sábado, 13 de setembro de 2014

(Parte 26) A Ilusionista


Essas linhas tratam sobre a traição de Halphy Brown e como ela o fez, mesmo estando entre os Dragões da Justiça. Muito se diz sobre aqueles com alma pura, mas quando se nega a escuridão em seus corações isso os torna fracos contra o verdadeiro mal. Assim como não se deve negar a escuridão existente em nossos corações, não se deve abraçá-la completamente... Pois ela pode retribuir. Há uma teoria entre os celtas que diz que tudo que é feito – seja na Arte quando na vida – volta três vezes mais para quem o fez. Se for feito o bem por toda a sua vida, um afortunado destino o aguarda. Agora, se o mal for feito, desgraças e pragas caíram sobre você como pagamento. Agora bastava saber ser para a jovem meio elfa ela tinha feito algo maligno.
Já que para alguns, o bem e o mal, são paralelos. E até mesmo possuem muitas brechas, aos quais os corações mais astutos se usam. Corações esses que nunca se deixam enganar, a não ser por mentes mais astutas. Corações e mentes que se cruzariam.
Enquanto o grupo ainda não possuía um nome, e ainda estava sobre os olhos atentos de Arda, a jovem Halphy não imaginava o que poderia ocorrer com ela. E a magia do lugar era superior a ela de qualquer modo. Uma tentativa de revolta do grupo não adiantaria em nada, lembrando o que sua mãe sempre dizia: corações ambiciosos não duram muito em Avalon. E quem mais poderia ser mais ambiciosa no grupo do que ela? Arctus era um padre que queria poder sim, mas para ajudar os mais necessitados. Gustavo o seguia por isso, o que demonstrava sua falta de ambição, normal para um paladino. Gor era um Imortal, o que lhe deixava bem acima desses conceitos de objetivos sombrios, ela acreditava. Seton não queria mais nada, a não ser viajar e conhecer o mundo. Hugo e Richard nunca quiseram poder, se fosse assim estariam acompanhando o grupo em suas viagens mais efetivamente. Só sobrava o vingativo Lacktum, mas até ele teria seu coração acalmado. Seja lá o que ocorreu no templo de Ixxanon, fez com que começasse a agir em grupo e não do modo individual de sempre. Logicamente isso não ocorreu de uma vez, pois gradativamente ele obteve a consciência de que fazia parte de um grupo. E isso aterrorizava a garota. Se até mesmo aquela cabeça de fogo tinha mais consciência do que ela imaginava, ela seria a única que cairia diante do obelisco da ilha.
Ela aprendeu com sua mãe que o poder da ilha era tamanho que teria sido depositado em parte em uma construção que continha um antigo símbolo que tinha como significado a lealdade e a confiança. Porém, os que juram em falso testemunho qualquer coisa diante dela são atingidos por uma terrível e poderosa onda de dor proveniente das forças que fundaram a Ilha Sagrada. Sem falar na Marca do Traidor, um signo que fica implantado na palma da mão direita. Ele é parecido com um circulo quebrado, representando a confiança e fé partidas naquela pessoa, e força nenhuma no mundo mortal conseguiria retirar aquela marca.
Nesse instante, enquanto a jovem Halphy se lembrava do que sua mãe falava sobre o poderoso obelisco, surgiu em suas costas um estranho e incomodo peso. Não era de sua mochila, pois sempre deve o devido cuidado para nunca carregar demais. Uma das regras dos ladinos era carregar o que conseguia nunca o que não conseguisse levantar. E foi quando ela se virou que ela viu o duende.
-Shh! – fez o pequenino ser com o dedo indicador em sinal que queria que ela ficasse em silêncio.
O pequenino ser tinha um gorro marrom todo surrado e um pequeno colete faltando um dos três botões. Os dentes eram ficavam a mostra parecendo mais com presas e não que tivesse algum problema na boca. Seus pés eram cobertos com uma bota tão velha que mofo crescia nela. Era ele quem fazia peso nas costas da jovem ladina feiticeira, mas logo ao seu pedido de silêncio prosseguiu:
- Continue quieta sobre a minha presença aqui minha jovem ou nós dois poderemos morrer. Nós sabemos que você não passará pelo obelisco. Segure firme essa pedra, especialmente no símbolo, enquanto recita o juramento diante dele – e nesse momento, ele retirou uma pedra negra de seu bolso, que parecia sujo e cheio de trapos velhos – Mas para isso só lhe peço isso. Vá até o Carvalho Podre que fica no centro da ilha. Lá deverá conversar com uma pessoa. Você saberá quem é na hora.
Ela pegou a pedra com um símbolo na parte mais pontuda.
-E como posso confiar em você duende? – disse ela em voz baixa – Ninguém além de mim lhe vê ou ouve certo? Que tipo de criatura soturna.
-Sou mesmo soturno, mas também sou sua única chance de passar nesse teste minha jovem...
E no mesmo instante em que ela tentou olhar novamente na direção da criatura diminuta, ela sumiu em pleno ar. Como mágica, como sempre. Essas criaturas eram conhecidas por terem seus vários truques mesmo quando não seguiam as linhas da magia. Eles eram perigosos como uma arma na mão de um inimigo secreto. E este era poderoso, ela sentiu isso.
Ela usou então a pedra, faltava falar com o estranho e misterioso senhor daquele duende

Um dia havia se passado e Halphy podia agora se afastar da cidade. Pelo menos foi isso que Aluniel havia comentado. Mas pediu que não fossem na direção das brumas e muito menos da Floresta Silenciosa. Eram dois tabus enormes pelo que contavam os antigos. Isso se devia aos poderes que surgiam neles.
Nas brumas, havia como atravessar e chegar até lugares fantásticos, nunca antes imaginados: reinos submarinos dignos de Poseidon e outras divindades marinhas, terras inalcançáveis das lendas do Oriente, regiões subterrâneas onde monstros antigos e esquecidos dormiam outros planos parecidos com Gaya, terras distantes em que é possível ver bem próximo de seu rosto as estrelas que existem em todo o universo conhecido e desconhecido, as moradas dos deuses nórdicos passando pela própria Yggdrassil. Só que como era inconstante a força dessas névoas, a pessoa poderia se perder para sempre em um plano infernal, por exemplo. Ou pior. Trazer algo que ninguém deteria.
Mesmo assim, contrariando o pedido de Aluniel e mentindo a todos do grupo, falando que iria para outro lugar, a jovem partiu em direção ao Carvalho Podre que ficava na Floresta Silenciosa. E nada seria como antes.

O caminho, diferente de toda a ilha, era repleto de pedras afiadas e pontiagudas, plantas cheias de espinhos e uma sensação que tudo ao seu redor estava vivo, o que seria até bom, pois pelo menos ela saberia o que estava para atacá-la... O cavalo, um puro sangue, também temia mais por sua vida do que a própria jovem. Bem dizem que os animais conseguem sentir o mal que os cerca. E como foi criado por elfos, esse corcel sabia que estava cercado por crias das trevas. Não podia os ver, muito menos os ouvir, mas o simples sentimento que muitos chamam de instinto, forçava a si mesmo a ir contra sua cavaleira, em vão.
Fosse o que fosse a curiosidade de Halphy a forçava a continuar com força e determinação. Mesmo sabendo que o inimigo poderia estar lá, sua mente fervilhava em saber o motivo dela ter sido poupada. Há tantos naquele grupo que possuem um passado para ser usado contra eles, um motivo para serem controlados, por qual motivo ela havia sido a escolhida? Isso ainda não fazia sentido. Ainda. Mas talvez aos pés do Carvalho Podre, ela conseguisse saber o motivo de ter sido salva por seu estranho e enigmático benfeitor.
O Carvalho Podre era um dos elementais que protegiam as árvores, assim como os silfos e gnomos que protegem o ar e a terra, respectivamente. Porém, no período em que as lendas ainda eram verdadeiras, muitos falam de uma cidade que teria abusado de seus conhecimentos sobre estes seres e os enganados para que destruíssem seus inimigos. Quando uma comitiva dessas criaturas teria voltado para sua terra natal, haviam sido saqueados, pois as árvores teriam sido cortadas e queimadas em comemoração a derrota de seus adversários. Sem um lar para cuidarem, e com depredação do lugar, muitos deles se resignaram a morrer, outros preferiram procurar um novo lar. Porém, somente um daqueles espíritos não admitiu as atitudes dos homens. Um que era chamado de Pé de Carvalho, o mais jovem e mais bravo deles. Ele começou a combater sozinho todos os homens daquela cidade maldita. Só que ao terminar a carnificina muitas crianças e mulheres inocentes morreram sem necessidade. E um espírito que relatava aos deuses as atitudes de todos na terra se compadeceu com os mortais e disse
-É de o homem destruir sua madeira, sua terra, e até sua carne... Mas não é dos elementos fazer mal a eles... Por agir como um deles, tua pena é agir como um deles para sempre.
E então, Pé de Carvalho seria chamado para sempre de Carvalho Podre, com seu coração cheio das trevas que os homens sempre carregam consigo. Isso o tornou um monstro irascível que foi ao encontro de vários homens durante séculos, trazendo a destruição da natureza por onde passava. Até que um mago de grande força e poder teria o levado até Avalon, na Floresta Silenciosa, através de encantos de teleporte. Assim, ele manteria a ordem no caos tenebroso daquele lugar.
E foi ali que Halphy, aos pés de um Carvalho Podre morto, surgiu. E foi lá que ela encontrou seu misterioso benfeitor, Mallmor, o Príncipe Negro dos Anões.

O anão continuava firme e forte como daquela vez, de frente a torre de Azerov, com sua armadura de tom negro e com vários desenhos de poder inscritos por toda a armadura. As formas trançadas de suas barbas demonstravam idade e respeito. Mesmo sendo um traidor entre os de sua raça, ele parecia ser bem mais majestoso que qualquer um que ela tenha visto na ilha ou em toda a sua vida. Mesmo com os fios de cabelos brancos que surgiam ao lado de sua grande cabeleira, não parecia ser tão velhos para os padrões.
Só que Halphy sabia que não era bem assim.
Anões vivem bem mais que homens, mas não são de vidas milenares como os dragões e elfos. E o poderoso guerreiro estava velho demais para extensas batalhas, era o que todos sabiam daqueles que ouviram falar da revolta do Levante dos Escudos. Apesar de tudo isso, ela não estava interessada nas experiências do pequeno elemental de terra.
Ela desceu de sua montaria calmamente, mas seu coração não estava do mesmo jeito. Ele carregava consigo dois dos martelos, símbolos das famílias nobres dos anões. O uso de qualquer um poderia estraçalhar um homem comum, imagine então os dois em uma mera e linda garota como ela?
-Se acalme Brown, nada de mal ocorrerá a você e a sua montaria.
-Espero mesmo anão – dizendo isso, ela tirou a mão do cavalo. Parecia mais que ela o fazia por medo do que por cuidado ao animal. Até isso era aceitável, visto o terreno ao seu redor: um punhado de vinhas cheias de espinhos com um chão coberto de grama negra. Era tão escuro aquilo que parecia que uma queimada havia passado ali. E acima, num pequeno monte, jazia o famoso Carvalho Podre das lendas sobre a floresta. Parecia morto.
Notando os olhos fitando o Carvalho, Mallmor acalmou Halphy:
-Não se preocupe. Ele esta morto. Eu mesmo conferi.
-Está completamente certo disso?
-Lógico!
-Esta bem então... Mas então o que precisava tratar comigo?
-Ora, é obvio – disse ele com um sorriso que cortava o rosto barbudo – Quero que me mantenha informado sobre o que ocorre naquele grupo de jovens promissores.
-Ah sim! – começou a falar de modo debochado a jovem – Irei trair meus supostos companheiros de viagem por terem salvado a minha vida! Isso é a coisa mais obvia do mundo... Esta bem que farei isso! Conceda-me um bom motivo homem! Estamos em Avalon e logo saberão que você esta aqui seu louco!
-Acha mesmo que seria tolo de vir a uma terra onde a maioria é de elfos que possa muito bem me matar, sem estar munido de magia poderosa o bastante para me proteger ou ocultar?
-Veja bem, eu ando com um inglês sedento de vingança, um guerreiro burro com falta de memória e um homem, que ao que parece, é imortal. Não posso falar que ando próximo de muitas pessoas sãs ultimamente, se é que me entende.
Ele bufou de raiva, mas prosseguiu nas palavras.
-Meu mestre, meu verdadeiro mestre, sabe tão bem quanto eu que você não quer nem merece esse grupo de criaturas perdidas juntas de você. Sua competência, tanto em combate como em manipular os fatos até então demonstram que você é quem mais necessitamos para estar ao nosso lado, em uma posição confortável.
-Como assim eu...
Antes que pudesse responder algo. Mallmor levantou o indicador como se quisesse impedir Halphy te falar. Mas não era só isso.
-Não pense que me engana Halphy. Sabemos que só esta no grupo para, quem sabe, ir até o famoso item de seu ancestral.
Halphy nunca se sentiu tão desarmada. Mesmo com toda a magia que existia no mundo, mesmo que alguém no grupo soubesse suas verdadeiras intenções, nada seria tão rápido e poderoso para conseguir saber desse segredo que a meio elfa guardava tão bem de todos, mesmo com tudo que ocorreu em Delfos. O único que poderia estar desconfiado dela era Lacktum, mas ele ainda não tinha todas as principais respostas do que estava ocorrendo.
E isso só poderia significar uma coisa, pois quando tudo parece improvável, é que isso pode ser provável.
-Então quer dizer...
-Sim Halphy... Nosso mestre, meu e de Kalic Benton, é seu ancestral, Sinestro, o detentor e criador do item que você tanto cobiça.

-Não acredito nisso... Agora faz sentido... Tudo faz! A batalha na Grécia... Você pediu por mim e Lacktum! O resto era dispensável aos seus planos. Afinal de contas, tenho parentesco com o seu mestre. E seja ele como for, pode querer usar a mim como uma espécie de apoio. A família, apesar de desavenças, sempre será uma família.
-Não posso falar muito disso compreenda – disse o antigo lorde de modo sarcástico – Lembre-se que meus iguais hoje em dia me odeiam. E eles possuem certos laços de sangue comigo.
-Compreendo... Sim... Espere! Quer disser que o caixão que estava em Starten era...
-Era Sinestro, nosso lorde.
-Mas como pode? Nos meus sonhos e poucos manuscritos que li tudo se referia a ele como um elfo poderoso. Nenhuma relação com seres draconicos!
Nesse instante Mallmor fez um sorriso de escárnio.
-Sinestro vive á séculos... Ou melhor, viveu. Seu poder supera os meros mortais que se utilizam de magias. Ele esta pronto para ressuscitar, só o seu corpo é um empecilho.
-Se refere á enorme carcaça que reside nos Portais Infernais como um lacre, ou seja, lá que for? Eu já ouvi alguns comentários – Halphy soltou um sorriso malicioso. Ela se lembra de Delfos, da visão da criatura draconiana com uma forma maléfica. E dos homens aos quais, estão buscando os artefatos. E ela já sabia que o que fosse conversado naquele lugar, traria conseqüências para o resto de sua jornada. Mas conseqüências nunca foram uma de suas principais preocupações. Afinal, ela era Halphy Brown.
O anão notou o desejo de poder no rosto da meio elfa, e se regozijou daquilo. Seus intentos, e de seu atual mestre estariam mais próximos. Pena ele não poder os conseguir agora. Mas logo. O que demorou anos seria alcançado meses... Até semanas! Para seu próprio bem, ele se negou a pensar neles agora.
-Com isso os poderes antigos que residem no corpo de Sinestro vão ressurgir e suas metas serão alcançadas. Trazendo uma paz, já que ela nunca pode ser conquistada sem um poder superior. Ao qual, nesse mundo, só existe ele como uma criatura tão poderosa que traga esse controle. Entenda como quiser, mas o senhor Sinestro lidera nossas atitudes para um futuro glorioso onde as raças nunca mais serão escravizadas. Compreende?
Halphy boceja. Ela já tinha uma resposta e uma proposta pronta para ele.
-Olha não quero saber dessas histórias de futuro, paz... A única coisa que me interessou foram palavras sob controle. Isso é o verdadeiro poder. E também me interessam os outros e sim a mim. Ele me concedeu um poder caso eu buscasse por ele. Eu o quero. A todo custo.
-Tem certeza disso? – falou um abismado Mallmor – Não era você mesmo que tinha dito...
-Eu sei o que disse, mas agora que estou tão perto do que almejo me sinto a vontade para destruir todos.
-Como assim? – o anão poderoso se sentiu intimidado com a atitude obsessiva da fealith. Parecia que de repente a pessoa que chegou com temor de conversar com ele havia se transformado pelo ar daquela floresta negra e terrível. Seus desejos superavam qualquer medo que possuía antes. E a tornava mais poderosa. Não era a toa que descendia da família Sinestro. Seu poder emanava até em suas palavras mais tolas e sem vontade.
-Eu quero – e falava isso a jovem aproximando o rosto até o guerreiro antigo – o amuleto do meu vovô. O que contem os seus poderes mais antigos sobre a mente das pessoas. O Medalhão da Dominação.
Uma gota de suor saiu da testa do velho anão. Ele então notou que ela não tinha limites. Nem escrúpulos. Talvez ele mesmo fosse um dos membros com maior orgulho e honra entre todos com quem convivia. E mais uma cobra estava para se infiltrar naquele ninho, pensou.

Mallmor começou a falar que toda e qualquer informação obtida pelo grupo deveria ser reportada por ela, para seu mestre e ancestral. Qualquer informação importante que os aventureiros conseguissem ou qualquer item poderoso que eles conseguissem, ela como espiã, deveria reportar. Minar qualquer oportunidade de poder deter seu mestre também. E era isso que ela fez. Tudo pensado e planejado. Ela estava preparada para trair seu grupo.
A prova disso foi que ela foi presenteada com itens para lhe ajudar em seus planos, entregues e explicados pelo próprio Mallmor. Foram três: duas gemas – uma vermelha e uma azul – e uma pequena estatua em forma de leão.
A estatueta possui o poder de se tornar um enorme leão mecânico com o simples comando chave apropriado, ao qual foi falado para Halphy. Assim, quando se pronunciasse a palavra correta, ele seria acionado como servo da jovem. As pedras preciosas tinham funções distintas. O rubi era usado como um meio de comunicação entre ela e o Príncipe Negro dos Anões. Através dele, é possível falar, ver e ouvir pessoas, mesmo através de mares bravios ou longínquos. Seu poder só não atravessava as barreiras dos outros mundos. Só que não havia mesmo a necessidade, pensava ela. Por ultimo, a pedra azul, continha dentro de si um Elemental formado de pura água e poder primordial para ser usado como seu protetor em ultimo caso. Ele foi preso como tantos seres e entidades são, por itens usados como receptáculo, como gênios, demônios e outros. O comando para liberar a criatura era mais fácil ainda para ser usado como ultimo recurso.
Mallmor então aconselhou a jovem que não mostrasse os itens a ninguém, algo óbvio, mas era sempre bom lembrar. De qualquer jeito, ela os colocou no fundo de sua mochila grande. Um presente que já tinha fazia um bom tempo na viagem. Era maravilhoso para aquela função. Também falou para sempre relatar o que ocorria. E então no final disse:
-No final da viagem chegaram a um dos famosos Portais de Ixxanon...
-Como tem tanta certeza de nossa direção, baixinho? – questionou a jovem sabiamente.
-Não é o momento de saber, nem serei eu que lhe direi sobre isso. Saiba somente que um dia saberá de tudo pela pessoa certa. Continuando... Lá poderá abandonar o grupo do qual participa. Esteja pronta, pois Kalic terá preparado uma magia para lhe deixar a salvo.
-Esta bem. Posso ir? – falou ela com certa impaciência para Mallmor.
-Esta livre para voltar à cidade.
-Grata!
Antes de ficar completamente de costas para o pequeno ser, um pensamento lhe veio a cabeça.
-Mallmor... Quem será a pessoa que irá me conceder as respostas sobre tudo isso? E para onde vamos depois de tudo pronto? Isso ao menos eu mereço saber!
O velho anão tossiu um pouco. Não foi pelo lugar frio. Mesmo sendo um lugar sombrio e maléfico, a sensação que a jovem deve sobre aquela tosse foi de algo que conheceu quando ainda era uma menina que ficava nas barras da saia de sua mãe. Mas nunca seguiu os caminhos das ervas ou cura da mesma forma que sua progenitora. Ela usava esse tipo de conhecimento como uma arma para se defender. Além do mais, era só um anão velho e sem muita importância, pensou ela.
-Se quer tanto saber – e os olhos cansados de tanto tossir e um pouco sombrios começaram a encarar ela com uma revelação que traria temor se ela já não esperasse por algo parecido – vamos para um castelo bem distante, cuja localização por enquanto será um segredo. E quem irá lhe conceder as respostas, será seu ancestral pessoalmente. Não lhe contei não é? Ele logo despertará a consciência num novo corpo. Não tão poderoso quando o seu original, mas algo que possa lhe conceder boa parte de seus poderes arcanos em grande parte.

E foi assim feito: desde a partida de Avalon, Halphy concedeu cada informação ao anão como uma espiã fria e calculista. Falou sobre as brigas e o problema de Lacktum com o livro que quase enlouqueceu ele e Azerov, sobre o conflito no castelo de Van Sirian, sobre o encontro com mais um dos Imortais, sobre o resgate da Vila Meio Sangue e do Vale das Esmeraldas, e até mesmo sobre os itens que obtiveram no meio do caminho. Inclusive a poderosa arma que intencionalmente obteve do padre Arctus.
Como cartada final, Halphy sabia que mesmo mentindo maravilhosamente bem, seria questionada, pois Lacktum sempre se mostrou inteligente para deduzir certos fatos. Talvez, não tão bem quanto ela, mas ele ainda tinha na cabeça a memória de Delfos, ela tinha certeza disso. E o mago era o principal problema. Ele era mais teimoso e mais difícil de convencer do que um animal silvestre e feroz. Só que com sua astúcia sabia que se não podia mudar os pensamentos dele sobre tudo que ocorreu, poderia desviar eles para outro foco.
Halphy aprendeu cedo que para enganar os mais inteligentes teria que fazer com que a verdade fosse tão forte e contundente, que muitas vezes fizesse ignorar a mentira e falsidade. Foi então que todo o momento que pode, usou parte de seu passado para ludibriar a cabeça do arcano. Além disso, Van Kristen começou a mudar seu comportamento bruscamente devido ao que aconteceu enquanto usava a máscara do Desalmado. Realmente não parecia o cabeça de fogo de antes. E isso era útil a meio elfa.
Usando um pouco de encenação e usando fragmentos de sua vida, ela convenceu a todos na caverna do Vale das Esmeraldas. E ela agora se sentia dona de tudo.

Ela agora estava fora do templo de sombras que parecia ser o Portal de Ixxanon. Ao seu lado estava o Príncipe Negro dos Anões, Mallmor, observando que algo se desenrolava naquela enorme estrutura arcana. Ela olhava, nem com fúria, nem satisfação. Seu olhar parecia frio, como o de uma estatua criada por um dos grandes artistas da antiguidade, ao qual se torna indecifrável. Se eles morressem ou sobrevivessem nada seria bom ou mau, pensou o velho guerreiro anão. Pois ela tinha planos tão sinistros e sombrios quando qualquer um que ele havia se aliado.
Já o anão, com sua armadura que lhe concedeu parte de sua alcunha, ela não transmitia um brilho sequer. Como o negro de uma floresta depois da queimada, ou como o coração de um demônio, se este tipo de criatura ainda possuírem tal coisa em seu corpo. Seu machado, este sim, brilhava com runas na língua dos anões, como uma grande força de destruição. Ele traz consigo palavras feitas pelos seus ancestrais, mostrando de onde procedia a sua origem: séculos de tradições antigas desse povo poderoso e forte. Tanto em físico como em honra. As armas nesse povo eram o motivo de maior orgulho deles.
-O que me diz? Acha que eles sobrevivem ao poderio de Benton? – falou tossindo um pouco o idoso Mallmor. Ela já notara em conversas anteriores que o anão estava muito mal, mas preferiu não comentar.
-Duvido. Além de estar acompanhado daquele ogro arcano, Matadouro, o monge esta o auxiliando. Tirando isso existem os mortos famintos controlados pela lanterna. Isso tudo, sem contar com os claros poderes arcanos muito superiores de Kalic e sua vontade de vingança. E você me entende não?
Mallmor riu e fez uma cara de desconversa.
-Não sei do que fala orelhuda...
-Não tente me enganar me ofendendo baixote. Eu sou rápida para esse tipo de truque. Já tenho até uma teoria sobre quem ele é realmente. Diga-me, ele é meio irmão de Lacktum, não?
O anão corou de espanto e tossiu fortemente.
-Mas... Como?
-Sou rápida em meus raciocínios, além de ser rápida para matar. Então não minta, sua atitude o entregou. Ao que parece no Pacto de Guerra você é um dos mais confiáveis. Não seria de estranhar um louco por vingança como Kalic Benton confidenciar sua vida a um homem e guerreiro valoroso como você. O que me deixa um pouco preocupado... O que teria feito você decair ao ponto de servir um mago tão louco e obsessivo como ele?
-Sua sagacidade me deixa boquiaberto minha querida. Mas ainda esta longe de compreender os desígnios de minha vida, bem como de tudo que nos cerca. Quando estiver pronta para saber... Saberá.
-Se não quer falar, tudo bem meu caro. Mas juro que não vou trair meu querido ancestral Sinestro, por todo o poder que ele me concederá.
-Mesmo que quisesse – tossiu mais uma vez – não conseguiria minha cara. Ele parece ser tão poderoso, quando o horizonte é profundo. E o mesmo pode se falar do jovem e louco morto sem descanso que assumiu o nome de Kalic Benton.
-Muito bem, de qualquer modo, ele vencerá. Não importa o quanto Lacktum se mostre poderoso, ou inteligente, sua fúria cairá perante a loucura do mago mascarado. Agora que sua verdadeira identidade esta revelada, creio eu, não há nada para fazer – Halphy até riu – Se o cabeça de fogo acreditasse em milagres diria que seria bom ele rezar para que um ocorresse nesse instante.
Mallmor ouviu aquilo e pensou consigo mesmo, se aquilo não era uma prece da garota, mas ignorou naquele instante.
Era o fim. Ao menos era o que ambos pensavam até enxergarem uma luz no céu.

Era forte como um sol. Mas este já estava no alto da abóboda celeste. O que de todo modo poderia ser um sinal do fim do mundo, se tornou um temor para a ladina. Afinal, o que ela imaginou ser o único meio para salvar a todos que estavam cativos dentro do portal de Ixxanon se tornou realidade. Um milagre ocorrerá!

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