sexta-feira, 21 de março de 2014

(Parte 19) Capítulo Quatro: Inverno novamente




Eles cruzariam as fronteiras da Inglaterra logo se não fosse o ocorrido de antes. Quando estavam caminhando, conseguiam imaginar o que deveriam fazer em relação aos atuais acontecimentos.
Sabiam que Kalic Benton estava com interesse nos itens do Desalmado e do Cavaleiro de Platina. Mas agora, descobriram que ele tinha interesse em Lacktum e Halphy. Isso foi possível imaginar, desde o confronto na torre de Azerov. O quem Mallmor falou inicialmente, era que se Halphy ou Lacktum quisessem, poderiam sair sem nenhum dano. Halphy tinha suas teorias: Kalic Benton com certeza estava envolvido com tudo de mal que ocorreu com Lacktum. Isso incluía a morte de seus entes queridos, o sumiço de Lirah – noiva de Lacktum – e a destruição de Van Sirian. Ela já desconfiava do motivo de a quererem, mas preferia não comentar com o grupo.
A neve havia cessado com a tremenda força que estava nos últimos dias. Mas era difícil atravessar as terras inglesas. Menos da metade um mês, eles atravessaram o terreno e a fronteira estava próxima. Mesmo com tantos feridos pelo caminho.
Só havia um problema. Pelo menos para Lacktum: teriam que passar por um terreno que já foi conhecido dele. Foi notado que havia muitos caminhos para cruzar aquele terreno. Mas todos estavam sendo protegidos pelo exército inimigo. E então Lacktum, Halphy e Arctus decidiram que chegariam as Terras Altas por aquela região.
Enfim, a noite caiu como um manto, enquanto a neve ainda descia como plumas. Isso criava no mago uma nostalgia sombria. Ele se lembrava de ver o corpo de seu pai, mãe e irmã. O pai que enfrentou o inimigo de máscara. A mãe e a irmã que nunca fizeram nada a ninguém. E Lugarao’Céu... só viu a casa dela ardendo em chamas.
As lembranças foram esquecidas por alguns instantes. Era possível ver uma pequena vila não muito longe e um castelo, outrora majestoso.
-Meus amigos – falou o arcano – esse é o condado de Van Sirian. Minha terra natal e meu antigo lar.

Eles passavam pela vila, que lembrava a necrópole do Oriente em que encontraram Kalidor. A diferença é que mesmo com o silêncio mórbido da vila igual ao do lugar onde deixaram Federick, os corpos não estavam em sarcófagos e catacumbas. Estavam nas casas, nas portas, na estrada e no caminho do castelo. Todos jogados ao chão, alguns pareciam se abraçar em uma comovente cena. Alguns picados por corvos, outros devorados por animais do tamanho de cães. Havia até mesmo vermes em alguns devorando carcaças humanas. Crianças, velhos e animais. Homens ou mulheres. Não houve piedade no confronto que participaram. Logicamente, se passaram alguns anos desde que o confronto aconteceu, mas suas marcas deveriam permanecer naqueles que sobreviveram ao caos daquele dia. E até onde se sabia, Lacktum era único sobrevivente de Van Sirian. Bem assim como dos nobres daquela terra.
Gustavo e Arctus rezavam a cada instante em que permaneciam ali. Lacktum ordenou que nenhum corpo fosse tocado, pois temia ataques de mortos famintos naquele local.
Agora muitos entendiam de onde surgia a petulância do mago, a arrogância e -acima de tudo – a raiva dele. Qualquer um que tivesse um episódio como esse, durante sua juventude, poderia forjar seus sentimentos com puro ódio. E era algo que Lacktum, talvez, superasse.
Mas enquanto caminhavam, indo em direção ao castelo, ouviram o grito de Fiel. Ele havia o mandando a frente para saber o lugar era seguro. Quando desceu, o clérigo perguntou:
-O que foi esse grito de alerta?
-Vi luzes no castelo. Abandonado ele não esta.
Continuaram a andar.

O portão continuava destruído, assim como o arcano se lembrava das cenas do massacre. Com certeza, as aldeias ao redor, acreditavam que o lugar era mal assombrado. E não era para menos.
Além disso, graças à neve que caia, havia enormes montes de neve. Ela cobria as construções ao redor do castelo. Outras só certas partes. Mas a entrada do castelo estava livre.
Lacktum então pediu:
-Gustavo, nos mostre se o mal aqui reside.
Quando o paladino iria pressentir se havia mal no lugar algo aconteceu.
Uma luz surgiu da entrada do castelo. Lembrava uma lanterna, mas extremamente sombria e de tom azulado. Uma fumaça com uma aura diferente, quase divina. E era possível ouvir a canção dos condenados através dela.
Das sombras surgiu uma armadura de tom ébano, que se confundia com a noite. Era uma loriga segmentada. Com a mão direita, portava uma lanterna que era fonte da iluminação sinistra e com a esquerda segurava uma espada longa. Tinha uma capa de cor negra, que era presa por um broche de rosa negra. No elmo, havia uma enorme pluma de cor sombria.
Lacktum esperava encontrar Kalic Benton, mas ao notar corretamente, um mago não portaria uma armadura. E não parecia se tratar de um revenant solitário. Um verdadeiro cavaleiro com aura sinistra.
Ele parou a uma boa distância do grupo. Colocou a lanterna presa a cintura e fixou a espada no chão, cheio de gelo. Pousou as mãos sobre o cabo da arma.
-Caro Gustavo, não vai me apresentar seus colegas? Ou pretende matar eles também? – disse o homem de armadura.
Foi quando o paladino, mesmo sentindo muito frio, começou a suar frio. Aquela voz o atormentava no passado, com raiva, mas autoridade também. Uma voz que se aproximava do tom paterno. Alguém sumiu da vida do paladino, até agora.
-Diogo! – gritou um Gustavo completamente desnorteado, com o corpo tremendo.
-Quem é esse homem? – perguntou Halphy.
Foi quando o estranho de elmo falou:
-Eu me apresentarei. Meu nome é Diogo Fernandez, antigo mestre do estilo do Lobo Sacro. Atual mestre da Rosa das Trevas. Antigo servo de Kanglor, pois hoje sirvo a Hel. Mestre de nobres e príncipes. Meus últimos pupilos se chamavam Federick, Gustavo e Joseph. Três príncipes de terras distantes. E houve a morte de um deles pelas mãos dos outros. Minto por acaso Gustavo?
Todos olharam para o paladino com espanto. E este abaixou a cabeça. Seu silêncio mostrava que era verdade.

-Ora Gustavo, diga que é mentira! Que isso nunca aconteceu! Esse homem não fala a verdade! Não é?
Ele continuou com a cabeça baixa e olhos cerrados. Não queria admitir que um passado negro condenasse os irmãos Salles. O que faria? De repente Lacktum soltou sua língua ferina contra o homem de armadura negra.
-Eu não quero saber sobre isso. Temos um inimigo que possui uma réplica da Lanterna dos Condenados. Ou pensa que o fato de ter falado sobre isso, nubla a certeza de possuir esse item. E até onde sei, Gustavo demonstra mais honra que você. Um homem que muda de estilo de combate e deu? Há! Faça o favor de não insultar a minha mente. Quer saber alguém que não merece confiança aqui, esse alguém é você!
A armadura negra não se mexia. Mas dela surgiu mais uma vez a voz de Diogo.
-Muiti bem... Lacktum, eu suponho? Kalic Benton me falou muito sobre você. O que disse até agora faz jus ao seu intelecto.
-Muitas coisas ruins eu suponho – falou o arcano.
-Tem coisas boas? – cutucou a meio elfa
Foi quando Gustavo soltou um rompante de fúria contra o antigo mestre. Ele se lembrou dos ensinamentos de Diogo. Coisas que vinham do tempo que James Gawain criou o estilo do Lobo Sacro: um inimigo declarado é um inimigo; uma espada desembainhada tem como repouso ou a bainha de seu dono, ou o peito de seu inimigo; e se a espada não serve para matar, ela deve proteger aqueles que amam.
-Minha lâmina! Seu pescoço! – gritou exaltado o paladino.
-Muito bem meu pupilo – disse Diogo, sorrindo – Mostre as garras. Mas tenho que partir para tratar assuntos mais importantes...
De repente, Gustavo sacou a espada que portava. Ele correu com ela, curvando bastante seu corpo, com o escudo na frente. A espada, que estava toda voltada com a ponta para trás, seria um golpe circular certeiro. Seria certeiro, se tivesse acertado a espada.
Antes que chegasse a tocar o antigo mestre puxou a lanterna e proferiu:
-Que os espíritos surgidos no mal, me obedeçam prontamente. Aqueles que não enxergaram a luz me obedeçam imediatamente.
Foi quando Gustavo interrompeu a trajetória, devido a um tremor no lugar. Quando notaram, achavam que era um terremoto, mas não era forte o bastante. Então, foi que Lacktum conseguiu notar algo tão tolo que passou pela sua mente tão rápido. Uma das casas cobertas de neve não era uma casa.
-Mas o que?... – soltou Gustavo.
-Gustavo! Volta – gritou Lacktum.
Nesse instante, o paladino saltou para trás, com o intento de não ser esmagado pela neve.
A neve caia, enquanto o ser se erguia debaixo dela. Parecia que a criatura surgia de algum pesadelo. Era gigante. Do tamanho de uma torre.
-Um gigante? – perguntou Arctus aflit.
-Não existem gigantes na Inglaterra! Pelo menos a alguns século! – falou Lacktum, respondendo rapidamente.
-Então o que é aquilo? Um cachorro grande? – falou Thror.
-Talvez um revenant? – gritou Seton.
-Não! – falou Halphy irritada e puxando alguns dos membros do grupo para trás de uma construção – existem muitos revenants, mas nenhuma armadura cobriria um ser tão grande por completo! Essas coisas precisam ser cobertas por inteiro para se locomover, pelo que entendo.
-Maldição! – soltou Rufgar nervoso.
-Praga! – disse Alexander.
- O que foi? – disse Valente, prestes a partir para cima do inimigo, se não fosse Lacktum o segurar. Todos estavam atrás da construção agora.
-Esse cheiro que estou sentindo e pelas palavras daquele homem... Acho que se trata de um morto faminto!
-Praga – disse Thror.
-Praga nada! Arctus pode o expulsar! – falou aliviado Lacktum.
-Por isso! – respondeu tristonho o grego.
-Mor-mor-morto faminto? Ai... – Furta-Trufas caiu depois de falar isso. Halphy o pegou em seus braços.
A criatura parecia combinar um enorme tamanho com uma força descomunal, mas não era só isso que ele trazia de assustador. Era uma criatura como uma ossada com vida. Enormes pontos de luz avermelhada cintilavam em suas orbitas vazias. Um enorme esqueleto, que obedece a seu mestre maligno, como um boneco nas mãos de seu dono. Esses seres atacam até serem completamente destruídos ou eliminarem seus alvos. A monstruosidade era o esqueleto de um gigante, que saia da neve.

-Com certeza animaram o corpo de um gigante e o trouxeram até aqui – falou o arcano.
Estavam todos escondidos, com medo do ataque do monstro. Só que Halphy constatou:
-Eu acho que se trata de uma criatura grande demais para nos esconde dela.
-Acha mesmo? – perguntou temoroso Seton.
Foi quando sua mão, em forma de garra esquelética, despedaçou o telhado da construção. Alguns pedaços voaram na direção dos Dragões, mas nada que os ferisse. Furta Trufas, que parecia acordar, desfaleceu novamente.
-Deixem comigo! – falando isso, Gustavo se levantou com rapidez em direção ao monstro. Seu olho parecia cheio de raiva, O pior é que Diogo não estava mais ali. Ou seja, o alvo de sua fúria sumiu. Mas o mal permaneceu.
-Que a lâmina de Deus venha até mim. Pelo nome de Mikael, príncipe dos arcanjos, que o mal pereça na minha lâmina.
Nesse momento, a lâmina de Gustavo se encheu de uma aura brilhante e cintilante. Com o valor de seu coração, a arma percorreu o ar até acertar a perna do esqueleto. Aparentemente, afetou demais o oponente sinistro. Isso era claro, pelo grito sinistro que o esqueleto. Lembrava o uivo de um lobo, com extrema tristeza.
Com isso, Arctus pegou seu crucifixo e a levantou contra o ser das trevas. E como um poderoso homem, exclamou:
-By the name of God and Metatron, the prince of the seraphim. Through this names that bring truth, release this site from all evil. Amen
Uma aura de grande bondade e poder surgiu ao redor de Arctus. A paz que irradiava, criava uma redoma de força que se dispersou e deveria destruir o monstro, mas não o fez.
Os poderes de alguns sacerdotes com fé verdadeira conseguiam operar milagres. Entre um desses um desses milagres, estava algo chamado exorcismo. O dom de afetar entidades malignas como gênios, demônios ou até mesmo anjos das trevas. Mas algumas vezes, esse dom é usado para manter espíritos que não alcançaram a luz até o Além[1]. Normalmente, quando isso ocorre, os espíritos inquietos se enfurecem. E a enorme ossada não era exceção.
Ela se debatia como se estivesse em pura fúria. O crânio girava muito rapidamente como um mangual pesado erguido em combate. E o monstro já tinha decidido quem destruir.
Foi quando Gustavo pulou na frente do golpe que seria feito contra Arctus. O pobre paladino bateu contra uma parede. No mesmo momento desmaiou.
-Gustavo! – gritou em desespero Thror.
O céu anunciava uma tempestade. Mas a verdadeira destruição ocorria no chão. Pequenas construções que restavam, eram demolidas pelo simples encostar do monstro na madeira. Aquilo fazia Lacktum temer. De repente se lembrou de dois anos atrás. Não sabia o motivo, mas algo naquilo tudo fez lembrar-se do massacre de tudo que amava. Ele ficou estático de medo. Não conseguiu enfrentar os próprios temores. E a meio elfa notou isso.
-Lacktum! – batia e falava a ladina feiticeira – Nós precisamos de você aqui.
Será que tudo iria acontecer novamente? As únicas pessoas importantes de sua vida sumiram naquele lugar. Ele se sentia medo, pois novamente era inverno.
-Maldições de Odin! – disse o transtornado arcano – Esse lugar é uma maldição de algum gigante ou força das trevas! Só isso explicaria tantos problemas! Por Asgard!
-Estou achando que ele esta dominado pela lua – disse em tom baixo o druida.
-Quieto Seton! – pediu Halphy.
Arctus levantou o companheiro caído. O golpe foi terrível, mas não havia tempo para aplacar a dor. Quando notou, estava atrás de uma construção. Mesmo não estando vivo, a ossada gigante parecia soltar um hálito congelante. Isso cobria todo o local ao redor dos dois, deixando o clérigo com mais medo do que frio.
-Arctus! – gritou a ladina, antes de tentar voltar a tirar o mago daquele estado – Vamos Lacktum, se continuar assim, Arctus e Gustavo vão perecer diante de morto faminto!
-Esse lugar é amaldiçoado. Só existe essa explicação! – Lacktum enlouquecia cada vez mais.
Halphy tinha que fazer algo em relação ao arcano. Então, se lembrou do nome de alguém que poderia o retirar daquele estado.
-Pense em Lirah! O que acha que ela pensaria disso? De sua atitude agora?
Isso deveria fazer o ruivo reagir, mas nem isso foi suficiente. Foi quando uma idéia passou pela mente da ladina. Se ele não foi comovido pelo nome da mulher amada, talvez se revoltasse com a memória do inimigo.
-Olhe aqui, seu mago egocêntrico e manhoso – disse ela com ares de razão – se não em ajudar Kalic Benton irá vencer! Eu não sei o motivo de me querer viva, mas eu sei o querer você: ele quer te atormentar! Quer acabar com cada fração de razão que você tem! Quer deixar que ele vença? – falava isso enquanto puxava, com força, a camisa do mago – Que perder tudo? E quando digo tudo, falo dos Dragões da Justiça! Nós estamos juntos desde Starten! Se não somo companheiros somos o que?
Lacktum levantou seus olhos. Eles continham a raiva de antes, o mesmo fogo de ódio. Halphy soube atiçar o jovem mago.
Ele então levantou com certeza de que só um Van Kristen teria.
-Após o inverno, vem a bonança! Thror se prepare para a luta! Tenho um plano.
-Certo! – respondeu o grego.

-Halphy! Você, Alexander e Fiel, chamem a atenção daquela coisa!
-Ah que maravilha! – disse a ladina com tom de reprovação – Nós somos a isca!
Nesse instante, Halphy e os dois animais, correram em direção ao monstro. A criatura parou seus ataques ao sacerdote para matar seus novos alvos.
-Thror se prepare para magia – falou Lacktum para o grego.
-Como? – se espantou Thror.
-Arctus! Venha aqui! Seton você também. Se aproxime.
O padre ouviu o grito da direção dos colegas, deixando Gustavo em segurança antes. Colocou o paladino próximo de um estábulo. Em seguida foi até os companheiros. Lacktum, quando notou todos ao seu redor, falou seu plano.
-Vamos preencher Thror com poder suficiente para destruir este ser – falou ele com certeza do que falava – Acho que Gustavo já o feriu bastante, mas acredito que minha magia não vai afetar o monstro. Nem a de ninguém.
-Mas por qual motivo não preenche a mim, então? – reclamou o druida.
-Você é guerreiro?
-Não.
-Ai esta sua explicação.
-Praga!
-Mesmo que fosse notou o que tem na ponta da corda que segura?
Ele olhou para a corda e notou o que havia na outra ponta: o desarmado Rufgar.  Novamente, Seton se decepcionou.
-Praga novamente!
-Preparem as magias – disse o padre Arctus.
-That rage ignite both this warrior, that his rage fill his blade against the enemy.             
Agora é sua vez druida
-Eich arf bydd un diwrnod yn dod mor beryglus â'r hud sy'n treiddio y byd hwn.
É com você Arctus
-Dio guidare la vostra lama. Essere letale come la spada di Gabriel.
Agora vá Thror. Vá e faça o melhor que puder!
-Podem deixar comigo! – disse o grego em resposta.
Os músculos de Thror aumentaram de modo particularmente rápido. Literalmente, pura mágica. Sua espada possuía também duas auras: uma que irradiava energia cintilante e dourada, já a outra, possuía cor branca. Era como se Thror tivesse crescido tanto em alma como em corpo. O grego mostrou que a magia o permeava.
Ele correu na direção da torre. Arctus e Seton estranharam a ação, mas Lacktum os acalmou. Já imaginava o que Thror faria.
O grego subiu a escadaria. Em ritmo frenético passou, sem ver um quarto sequer, por toda a extensão da torre. Chegando lá, viu a janela, e então soltou dela.
Enquanto o monstro terrível atacava a jovem Halphy e os animais, muitos notaram o salto louco que Thror fez como um demônio saído do Inferno. Suas pernas procuravam um lugar seguro, enquanto o corpo percorria o ar. Então, a corrida aérea teve fim.
A lâmina cheia de mana despedaçou parte da mandíbula da enorme cria da necromância. Ela quebrou como se fosse feito de material muito pobre. Mas todos sabiam que isso se devia a magia.
Novamente, a criatura expeliu um grito. Parecia mais um rugido de uma fera ferida, agora. Com o golpe caiu, quase esmagando alguns dos membros dos Dragões da Justiça. Um pedaço de madeira acertou Arctus, quando o monstro caiu sobre ela, atingindo o padre na cabeça.
-Arctus! – gritou o druida.
-Concentre-se! The sound travels through the air and becomes a weapon. This all with the slightest movement of my hands.
Nesse instante, das mãos de Lacktum que se bateram, surgia um vórtice sonoro que incomodava todos. Não afetou de vez a ossada, mas foi o suficiente para o druida usar uma magia.
Ele tocou o gelo, enquanto recitava:
-Mae'r rhew o'n cwmpas yn dod yn y carchar!
Foi quando a neve de baixo da ossada começou a cristalizar. Ela ficava ao redor da perna do esqueleto, o impedindo de andar. O rugido que ele soltava ficava cada vez maior. Parecia um enorme leão com a bata ferida por um caçador.
Enquanto isso, Thror ficava no chão, caído como um morto. Mas só estava cansado.
-Levanta careca! – gritou Halphy desesperada.
-Esta bem – soltou Thror inconformado – Mas eu quero descansar!
Thror levantou com o escudo acima da cabeça e abaixou a espada. A ponta da arma ficava na direção do chão. Flexionou o joelho, de modo que o bote fosse perfeito. Naquele momento, como poucas vezes acontecia, seu ar caricato sumia. Com a batalha, Thror parecia ser outra pessoa, possuído por um espírito bélico. E então, em disparada feito um relâmpago, a espada curta fez um novo golpe na perna do monstro.
A pena já havia sido congelada o que facilitava mais o golpe. A enorme criatura caia depois do corte perfeito de Thror.
Mas antes que tombasse por completo, o grego acertou o que seria perto dela em um grande ato de força.
-Γιατί Άρης!
No fim, o morto faminto de ossos se espatifou, trazendo silêncio repentino. A aura de morte parecia permear todo o lugar mesmo com a ossada em pedaços na frente deles. Na verdade, isso criou um clima mais sinistro ainda, ao lugar.

Quando tudo acabou, Lacktum notou uma luz bem ao longe, na direção das fronteiras.
Ele então pegou algumas tiras de couro e dois objetos sólidos e transparentes. Colocou junto das tiras os objetos de modo que o maior ficava na frente do menor.
-O que é isso? – perguntou Arctus, enquanto subia no estábulo junto com o mago.
- Uma luneta – respondeu – Eu comprei de um oriental de uma de nossas aventuras. Conseguimos ver ao longe com ela.
-É bruxaria?
Lacktum tirou a visão do item e olhou com raiva para o padre.
-Você anda com uma maga, uma meio elfa, um druida e ainda fala sobre bruxaria? O nosso problema mesmo é o que estou vendo. Pegue isso olhe.
Arctus, desconfiado e desajeitado, olhou através do item.
Ele viu Diogo em cima de um cavalo marrom, com pelagem bem cuidada. Havia tirado o elmo negro e mostrava sua face. Estava em carne viva, como um cadáver que morre esfolado. Seus dentes a mostra, pareciam presas e seus cabelos mal concediam uma aparência humana a ele. O que era mais claro mesmo era o brilho da Lanterna dos Condenados falsa que portava consigo.
Quando o padre terminou de ver a cena, o cavaleiro entrou na floresta.
Lacktum então falou:
-Vamos. Temos que cuidar dos feridos.




[1] Além, nesse caso, quer disser o mundo pós-vida, após a vida terrena.

sábado, 15 de março de 2014

O que é? Doppelganger


Doppelgänger, segundo as lendas germânicas de onde provém, é um monstro ou ser fantástico que tem o dom de representar uma cópia idêntica de uma pessoa que ele escolhe ou que passa a acompanhar (como dando uma ideia de que cada pessoa tem o seu próprio). Ele imita em tudo a pessoa copiada, até mesmo as suas características internas mais profundas. O nome Doppelgänger se originou da fusão das palavras alemãs doppel (significa duplo, réplica ou duplicata) e gänger (andante, ambulante ou aquele que vaga).





sábado, 8 de março de 2014

Quem foram os Templários?

(Texto extraido de um blog)

Os Templários surgiram em 1118, em Jerusalém, uma Ordem de Cavalaria chamada de Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo e do Templo de Salomão, famosa como Ordem dos Templários. Ela era composta por nove cavaleiros franceses, entre eles Hugo de Payens e Geoffroy de Saint-Omer. Seu objetivo, pelo menos aparentemente, era velar pelas conveniências e pela proteção dos peregrinos cristãos no território sagrado , que sofriam de ataques e saques durante o percurso até Jerusalém. 
A ordem dos Templários era uma espécie de sincretismo entre a fé monacal e a coragem de guerreiros de alto nível, constituindo assim uma das mais destemidas e poderosas congregações militares do período marcado pela presença das Cruzadas. Os cavaleiros que fundaram a Ordem realizaram, na época, um voto de pobreza. A recém-nascida instituição passava a ter como símbolo um cavalo montado por dois cavaleiros.
Os templários estavam, nesta época, cravados no núcleo central do território de seus adversários, pois sua sede estava instalada em um edifício vizinho da Mesquita de Al-aqsa, uma doação do rei Balduíno II, o que sobrara do Templo de Salomão. Este grupo logo se consagrou, tornando-se poderoso nas esferas política, bélica e econômica. Ao longo do tempo, esta Ordem obteve um sem número de territórios europeus, doados por benfeitores cristãos os mais diversos, dominando, desta forma, grande parte da Europa.
Dizem as lendas que, na primeira década de vida, os cavaleiros da Ordem teriam achado sob as bases da sede um grande tesouro, documentos e outros objetos preciosos que teriam lhes concedido um intenso poder. Outras histórias narram o suposto encontro do Santo Graal, o cálice sagrado dos cristãos. As duas versões acreditam que os guerreiros teriam transportado para a Europa seus achados, e obtido do Papa Inocêncio II poderes sem limite, em troca do tesouro conquistado.




(Texto extraido da revista Superinteressante)


Eles foram os monges prediletos de santos e papas. Mas acabaram acusados de bruxaria e sodomia. Conheça os Cavaleiros do Templo, a sociedade secreta mais badalada e poderosa da Idade Média
No dia 18 de março de 1314, Paris amanheceu nervosa. Jacques de Molay, grão-mestre da Ordem dos Templários, iria para a fogueira. O condenado à morte pediu duas coisas: que atassem suas mãos juntas ao peito, em posição de oração, e que estivesse voltado para a Catedral de Notre Dame. No caminho, parou e fitou os dois homens que o haviam condenado: o rei Filipe, o Belo, e o papa Clemente 5º. Rogou-lhes uma praga: “Antes que decorra um ano, eu os convoco a comparecer perante o tribunal de Deus. Malditos!” Depois disso, calou-se e foi queimado vivo.
As chamas que consumiram De Molay também terminaram com uma época, da qual o grão-mestre foi o derradeiro símbolo: a das grandes sociedades secretas da Idade Média. Nenhuma foi tão poderosa quanto a Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo e do Templo de Salomão – nome completo dos templários. “Enquanto o clero e a nobreza se engalfinhavam na luta pelo poder, os templários, sem dever obediência senão ao papa, desfrutavam de uma independência sem par”, diz o historiador britânico Malcolm Barber, autor de A History of the Order of the Temple (“Uma História da Ordem do Templo”, inédito no Brasil).
TROPA DE ELITE
A ordem foi fundada em Jerusalém, no ano de 1119. Seu propósito era dar proteção aos peregrinos cristãos na Terra Santa. A cidade tinha sido conquistada pelos cruzados em 1099, mas chegar até lá continuava sendo um problemão. Ela era praticamente uma ilha, cercada de muçulmanos por todos os lados. A solução, proposta pelo cavaleiro francês Hugo de Payns, agradou ao rei de Jerusalém, Balduíno 2º: criar uma força militar subordinada à Igreja. A idéia era inédita. Até então, existiam monges de um lado e cavaleiros de outro.
“Payns inventou uma nova figura, a do monge-cavaleiro”, diz Marion Melville, autora de La Vida Secreta de los Templarios (sem tradução para português). O exército seria formado por frades bons de espada, que fariam, além dos votos de pobreza, castidade e obediência, um quarto juramento: o de defender os lugares sagrados da cristandade e, se necessário, liquidar os infiéis. Balduíno alojou-os no local onde outrora fora construído o mítico Templo de Salomão. Daí o nome do grupo: templários.
Em 1129, a ordem recebeu aprovação do papa no Concílio de Troyes. Em 1139, veio a consagração definitiva: uma nova bula papal isentava os templários da obediência às leis locais. Eles ficariam submetidos, dali em diante, somente ao sumo pontífice. Os Cavaleiros do Templo admitiam excomungados em suas igrejas (o que era uma senhora blasfêmia para a mentalidade religiosa da época). Certa vez, um grupo de templários interrompeu, entre risos e com uma revoada de flechas, uma missa na Basílica de Jerusalém. O padre era de outra ordem, a dos Hospitalários, e entre as duas havia uma rixa histórica. “Apesar da bravura reconhecida, os templários muitas vezes foram censurados por seu orgulho e arrogância”, afirma o historiador francês Alain Demurger no livro Os Templários: Uma Cavalaria Cristã na Idade Média.
Os Cavaleiros do Templo, também, eram proibidos de se confessar a outros que não fossem os capelães templários. Igualmente, o livro da Regra – que tinha sido escrita por ninguém menos que são Bernardo de Claraval – era restrito ao alto escalão da ordem (leia mais na pág. 27). Os outros tinham de sabê-la de cor. Era uma forma de preservá-la, caso caísse em mãos erradas. Porém, entre cochichos, se especulava que a Regra continha artigos secretos cifrados, cuja interpretação dava posse de conhecimentos esotéricos, como a fonte da juventude ou a transmutação de metais. Com o crescimento da ordem, os templários não pararam mais de receber doações, e em pouco tempo estavam administrando uma gigantesca fortuna espalhada por toda a Europa, composta de peças de ouro, prata, castelos, fortalezas, moinhos, videiras, pastos e terras aráveis. O grupo emitia cartas de crédito: o peregrino à Terra Santa depositava uma determinada soma na Europa, que podia ser resgatada quando chegasse a Jerusalém. “O Templo de Londres foi chamado de precursor medieval do Banco da Inglaterra”, escreve o historiador britânico Edward Burman no livro Templários: Os Cavaleiros de Deus. Isso fez crescer o olho de muitos novos adeptos.
O teólogo inglês João de Salisbury, em 1179, se perguntava se os cavaleiros não tinham cedido às ambições terrenas. Essa suspeita se tornou certeza em diversos casos. Em 1291, a viúva de um nobre templário foi expulsa de sua propriedade na Escócia pelo chefe da ordem no país, Brian de Jay. Segundo o contrato firmado pelo marido, a posse das terras voltaria à família depois de seu falecimento. Maliciosamente, Brian recusou-se a devolvê-las. E o pior: ordenou que seus homens arrombassem a casa da viúva. Como ela se agarrou à porta, em completo desespero, teve os dedos decepados pela espada de um cavaleiro.
Enquanto os templários seguraram as pontas na Palestina, todos fizeram vista grossa aos seus desmandos. Porém, quando o jogo na Terra Santa virou, e os muçulmanos gradualmente reconquistaram a região – processo que culminou com a expulsão dos cristãos do solo sagrado em 1303 –, a animosidade contra a ordem explodiu. “A expulsão foi particularmente séria para os templários, cujo prestígio e função se identificavam com a defesa dos lugares da vida, morte e ressurreição de Cristo”, diz Malcolm Barber. Na Alemanha, “beber como um templário” virou sinônimo de bebedeiras, e “Tempelhaus” (a Casa do Templo), lugar de farra e até prostituição.
OSSOS EXPOSTOS
A ressaca pela perda da Terra Santa, porém, não foi o fundo do poço para os templários. A aliança com o papa, que se mostrava tão útil desde o século 12, revelou-se uma faca de dois gumes. Em 1305, o novo sumo pontífice, Clemente 5º, se tornou aliado do rei da França, Filipe, o Belo. E os dois conspiraram para a destruição da Ordem do Templo. “O rei precisava de dinheiro para financiar seu aparato bélico”, diz Edward Burman. Em 1306, Filipe desvalorizou a moeda francesa. Os parisienses ficaram furiosos e saquearam a cidade. A coisa foi tão feia que Filipe, ironicamente, teve de se ocultar numa fortaleza dos templários nos arredores de Paris. Lá, bem sob seus olhos, jazia a resposta para as suas orações: sacos e sacos de moedas de ouro.
No dia 13 de outubro de 1307, uma operação sigilosa da guarda de Filipe deteve e encarcerou boa parte dos templários da França. As acusações eram pesadas e seguiam os moldes dos processos inquisitoriais daquela época: rejeição da cruz e de Jesus Cristo, beijos obscenos, sodomia e idolatria do Diabo (leia mais nas págs. 26 e 27). A tortura foi legitimada pelo rei. Os interrogatórios eram brutais: o cavaleiro Bernardo Vado, por exemplo, teve os pés tão queimados que seus ossos acabaram expostos.
Em março de 1312, no Concílio de Vienne, o papa extinguiu a ordem. A pá de cal foi a execução de Jacques de Molay, o último grão-mestre dos templários. Os monges-guerreiros que sobreviveram se mantiveram fiéis à Igreja, vivendo no anonimato. Um detalhe curioso e mórbido: a praga rogada por Jacques pegou. Clemente morreu 42 dias depois de De Molay, e Filipe bateu as botas em 29 de novembro daquele mesmo ano. Terminava assim a história dos cavaleiros de Cristo. Terminava? Bem... ainda não.
Depois da blitz aos templários engendrada por Filipe, o Belo, alguns frades teriam reconstruído secretamente a ordem. E dezenas de sociedades secretas posteriores seriam filhotes do movimento. Será que isso é verdade? Quando fizeram essa pergunta ao historiador Malcolm Barber, ele apenas sorriu e respondeu com ironia: “Como escreveu Umberto Eco em O Pêndulo de Foucault, ‘os templários sempre estão por trás de tudo’ ”.

Mitos e lendas


As histórias mais fantásticas envolvendo os templários
SANTO GRAAL
A Ordem do Templo teria sido fundada pelo Priorado do Sião e guardou o segredo da filha bastarda de Jesus Cristo. “Isso é uma invenção do anti-semita Pierre Plantard, em 1956”, afirma o historiador italiano Massimo Introvigne.
ARCA PERDIDA
Os templários supostamente escavaram o Templo de Salomão e encontraram a Arca da Aliança. E ainda teriam descoberto os segredos dos primeiros maçons. “É tudo fantasia”, garante o especialista Alain Demurger.
TESOUROS DO TEMPLO
O Manuscrito Copper, encontrado na região do mar Morto, revelaria a localização dos tesouros do Templo de Salomão e teria sido descoberto pelos templários. “É lenda”, diz o historiador Kenneth Zuckerman.
MALDIÇÃO DE MOLAY
A praga rogada por Jacques de Molay foi fulminante, matando o papa Clemente 5º e o rei Filipe, o Belo. Segundo algumas fontes, Clemente na verdade morreu de câncer, enquanto Filipe foi vítima de um derrame cerebral.
SEXTA-FEIRA 13
A crença de que a “sexta-feira 13” é um dia de azar teria surgido em 13 de outubro de 1307, data na qual ocorreu a prisão dos templários na França. Nada a ver. A primeira menção à “sexta-feira 13” é recente, de 1898.

Para saber mais

• Os Templários: Uma Cavalaria Cristã na Idade Média
Alain Demurger, Difel, 2007.
• Templários: Os Cavaleiros de Deus
Edward Burman, Nova Era, 1997.

Por dentro da ordem do templo

QUEM ERA QUEM
Os homens que defenderam Jerusalém em nome de Cristo.
Pader
Os membros combatentes da ordem, apesar de sua formação de monge, eram quase sempre analfabetos e com pouco conhecimento de teologia ou das Escrituras. Por isso, as missas, confissões e outras cerimônias religiosas eram presididas por padres que viviam nos estabelecimentos templários.
Cavaleiro
Geralmente de origem nobre, era o membro da ordem por excelência: tanto um guerreiro experiente, treinado para combater a cavalo com armadura pesada, quanto um monge ordenado, com votos de pobreza, obediência e castidade. Os cavaleiros templários nunca foram mais do que 10% dos integrantes.
Soldado
Os templários também recrutavam soldados leigos, que não eram monges e, na Terra Santa, podiam até ser cristãos de origem síria. Nenhum deles era obrigado a seguir os votos de castidade dos cavaleiros – alguns, inclusive, eram casados. Havia também irmãos leigos que realizavam tarefas domésticas.
ENTRE O BEM E O MAL
A história dos templários está associada a santos e demônios.
SANTO
São Bernardo foi o melhor amigo dos templários. Afinal, nos primórdios da ordem, eram muitos os que achavam que matar infiéis não era algo muito cristão. Ao publicar a defesa doutrinal do grupo, em 1135, Bernardo convenceu a todos da necessidade de fazer justiça pela espada. Sobrinho de um membro da ordem, foi cavaleiro antes de seguir carreira religiosa. Morreu em 1153 e virou santo 20 anos mais tarde.
DEMÔNIO
Um dos símbolos mais enigmáticos associados aos templários é o de Baphomet. “O nome vem de Maomé”, diz o historiador Malcolm Barber. Seria a encarnação do Diabo. Para outros estudiosos, contudo, representaria os santos dos primórdios da Igreja. Na Idade Média, prevaleceu a versão mais sinistra. Os templários empregariam a figura em seus ritos. Mas tudo não passa de uma lenda, jamais comprovada.
INFÂMIA SECULAR
A insígnia da Ordem do Templo – dois cavaleiros dividindo a mesma sela – acabou sendo usada para difamar os templários, acusados de homossexualidade e outras práticas mundanas nos anos finais da cavalaria. Na verdade, o emblema simbolizava humildade: a pobreza não permitiria uma montaria para cada cavaleiro.
FOLHA CORRIDA
Fundação: 1119, em Jerusalém.
Fundador: Hugo de Payns.
Integrantes: aproximadamente 15 mil homens no início do século 13.
Patrimônio: 9 mil propriedades espalhadas pela Europa no século 13 (US$ 160 bilhões em valores atuais*).
Extinção: 3 de abril de 1312.
* Cálculo da Associação do Templo de Cristo

.

sexta-feira, 7 de março de 2014

(Parte 18) Capítulo Três: Homem solitário




Já fazia alguns dias e o grupo se recuperava do surto de loucura que o inglês deve nos últimos dias. Ele pediu desculpas a todos, até mesmo a Rufgar, que seria o alvo da fúria do mago. Após muitas conversas e teorias sobre o livro, Halphy e Arctus guardaram o códice longe de Lacktum, com medo de um novo ataque. Foi uma decisão bem acertada pelo que Alexander comentou, usando como referência o que Seton falou da torre de Azerov.
Mas o caminho que eles trilhavam, não ajudava muito no processo de recuperação de seus membros. Eram colinas atrás de colinas, morros atrás de morros e os Dragões da Justiça ficavam exaustos atravessando aquele reino. Mas graças ao auxilio de Fiel e Alexander, se tornava mais fácil. O cão encontrava rastros, protegendo o grupo de conflitos contra ogros, anões e até mortos famintos. A águia conseguia mostrar caminhos mais rápidos e seguros até o objetivo do grupo. Era uma boa equipe, não fossem por estarem cansados.
Em mais alguns dias chegariam às fronteiras.
Em uma manhã, quando a neve caia forte, todos olhavam ao longe um destacamento passando por eles. Não muito perto, mas o bastante para se saber que havia cerca de seis deles. O pior é que a águia não conseguia voar para sobrevoar devido ao tempo.
-O que acha Lacktum? – perguntou Arctus em dúvida, cobrindo o rosto contra a neve.
-Não sei... Mas anões e ogros não devem ser. O tamanho não bate com eles. E nem andam como um dos mortos famintos. Estamos próximos das fronteiras então talvez possamos até pedir ajuda. Nossas provisões acabaram ontem.
-Talvez sejam soldados ou camponeses fugindo – disse Gustavo, arrumando seu elmo.
-Eu acho que são soldados – falou Thror.
-Detesto concordar com o careca com X na cabeça, mas também acho que sejam soldados – completou Halphy – Chamem de intuição.
-Vamos ao encontro deles – terminou Lacktum enquanto corria na direção do grupo desconhecido.
-Lacktum, eu não... – mesmo com Halphy insistindo para que não fossem até os estranhos.
-Deixe Brown – falou sem muita empolgação sobre o mago.
Ele se cansava das decisões de Lacktum. Apesar de ser o líder, o ruivo só trazia problemas. Era necessário alguém mais firme. E rapidamente.
Quando caminhavam, os passos foram se tornando mais pesados para alcançar eles. O mago ficava com medo de perdê-los. E depois de um bom tempo, alcançaram o grupo. Era difícil a visão até mesmo para aqueles que estavam tão próximos um do outro. Lacktum foi mais a frente conversar com eles.
-Olá? Chamo-me Lacktum e estou aqui...
Só que quando o mago iria conversar com um dos supostos homens, ele notou que não era bem isso que ele era. Lacktum conseguiu ver o que um revenant é. O resultado dos experimentos alquímicos de Paracelso, uma armadura animada, que age e pensa como uma pessoa. Não tão rápidas como os humanos, mas assim mesmo, ótimos combatentes. Feitos de armaduras pesadas como cotas de talas, lorigas, peitorais de aço e até armaduras de batalhas. De longe, realmente pareciam humanos cobertos dos pés a cabeça. Usavam até elmos. Mas de perto, poderia se notar um construto com alma transmutada em um grande pedaço de metal ou outro material. Eles não pareciam ter piedade, assim como a criatura mitológica que originou o nome dessas criaturas.
Quando Lacktum notou que o elmo estava vazio, deu um passo para trás com medo.
-Dragões da Justiça, ergam suas armas! – soltou Arctus em socorro ao mago.

Thror saltou espada e escudo contra o revenant que iria atacar Lacktum. Com a arma curta, atravessou a liga metálica que tinha vida própria. Mas isso não foi o suficiente para fazer o construto tombar. Tanto que ele golpeou no peito com uma lança. Foi um golpe quase perfeito. E quase, não significa morte. Pelo menos não para o grego da cicatriz.
O sacerdote Arctus aproveitou e golpeou algo que deveria ser a cabeça da criatura. Um ataque desses mataria um homem comum, mas não estes seres desprovidos de um corpo carnal. Mas o sacerdote prosseguiu no ataque, não deixando espaço para qualquer ataque contra si. A monstruosidade também não parava.
Halphy não achava problemas para enfrentar o seu adversário, mesmo não possuindo um ponto vital para explorar. Ela obtinha bons resultados fazendo vários ataques. Além disso, o machado não tocava seu corpo, assim como, um gato foge de cães. E a meio elfa uma gatuna.
Um dos que mais temia o combate, era Gustavo. Ele conseguia sentir, que dentro das armaduras, não havia mal. Estes seres poderiam ser um processo de alquimia e necromância, mas almas dentro das armaduras não eram tocadas pelas trevas. Mesmo assim, o paladino tinha que combater, pois era sua vida que estava em jogo.
Sua espada longa teria atravessado um corpo feito de carne. Mas os revenants eram perigosos e resistentes. Agüentavam duros golpes, e não gemiam de dor. Na verdade, só soltavam um estranho barulho, que mais parecia rangidos de uma porta. Eram soldados perfeitos que não se cansavam, nem dormiam ou se alimentavam. Mas Gustavo acreditava que era possível derrotar o inimigo feito de malha.
Os únicos que possuíam problema no combate eram Seton e Lacktum. O druida foi proteger o arcano, mas acabou com problemas, já que o aliado caiu no chão. Ou seja, era necessário enfrentar dois oponentes. Com a foice, separava os oponentes deles.
Ele gritou sua arma acertando as duas pontas nos oponentes. Não causou grandes efeitos.
-Lacktum! Faça alguma coisa! – gritou o druida em desespero.
-Já farei Seton! My finger lead the force of thunder.
E eis que nenhuma chama surgiu nas criaturas de metal, mas era possível notar nelas uma coloração forte como se estivessem sendo forjadas novamente. Porém, uma delas caiu imediatamente após o uso da magia.
Isso aguçou a mente de Lacktum, que partiu em direção da armadura. Seton gritou para o companheiro, pedindo auxílio, mas esse o ignorou em nome de sua curiosidade.
O arcano chegou até a armadura procurando por algo que nem ele sabia o que era. Foi quando, ao olhar dentro da armadura um pentáculo. Ele parecia ter sido inscrito com uma faca de metal. Porém, derreteu no momento em que a magia se tornava mais poderosa. O que o levou a uma conclusão:
-Existem pentáculos[1] nas armaduras! Os destruam e acabaremos com eles!

Agora havia só cinco armaduras e o grupo precisava proteger a si mesmos a aos animais. Alexander e Fiel se mantinham calmos e observando tudo ao redor, para auxiliar em caso de problemas. Caça-Trufas já segurava Valente pelo rabo para impedi-lo de entrar no conflito. Mas o jovem suricate, se perdia no meio de toda a neve que caia.
A maré da batalha mudou isso era certo. Os golpes de grupo eram mais precisos. Como única exceção estava Thror que não sabia o que era um pentáculo.
Gustavo então rogou aos céus, enquanto erguia sua lamina para trás:
-Que o aço aqui forjado, se torne arma para as minhas vontades se tornarem realidade. Que Deus proteja a mim e aqueles que amo.
Foi quando, a lâmina de sua espada longa desceu com a fúria de um sol. Abriu uma grande brecha na armadura viva. Com um olhar atento, o paladino conseguiu a notar um pentáculo dentro de aquele ser. Quando viu o revenant pegou sua espada tentando destruir o paladino. O guerreiro sagrado destruiu o símbolo contido na parte mais firme do metal, atravessando a armadura.
Thror gritou para todos.
-O que é um pentáculo?
Enquanto todos lutavam, alguns olharam com ar de estranhamente para o grego. Como ele poderia ser tão estúpido? Ele não sabia o que é um símbolo arcano! Mas não era o momento para isso: o guerreiro da cicatriz estava muito ferido por um golpe que sofreu quase trespassando seu coração. O que ele não contava era com uma frase de Arctus:
-Pentáculo é um desenho!
Então, Thror abriu a guarda da criatura. Nesse momento, a armadura caiu no chão como uma fruta madura. O guerreiro saltou em direção da criatura a impedindo de levantar. Com o escudo, bateu no elmo do revenant. Então viu dentro da armadura um estranho desenho.
-Tem que ser esse!
Quando falou isso, com a espada curta, riscou o símbolo com força. Rápido o bastante para que não fosse golpeado pela lança.
-Tivessem falado que era um daqueles símbolos que o Lacktum sempre vê nos livros. Seria mais fácil para mim!

A batalha se mantinha ferrenha.
Seton já havia dominado seu adversário. O problema é que nenhum dos dois conseguia acertar um ao outro. Mesmo assim, o druida tinha vontade de acertar o adversário da mesma forma que fez com o outro. Não conseguiu.
O revenant estava preparado para qualquer ataque. Parecia que aprendiam, entendiam e sabiam como desviar dos golpes. Com a maça, tentava fazer um ataque em resposta ao jovem druida. Nada ocorria de diferente.
E então, eis que surgiu Gustavo com sua espada longa atravessando as costas do construto. Mas o símbolo estava na parte da frente, por dentro da armadura. Isso não causou nenhum efeito no ser.
Mas agora, ele tinha que lidar com dois adversários. Seria um desafio.
Halphy lidava com o monstro como uma menina que brinca. A criatura estava muito ferida, se é que se pode falar isso em um caso assim. Havia várias marcas na cota de malha vazia e não tinha mais apoio, afinal, suas pernas haviam sido cortadas pela adaga certeira dela. Eis que o monstro caiu diante depois de tanto tempo.
-Esses monstros se enfraquecem depois de muitos golpes! – disse Halphy girando a adaga – Devem estar muito feridas agora! Ataquem com tudo!
Nesse instante, do dedo de Lacktum saltou um pequeno raio de eneregia pura.
- Hell fills up this fire, but he will attain my enemies!
A criatura foi afetada pelo fogo do arcano ruivo. Mas nem tanto quanto o jovem queria. Ela não se abalou pelo golpe de energia. Na verdade, era até possível comparar o dano recebido um pequeno corte na pele. E não a explosão de energia que surgiu subitamente com a magia.
O que a criatura não contava, era com o poderoso golpe da espada de Thror, pelas costas, enquanto segurava o elmo. Era como se estivesse segurando a cabeça de um inimigo, ele tombou diante das botas do grego.
-Thror... – iria começar a falar o mago.
-Não precisa se preocupar em me agradecer! Notei que este saiu de perto do clérigo...
-Não iria agradecer! – disse Lacktum contrariado – Só queria saber o motivo de continuar a segurar o elmo com a mão do escudo.
Foi então que o homem da cicatriz olhou para o elmo. Então, o jogou no chão com receio que ganhasse vida de novo.
Seton ainda tinha dificuldades em enfrentar o seu oponente, pois além de ter se afastado de seus aliados, ficou encarregado do anão Rufgar. Ele não poderia largar o prisioneiro que poderia delatar o grupo. Foi nesse tempo, que o revenant se aproximou o bastante para fazer golpe perfeito. Mas foi interrompido pelo corpo do anão, que saltou servindo como escudo.
-Vai druida!
Foi como em um piscar de olhos: a foice atravessando o revenant, enquanto o anão caia de dor. O construto também caiu.
-Ei barbudo, esta bem? – soltou o aflito druida.
-Não acha... Que uma espada curta irá me matar, não é?
Seton sorriu e começou os procedimentos mágicos de cura no peito do anão.

Todos foram até o anão. Exceto Lacktum que parecia querer contemplar a vitória. Viu Halphy ajudando o padre.  Também viu o jovem Gustavo cumprimentando Thror pelos excelentes golpes desferidos. Viu a raiva de Valente por não participar do combate, enquanto Caça Trufas se sentia aliviado. Alexander e Fiel estavam alegres, só pelo fato, de todos estarem bem. E como todos se reuniram ao redor de Rufgar para saber se ele estava bem.
O que ele não viu, foi o golpe de uma adaga em suas costas.
-Mestres Hazik e Kalic Benton II mandam lembranças... Disse uma voz.
Lacktum então ouviu o metal se afastando do corpo. Ele colocou a mão nas costas e tentou olhar a palma da mão. Não houve tempo. Caiu inconsciente no chão.
-Ruivo! – gritou Thror.
-Lacktum! – gritou Halphy.
-Mas o... – e antes que Arctus terminasse a frase, entendeu o que foi dito pelos companheiros. Ele conseguia ver, próximo do corpo inconsciente do mago. Lacktum, um homem de vestes negras, capa vermelha e usava um capuz para esconder sua face. Segurava uma adaga grande cheia de um líquido vermelho e negro que escorria de sua lâmina. Apontando para o grupo, saltou:
-Meus mestres querem os itens do Desalmado e do Cavaleiro de Platina! Com isso seu colega poderá viver! Estarei naquela direção – disse apontando para um morro -  e quero que cheguem antes do anoitecer... Se não...
E nesse instante, o assassino fantasmagórico sumiu com a mesma velocidade que surgiu. Com a ajuda da neve naquele lugar. E a cada momento ela ficava maior, quase cobrindo o corpo do mago.
Todos foram até seu líder caído. Ele foi erguido pela jovem Halphy de todo aquele branco. Ela o virou procurando a ferida. Arctus e Seton não entendiam o motivo da ladina querer ver o golpe no corpo do mago antes deles. Alguma coisa a intrincava.
Foi quando a jovem encontrou a ferida. Notou que ao redor dela, havia uma substância esverdeada. Temeu que sua conclusão estivesse certa. Cheirou e então a fala do estranho. Ela sabia o que era aquilo.
-Praga! Vamos encontrar um lugar seguro para deixar Lacktum! Isso é veneno de quimera[2]! Temos que achar uma cura ou ele não sobreviverá!

Encontraram uma caverna, não muito distante de onde tiveram o conflito com os revenants, para deixar Lacktum mais acomodado. Era um local cheio de pedregulhos, mas era o único lugar seguro para depositar o líder e o colega Lacktum com aquela neve toda. Sendo que agora ela se tornou tão poderosa.
O jovem de cabelos vermelhos continuava inconsciente e extremamente febril. Sua pele ficava quente e seu corpo mole como uma trouxa de roupas.
Todos se preocupavam com o destino do rapaz. Caça-Trufas era só choro, enquanto Valente se mantinha ao lado do mago, esperando a melhora do amigo. Todos os outros se entreolhavam. Como se cada um quisesse que o companheiro ao seu lado tivesse a resposta para aquela situação.
-Vamos até onde ele esta – disse Halphy com toda a certeza em sua voz.
-Ele? Refere-se aquele homem encapuzado? – soltou Arctus estranhando.
-Sim. Não temos opção. Conheço o veneno e ele trará a morte ao Lacktum quando o dia raiar... Ou até antes.
-Mas então temos muito tempo para conseguir a cura – disse Thror aliviado.
-Não é bem por ai – respondeu a ladina – É certeza que ele irá morrer quando amanhecer! Temos que encontrar aquele estranho!
-Mas você acha que ele realmente deve ter essa cura? – perguntou Arctus com medo da resposta.
Halphy ficou calada, como se tentasse achar a resposta. Olhou para a mochila e a pegou.
-Você vai levar a mochila dele? Qual o motivo? – perguntou um Seton assustado.
-Os itens estão divididos entre nós. Um deles esta com Thror. Outro com Gustavo, pois foi o item que causou a morte de seu irmão. Tanto que Lacktum, Azerov e eu decidimos isso. Faltam então os dois itens que Lacktum possui. Até onde percebi, a máscara é o principal problema do conjunto do Desalmado. Parece ter vida própria e fica mais poderosa com os outros dois. Vou levar a máscara, pois se houver o problema de ser roubada, pelo menos nos livraremos do item que nos traz mais inimigos. Mas não podemos deixar que a busca por essas coisas, traga um mal tão grande para Lacktum. Ele sofreu tanto... E não merece...
Gustavo colocou a mão no ombro do jovem. Ele balançou a cabeça como se negasse seus próprios pensamentos.
-Vamos com você – disse Gustavo.
-Sim, mas só vão comigo Thror e você. O resto fica para cuidar do inglês. E não adianta querer vir comigo Valente. Os itens de Platina ficam.
-Tudo bem – soltou meio triste o suricate. Afeiçoou-se ao mago. Talvez por ser tão impertinente quanto ele. Preferiu ficar ao seu lado.
Seton e Arctus conseguem cuidar dele? – perguntou Gustavo.
Eles simplesmente confirmaram com a cabeça. Não havia o que se fazer, a não ser tentar manter o amigo bem.
-Tomem isso, é uma erva para neutralizar venenos. Vamos então os outros – terminou Halphy, para saírem daquele lugar.
E o grupo formado por três pessoas atravessou a neve forte e perigosa das terras inglesas. Enquanto a febre crescia no corpo do mago Van Kristen.

O caminho era difícil. A neve atingia a cintura de todos e tornava quase impossível andar. Mas aquele não era um momento para pensar nas dificuldades.
Aqueles três cruzavam o oceano branco composto de gelo. Causaria medo até em pessoas experiente. Mas isso não era algo para se ter naquela situação. Um dos seus estava com sérios problemas.
Gustavo e Thror acompanhavam a ladina. Ela nunca se colocou na posição de líder, mas não seria o melhor momento para isso. Mais de cinco meses se passaram desde que começaram a viver como companheiros. Gor era o líder no começo, mas mesmo Halphy notou que o soldado inglês não servia como líder. Mas o jovem de cabelo de fogo se mostrou um líder destemido nos momentos de dificuldades. Isso foi mais claro com o ataque na torre de Azerov tomando as rédeas da situação. Ele sabia ser mais capaz do que o mago, mas era melhor o peso da liderança dos Dragões da Justiça nas costas dele do que nela. O que deveria fazer? O que qualquer um faria no seu lugar? O que ele faria no seu lugar?
-Halphy! – gritou Thror.
-O que foi?
-Como vamos atacar aquele homem? Que estratégia fará?
-Eu ainda não sei! Mas imagino quem seja! – falou a garota apressadamente.
-Quem seria? – perguntou Gustavo.
-Augustus! O especialista em assassinatos! Já estudei métodos para matar e combinam com o de um famoso homem que aprendeu sobre esse tipo de arte com orientais!
-Mas espere um pouco... – falou desorientado o paladino – Quer dizer que os membros do Tigre Demoníaco já estão de olho em nós? Isso é um absurdo!
-E o que isso tem de tão importante? Não importa - falou isso a ladina alterando o tom de voz mais ainda – o Lacktum esta sofrendo inconsciente naquela maldita caverna! E o único método de tratar veneno de quimera é uma pétala de lótus[3]! Só através disso vamos recuperar ele! Então, ou agimos agora, ou perdemos!
Quando Halphy iria voltar a caminhar, foi impedida por Gustavo, que segurou em seu ombro.
-O que foi agora?
-Nós vamos salvar eles?
Halphy se manteve firme. Uma mulher era quase sempre consolada em um caso desses, mas não era isso que ela queria. Odiava que a tratassem como uma garota fraca, mas ela sabia que era natural tal atitude, vindo de homens. Era o momento de Halphy mostrar o que era líder.

-Onde... Estamos?
Lacktum falava isso, enquanto acordava. Ao seu redor estavam Valente, Furta-Trufas, Fiel e Alexander, todos quietos. O suricate chorava pelo mago. Isso era notável.
-Em uma caverna a leste de onde fomos atacados – respondeu Alexander.
-Onde estão os outros?
-Arctus e Seton estão na saída da caverna, vigiando. Thror, Gustavo e Halphy foram atrás do assassino. Ele talvez possua a cura para o veneno que esta em seu corpo. Rufgar esta com Seton.
-Veneno? – o mago se ajeitou, mesmo com a dor que sentia no corpo. O corpo ardia. E quando o ponto onde havia sido atacado tocava a parede da caverna, ardia mais ainda.
-E... Mas onde estão meus itens?
-Halphy os levou.
-Como? Maldita ladina!
-Isso ela fez para te salvar – gritou Valente irritado com a atitude do arcano.
-Calma... Calma – falava Furta-Trufas para tentar acalmar o companheiro animal.
-Halphy pensou que, já que o inimigo quer os itens, valeria mais a pena perder a máscara que os outros itens – Alexander disse.
-Verdade – consentiu o mago – isso bem o jeito dela de pensar. E bem certo confesso.
-Também é o seu jeito.
-É... Isso é verdade...
-Me diga – começou Alexander, alterando o tom da conversa – você esta triste o tempo todo. Qual o motivo disso?
Foi então que Lacktum notou que as memórias de seu triste passado ainda o marcavam. As imagens de seu pai, mãe, irmã e sua noiva sumiam em sua mente. Assim também ocorria com o que se lembrava de Azerov. As pessoas surgiam e sumiam em sua vida. E o pobre Federick, que lhe surgia como um fantasma devido ao seu irmão. Ele comentou tudo aos amigos animais.
Alexander se compadeceu do sofrimento do mago. Mas falou:
-Você agora lidera um grupo de companheiros leais. Aliados que estão dispostos a arriscar suas vidas pela sua. O veneno não é só proveniente de serpente ou criaturas das trevas. Ele vem também das trevas que surgem no coração. Corroem a alma e o espírito. Esse veneno nós causa tanto frio que sentimos nos tornando outras pessoas. Pois, um veneno altera tudo que há por dentro, sendo forte ou fraco fisicamente. E nem mesmo um arcano com tamanha inteligência como você pode sobreviver contra esse veneno. Só quando seu coração se livrar do mal que reside nele... Haverá uma pequena chance de redenção. Pois a vingança não trará seus entes e amigos queridos de volta. Só fará com que perca o pouco que lhe resta de bom em sua vida. Matar por matar é matar. Matar para proteger algo ou alguém, é algo de valor verdadeiro.
-É fácil falar! – se revoltou Lacktum – Não foram vocês que perderam aqueles que amavam!
-E isso lhe concede algum direito divino? Algum poder digno do deus da vingança? E nunca se esqueça: sempre se pode perder mais! Um coração com uma ferida não é algo incomum. Mas se o seu coração se encher de trevas, causará desgraça aos que estão ao seu redor.
O jovem virou seu rosto. Com a dor, parecia que dormiu rapidamente. Alexander pegou uma coberta e cobriu o arcano, como o bom cão que era.
-O que acha Alexande? – perguntou Fiel, em cima de uma pedra.
Valente se aninhou ao lado do mago. Furta-Trufas chorava com medo da sina de seu amigo.
-Eu não sei Fiel... Eu não sei.

-Vejam! Falta pouco até o morro.
Thror gritava isso como um cão que encontra a caça para seu dono. Havia uma parte no morro que subia em uma espécie de ladeira natural. Pelo que se notava era o único lugar onde haveria alguém naquele frio todo. Deveria ser ali que se escondia o maldito homem.
Halphy já ouviu falar sobre os assassinos. Os homens das terras escaldantes do Oriente. O temor aumentava no coração dela. Por isso, ela criou um plano: ela apareceria na frente do encapuzado, sozinha. Assim, o fazendoele acreditar que o grupo deixou à ladina ir sozinha até o lugar marcado. Era quase certeza que outro ponto de acesso existia naquele lugar. Podendo fazer uma emboscada ao inimigo. Ela sabia que isso era pouco provável, mas tinham que tentar.
O paladino e o guerreiro começaram a contornar o lugar. Enquanto isso, a ladina se tornou a isca para seu próprio plano.
Era necessário se manter calmo. O assassino não deveria suspeitar, nem um pouco, sobre as ações dela. A vida de Lacktum dependia disso. Demorou um para conseguir conceder tempo aos seus amigos.
Quando viu o homem ele estava em uma parte da ladeira do lugar. Estava sem capuz, mostrando a pele morena com um par de olhos azuis. Ele portava outra arma. Uma espada, mas pelo que Halphy notava, ela não parecia estar envenenada como a outra. Mas todo o perigo poderia estar escondido em pequenas coisas.
Ele começou:
-Halphy Brown.
-Augustus, não é?
-Há! Minha fama me precede.
-Não muito, mas sei o suficiente para distinguir um ladrão de um assassino.
Eles não se aproximaram o bastante para um golpe de suas respectivas lâminas, mas não estavam tão longe que não pudessem notar suas ações. Augustus sorriu e falou:
-Sim. Estou aqui para obter os itens. E deve estar com, no mínimo, a máscara.
-Item pequeno. Fácil de colocar na mochila. Óbvio.
-Bem óbvio.
-Mas o que mais quer?
-Como? – falou sarcasticamente Augustus.
-Usar uma arma com veneno em Lacktum. Falar para se encontrar com você, criando a idéia que possui uma cura para o veneno de quimera. Se você estava só querendo um dos itens, por qual motivo não o matou logo? O que você quer, tem relação com o ruivo. E quero que me diga agora.
Foi então que o assassino se mostrou surpreso. Ele superestimou a garota. Deveria ter obtido mais dados sobre ela. Apesar de que tinha ordens expressas de não se atrever a mexer um fio de cabelo de Halphy.
-Você é muito perspicaz menina... Para uma fealith. Mas existe uma falha em seus planos.
-Como?
-Não pense que me engana garota. E fale para seus amigos tentarem fazer menos barulho.
Nesse momento, Thror deveria estar acreditando que não criava nenhum barulho com sua enorme coleção de armas e sua armadura. Além de que, sua vantagem do terreno não era mais tão ampla devido ao assassino ter descoberto sua presença. Estavam, ele e Gustavo no alto da formação.
-Já ouviu falar em ser discreto? – falou baixo o guerreiro sagrado.
-O que é isso? – ficou realmente curioso o grego.
-Agora imagino como meu irmão foi morto! Por Deus!
Mesmo estando em minoria, Augustus não demonstrava estar em situação desfavorável. Ele sabia que os mais precipitados estavam entre os guerreiros. Ou seja, os mais descuidados.
Enquanto pensava isso, Halphy sacou sua besta disparando o conteúdo da arma contra o estranho. O virote passou próximo do pescoço, quase o ferindo mortalmente. Mas não foi o bastante.
Ele aproveitou esse ataque e sumiu em pleno ar.
Agora os Dragões estavam em perigo.

Não era magia. Halphy tinha noção disso através de seus dons arcanos, o que necessitaria de componentes verbais e gestuais. Aquilo era um truque avançado, prestidigitação, não a Arte.
Ela tinha que se preparar para o ataque iminente do inimigo. O assassino Augustus deveria manter a si mesmo nas sombras para conseguir continuar com o truque. De onde partiria o golpe era uma incógnita. Mas nem tanto se ela estivesse certa. O inimigo talvez não a atacasse, pois ladrões e assassino usavam habilidades parecidas que poderiam anular um ao outro, e naquela conversa ela conseguiu o deixar confusa sobre si. Mas o caso de Thror e Gustavo era diferente. O alvo mais provável era o grego que não possuía grande poder defensivo. Ela mesma acharia mais fácil eliminar ele primeiro.
-Thror, fuja! – ela gritou.
Mas era tarde. Do mesmo modo que sumiu, ele surgiu ao lado de Gustavo, o atingindo em um ponto preciso de seu corpo. O que fez com que o paladino ficasse completamente paralisado. Deixando Thror completamente desguarnecido. A meio elfa não pensou nisso.
Augustus rapidamente conseguiu render o grego, segurando seu corpo com uma mão e com a outra encostava a arma no pescoço do mesmo. Thror pensou em usar a força para se soltar do assassino. Só que era difícil na atual situação.
-Se você mexer qualquer parte de seu corpo – falou o assassino Augustus – eu não mato só você cicatriz, como levo o seu amiguinho parado aqui do lado! Agora quieto.
-Ora seu...
-Thror, não se mexa! – implorou Halphy. Ao ouvir isso, ele aquietou como uma estátua.
Gustavo estava parado como em uma posição de defesa. Quando o golpe paralisante o afetou, fez com que o paladino ficasse assim. A dor tinha sido tremenda, mas se sentia inútil naquela situação e por ter caído nela.
Augustus então guardou a arma que usava para pegar entre seus pertences, um pequeno saco que exalava um perfume adocicado. Thror se lembra do cheiro, não sabia de onde, mas era conhecido.
Ele então jogou o pequeno item aos pés de Halphy. Essa constatou imediatamente que se tratava de uma pétala da flor rara. Memórias voltaram para a meio elfa. Mas as ignorou.
-Agora imagino parte do que seja tudo isso! Kalic Benton II não quer matar nem a mim, nem a Lacktum. Já suspeito do motivo. Mas mesmo assim – olhou Halphy para o pequeno saco – muito grato Augustus.
-Esta bem. Bem então... – quando o inimigo iria se despedir surgiu um raio de energia do nada. Do lugar que ficava entre Halphy e Augustus surgiu uma forma que começou como transparente, mas foi tomando uma forma mais definida e concreta. Era Lacktum, que não conseguiu atingir Augustus.
-Lacktum! – gritaram os dois colegas quase ao mesmo tempo.
-Muito bem Van Kristen – falou novamente de forma sarcástica o assassino – Mas falta muito para me pegar com um truque dessa categoria. Adeus, donzela Brown.
Nesse instante, sumiu novamente largando Thror que caiu no chão enquanto tentava sacar sua espada. Tudo em vão. O assassino sozinho conseguiu vencer sozinho, os Dragões da Justiça. Não era momento para se manter pensando nisso de qualquer forma. Lacktum que estava com o braço estendido devido a magia, caiu ao chão, quase morto. O veneno fazia efeito.

Halphy chegou ao corpo frágil e febril do arcano. Ele parecia tão quente quanto uma fogueira. Ele balbuciava e espumava pela boca. Era horrível.
Com certeza, Lacktum aproveitou uma distração de todos na caverna para nublar a visão de seu corpo, pensou a jovem. Mas não era hora para refletir sobre isso. Ajoelhou-se rapidamente.
Colocou a pétala de lótus na boca do mago. Forçou a boca do mesmo para mastigar. Ele mal tinha força para isso.
-Vamos cabeça de fogo! Fique vivo! Anda!
Nenhuma reação.
Thror levou Gustavo até próximo dos amigos. O corpo do paladino continuava adormecido, mas começava a sentir mobilidade em seus membros. Pelo menos estava melhor que Lacktum
Continuava sem nenhuma reação.
Halphy colocou a mão no chão em desespero. Ela tremeu quase chorando, assim como os outros. Foi quando ela sentiu algumas batidas afetuosas na cabeça e uma voz fraca, mas sarcástica dizendo:
-Você fez o que pode Brown...
Ela levantou a cabeça como um gato.
-Lacktum! Seu louco! – respondeu à jovem quando notou que quem falava era o arcano petulante.
Os dois guerreiros sorriam, enquanto a jovem Halphy o abraçava com força. Ela não chorou, mas pouco não o fez. Não era por ser mulher, mas acabou se afeiçoando aquele romântico vingativo.
-Ai! Me solta Halphy! Eu ainda estou ferido esqueceu? – começou a rir enquanto falava isso.



[1] Um símbolo geométrico que consiste em uma estrela de cinco pontas com traçado contínuo. É o símbolo chave dos magos e sacerdotes de origem celta.
[2] O veneno da quimera é duas vezes mais potente que qualquer elixir, mineral ou veneno proveniente direto da natureza.
[3] A lôtus teria várias propriedades como anular completamente venenos, recuperar mana e até mesmo curar corpos.