserto.
Os dois sentaram no fundo do poço.
Lacktum olhava para o desconhecido com ar de curiosidade.
-Então, me diga o que lhe aflige? O que lhe causa dor jovem mestre?
Com o olhar do garoto sem nome, o herdeiro de cabelos vermelhos começou a falar:
-Meu pai não gosta de mim. Espanca-me, me maltrata. Sempre...
O jovem de cabelos castanhos olhava a face do futuro herdeiro do feudo cheio de compaixão. Mas como ele poderia agir tão piedosamente com um garoto que mal conhecia?
-Seu pai deve ter muito que pensar jovem mestre. E quer que o seu futuro esteja assegurado. Diga-me, quer ver um truque de magia? Como o das fadas?
De modo bem infantil, Lacktum bateu palmas de modo a afirmar o que pensava. Ele queria ver uma mágica.
-Pois veja! That arise with its fairy lights.
Enquanto falava isso, ele contorcia as mãos. Cada vez que mexia com elas, um brilho diferente surgia. Roxas, azuis, amarelas...  Tons de cores tão diferentes, que alguns, Lacktum nunca havia visto. Belas para ele. Como as luzes de uma fada.
-Parecem faerie[2].
-Jovem mestre, já ouviu falar da história das caudas das fadas?
-E fadas têm cauda?
-Exatamente! – soltou o desconhecido, brincando – Será que tem cauda?
Os dois riram da bobagem que discutiam. Para que arranjar caudas para fadas? Eram duas crianças rindo de coisas sem sentido.
-Camponês qual o seu nome?
-Ora, jovem mestre. Chamo-me...
E de repente Lacktum desperta.

Levantou um pouco a cabeça. Abriu lentamente os olhos, cheios de areia. Do mar e do sono. Parece que Senhor dos Sonhos brincou demais com ele. Os olhos se abriam lentamente, cheios de feridas, mas que cicatrizavam. Foi o que notou em segundo momento. Primeiro, Lacktum notou um corpo em do seu, uma boca na sua. Quando reparou, ela parou de beijá-lo. Parecia a sombra de um anjo como os cristãos falavam. A sombra de Lirah.
-Lugar ao’Céu? Estou no Céu? Veio me buscar?
-Desculpe mortal, mas não sou quem pensa.
Nesse momento, o encanto se quebrou. A mulher que estava sobre ele era linda. Não era Lirah.
-Ai! Perdão senhorita. Eu não queria lhe ofender. Pensei ser outra pessoa...
Quando notou, viu que ela estava nua. Nua em pelo, literalmente. Lacktum se levantou com rapidez com a vergonha que sentiu.
Vendo onde estava que parecia ser uma praia das terras nórdicas, notou que enfim teria chegado ao seu objetivo. Fosse ele qual fosse. Mas naquele momento procurava cobrir as partes intimas da moça. Tão bela por sinal. Não devia pensar sobre isso. Nem fita-la por ser tão bela. Aquela linda moça. Concentre-se Lacktum, pensava.
Encontrou um pano que usou para cobrir a jovem, enquanto, finalmente notava o quanto estava encharcado.
-Mas quem é você? O que faz aqui? Foi você que me salvou?
-Meu nome não interessa...
-Como assim não interessa?
-Não interessa.
-Não interessa? Não interessa. Veja se tem cabimento...
-Só estou aqui, pois vim lhe salvar.
-Como assim? E o que foi aquele beijo? Você me beijou, eu sei!
-Eu estava lhe curando.
-Ah sim! – pensou ele rapidamente – Beijo bom... Digo... Esqueça!
Fui mandada por um arcano que usou magia ancestral. Seu corpo estava na mais funda água do mar que pertence às terras do norte.  Foi usado um tratado mágico entre Njord e Poseidon. E com isso fui conjurada no último segundo para salvar sua vida. O que foi?
Lacktum ainda estava atordoado com a beleza da jovem. Começava a voltar a si. Alguém o salvou? Com uma magia ancestral? Poderia ser Nico ou Azerov. E Lacktum queria que fosse o segundo. Um dos motivos é o que significaria o mago estar vivo. O outro é que seria mais fácil convencer um mago a usar magia antiga para salvar a vida do que um dragão! Afinal, eles tinham que ser precavidos quando a isso. Em sua mente, porém, fantasiava que por algum milagre o velho amigo estivesse vivo. Aquele caduco.
-Muito grato... Moça... Nua...
-Ora, não foi nada Lacktum da profecia.
-Ah, sim... Como? – soltou de maneira quase cômica o mago.
-Desculpe, falei demais – e colocou a mão sobre a boca.
Ela começou a correr em direção do mar. As pernas balançando com graça. Notou como era diferente de Lirah: loira, linda, alta e muito mais branca. Nunca deve ter pegado no trabalho pesado como a camponesa que um dia foi sua noiva.
Sem nem sequer se despedir, mergulhou nas águas frias do mar. Caminhou cambaleante na direção para onde ela foi.
-Ei! Moça vai morrer de frio!
-Stranger! – ouviu alguém gritar.
Quando olhou para o lado, um cavaleiro surgiu montado.
-Sabe falar o idioma das terras do rei ??? ?
-Ora, se sei! Mas quem é você estrangeiro?
Tentando se arrumar um pouco disse:
-Sou Lacktum... Lacktum Van Kristen. Sobrevivi a um naufrágio e aquela moça foi...
Nisso, quando apontou na direção do mar onde a garota mergulhou , deve uma surpresa. Notou que entre as ondas estava a moça, flutuando naquelas águas. O que causou o espanto é que parecia surgir em suas costas nadadeiras de um enorme peixe. Reluzindo como diamante. Ela acenou e sumiu naquele oceano.
-Ela me ajudou... Meu poderoso Odin! Realmente não era um anjo com a forma de Lirah no fim das contas. Mas uma sereia! Uma doce sereia – voltou-se então para o homem do norte e seu cavalo – Desculpe, quem é você?
O homem estranhou a atitude do rapaz com cabelos vermelhos. Ele agia com muita naturalidade diante do surgimento da sereia. O rosto do cavaleiro já parecia bem mais atônito diante daquilo.
-Ah, bem... Meu nome é Siegfried.
Esticando a mão, o mago segurou firmemente a do guerreiro dizendo:
-Meu nome é Lacktum Van Kristen. Arcano inglês. Líder de um grupo de aventureiros chamados Dragões da Justiça. Onde estamos? Digo, onde estou?
De repente, surgiam os outros companheiros de Siegfried. Cada um em sua respectiva montaria. Tentavam entender a cara de espanto de seu colega.

Foi apresentado aos outros membros do grupo: Bahamunt, o elfo arqueiro e Ulfgar, o anão paladino. Depois te explicado o que ocorreu consigo, Lacktum perguntou se eles poderiam o levar a vila mais próxima. Disseram prontamente que sim, visto que também eram aventureiros e precisavam chegar até aquele lugar. Pensou que eles o tratariam como um louco completo, mas o tratavam com relativa naturalidade. Em especial Siegfried que insistia que havia visto uma mulher metade peixe.
A manhã e a tarde, passaram com relativa facilidade enquanto cavalgavam em direção da vila. Siegfried levava o Van Kristen em seu corcel. Decidiram acampar, mesmo não estando tão longe de seu objetivo. Era mais seguro por enquanto.
Acenderam uma bela e ardente fogueira com a finalidade de aquecê-los – especialmente Lacktum, o naufrago – e comer. O guerreiro humano aproveitou para comentar o que o fez se emprenhar nessa vida de aventureiro.
Logo em seguida foram Ulfgar e Bahamunt que falaram sobre seus passados. O anão foi mais sucinto e resumido. Já o elfo falava sobre loucuras e pandemônios que só ele acreditava.
O paladino que possuía um pouco mais noventa anos, falou que quando sua barba não alcançava nem seu pescoço completamente, teria vindo junto com pai até aquelas terras gélidas. Seu nome era Iohan e trazia consigo um artefato conhecido como Martelo da Rosa. Segundo seu progenitor, era um dos artefatos mais poderoso da Era Mítica. Alto sacerdote da ordem de Thor, esse item teria sido forjado por Odin. Ele o fez, de modo que honrasse entre os anões o laço entre as divindades nórdicas e seus mais fieis súditos. Porém, o destino quis que houvesse entre elfos e os bravos elementais da terra o que chamariam de Guerra do Arco e do Machado. Temeroso que o conflito se estendesse entre Arcádia e Midgard – visto que Avalon já havia se tornado o principal inimigo dos anões – os sacerdotes do Filho Preferido de Odin, levariam o objeto único para uma fortaleza nas terras do norte. O nome dela era Barad-Strongor, também usada como um templo e lugar de paz para as crenças anãs. Nunca foi invadida e ficava no território onde nem os Senhores do Escudo conseguiam ter acesso, sem antes ter permissão do alto clero. O lugar era um segredo desse povo nobre, tanto que nenhum mortal teria encontrado aquele lugar nos séculos após sua construção. Mesmo que em uma ironia do destino, algum ser encontrasse o caminho para aquela região, jamais penetraria a muralha de metal antigo usado por tão brava raça. Nem foi preciso, já que eles nunca alcançariam seu objetivo. O grupo dos dignos seguidores Do Que Traz Os Trovões foi atacado por um perigoso grupo de saqueadores ogros. Foi o destino? Uma emboscada? Uma força divina em ação? Quem saberia? De qualquer forma, o sumo sacerdote sacrificou sua vida pedindo ao filho que fugisse e que cuidasse do martelo. Porém, nunca havia visto o item e nunca encontrou ou ouviu falar rumores sobre ele mais. Talvez se conseguisse mais poder, obteria o conhecimento sobre o que tanto desejava. Era o que pensou.
Já Bahamunt tinha uma história louca, para não falar no mínimo fantasiosa. Ele falava que quando criança seus pais teriam sido traídos e mortos devido a Guerra do Arco e do Machado. Foram enganados por alguém que confiavam. Antes de morrer, seus pais amaldiçoaram o culpado de sua queda. Ele teria se tornado um monstro tão horrendo, que sua aparência tenebrosa era do tamanho da maior montanha que já existiu.
-Diga-me, elfo com história de vida tão excêntrica – falou comtom sarcástico Lacktum, como só ele fazia – como nunca vi... Ou ouvi falar sobre semelhante criatura nefasta? Sabendo que ela é um verdadeiro... Colosso?
-Entendo o ceticismo – respondeu o elfo – Mas acredite, o monstro traidor obteve uma máscara do deus da trapaça. E ela é grande o bastante para conseguir nos enganar.
-Por todos os deuses de Asgard! – gritou inconformado Ulfgar – Cale essa maldita bocarra! Eu ainda quebro sua cabeça com orelha pontuda e tudo. Nem um objeto seria grande o bastante para cobrir suas loucuras sem pé nem cabeça. Nem com toda a força da Arte.
Siegfried e Lacktum riram da velha rixa entre elfos e anões. Viram, que diferente dos elfos de Avalon ou dos anões que servem aos Senhores do Escudo. Eles não tinham sido corrompidos pela guerra entre as raças. Então não possuem o ódio. O preconceito não existia entre os seres mágicos do norte.
Os três falaram então sobre a missão na vila. O caso dos ogros e como estariam muito bem preparados para atacar os homens e mulheres daquela região. Lacktum concordou com a idéia que uma inteligência maior estava agindo.
-Nunca teriam sido tão coordenados se fosse realmente um ogro. O líder deve ser alguma outra coisa. Algo mais perigoso.
-Imagina alguma coisa arcana? – disse o anão paladino.
-Seres mais inteligentes que os ogros existem aos montes – disse rindo Lacktum – Mas mais poderosos também. A quantidade é infinita. O que esta lá é qualquer coisa que podemos imaginar. Desde o mais profano até o mais mundano.
O elfo e o humano ficaram pensativos. Já o anão ajeitou a barba junto da barriga. Olhou fixamente o mago e disse:
-Seus olhos estão cheios de conhecimento do profano. Parece entender sobre o norte, mas também sabe sobre seres malignos. Já entregou sua alma a algum ser das trevas? Ou sua carne?
Lacktum levantou como um sopro. Ao invés de raiva, continha um pouco de paciência.
-Não rapaz, até pensei sobre isso. Achei, no entanto, que demônios não me aturariam.
Inicialmente os três se espantaram. E todo esse aspecto sumiu com as risadas de Ulfgar. Cheias de bom humor. O mago soltou um largo sorriso. Parecia uma conversa com Halphy ou Azerov. Só imaginou naquele momento onde estaria a jovem ladina? Como ela pode abandonar todos em tão conturbado período? Ela, que começava a fazer parte da história e dos corações daquele grupo. O amor que ela jogou ao vento.
Agora, não era momento para isso. Os Dragões. Estariam bem? Esse era o problema agora.
-Ah, você disse ter caído de um navio? Fiquei sabendo de um grupo de náufragos que surgiu na vila para onde estamos indo.

Após cavalgarem um bom tempo, alcançaram a vila no dia seguinte. Todos já notaram como o lugar estava. Devastada pelos golpes de um imenso tacape. Casas partidas ao meio. Corpos destroçados e pessoas as recolhendo. Algo podre e sujo surgia naquele lugar.
A vila ficava em uma colina. E suas ruas eram facilmente atingidas pelos monstros, constatou o grupo. Era algo parecido com o que fizeram na torre de Azerov. Dessa vez, pensou Lacktum, seria contra ele a tática.
O dia estava nublado e uma chuva fraca castigava a cidade. Clima forte de medo e terror nos homens e mulheres daquele lugar. Cada rosto uma tristeza, cada olhar um pedido de ajuda. O mago se lembrou de Starten e da vila próxima a cabana de Iliana. Os mesmos olhares e lamentos. Quando não havia um líder em certa localidade, ou quando este não era forte causava dor e desgraça a todos. Isso servia desde uma vila a um grande reino.
E quantas vezes os lideres partem e abandonam os mais humildes a sua própria sorte? O rei Luis da França e o imperador Conrado partiram para as cruzadas. Deixando assim, seus territórios desprotegidos. A mente de um homem deve ser voltada para aqueles que devem ser protegido, nunca para si. Mesmo quando isso pode lhe custar a vida. Aprendeu isso com o exemplo de Azerov.
Um líder. Sendo rei ou não, deve viver para os outros.
Duas crianças passaram pelo grupo. Uma delas brincou com os cabelos do guerreiro sagrado, enquanto a outra comentava o quanto ele era baixo. Era engraçado. Mesmo assim, o grupo continuou seu caminho.
Alcançaram a casa da velha. Líder ela não era. Digamos que uma conselheira. Ela conseguia ler as runas. O famoso oráculo dos nórdicos. Através dele era possível ver o futuro e o passado. Através disso, muitos acreditavam controlar o presente. Só os sábios sabiam, mas isso não significa nada. Deuses e mortais jamais controlarão os destino, portanto, nunca fariam a façanha de dominar o hoje.
A casa mais parecia uma barraca improvisada, se comparada a qualquer outra na vila. Simples, fraca e feita com madeira podre. Remendos no telhado eram feitos com panos e palha. A porta estava cheia de periaptos: ossos de animais como pássaros e ratos, dentes de homens, presas estranhas, olhos humanos, penas, pernas de sapos, pelos de animais e toda a sorte de coisas bizarras. O chão era cheio de sujeira, pois às vezes toda a sorte daqueles objetos caia da entrada. Siegfried notou uma espinha de peixe no chão. Só não sabia se era de encantamento ou de uma refeição. O que foi um problema, já que Bahamunt estava com fome e os outros não queriam desrespeitar a líder religiosa do lugar.
-Pare de brincadeiras – cochichou Ulfgar ao elfo.
-Eu não disse nada!
-Vi sua língua cheia de água olhando aquela espinha e outras coisas... Seu louco!
Havia alguns curiosos próximos da tenda. Olhavam com medo e assombramento. Temores tinham, pois estavam com receio que alguém atacasse a vila. O assombramento já era por conta das aparências dos desconhecidos que entraram naquela localidade. Sabiam distingui um humano, um elfo e um anão. Além de notar quem mexia com magia. Fazendo Lacktum ser o centro das atenções.
Uma moça surgiu ao lado da velha. Declarou se chamar Hilde e iria ajudar a idosa.
Os membros com mais voz dentro daquele grupo recém formado foram a frente. Ulfgar e Lacktum se mostravam imponentes. O anão começou:
-Viemos ajudar a vila. No que quiserem.
-A senhora esta encarregada de liderar a vila, certo? No lugar do guerreiro mais poderoso desse lugar? – disse um mago com certo receio. Ele fitava muito o semblante da idosa. Dois ou quatro pares de dentes na boca. Sua testa cheia de entradas. Mesmo assim, lembrava tanto o rosto de uma avó. Algumas vezes serenas outras nem tanto. Naquele instante, ela estava calma. Sorria com uma expressão amarelada.
-Hum, Arte, espada, martelo e arco. Junto nas terras do norte.
-O que ela quer disser? – perguntou o guerreiro Siegfried.
-Ela se refere a vocês quatro. Encontraram-se aqui? – disse Hilde.
-Sim – quando Bahamunt iria continuar um comentário sobre Lacktum, este mesmo fez um gesto que se calasse. Não queria que outros notassem que era um inglês.
-O arcano trará magia para os três brutos. Seus fios foram entrelaçados por uma das irmãs do destino. Jornada surge para vocês... Longínqua.
Os quatros se entreolharam com expressões de curiosidade. Ficavam pensando se não era um mero truque da velha. É o que os menos simplórios pensariam. Porém, ela continuou:
-Você de cabelos vermelhos, traz consigo conflitos. Raiva, ódio, amor, pena entre outras coisas... Mas não sente isso por quem imagina agora. Quando notar, sua mente chegará a um patamar que desejará nunca ter alcançado...
Aquela mulher idosa fez com que o arcano enlouquecesse. Ele sentia que suas palavras estavam cheias de poder. Falou ao coração de um Lacktum sem rancor. Que desapareceu há tanto tempo. A pessoa em quem pensava era Lucian, que assumiu o título de Kalic Benton II. Se não fosse por ele que sentia tudo aquilo, seria por quem? Sua mente se enchia de dúvidas.
Ela olhou para o arqueiro.
-Você tem passado. Seu manto de loucura protege sua mente de um passado mais sinistro. Prepare-se! Ele voltará até ti elfo, com a flecha iluminada que derrota quatro espadas.
-Obrigado velha louca com poucos dentes – respondeu ele a altura.
Ela, apoiada em Hilde, se virou para Siegfried. Começou a profetizar com as mãos tremendo:
-Guerreiro, teu símbolo é um grifo. E um grifo. Saberá o motivo de seu exílio forçado. Pois seu sangue te condena.
Mais um homem confuso.
Então, o último, anão de nome Ulfgar. Ele ficou com medo de tudo aquilo. Qual não foi sua surpresa quando a idosa se ajoelhou diante dele? E continuou falando:
-Quando tudo passar, a tempestade que esta por vir, muitos farão a mesma coisa. Pois alcançara seu objetivo.
Ele ficou honrado, pensando que encontraria o item que tanto almeja. Mal sabia que ela teria visto outra coisa.
Velhas como ela eram comuns nos séculos antes do ano mil recebiam das normas o poder de vislumbrar o futuro. Com o surgimento do cristianismo, foram caçadas e mortas. Como meras e ridículas bruxas horrendas. Não como mulheres de cura ou sabedoria, mas sim como monstros terríveis. Assim como as sibilas gregas e as feiticeiras celtas. O mal perpetrado pelos homens que seguiam o Deus Cristo era imenso. Tudo em nome de sua divindade. Muitas pessoas causam massacre em nome do que se acredita. Mesmo que isso vá contra os seus próprios princípios.
Vocês se perguntam, se tinham esse poder de vislumbrar do passado, presente e futuro – Skuld, Verdandi e Urd – como não impediam suas próprias mortes? O terrível massacre em nome de Deus? Simples. Quando é momento de partir, não há nada que o impeça.
A idosa, apoiada por Hilde, levou a mão ao peito. Ela notava com risos os olhares entre Siegfried e a moça. Já sabia o que iria ocorrer entre eles. Não é horrível quando existem pessoas que sabem nosso futuro e nunca nos falam?
Já a jovem ajudou à senhora a entrar, enquanto essa soltava risadas cheias de malicias. A garota se virou uma vez mais para o grupo. Em especial para Siegfried. Depois de ajudar a mulher das runas, voltou até eles.
-Vieram para cá devido o ataque dos ogros? Mostrarei o caminho.
-Muito grato – falou Siegfried prontamente.
Ulfgar olhou para Lacktum. Como é engraçado que os apaixonados nunca notam seu próprio amor.

O grupo dos quatros aventureiros foi levado a uma parte mais elevada. Antes de lá chegar, Hilde comentou que outros como eles, haviam chegado naquele lugar. Eles deixaram alguns marinheiros no templo. Depois, partiram. Um deles tinha um X na cabeça.
-Thror! – gritou de satisfação Lacktum.
Ao que parece os ogros viviam um pouco afastados em uma caverna. Sua entrada era tapada por uma enorme pedra. Pelo menos assim que era antigamente.
Algum tempo atrás, um grupo de evangelizadores católicos tentou destruir os símbolos dos deuses pagãos. Além de atacar o templo na cidade, souberam de uma pedra que tinha símbolos, segundo eles, profanos. Mas o que realmente era maligno nunca foi à pedra, e sim o conteúdo. Partiram os símbolos nas pedras. Desde então, não se ouviu falar dos cristãos.
Hilde pesquisou lendas antigas. Descobriu que ali era o covil de Dragar, o Venenoso. Um demônio ardiloso que serviu a Loki, deus da trapaça, O Que Traz Ragnarok. Seus poderes são originários – assim como ele mesmo – do reino de Jotunheim. Os seus poderes eram grandes e temíveis pelos que as lendas contam. Relatam sobre forças demoníacas que só ele controlava. Contos de traição são falados.
O mago preparava as magias. Enquanto isso, o guerreiro Siegfried se despedia de Hilde. Lacktum invejava aqueles momentos entre os dois. Lembrava-se como ele conheceu Lirah.
Era uma manhã de primavera no lugar onde morava. Estava chovendo forte, quando o jovem líder do baronato se viu encurralado pela água debaixo de uma grande macieira. Bem maior que as normais. Lá estava à bela e jovem, Lirah. Ensopada assim como o primogênito dos Van Kristen ela comia uma maçã vermelha como sangue. Depois de conversas sem sentido, eles começaram a se olhar de forma única. Quando se observa a pérola mais linda, um lugar ao céu, qualquer coisa que enchia a alma.
Finalmente, o guerreiro olhava fixamente na direção para onde ela partiu. Nunca sentirá aquilo antes. Sabia que parecia amor, mas não como sentiu antes. Era novo. Não lembrava o que sentia pelo pai, nem a amizade dos companheiros. Um sentimento único.
Ele esqueceu aquilo por alguns instantes e se lembrou de que estava mais uma vez naquela dança macabra. Se a vida virou um circo romano ele estaria ali sempre para lutar.
Então lá estavam eles: Ulfgar, paladino anão servo de Thor; Siegfried, guerreiro humano; Bahamunt, arqueiro elfo louco; e Lacktum Van Kristen, mago e que trilhava o caminho do Destino. Todos com suas devidas armas. Magia, espada, arco e martelo.
Siegfried seguia mais a frente. Como bom rastreador que era notou pegadas de gêneros bem diferentes. Entre elas estavam as de ogros. Acima delas, ficavam as de homens, que com certeza pertenciam aos Dragões da Justiça.
Quando caminhavam mais a frente, Bahamunt observou que havia corpos caídos no chão. Como os olhos de um elfo são mais poderosos dos que de qualquer mortal, Ulfgar acreditou no companheiro louco. Pois eles nem treinam essa habilidade natural, só a usam.
Mesmo possuindo a confirmação de que os corpos eram de ogros, Lacktum se colocou receioso. Criaturas grandes que poderiam ser abatidas pelas armas de seu grupo. Só que um ser com os poderes profanos adequados poderia usar necromância para reanimá-los. Um perigo que não queria correr.
Chegaram próximo a caverna. Nela, havia uma pedra cheia de símbolos aos quais já aguçaram os instintos do mago. Os mortos estavam jogados ao chão. Um, possuía poderosos golpes no pescoço e barriga. Outro tinha o que Ulfgar e Lacktum notaram serem golpes de uma foice e espada. Era coisa dos Dragões.
Tirando armaduras de qualidade baixa, parecia que os outros haviam feitos seus espólios de guerra. Notou que ali tinha moedas desperdiçadas no chão. Com certeza o guerreiro Thror fez esse ato, pensaria o mago mais tarde.
Os três guerreiros visualizavam os corpos, quando Lacktum notou o que simbolizava aquelas marcas. Chamo os três para comunicar seus novos companheiros.
-O que foi? – perguntou Ulfgar.
-Aqui foi escrito... Aqui jaz Dragar, a Serpente de Loki. Aquele que Traz a Traição. Temos aqui um demônio manipulador. Ele controla a altera as emoções. Cuidado com elas.

Enquanto isso no templo daquela vila por onde passaram, um homem que seguia os deuses dos gregos chegou as suas portas. Seu nome é Tom Drake Harem. Um clérigo que já foi citado nesses textos. Homem que busca sua identidade. Entra em questão, por qual motivo ele chegou naquelas terras.
Simples! Um acaso do destino.
Certo dia, em um pouco mais de um mês atrás, Tom estava em um porto na França. Ironicamente, a pedra que carrega, voou na direção da cabeça de um marinheiro furioso quando tentou se livrar mais uma vez dela. Este golpeou o clérigo com tamanha força que o nocauteou. Pego desacordado, e jogado em um navio, inicialmente como escravo, o grego adorador de Zeus, se tornou poderoso dentro da embarcação e respeitado. Sem saber, foi levado para o norte. Chegando naquelas terras dos antigos vikings, ficou sabendo dos problemas.
Como bom moço e amigo por excelência, ele foi em direção da vila quando ficou sabendo. Na verdade, estava certo que venceria qualquer desafio. Pois estava protegido por Zeus.
 O templo, que já foi território do panteão nórdico, possuía estatuas e escritos dos cristãos. Obras que simulavam anjos e santos. Abaixo das imagens, estavam as formas de madeira do que já foram os símbolos de Asgard, lar dos deuses Aesires e Vanires. Todos quebrados ou partidos, sendo que alguns eram feitos de madeira. Uma afronta as antigas divindades daqueles povos. Era assim que os homens do Deus Cristo agiam.
Aquele lugar nem servia para rezar mais. Na verdade servia como casa de cura. Entre outras coisas.
Os atacados pelos ogros estavam completamente física, mental e espiritualmente, exauridos. Alguns rezavam, confundindo suas preces com as dos dois panteões: cristão e nórdico. Outros gritavam com as dores dos membros, olhos ou órgão arrancados. Os piores eram aqueles que alucinavam falando que os ogros tinham aspectos diabólicos, ou até pior, que eram demônios mesmo. O que ocorreu ali era um massacre.
Enquanto caminhava entre os bancos, que serviam como camas improvisadas aos feridos, Tom notava que cada um era atendido de forma individual. E com pouca higiene salientou em sua mente.
Viu que seus dons eram mais que necessários e começou com os milagres:
-Ο Δίας, κομιστή της αστραπής, ένας από τους μεγάλους αυτοκράτορες των ανδρών. Αφαιρεί όλο τον πόνο των εν λόγω φορέων και θεραπεύει το όπλο σας με τον πόνο στις καρδιές αυτών των ανδρών και των γυναικών.
No mesmo ato, um brilho na palma da mão do clérigo surgiu. Era uma força com poder de balsamo. Um fio aparecia cada vez que ele se aproximava de um ferido. E da ponta dele surgia o raio de cura. Fazendo o corpo aliviar. Esqueciam os sofrimentos.
Enquanto isso ocorria, uma roda de espectadores olhava cada gesto do jovem estrangeiro. Entre uma cura outra, ele falava como seu deus era bom, seus milagres, suas façanhas. O poder sobre as forças elementais que estavam no céu. E foi ai que as discussões começaram.
Tom falava de um deus que era líder do seu próprio panteão e que controlava raios como uma lança. Para os homens e mulheres do norte que ainda preservavam os antigos costumes, ele se referia ao portador de Mjolnir, Thor. E com isso, mesmo agradecidos pelo que o sacerdote fez muitos repudiaram ele. Sem falar naqueles que eram cristãos.
Uma moça, entretanto, pareceu interessada naquelas palavras. Seu nome era Valquíria. Assim como muitos naquelas terras, perdeu os pais devido a uma grave doença. Cuidou-se sempre sozinha, trabalhando com o que podia. Sempre de forma honesta.
E quando viu aquele homem de terras distantes, acreditou que talvez fosse o momento para partir dali. Talvez, conseguir se tornar alguém melhor, ou pelo menos conhecer o mundo. Terras vastas, nunca exploradas. Lugares onde a terra era quente e o vento cortava sua face. Sabia que enfrentaria perigos, já que fazia parte de obter o que se quer. Só se tem o que se quer quando se sacrifica algo de igual valor. Ela estava certa em fazer isso.
A jovem se aproximou com receio, depois, ignorou o próprio medo. Nem ela sabia, que com ele. Entraria em um novo universo de magias fantásticas. Perigoso.
-Olá... Tom não é?
Ele se virou na direção do clérigo. Os dois se examinavam com cuidado, em cada detalhe.
A jovem tinha cabelos castanhos claros e sobrancelhas grossas, mas ainda bonitas. Algumas peles bem finas surradas cobriam a parte de cima do corpo. Para baixo, um saiote negro com detalhes em cinza. Ainda nas costas, tinha uma espada. Era curta, mas fazia um bom serviço quando se tratava de cortar a garganta de um homem abusado.
O clérigo era alto – nem tanto para os padrões dos nórdicos, mas em relação à própria Valquíria – cheio de pose e poder. Cabelos castanhos também, só que mais escuros. Face jovial e olhos cheios de sagacidade. Uma armadura pesada. Na cintura o símbolo de seu deus: um raio dourado, preso em uma corrente. Além de uma arma no outro lado do cinto. Cheio de detalhes.
Quando terminaram um com o outro, para se observar, Tom começou:
-Sim minha querida. E quem seria você?
Ajeitando o cabelo de forma bem tímida falou:
-Valquíria. Ouvi o que falava sobre o tal Deus...
-Não minha cara. O que falei era sobre Zeus. Deus como fala é dos cristãos. O tal Deus Cristo. Eu sirvo ao Portador do Raio Mestre. Perdoe-me, mas qual motivo de querer falar comigo? Algum interesse possui não?
-Sim. Escutei tudo que falou sobre o seu deus e isso muito me interessou. Como posso ter certeza que não é falso e um embusteiro com truques de prestidigitação?
Tom gargalhou de satisfação. Finalmente, encontrou alguém digno para conversar.
-Entre bárbaros, finalmente encontro pensamentos livres. Livres dos conceitos estabelecidos pelos homens comuns. Acredito que seja uma das mais sábias mulheres dessa vila.
Sentiu o rosto avermelhar devido ao tratamento dele. Porém, não seria enganada de modo tão fácil. Queria uma confirmação que poderia confiar naquele homem.
-Se quer que eu lhe prove o que eu sou... Prepare-se. Trarei-lhe a cabeça da criatura que lhe causou tanto mal.
-Mas... – e antes que pudesse terminar a frase, Tom acrescentou:
-Se isso fizer acreditar em meu deus, vou trazer aquela cabeça.
Com toda certeza, aquele grego agia como um daqueles velhos heróis gregos. O orgulho falando alto e forte.
Ele deu as costas para Valquíria. Ela o observava com raiva.
-Mas... Que impertinente! Se voltar, vai ver.
O clérigo colocou algumas peles antes de sair. A neve já cai com força lá fora.

Dentro de uma caverna escura e sombria, em um círculo arcano poderoso cheio de símbolos rúnicos, havia um ser. Estava de pé, olhando para a única saída daquele lugar. Ainda fechada.
Breve... Muito em breve... Liberdade... Poder... Caos... Loki...
Um brilho bizarro surgia na órbita sem olhos.



[1] Região litorânea da Noruega. Pesquisar mais.
[2] Termo para fadas em geral, mas em especial as pequenas.

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