quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

(Parte 29) Depois da escuridão


Depois de alguns dias, os Dragões mais pareciam um bando de lagartixas, como diria Thror sobre todo o estado dos companheiros. Os treinos se tornavam um pequeno Inferno. Às vezes, ela colocava alguns mais fracos fisicamente para enfrentar os mais fortes, como o mago e o guerreiro. Muitos até queriam fugir dela, mas Lacktum os impedia.
Comentava sobre os poderes dela. Não sabia como, mas quando saíram da Inglaterra ainda era inverno. Só que nessa ilha que ficava ao lado de sua terra natal, pelo menos nas proximidades não caia um floco de neve sequer. Além disso, nas ilhas próximas havia gigantes cinzentos chamados fomores[1]. Seus poderes e forças são temidos por representarem as forças das trevas.
 Realmente, um inverno sombrio se abatia sobre os jovens aventureiros. Mas eles tinham que continuar firmes contra o Pacto de Guerra. Com sua nova força física poderiam suportar os castigos de um combate ferrenho e perigoso como contra Matadouro, Yue Khan e Augustus. Agora eles precisam vencer os inimigos a todo custo.
Halphy estava ao lado do Pacto de Guerra agora.
Ela estava pronta para destruir os antigos companheiros. A prova esta no que ocorreu no Portal de Ixxanon. Ela os deixou para morrer, praticamente criou a armadilha. Se não foi ela que o fez! Sem o surgimento de Nico – ou Ikkanon – o grupo teria tombado. Não poderiam contar sempre com o auxílio de seu anjo da guarda, ou dragão no caso.
Alias o que Nico e Halphy estariam fazendo? O dragão sempre foi misterioso, mas era um dourado, conhecidos por serem extremamente justos. Além de possuírem vasta sabedoria e servirem como juízes em sua própria espécie. Com certeza deveria estar tentando obter a paz em algum lugar. E a meio elfa sempre foi uma serpente. Mas usando uma comparação de Lacktum, antes ela só enrolava agora ela tem veneno.
Lacktum estava triste mesmo assim. Não queria ter a ladina como inimiga. Não por ser perigosa em diversos pontos, mas sim por ter se afeiçoado a ela. Era como ter alguém com talentos únicos e iguais aos seus, além de um laço familiar.
Mas agora ele tinha perguntas a serem respondidas. Entrou no casebre depois de um dia exaustivo de treino. Viu uma casa humana por fora, decorada ao estilo dos elfos por dentro: uma mistura das casas celtas com uma árvore no seu centro enrolada em si mesma, servindo de pilar. Havia peles de animais nas paredes e um chão de areia. Isso era novo para ele!
Ele não via muito como era lá dentro, pois a bruxa guerreira odiava que eles entrassem lá. Todos dormiam atrás da casa, no estábulo. Só havia um cavalo, mas como fedia.
Quando Iliana o viu entrar, gritou:
-Espero que você tenha um bom motivo para morrer! – enquanto, era bem visível, preparava uma magia de gelo em seu punho.
-Calma! – falava isso, enquanto estendia os braços para a mulher, tentando a impedir – Tenho que lhe perguntar algo sobre você e sua família.
Ela encerrou a magia[2], enquanto olhava com desconfiança. Mesmo assim, pediu que o mago inglês sentasse no banco de madeira. Ela fez o mesmo enquanto suspirava. De raiva, talvez, ela cuspiu no chão. Lacktum fez uma cara estranha, vendo uma mulher fazendo tal ato, mas já se acostumou com os jeitos dela.
Ela apontou para onde havia cuspido e disse:
-Traga água e jogue sobre aquilo.
-Sobre seu cuspe?
Ela lhe deu um golpe forte no rosto causando nele a vontade que corresse até o quarto onde estaria a água. A bruxa apontou para o lugar com uma jarra. Jogou um pouco de água sobre o lugar onde ela havia pedido. Ainda se sentia mal por ter levado um tapa de uma mulher, mas não admitiria na frente dela.
Logo em seguida, ela tocou a água girando a pequena poça. Com aquilo, surgiram imagens naquele local. Figuras que pareciam vir de algum lugar distante. Apesar de não ser tão bom com relação a alguns aspectos de Avalon, parecia ser a ilha há muitos anos, séculos até. Isso, na mente de Lacktum, surgia como algo do passado. O mago entendeu, pois ela trazia através de suas memórias cenas do passado como um reflexo na água de um lago... Só que um tanto diferente. Não era como o Oráculo de Delfos, em que ele mostrou tempo e espaço em que não esteve. Era óbvio que ela não era tão poderosa quanto o homem nas terras gregas, mas seus dons extraordinários eram o suficiente. Não foi a toa que foram enviados até ela. Só com fortes se aprende a ser fortes, era algo que seu pai sempre dizia. Mas ignoraria tudo isso por enquanto.
Tinha certeza que aquilo era do passado.
Viu surgir uma casa de elfos nobres, onde estava Iliana. Parecia um outono muito distante naquelas terras arcanas. E até seu jeito de vestir e agir parecia menos com a bruxa que conhecia. Parecia chorar enquanto cruzava um jardim cheio de flores lindas e maravilhosas. Algumas que nenhum homem mortal teria visto fora da ilha. Mas antes que atravessasse todo o lugar uma elfa gritou:
-Ilianel! Não faça isso!
-Fique calada Aluniel.
Nesse momento, Lacktum se agitou. Realmente, o destino é um só como diria Azerov.

As duas garotas tentavam persuadir uma a outra. Ilianel queria fugir com um estranho de terras nunca antes conhecidas. Enquanto Aluniel tentava convencer sua prima. Tinham parentesco distante, mas se amavam como irmãs. E até mais. Uma protegendo a outra dos males, mas Iliana sempre se interessou pelo mundo humano e suas inconseqüências. Assim, como ela mesma admitiria mais tarde, era inconseqüente.
-Será que nada do que fale irá mudar sua cabeça sobre isso? – disse Aluniel sem mais argumentos após um longo discurso.
-Eu o amo. E sinto que ele me ama.
-Como tem certeza disso?
-No amor só existe uma certeza. E eu vou provar ela.
-Tudo bem então minha prima. Que os ventos de Avalon sempre soprem para você[3]...  E voltar até mim.
-Grato minha querida prima.
A cena se esvanece, enquanto é possível ver que outra surge. Nesta nova imagem, aparecem Iliana e o elfo que ela citou antes. Cabelos longos, com uma tez tão clara que parecia nunca ter sido tocada pelo sol. Era um elfo com belas roupas verdes e um sorriso malicioso e convidativo.
Ele a abraçou com força como se encontrasse seu maior e verdadeiro amor. Mas era mentira.
-Oh meu querido Sinestro!
-Venha comigo meu amor...
E nesse momento, Van Kristen saltou. Ele fitou a bruxa. Será que isso tem haver com Halphy? Será que ela e Sinestro tem algum parentesco? Isso ficava cada vez pior.

Mais uma vez, a imagem na água mudou com uma girada do dedo de Iliana. Ela não expressava nenhum sentimento. Talvez tenha sido Sinestro o culpado pela elfa agir assim. Muitas questões estariam para surgir e finalmente serem respondidas.
Nessa nova cena, Iliana estava em uma casa. Aonde quer que fosse ela sofria muito, pois estava grávida e prestes a dar a luz. Suas dores eram muito maiores que uma elfa teria, pelo menos que ela lembrava. Em seu espírito sentia. Seu corpo não agüentava, mesmo sendo uma criatura mágica. Seus dentes rangiam, seu corpo estremecia e nada parava sua aflição. Ela sempre havia visto outras em Avalon tendo filhos e nunca foi tão difícil. Qual o motivo agora disso com ela então?
Ela estava sozinha quando deu a luz a uma singela garota. Tom claro de pele, sem nenhuma maldade, pura em todos os sentidos. Apesar de mão ser uma elfa completamente, era linda. Ela era tudo que Iliana sonhava e muito mais. Seu choro fazia sua mãe jorrar mais lágrimas ainda. Isso tudo sendo agraciada com um milagre que só os deuses nos concedem.
Esse talvez fosse seu último dia de felicidade.
A porta da casa foi aberta com um potente chute. Em seguida era possível notar a silhueta de Sinestro, e um vento sombrio que apagou as velas do casebre. Foi quando ele caminhou até a mãe, que com dificuldade, alcançou sua filha para segurá-la. Ela que sozinha batalhou para sua filha viver.
O suposto elfo segurou a filha com um jeito paternal, mas maligno. Deve ter sido assim que o mal surgiu.
-Querido... Ela não é uma elfa... Puramente... Mas lhe juro... Nunca lhe trai – disse ela, com medo e preocupação – Os deuses estão sendo caprichosos...
-Ora Iliana. Não se lamente, nem se desculpe. Sei que nunca me traiu. Afinal, fui eu que te trai. Muito mais do que imagina. E de uma maneira muito pior do que jamais sonhou.
-Como assim? Do que fala? – disse ela em tom de desespero.
-Vou lhe revelar que busco um dos Portais da Verdade. Aquilo que só os mestres ascensos[4] obtiveram. A fonte de maior poder em toda Gaya. E você me concederá isso hoje!
-Do que fala? Não entendo... Devolva-me minha filha! Por favor! – gritava e esperneava a elfa. Era triste ver a mulher gritar após um parto tão duro. Se houvesse um ser vivo com o mínimo de consideração em seu coração naquele lugar, faria de tudo para entregar a criança para sua mãe. Mas mesmo Sinestro ainda estando vivo, seu coração era tão podre que mesmo os apelos da mais correta das mulheres não abalavam seu jeito cruel e poderoso. O mal tinha desejos, não compaixão.
-Ela estará bem. Será uma bela filha de dragão.
-Como? Oh forças antigas...
-Sim! Ela será uma filha do dragão!
E nesse momento só a sombra era possível ser vista, mas como um relâmpago, surgiu nela à forma de um dragão. Pela noite e com a visão nublada de Iliana, não pode ver sua forma completa. Entretanto era possível que enquanto voava a criatura tinha um brilho esverdeado e olhos vermelhos como os de um rubi. Além de soltar um som devastador que finalmente acordou a criança. O bebê ficava entre os vãos da garra do monstro, sem nenhum dano a recém nascida. Era como se finalmente sentisse então o destino cruel que estava reservado para ela.
-Adeus Iliana. Será poupada, por enquanto... Não me faça mudar de idéia.
Enquanto falava isso o ser crescia, quebrando o teto da casa. Com isso as paredes da construção humilde caiam ao chão e até as portas voaram com a força das asas dele. Como um demônio que queria levar uma alma pura para o Inferno. O ser do mal parecia sorrir com tudo aquilo que criou: um caos na vida da elfa. E ele não deixou nenhum dos escombros caírem sobre ela de propósito. Como quisesse que ela vivesse com aquele sofrimento nos dias que estavam por vir.
Nesse momento surgiram dois homens. Um deles era um cavaleiro que portava uma armadura de tom prateado... Quase que de platina. O outro tinha roupas esfarrapadas. Estava com um manto, luvas com símbolos arcanos e um cetro com um crânio na ponta. Lacktum não enxergava seus rostos, mas sabia quem eram. Sua jornada até pouco tempo atrás se devia a eles.
-O Cavaleiro de Platina e o Desalmado.

Os dois se colocaram na frente da elfa, formando uma proteção contra o dragão. O arcano obscuro preparava a magia, enquanto o paladino gritava o nome de seu deus. Mas não foi rápido o bastante, pois o ser alado fugiu.
A dupla parou suas ações. O cavaleiro sagrado com tom prateado acudia a elfa. Já o outro olhava em direção ao horizonte. Estavam em um lugar muito distante de qualquer vila conhecida. Em um precipício próximo do mar, que poderia ser lindo naquele momento. Isso se não fosse aquela situação.
-O perdemos – disse o mago.
Amanhecia, enquanto a imagem mudava lentamente. A água mostrou uma caverna em que os Dragões já estiveram. Era a mina do Vale das Esmeraldas.
Lá estava Sinestro em sua forma verdadeira. Ele se encontrava em um pentagrama cheio de símbolos e runas. Brilhavam com força arcana e poder antigo. Abaixo, uma criança de dez anos enlouquecia de medo, gritando. Vestindo somente trapos que já foram brancos.
O dragão cintilava em tons esmeraldas, especialmente em seus chifres, garras e as pontas das asas. Ele parecia muito mais ágil que qualquer outro ser arcano que conheceu até então. Seu ar de nobreza exalava com muita força e com certo tom de infantilidade.
Com o ser reptiliano acionando as runas, não deixou de notar as sombras que surgiam ao seu redor. Ele as confrontou.
-Saiam de onde estiveram. São três e um dentre vocês é minha antiga amante Iliana. Acreditar que podem esconder-se de mim só mostra que são tão loucos quanto aqueles que pretendem me derrotar.
Eram o cavaleiro e o bruxo que saíram primeiro. Envelheceram como qualquer humano em quinze anos passados. A última saindo das sombras era Iliana. Caminhava bem lentamente. Não era mais a presa. Estava caçando.
Sua feição mudou. Estava mais parecida com o jeito que Lacktum conhecia tão bem: nervosa, sombria e seria. Só suas roupas que combinavam, os trajes de feiticeiro e um guerreiro. Ela estava pronta para matar ou ser morta por Sinestro. Custasse o que custasse.
Ela apontava sua arma em direção ao dragão. Seus olhos eram negros.
-Devolva-me minha filha, seu lagarto cheio de pus! Quer essa espada enfiada na sua garganta?
Nesse momento Sinestro riu. O som mais parecia um terremoto para os dois homens e a elfa, mas isso não os abalou. Os três se posicionavam, mas somente a guerreira arcana saltou em um bote quase suicida.
-Tu queres morrer tanto que abdica da vida, como se fosse uma oferenda a um deus? Tente penetrar minha couraça com tua agulha de encantos menores – falou o dragão, zombando da elfa que se agarrou a uma das escamas verdes do dragão.
Enquanto isso Iliana gastava vários e cada vez mais precisos golpes contra o imenso ser. Inúteis. Ela parou sorrindo com tudo aquilo.
-Ora veja, o seqüestrador de bebês tem uma fala eloqüente. Não é a toa que o que pesquisei estava certo em tudo. Tão antigo quanto lendas recitam, Sinestro. Ou deveria chamá-lo de Brilho de Orvalho?
Sinestro parou de fazer tremer o lugar com os sons de sua bocarra. Mas ainda esboçava um sorriso de satisfação.
-Ah vasculhou sobre lendas referentes a meu ser. Quanta honra para tão misero ser – nesse momento, ele estufou o peito. Revelando que não havia sofrido um dano sequer em sua poderosa pele de dragão.
-É. Um dos dragões mais novos na Era Mitológica, antes de sumirem no misterioso Êxodo dos Dragões. Mas seus talentos eram superiores ao de qualquer um. Especialmente por ser fisicamente poderoso e seus dons mentais serem potentes. Mas caiu no plano de Gaya por motivos sombrios. Fiz várias descobertas sobre você.
-Então deve saber que com teus poderes atuais não irão conseguir me ferir. Assim como seus aliados.
-E quem disse que quero te matar? Agora!
Com isso, o arcano sombrio que a seguia recita:
Das torres saiu o tempo
Impeça esse inimigo
Venha a esse mundo parar
Proteja nosso destino
Nesse momento, o dragão deixa seu corpo cair. Parecia mais pesado que o natural. Sabia de quem era a culpa daquela sensação que jamais havia sentido antes.
-Teu mago esta me fazendo hibernar... Maldita, mas muito sabia.
Iliana aproveitou e pegou sua filha, que estava paralisada de medo ou por magia. O paladino protegia tanto Iliana quanto a filha dela que se livrou do ritual. A criança chorava com medo da situação toda. Pouco se sabia do que ocorreu por todo esse tempo. Mas a menina parecia muito sofrida, tanto física, como mentalmente. O mago se protegia com um forte feitiço.
-Ora essa... Conseguiram me deter... Por enquanto. Mas eu vou me proteger de vós... Melhor me divertir com vós. Que tenham uma sina tão horrível quanto o meu poder. A ti mago, lhe condeno a odiar o único homem em que realmente deveria confiar... A ti cavaleiro, lhe condeno a não morrer pelas mãos de um inimigo, mas pelas de um aliado... Um amigo...
E antes que caísse, o dragão falou a elfa:
-E a ti, minha antiga amante... Condenarei a nunca mais ver tua filha... Assim... Feito...
Falando isso, o dragão caiu perante todos e adormeceria por anos. Era o que haviam conquistado. Paz.
-Se acalme Iliana – disse o mago – Tudo acabou, estamos livres dessa praga.
A água no chão da casa de Iliana secou.

Lacktum ficou pensativo. As cenas eram algo que superava suas pesquisas. Até onde soube alguém do clã Coração Prateado havia despertado o dragão Sinestro anos depois pelos seus cálculos. O que fez com que o problema se tornasse algo de importância aos Imortais Esquecidos. Isso havia ocorrido no inicio da formação do grupo. E ele seria destruído, quando houvesse poderes e forças, o suficiente para erradicá-lo. O mago inglês temia pelo futuro do seu grupo.
Mas uma perguntava continuava.
-O que ele queria com sua filha?
Iliana suspirou.
-Até hoje não sei, mas seja lá o que fosse, quer fazer o mesmo com a filha dela. O máximo que fiquei sabendo que crianças destinadas a tais poderes e habilidades quanto elas são chamadas de Maktub.
-Maktub? – estranhou o mago – Pelo que me lembro isso significa  esta escrito ou esta destinado. Em uma língua distante daqui, alias.
-Exato. Pelo que soube seriam seres que mudaram o mundo diversas vezes em nome de sua fé ou suas crenças. Como Jesus Cristo para alguns judeus... E boa parte do atual território dessas terras.
-Espere! Primeiro nunca fui de acreditar em coisas desses cristãos. Segundo, você disse várias vezes? – o jovem ruivo levantou – Esses fanáticos religiosos podem ter mudado o mundo duas ou três vezes. Não mais que isso. Isso se o fizeram através desse tal messias.
Ela colocou a mão no joelho esquerdo, em pose de desafio.
-Você não compreende. Alguns desses seres, também chamados de mestres ascensos, nem sempre tem seu nome registrado na história. Você que aprendeu o mínimo do mundo arcano, como um abridor, sabe sobre o Paradoxo.
-O que aprendi nesses últimos tempos, lendo e de forma natural, é que o Paradoxo é a força maior que rege todo o universo arcano. Que concede e detém qualquer magia. Sua força impede que um mago supere as forças da natureza de Gaya. Tais feitos são concedidos somente para os deuses.
-Sim, mas devo lhe afirmar uma coisa. O Paradoxo não é a maior força. De qualquer modo irá aprender sozinha. Voltando ao assunto, esses mestres conseguem acessar o que chamamos de Portal da Verdade. Não sei o que é, mas possui grande importância para alguns seres ancestrais e de outros planos.
-E Sinestro queria controlar um deles. Através de você? É isso?
-Exato! Ao que parece, existe uma profecia ao qual eu seria responsável pelo nascimento uma mulher. Essa mulher teria o poder de abrir o portal. Pois esse é o momento que Sinestro pretende alcançar, já que dizem que um Maktub consegue superar o Paradoxo.
O mago se espantou. Superar a Linha Maior da Realidade, como alguns chamam, era inadmissível. Quem poderia fazer algo assim? Lacktum começou a sentir como se atravessasse uma linha tênue. Não era poderoso ou perigoso, como Iliana, mas sentia suas forças crescerem.
-O que fala, exatamente, essa profecia? – questionou o mago.
-Não sei. Quase ninguém sabe. Talvez, um dragão saiba. Mas isso é por ser fato referente aos atlantes.
-Muito antiga então. Era mitológica.
-Exatamente.
-Com certeza algo que veio dos deuses como Kanglor[5] ou Jade[6]. Talvez mais da segunda.
-Nem isso talvez. Pode ter sido um presente dos Anciãos. Um povo antigo que ensinou como ler as estrelas. Seja lá quem fossem, superavam os poderes divinos.
-O que me faz pensar, que se Sinestro pegou Halphy... Ou melhor, a fez se filiar a ele... E já que nunca conseguiu o que queria, ou seja, sua filha... Ele quer a sua neta para acessar o Portal da Verdade! Quer acessar o portal! Através de Halphy!.
-Ora essa, e não que o cabelo vermelho às vezes consegue pensar – disse ela irônica.
-E então o que faremos?
Nesse mesmo momento, Thror abriu a porta com força. Parecia assustado demais, como se tivesse visto um fantasma.
-Vocês estão fazendo o que ai? Não viram o que esta no céu.

Arctus, Gustavo, Thror, Lacktum e Iliana olhavam para o alto. O mago e a bruxa guerreira fitavam um céu nublado, cheio de luzes relampejantes. Mas de algum lugar, mas de algum lugar surgia um pilar de luz com força, cortando as nuvens. Parecia sair do território inglês.
De repente, Iliana sentiu o poder que vinha daquele lugar. Era como um turbilhão de sentimentos profanos e malignos. Arctus, Seton e Lackum também sentiam aquela força oprimindo seu peito. Parecia que o mundo havia se tornado tão pequeno, como quando encararam Daehim, mas mil vezes pior. Os que não eram versados nas artes místicas só continham o medo. Mas ele estava estampado em seus rostos para sempre. Como feridas que nunca cicatrizam e mesmo quando melhoram, não são fáceis de ocultar. Aquilo surgiu de onde e como isso trouxe tanto medo a eles? O que era aquilo?
Valente e Rec subiram nos ombros de Lacktum. Olhavam com estranheza.
-O que é aquilo? – perguntou o suricate.
Iliana se voltou para a pequena criatura e disse:
-Aquilo é o fim dos tempos. Sinestro despertou uma pequena parte de seu poder.
Lacktum tomou uma feição mais seria e pensativa. Era o momento para deter o dragão e quem fosse que estivesse do lado dele. O problema mesmo seria Kalic Benton II, ou melhor, Lucian.




[1] Eles surgem nas lendas celtas e eslavas. Eles viviam nas ilhas próximas a Irlanda (Eire) e representavam caos e as forças obscuras.
[2] Magos podem encerrar magias, antes de as conjura-las e se não exigir muita concentração.
[3] Frase como “de desejo boa sorte” típica de Avalon.
[4] Sábios, santos e profetas do mundo que realizaram seu objetivo na vida terrena e ascenderam. Quase sempre instruindo a humanidade em conquistar a evolução espiritual. Surgem em várias religiões de diversos tipos, e apesar de não propagarem a mesma fé, seus conceitos muitas vezes se assemelham.
[5] Kanglor: Deus da fúria e da luta justa.
[6] Jade: Deusa da verdade, sinceridade e adivinhação.