Depois de alguns dias, os Dragões mais pareciam um bando de
lagartixas, como diria Thror sobre todo o estado dos companheiros. Os treinos
se tornavam um pequeno Inferno. Às vezes, ela colocava alguns mais fracos
fisicamente para enfrentar os mais fortes, como o mago e o guerreiro. Muitos
até queriam fugir dela, mas Lacktum os impedia.
Comentava sobre os poderes dela. Não sabia como, mas quando
saíram da Inglaterra ainda era inverno. Só que nessa ilha que ficava ao lado de
sua terra natal, pelo menos nas proximidades não caia um floco de neve sequer.
Além disso, nas ilhas próximas havia gigantes
cinzentos chamados fomores[1]. Seus poderes e forças são temidos por
representarem as forças das trevas.
Realmente, um inverno
sombrio se abatia sobre os jovens aventureiros. Mas eles tinham que continuar
firmes contra o Pacto de Guerra. Com sua nova força física poderiam suportar os
castigos de um combate ferrenho e perigoso como contra Matadouro, Yue Khan e
Augustus. Agora eles precisam vencer os inimigos a todo custo.
Halphy estava ao lado do Pacto de Guerra agora.
Ela estava pronta para destruir os antigos companheiros. A
prova esta no que ocorreu no Portal de Ixxanon. Ela os deixou para morrer,
praticamente criou a armadilha. Se não foi ela que o fez! Sem o surgimento de
Nico – ou Ikkanon – o grupo teria tombado. Não poderiam contar sempre com o
auxílio de seu anjo da guarda, ou dragão no caso.
Alias o que Nico e Halphy estariam fazendo? O dragão sempre
foi misterioso, mas era um dourado, conhecidos por serem extremamente justos.
Além de possuírem vasta sabedoria e servirem como juízes em sua própria
espécie. Com certeza deveria estar tentando obter a paz em algum lugar. E a
meio elfa sempre foi uma serpente. Mas usando uma comparação de Lacktum, antes
ela só enrolava agora ela tem veneno.
Lacktum estava triste mesmo assim. Não queria ter a ladina
como inimiga. Não por ser perigosa em diversos pontos, mas sim por ter se
afeiçoado a ela. Era como ter alguém com talentos únicos e iguais aos seus,
além de um laço familiar.
Mas agora ele tinha perguntas a serem respondidas. Entrou no
casebre depois de um dia exaustivo de treino. Viu uma casa humana por fora,
decorada ao estilo dos elfos por dentro: uma mistura das casas celtas com uma árvore
no seu centro enrolada em si mesma, servindo de pilar. Havia peles de animais
nas paredes e um chão de areia. Isso era novo para ele!
Ele não via muito como era lá dentro, pois a bruxa guerreira
odiava que eles entrassem lá. Todos dormiam atrás da casa, no estábulo. Só
havia um cavalo, mas como fedia.
Quando Iliana o viu entrar, gritou:
-Espero que você tenha um bom motivo para morrer! – enquanto,
era bem visível, preparava uma magia de gelo em seu punho.
-Calma! – falava isso, enquanto estendia os braços para a
mulher, tentando a impedir – Tenho que lhe perguntar algo sobre você e sua
família.
Ela encerrou a magia[2],
enquanto olhava com desconfiança. Mesmo assim, pediu que o mago inglês sentasse
no banco de madeira. Ela fez o mesmo enquanto suspirava. De raiva, talvez, ela
cuspiu no chão. Lacktum fez uma cara estranha, vendo uma mulher fazendo tal
ato, mas já se acostumou com os jeitos dela.
Ela apontou para onde havia cuspido e disse:
-Traga água e jogue sobre aquilo.
-Sobre seu cuspe?
Ela lhe deu um golpe forte no rosto causando nele a vontade
que corresse até o quarto onde estaria a água. A bruxa apontou para o lugar com
uma jarra. Jogou um pouco de água sobre o lugar onde ela havia pedido. Ainda se
sentia mal por ter levado um tapa de uma mulher, mas não admitiria na frente
dela.
Logo em seguida, ela tocou a água girando a pequena poça. Com
aquilo, surgiram imagens naquele local. Figuras que pareciam vir de algum lugar
distante. Apesar de não ser tão bom com relação a alguns aspectos de Avalon,
parecia ser a ilha há muitos anos, séculos até. Isso, na mente de Lacktum,
surgia como algo do passado. O mago entendeu, pois ela trazia através de suas
memórias cenas do passado como um reflexo na água de um lago... Só que um tanto
diferente. Não era como o Oráculo de Delfos, em que ele mostrou tempo e espaço
em que não esteve. Era óbvio que ela não era tão poderosa quanto o homem nas
terras gregas, mas seus dons extraordinários eram o suficiente. Não foi a toa
que foram enviados até ela. Só com fortes se aprende a ser fortes, era algo que
seu pai sempre dizia. Mas ignoraria tudo isso por enquanto.
Tinha certeza que aquilo era do passado.
Viu surgir uma casa de elfos nobres, onde estava Iliana.
Parecia um outono muito distante naquelas terras arcanas. E até seu jeito de
vestir e agir parecia menos com a bruxa que conhecia. Parecia chorar enquanto
cruzava um jardim cheio de flores lindas e maravilhosas. Algumas que nenhum
homem mortal teria visto fora da ilha. Mas antes que atravessasse todo o lugar
uma elfa gritou:
-Ilianel! Não faça isso!
-Fique calada Aluniel.
Nesse momento, Lacktum se agitou. Realmente, o destino é um
só como diria Azerov.
As duas garotas tentavam persuadir uma a outra. Ilianel
queria fugir com um estranho de terras nunca antes conhecidas. Enquanto Aluniel
tentava convencer sua prima. Tinham parentesco distante, mas se amavam como
irmãs. E até mais. Uma protegendo a outra dos males, mas Iliana sempre se
interessou pelo mundo humano e suas inconseqüências. Assim, como ela mesma
admitiria mais tarde, era inconseqüente.
-Será que nada do que fale irá mudar sua cabeça sobre isso? –
disse Aluniel sem mais argumentos após um longo discurso.
-Eu o amo. E sinto que ele me ama.
-Como tem certeza disso?
-No amor só existe uma certeza. E eu vou provar ela.
-Tudo bem então minha prima. Que os ventos de Avalon sempre soprem para você[3]... E voltar até mim.
-Grato minha querida prima.
A cena se esvanece, enquanto é possível ver que outra surge.
Nesta nova imagem, aparecem Iliana e o elfo que ela citou antes. Cabelos
longos, com uma tez tão clara que parecia nunca ter sido tocada pelo sol. Era
um elfo com belas roupas verdes e um sorriso malicioso e convidativo.
Ele a abraçou com força como se encontrasse seu maior e
verdadeiro amor. Mas era mentira.
-Oh meu querido Sinestro!
-Venha comigo meu amor...
E nesse momento, Van Kristen saltou. Ele fitou a bruxa. Será
que isso tem haver com Halphy? Será que ela e Sinestro tem algum parentesco?
Isso ficava cada vez pior.
Mais uma vez, a imagem na água mudou com uma girada do dedo
de Iliana. Ela não expressava nenhum sentimento. Talvez tenha sido Sinestro o
culpado pela elfa agir assim. Muitas questões estariam para surgir e finalmente
serem respondidas.
Nessa nova cena, Iliana estava em uma casa. Aonde quer que fosse
ela sofria muito, pois estava grávida e prestes a dar a luz. Suas dores eram
muito maiores que uma elfa teria, pelo menos que ela lembrava. Em seu espírito
sentia. Seu corpo não agüentava, mesmo sendo uma criatura mágica. Seus dentes
rangiam, seu corpo estremecia e nada parava sua aflição. Ela sempre havia visto
outras em Avalon tendo filhos e nunca foi tão difícil. Qual o motivo agora
disso com ela então?
Ela estava sozinha quando deu a luz a uma singela garota. Tom
claro de pele, sem nenhuma maldade, pura em todos os sentidos. Apesar de mão
ser uma elfa completamente, era linda. Ela era tudo que Iliana sonhava e muito
mais. Seu choro fazia sua mãe jorrar mais lágrimas ainda. Isso tudo sendo
agraciada com um milagre que só os deuses nos concedem.
Esse talvez fosse seu último dia de felicidade.
A porta da casa foi aberta com um potente chute. Em seguida
era possível notar a silhueta de Sinestro, e um vento sombrio que apagou as
velas do casebre. Foi quando ele caminhou até a mãe, que com dificuldade,
alcançou sua filha para segurá-la. Ela que sozinha batalhou para sua filha
viver.
O suposto elfo segurou a filha com um jeito paternal, mas
maligno. Deve ter sido assim que o mal surgiu.
-Querido... Ela não é uma elfa... Puramente... Mas lhe
juro... Nunca lhe trai – disse ela, com medo e preocupação – Os deuses estão
sendo caprichosos...
-Ora Iliana. Não se lamente, nem se desculpe. Sei que nunca
me traiu. Afinal, fui eu que te trai. Muito mais do que imagina. E de uma
maneira muito pior do que jamais sonhou.
-Como assim? Do que fala? – disse ela em tom de desespero.
-Vou lhe revelar que busco um dos Portais da Verdade. Aquilo
que só os mestres ascensos[4]
obtiveram. A fonte de maior poder em toda Gaya. E você me concederá isso hoje!
-Do que fala? Não entendo... Devolva-me minha filha! Por
favor! – gritava e esperneava a elfa. Era triste ver a mulher gritar após um
parto tão duro. Se houvesse um ser vivo com o mínimo de consideração em seu
coração naquele lugar, faria de tudo para entregar a criança para sua mãe. Mas
mesmo Sinestro ainda estando vivo, seu coração era tão podre que mesmo os
apelos da mais correta das mulheres não abalavam seu jeito cruel e poderoso. O
mal tinha desejos, não compaixão.
-Ela estará bem. Será uma bela filha de dragão.
-Como? Oh forças antigas...
-Sim! Ela será uma filha do dragão!
E nesse momento só a sombra era possível ser vista, mas como
um relâmpago, surgiu nela à forma de um dragão. Pela noite e com a visão
nublada de Iliana, não pode ver sua forma completa. Entretanto era possível que
enquanto voava a criatura tinha um brilho esverdeado e olhos vermelhos como os
de um rubi. Além de soltar um som devastador que finalmente acordou a criança.
O bebê ficava entre os vãos da garra do monstro, sem nenhum dano a recém
nascida. Era como se finalmente sentisse então o destino cruel que estava
reservado para ela.
-Adeus Iliana. Será poupada, por enquanto... Não me faça
mudar de idéia.
Enquanto falava isso o ser crescia, quebrando o teto da casa.
Com isso as paredes da construção humilde caiam ao chão e até as portas voaram
com a força das asas dele. Como um demônio que queria levar uma alma pura para
o Inferno. O ser do mal parecia sorrir com tudo aquilo que criou: um caos na
vida da elfa. E ele não deixou nenhum dos escombros caírem sobre ela de
propósito. Como quisesse que ela vivesse com aquele sofrimento nos dias que
estavam por vir.
Nesse momento surgiram dois homens. Um deles era um cavaleiro
que portava uma armadura de tom prateado... Quase que de platina. O outro tinha
roupas esfarrapadas. Estava com um manto, luvas com símbolos arcanos e um cetro
com um crânio na ponta. Lacktum não enxergava seus rostos, mas sabia quem eram.
Sua jornada até pouco tempo atrás se devia a eles.
-O Cavaleiro de Platina e o Desalmado.
Os dois se colocaram na frente da elfa, formando uma proteção
contra o dragão. O arcano obscuro preparava a magia, enquanto o paladino
gritava o nome de seu deus. Mas não foi rápido o bastante, pois o ser alado
fugiu.
A dupla parou suas ações. O cavaleiro sagrado com tom
prateado acudia a elfa. Já o outro olhava em direção ao horizonte. Estavam em
um lugar muito distante de qualquer vila conhecida. Em um precipício próximo do
mar, que poderia ser lindo naquele momento. Isso se não fosse aquela situação.
-O perdemos – disse o mago.
Amanhecia, enquanto a imagem mudava lentamente. A água
mostrou uma caverna em que os Dragões já estiveram. Era a mina do Vale das Esmeraldas.
Lá estava Sinestro em sua forma verdadeira. Ele se encontrava
em um pentagrama cheio de símbolos e runas. Brilhavam com força arcana e poder
antigo. Abaixo, uma criança de dez anos enlouquecia de medo, gritando. Vestindo
somente trapos que já foram brancos.
O dragão cintilava em tons esmeraldas, especialmente em seus
chifres, garras e as pontas das asas. Ele parecia muito mais ágil que qualquer
outro ser arcano que conheceu até então. Seu ar de nobreza exalava com muita
força e com certo tom de infantilidade.
Com o ser reptiliano acionando as runas, não deixou de notar
as sombras que surgiam ao seu redor. Ele as confrontou.
-Saiam de onde estiveram. São três e um dentre vocês é minha
antiga amante Iliana. Acreditar que podem esconder-se de mim só mostra que são
tão loucos quanto aqueles que pretendem me derrotar.
Eram o cavaleiro e o bruxo que saíram primeiro. Envelheceram
como qualquer humano em quinze anos passados. A última saindo das sombras era
Iliana. Caminhava bem lentamente. Não era mais a presa. Estava caçando.
Sua feição mudou. Estava mais parecida com o jeito que
Lacktum conhecia tão bem: nervosa, sombria e seria. Só suas roupas que
combinavam, os trajes de feiticeiro e um guerreiro. Ela estava pronta para
matar ou ser morta por Sinestro. Custasse o que custasse.
Ela apontava sua arma em direção ao dragão. Seus olhos eram
negros.
-Devolva-me minha filha, seu lagarto cheio de pus! Quer essa
espada enfiada na sua garganta?
Nesse momento Sinestro riu. O som mais parecia um terremoto
para os dois homens e a elfa, mas isso não os abalou. Os três se posicionavam,
mas somente a guerreira arcana saltou em um bote quase suicida.
-Tu queres morrer tanto que abdica da vida, como se fosse uma
oferenda a um deus? Tente penetrar minha couraça com tua agulha de encantos
menores – falou o dragão, zombando da elfa que se agarrou a uma das escamas
verdes do dragão.
Enquanto isso Iliana gastava vários e cada vez mais precisos
golpes contra o imenso ser. Inúteis. Ela parou sorrindo com tudo aquilo.
-Ora veja, o seqüestrador de bebês tem uma fala eloqüente.
Não é a toa que o que pesquisei estava certo em tudo. Tão antigo quanto lendas
recitam, Sinestro. Ou deveria chamá-lo de Brilho de Orvalho?
Sinestro parou de fazer tremer o lugar com os sons de sua
bocarra. Mas ainda esboçava um sorriso de satisfação.
-Ah vasculhou sobre lendas referentes a meu ser. Quanta honra
para tão misero ser – nesse momento, ele estufou o peito. Revelando que não
havia sofrido um dano sequer em sua poderosa pele de dragão.
-É. Um dos dragões mais novos na Era Mitológica, antes de
sumirem no misterioso Êxodo dos Dragões. Mas seus talentos eram superiores ao
de qualquer um. Especialmente por ser fisicamente poderoso e seus dons mentais
serem potentes. Mas caiu no plano de Gaya por motivos sombrios. Fiz várias
descobertas sobre você.
-Então deve saber que com teus poderes atuais não irão
conseguir me ferir. Assim como seus aliados.
-E quem disse que quero te matar? Agora!
Com isso, o arcano sombrio que a seguia recita:
Das torres saiu o tempo
Impeça esse inimigo
Venha a esse mundo parar
Proteja nosso destino
Nesse momento, o dragão deixa seu corpo cair. Parecia mais
pesado que o natural. Sabia de quem era a culpa daquela sensação que jamais
havia sentido antes.
-Teu mago esta me fazendo hibernar... Maldita, mas muito
sabia.
Iliana aproveitou e pegou sua filha, que estava paralisada de
medo ou por magia. O paladino protegia tanto Iliana quanto a filha dela que se
livrou do ritual. A criança chorava com medo da situação toda. Pouco se sabia
do que ocorreu por todo esse tempo. Mas a menina parecia muito sofrida, tanto
física, como mentalmente. O mago se protegia com um forte feitiço.
-Ora essa... Conseguiram me deter... Por enquanto. Mas eu vou
me proteger de vós... Melhor me divertir com vós. Que tenham uma sina tão
horrível quanto o meu poder. A ti mago, lhe condeno a odiar o único homem em
que realmente deveria confiar... A ti cavaleiro, lhe condeno a não morrer pelas
mãos de um inimigo, mas pelas de um aliado... Um amigo...
E antes que caísse, o dragão falou a elfa:
-E a ti, minha antiga amante... Condenarei a nunca mais ver
tua filha... Assim... Feito...
Falando isso, o dragão caiu perante todos e adormeceria por
anos. Era o que haviam conquistado. Paz.
-Se acalme Iliana – disse o mago – Tudo acabou, estamos
livres dessa praga.
A água no chão da casa de Iliana secou.
Lacktum ficou pensativo. As cenas eram algo que superava suas
pesquisas. Até onde soube alguém do clã Coração Prateado havia despertado o
dragão Sinestro anos depois pelos seus cálculos. O que fez com que o problema
se tornasse algo de importância aos Imortais Esquecidos. Isso havia ocorrido no
inicio da formação do grupo. E ele seria destruído, quando houvesse poderes e
forças, o suficiente para erradicá-lo. O mago inglês temia pelo futuro do seu
grupo.
Mas uma perguntava continuava.
-O que ele queria com sua filha?
Iliana suspirou.
-Até hoje não sei, mas seja lá o que fosse, quer fazer o
mesmo com a filha dela. O máximo que fiquei sabendo que crianças destinadas a
tais poderes e habilidades quanto elas são chamadas de Maktub.
-Maktub? – estranhou o mago – Pelo que me lembro isso
significa esta escrito ou esta
destinado. Em uma língua distante daqui, alias.
-Exato. Pelo que soube seriam seres que mudaram o mundo
diversas vezes em nome de sua fé ou suas crenças. Como Jesus Cristo para alguns
judeus... E boa parte do atual território dessas terras.
-Espere! Primeiro nunca fui de acreditar em coisas desses
cristãos. Segundo, você disse várias vezes? – o jovem ruivo levantou – Esses
fanáticos religiosos podem ter mudado o mundo duas ou três vezes. Não mais que isso.
Isso se o fizeram através desse tal messias.
Ela colocou a mão no joelho esquerdo, em pose de desafio.
-Você não compreende. Alguns desses seres, também chamados de
mestres ascensos, nem sempre tem seu nome registrado na história. Você que
aprendeu o mínimo do mundo arcano, como um abridor, sabe sobre o Paradoxo.
-O que aprendi nesses últimos tempos, lendo e de forma
natural, é que o Paradoxo é a força maior que rege todo o universo arcano. Que
concede e detém qualquer magia. Sua força impede que um mago supere as forças
da natureza de Gaya. Tais feitos são concedidos somente para os deuses.
-Sim, mas devo lhe afirmar uma coisa. O Paradoxo não é a
maior força. De qualquer modo irá aprender sozinha. Voltando ao assunto, esses
mestres conseguem acessar o que chamamos de Portal da Verdade. Não sei o que é,
mas possui grande importância para alguns seres ancestrais e de outros planos.
-E Sinestro queria controlar um deles. Através de você? É
isso?
-Exato! Ao que parece, existe uma profecia ao qual eu seria
responsável pelo nascimento uma mulher. Essa mulher teria o poder de abrir o
portal. Pois esse é o momento que Sinestro pretende alcançar, já que dizem que
um Maktub consegue superar o Paradoxo.
O mago se espantou. Superar a Linha Maior da Realidade, como
alguns chamam, era inadmissível. Quem poderia fazer algo assim? Lacktum começou
a sentir como se atravessasse uma linha tênue. Não era poderoso ou perigoso,
como Iliana, mas sentia suas forças crescerem.
-O que fala, exatamente, essa profecia? – questionou o mago.
-Não sei. Quase ninguém sabe. Talvez, um dragão saiba. Mas
isso é por ser fato referente aos atlantes.
-Muito antiga então. Era mitológica.
-Exatamente.
-Nem isso talvez. Pode ter sido um presente dos Anciãos. Um
povo antigo que ensinou como ler as estrelas. Seja lá quem fossem, superavam os
poderes divinos.
-O que me faz pensar, que se Sinestro pegou Halphy... Ou
melhor, a fez se filiar a ele... E já que nunca conseguiu o que queria, ou
seja, sua filha... Ele quer a sua neta para acessar o Portal da Verdade! Quer
acessar o portal! Através de Halphy!.
-Ora essa, e não que o cabelo vermelho às vezes consegue
pensar – disse ela irônica.
-E então o que faremos?
Nesse mesmo momento, Thror abriu a porta com força. Parecia
assustado demais, como se tivesse visto um fantasma.
-Vocês estão fazendo o que ai? Não viram o que esta no céu.
Arctus, Gustavo, Thror, Lacktum e Iliana olhavam para o alto.
O mago e a bruxa guerreira fitavam um céu nublado, cheio de luzes relampejantes.
Mas de algum lugar, mas de algum lugar surgia um pilar de luz com força,
cortando as nuvens. Parecia sair do território inglês.
De repente, Iliana sentiu o poder que vinha daquele lugar.
Era como um turbilhão de sentimentos profanos e malignos. Arctus, Seton e
Lackum também sentiam aquela força oprimindo seu peito. Parecia que o mundo
havia se tornado tão pequeno, como quando encararam Daehim, mas mil vezes pior.
Os que não eram versados nas artes místicas só continham o medo. Mas ele estava
estampado em seus rostos para sempre. Como feridas que nunca cicatrizam e mesmo
quando melhoram, não são fáceis de ocultar. Aquilo surgiu de onde e como isso
trouxe tanto medo a eles? O que era aquilo?
Valente e Rec subiram nos ombros de Lacktum. Olhavam com
estranheza.
-O que é aquilo? – perguntou o suricate.
Iliana se voltou para a pequena criatura e disse:
-Aquilo é o fim dos tempos. Sinestro despertou uma pequena
parte de seu poder.
Lacktum tomou uma feição mais seria e pensativa. Era o
momento para deter o dragão e quem fosse que estivesse do lado dele. O problema
mesmo seria Kalic Benton II, ou melhor, Lucian.
[1]
Eles surgem nas lendas celtas e eslavas. Eles viviam nas ilhas próximas a
Irlanda (Eire) e representavam caos e as forças obscuras.
[2]
Magos podem encerrar magias, antes de as conjura-las e se não exigir muita
concentração.
[3]
Frase como “de desejo boa sorte” típica de Avalon.
[4]
Sábios, santos e profetas do mundo que realizaram seu objetivo na vida terrena
e ascenderam. Quase sempre instruindo a humanidade em conquistar a evolução
espiritual. Surgem em várias religiões de diversos tipos, e apesar de não
propagarem a mesma fé, seus conceitos muitas vezes se assemelham.
[5]
Kanglor: Deus da fúria e da luta justa.
[6]
Jade: Deusa da verdade, sinceridade e adivinhação.