sexta-feira, 7 de junho de 2013

(EXTRA) Arquivo Sombrio - Introdução e Capítulo 1 - O tiro nas sombras (Parte 1)

Para compensar o fato que não estou escrevendo o livro Contos do Tempo Perdido, irei publicar uma vez por mês, o livro Arquivo Sombrio. Nele, trato do estudante de história, Carlos Eduardo. Ele se vê envolvido com uma série de mortes na cidade de Guarulhos, devido a fatos que envolvem seu pai e fotos comprometedoras da época da ditadura. Mas no fim, Carlos descobrirá que ele esta mais envolvido com coisas bem mais pesadas do que os Anos de Chumbo...

Introdução
            Há um ano comecei a escrever essas linhas para talvez ficar um pouco mais calmo depois de tudo que eu passei em 2006. Isso acontecia, pois nunca imaginei no que acarretaria estudar historia. Sempre gostei de estudar essa matéria pelo que me lembro. Acho que isso se deva ao fato de sempre ter gostado das historias relacionadas às cruzadas, sobretudo quando se tratada sobre os templários. Mas começo a me perguntar se não deveria ter feito outro curso qualquer com menos perigos. Sei lá... Talvez administração ou letras que são cursos mais chatos.
            Mas antes de falar sobre os fatos devo salientar duas coisas: quem sou eu e alguns fatos históricos que me envolveram nesse ano.
            Bem, meu nome é Carlos Eduardo Oliveira. Sou um dos filhos de dona Sandra Souza, atualmente dona de casa. Meu irmão mais novo se chama Claudio e é um verdadeiro idiota, mas não nos fixemos nele. Meu pai morreu há muito tempo atrás. Possuo três tios: Roberto, Conceição e Benedita. Tenho só três primos de primeiro grau devido ao meu tio Roberto e a mulher dele, Aparecida. Os nomes são Robson, Ramon e João Paulo. Atualmente estudo na UnG, fazendo curso de história e trabalho a tarde como operador de maquina de xerox. Chique não é?
            Gosto de comer todo tipo de massas e comidas japonesas, especialmente apimentadas. Odeio verduras. Tenho como hobbys tocar bateria, ficar mexendo em meu computador e escutar rock. Se bem que também tenho uma guitarra, mas a toco mais para descontrair.
            Os fatos importantes até agora são que eu sou um estudante de historia e a morte de meu pai. Sempre fui um ótimo estudante de historia, mas nunca o mais brilhante. É que sempre gostei das historias da Idade Média. Sabe, historia de cavaleiros errantes que lutavam contra exércitos. Coisa de garoto mesmo. Tudo bem que aqui no Brasil os garotos só pensam em futebol, mas eu pensava nisso. História.
            Meu pai já é um caso diferente: com oito anos de idade meu pai havia morrido. Foi o máximo que minha mãe falou sobre ele. Nunca soube nenhum dado sobre a vida dele, além do que consta no meu sobrenome. Família paterna, vida fora de casa, nada. Mesmo assim nunca gostei dele. Nunca estava em casa para ajudar minha mãe, então eu aprendi a trabalhar desde cedo. Havia vezes em que chegava bêbado da rua. E espancava qualquer um que estivesse na sua frente. Qualquer um mesmo. Sempre o odiei. Bem qual filho não odeia um de seus pais?
            De qualquer modo, eu sei que os meus problemas esse ano começaram por conta dele e da ditadura militar.
            Ai esta o outro fato que ferrou minha vida. Como um estudante de história estudo vários períodos da historia nacional e internacional, e devo confessar que um dos mais importantes são os chamados, anos de chumbo. Um período conturbado que pega de 1965 a 1985 na historia do nosso país. Ironicamente nasci em 1985. Pouco depois que ela acabou.
            O ano era 1964. O até então presidente, Jango, se recusou a tentar enfrentar uma resistência armada ao movimento militar que começou um golpe de Estado. No começo, se dizia que seria uma intervenção passageira devida “aos desmandos provocados pela infiltração esquerdistas no país”. As Forças Armadas teriam uma função patriarcal quase. Os tolos jornais da época saudavam isso como uma vitoria do movimento democrático, acreditando que quando tudo estivesse bem haveria votação e um presidente seria escolhido. Bobinhos...
            Havia muitas coisas para serem feitas, entre elas – principalmente - reorganizar o país. O Brasil necessitava de um Poder Executivo forte, além de formar um novo governo a partir das alianças da UDN e PSD, das lideranças militares e dos diversos empresariados.
            Mas houve então em 09 de Abril de 1964, o Comando Supremo da Revolução, uma junta militar que assumiu de fato o poder do país, promulgou um conjunto de regras políticas denominadas Ato Institucional número 1, mais conhecido como AI-1. Esse Ato fortalecia o Poder Executivo e concedia ao presidente poderes para suspender direitos políticos, cassar mandatos e exonerar funcionários públicos.
            Antecipando a Constituição, que previa eleições pelo Congresso Nacional 30 dias após a declaração de vacância dos cargos de presidente e vice-presidente, foram escolhidos o general Humberto de Alencar Castelo Branco como presidente, e o político do PSD mineiro, José Maria Alkmin como seu vice.
            Deveria haver eleições em Outubro de 1965, sendo que entre alguns dos principais candidatos a eleição estava o ex-presidente Juscelino Kubitschek. Porém, pressões dos udenistas levaram o governo a o incluir na lista de cassações políticas, acusado de corrupção em Junho de 1964.
            Um mês depois foi aprovada uma emenda constitucional que adiando a eleição para 1966 e que prorrogava o mandato de Castelo até 1967. Era a institucionalização do Regime Militar.
            Esse período trouxe varias mudanças no cenário social, cultural e especialmente político de onde vivemos. Houve repressão: foi criado o DOPS (Departamento de Ordem Política e Social) e outras coisas que pareciam vir direto da “Segunda Guerra Mundial”, mídias como jornais e rádios tinham que tomar cuidado para não falar nada contra o regime, um milagre financeiro que foi seguido de uma crise, repressão aos estudantes e professores de faculdades que eram sempre declarados como subversivos. Isso sem contar com as outras ditaduras militares que ocorriam nos países latino-americanos como a Guatemala, Chile, Argentina e Peru.
            Era uma verdadeira Era das Trevas, onde algumas pessoas perderam filhos, pais, irmãos, sobrinhos, netos e amigos... E que nunca tiveram a chance de enterrar seus entes queridos. Mas o que sempre me deixou mais revoltado é que em vários dos países em que ocorreram essas ditaduras houve a punição dos responsáveis por esses massacres. No nosso, alguns ainda estão no poder.
             E qual o motivo disso? Bem, digamos simplesmente que os relatos a seguir tratam sobre revelações incríveis sobre o período dos Anos de Chumbo e mais ainda, sobre meu pai.

                        Capítulo 1 – O tiro nas sombras
            Voltei de mais um dia de trabalho escravo na Casa de Xerox do Dennis. E quando digo escravo, não estou me referindo aos escravos da antiguidade entre os egípcios ou gregos mais bem tratados, mas estou me referindo aos que existiram aqui antes da abolição da escravidão. Era um saco, ao quais os únicos que me faziam companhia eram as máquinas e o “Imperador das Máquinas Sith do Mal” Dennis. Um apelido carinhoso que estava acostumado a falara para ele. Ele nunca entendeu isso. Agora sei por que Little Richards falava “wobombiluba biloubombum”.
            Em casa temos um portão tão grande que deixaria qualquer ladrão com medo de ultrapassar. Sou o único que possui um emprego, já que minha mãe vivia doente. Meu irmão? Que bom seria se ele tivesse emprego, mas assim como Deus não deu asas às cobras, ele não deu força de vontade para o Claudio procurar um serviço. Ainda penso que cobras merecem mais as asas do que o meu irmão dinheiro.
            Abri o portão e logo em seguida – pois não vi o que havia ali - cai em um monte de caixas de papelão que antes recheavam um dos quartos ao fundo da nossa casa. Depois de me recuperar da queda, ainda deitado gritei a plenos pulmões quem era o causador daquela zona. Já imaginava que só poderia ter sido uma pessoa.
            Claudio mostrou a cabeça pela janela e então começou a rir da situação em que me viu. Logo em seguida soltou:
            -O que foi Du? Cansou-se de dormir no nosso quarto e agora vai dormir no quintal mesmo?
            Como não tínhamos muito dinheiro, meu irmão e eu dividíamos um quarto. Pelo menos não dormíamos em um beliche.
            -O seu otário, a mãe nunca te falou que não era pra mexer nessas coisas?
            -Mas foi à mãe mesmo quem disse para retirar essas coisas lá do quarto babaca.
            Foi então que levantei, e calmamente, soltei palavras comuns a qualquer moço que estivesse nervoso com a situação:
            -Oh mãe! Que merda é essa que o Claudio tá falando aqui?
            E fui entrando na cozinha, onde minha mãe era soberana. Estranho como mães tem uma força maior dentro da cozinha. Já repararam. Ela me olhou com seus olhos cheios de inconformismo querendo que me retratasse de lago que nem eu sabia.
            -Quem te ensinou a falar isso mocinho? Eu que não fui! Ficar falando essas coisas feias.
            -Ah ta. Não quer que eu fale merda?
            -Isso mesmo.
            -Tá legal. Que porra é essa que o Claudio falou? A senhora vai jogar aquelas coisas fora?
             Ela olhou mais nervosa do que inconformada com o fato de eu estar perguntando sobre as caixas. Enfim, depois de suspirar, pois sabia que perderia em uma conversa contra mim ela começou a cortar uma carne para o jantar.
            -Estou me livrando daquelas coisas para arranjar um quarto para um de vocês dois. Pensei que ficaria contente.
            -O atual quarto é meu! – soltou rapidamente da sala o enxerido do meu irmão.
            -Que se dane! – soltei em retribuição, e continuei a conversa com minha mãe – Mãe lá pode ter coisas importantes pra gente e relacionadas ao... Você sabe quem.
            -Nunca demonstrou interesse sobre algo relacionado ao seu pai meu querido? Por que agora?
             -Não é interesse. Só que pode haver documentos importantes e outras coisas de valor lá dentro. Pretende levar aquilo pra onde.
            -Nenhum lugar. Vão é pro lixo meu filho.
            -Lixo? Deixa eu olhar o que tem primeiro.
            -Filho... Eu não quero que você olhe...
            Nessa hora, peguei as mãos dela e olhei fundo nos olhos.
            -Eu sei que não sou o melhor filho do mundo, mas mereço saber um pouco sobre o pai. Mesmo que seja para ter mais raiva dele ou não. Eu sempre respeitei a senhora e nunca mexi naquelas caixas. Já o Claudio...
            -Eu tô ouvindo seu veado! – disse o infeliz outro filho de minha mãe.
            Minha mãe me olhou de um jeito meigo, como quando sabe que estou certo de algo. Colocou a mão sobre minha cabeça, com dificuldade, já que sou visivelmente mais alto fazendo um carinho que só ela poderia fazer.
            -Tudo bem filho. Mas faça isso hoje à noite, pois amanhã é dia do lixo passar aqui, ouviu?
            -Sim.
            Após ouvir minha resposta, ela deu de costas para mexer em outras coisas para o jantar. Não queria saber sobre meu pai, mas poderia ter uma família que nunca conheci por conta das atitudes inconseqüentes de meu pai. Além disso, realmente poderia haver dados importantes e documentos ali nas caixas.
            -É mano – falou meu irmão, que surgiu feito um fantasma das minhas costas – acho que você conseguiu chatear a mamãe. Coisa feia
            -Ah cala a boca seu otário – falado isso, dei um tapa em sua cabeça.
...
            Enquanto isso, fora da USP, um homem corria. Os relatos das câmeras mostravam um, sobretudo esfarrapado. Ele carregava consigo um monte de livros e papeis e parecia estar fugindo de algo ou alguém. Os que olhavam na rua achavam se tratar de um bêbado, afinal, cara ele tinha. Mas seu jeito mostrava ser um professor de faculdade. Talvez um professor bêbado.
            As câmeras que registraram esses fatos foram das lojas de carros próximas. Já que eram carros, a maioria pelo menos de marcas internacionais. E convenhamos: a USP não esta nem um pouco preocupada com a segurança de seus alunos.
            Mal sabia eu que minha vida cruzaria com a dele. Não necessariamente vivo.
...
            Subi para a UnG pois estava quase atrasado para aula. Quando disse quase, quis disser, completamente. Cheguei ao final da primeira aula. Engraçado ser uma pessoa que mora próximo da universidade, mas que sempre me atraso por uma coisa ou outra.
            Talvez eu devesse cortar meu cabelo como minha mãe pediu dias atrás. Uso cabelos que mais parecem à juba de um leão de tão grande. De longe pareço o Dave Mustaine. Já de perto pareço um headbanger qualquer. Mas tenho estilo. Adoro Sepultura, então ando pra cima e pra baixo com a camiseta com o símbolo deles. Tenho um rosto comum fora isso. Pelo menos é o que me dizem meus amigos.
            Uso tênis de marcas simples. Nada extravagante. Tipo um Neebok. Cópias piratas? Com certeza. Mas às vezes são mais confortáveis do que os originais. O que me ajuda a subir o morro.
            Terminada a primeira aula saímos para o intervalo. Não havia muitas pessoas com quem conversar a não ser Gabriela, Douglas e Joseane. Eles eram meus amigos desde o começo do curso. Talvez porque muitos nos viam como estranhos nos padrões da maioria, o que eu sinceramente odiava. Gabriela usava uma cadeira de rodas, não uma melancia no pescoço. Algumas pessoas pensam que um cadeirante é sem pernas. Douglas era diferente. Era mais novo do que eu, mesmo assim tinha uma mente mais aberta e era um líder nato. Bem diferente do que eu jamais seria. Por ultimo, havia a Josiane, que só por seu modo de vestir as pessoas a comparavam com uma gótica. Bando de idiotas que não tem muita idéia do que seja uma pessoa com visual próprio. Éramos um grupo único na UnG.
            Foi quando sai por ultimo, pois peguei as coisas do dia com um colega meu, que eu cheguei ao refeitório para ver uma cena única. Estava a Gabriela tomando Mupy, o Douglas terminando um livro e a Joseane vendo mensagens do namorado no celular. Todos sentados ao redor de uma das mesas do lugar. A cena seria até comum, se não fosse à amiga deles. Lá estava a Cibila, a bruxa.
            Nunca entendi muitas coisas sobre magia, já que toda a minha vida foi extremamente cética. Ela sempre me olha como se quisesse atravessar minha alma. E pelo que sei, ela segue uma linha de magia que lida com a previsão do futuro. Posso não acreditar nisso, mas eu tenho medo dela. Oh se tenho.
            O pessoal me pediu pra sentar. A Joseane largou o celular e partiu para me abraçar loucamente como só ela poderia fazer.
            -Josi... – apelido que arranjei pra ela – larga meu pescoço... Tá me enforcando...
            -Ah tá bem Du! – respondeu ela voltando ao lugar – Du a Cibila viu meu futuro!
            -Ah viu é? – olhei para Cibila. Não sei por que, mas acho que até devia saber a previsão. Sempre é, “tome cuidado com isso”, mas “sua vida vai ser repleta de felicidade”.
            -Você deveria ver seu futuro Carlos – falou Douglas com os olhos por sobre o livro. Ele estava lendo O Príncipe de Maquiavel – Pelo menos pior não pode ficar.
            Eu olhei para ele com ódio. Não de verdade, pois era um ótimo amigo, mas daquele modo que só amigos podiam olhar para outro.
            -Já que é assim faça você primeiro isso Douglas... Nada contra Cibila, mas não acredito nisso. Sem querer ofender – respondi me achando o sábio.
            -Não ofendeu – novamente os olhos dela me dissecavam. Eu pensei que talvez ela estivesse afim de mim, mas logo descartei essa idéia.
            -Já viu o meu – Doug respondeu enquanto colocava o livro na mesa – Descemos mais cedo, pois a aula do Everaldo tava chata.
            Então, Gabriela soltou a frase que eu nunca queria ter ouvido:
            -O que foi Carlos? Tá com medo.
            Até hoje me arrependo de não ter tapado os ouvidos. Muita gente chega pra mim dizendo que era o destino. Que eu tinha que escutar aquelas palavras. Mas a verdade é que eu nunca queria saber de ter escutado aquilo que Cibila dizia ser o futuro. Isso se deve ao fato ela falou no final da previsão, coincidentemente, ter realmente ocorrido. Eu sempre achei essas bruxas como charlatãs. Se tiverem como ver o futuro por que não ficam milionárias? Bem, de um jeito ou de outro respondi:
            -Tá legal! Tá legal! Olha logo essa mão pro povo parar de me encher...
   ...
            A polícia disse que o tal homem teria se aproximado de minha casa e encontrado um rapaz que pichava uma parede. Não havia câmeras no local. Então a única coisa que sabiam com certeza era o que garoto havia contado sobre o fato.
            Estaria pichando atrás de um mercado, quando esse homem chegou – todo desengonçado - para ele e falando que pagaria duzentos reais se entregasse para ele o spray. Qualquer um faria isso. O que havia incomodado o jovem era que logo em seguida o homem pediu que ele corresse o mais rápido possível.
            Tudo nesse caso era estranho: o senhor então começou a pichar a parede do mercado, com algo que o jovem não sabia o que estava escrito. Quando já estava na esquina, o tal homem teria jogado vários pacotes de lixo para cobrir a parede.
            Notava que com o homem, havia vários documentos. Parecia um professor de universidade ou no mínimo trabalhava para um escritório.
            O garoto no final não se afastou tanto e ficou pensando se deveria voltar. Era estranho, mas pensou que o senhor estava sendo seguido. Quando então chegou a pensar realmente voltar para lá, era tarde demais. Aquele senhor estava morto com certeza. Um tiro no peito.
...
            -Hum, interessante.
            -É? – disse eu sendo sarcástico – Enquanto ela olhava a palma de minha mão.
            -Carlos, quieto! – exigiu Joseane.
            -Esta bem! – respondi. Porém, continuei – O que esta vendo ai?
            -A dor de uma separação recente.
            -Ela é boa não é? – disse Josi com um sorriso. Eu retribuo para ela com uma cara de tédio.
            -A Carla me dispensou recentemente. Todo mundo aqui da faculdade sabe.
            -Ah para Du... – disse Gabriela tentando proteger a vidente Cibila.
            -Ela terminou no refeitório ali de baixo! Na frente da UnG inteira! Até os professores sabem disso.
            -Não é pra tanto... – disse Doug tentando contornar.
            -O professor Carlos tava me consolando! Eu entrei em fossa por um mês!
            Cibila exigiu silêncio. Ela ainda tentava ver o futuro através de minhas mãos. Eu tava estranhamente achando que ela queria fazer carinho. Aprendi desde cedo que mulher nenhuma tinha interesse por mim. Esforços eu fazia para me tornar interessante. Cortei até mesmo meu cabelo, mas parecia que não agradava em nenhuma área. Vai se entender isso. Por isso teorizei: todo o homem é burro, toda a mulher é louca! Essa era minha máxima para explicar meu estado de solteiro perpetuo.
            Por fim, depois de alguns acertos e erros, Cibila disse:
            -Alguém do passado vai surgir para você essa noite.
            -Alguém do meu passado? Quem? Meus tios de Itaim? Eles são legais.
            -Não do seu – disse ela, agora com olhos preocupados, assim como a voz – Do seu pai.
            Fiquei realmente bravo. Não gostava do meu pai mas colocar meu pai no meio era jogo sujo.
            -Olha meu pai...
            -Eu sei que ele esta morto. Vi nas linhas de seu passado.  Mas é alguém que não sabe disso. Que não poderia saber disso. Pois ele traz consigo um peso muito grande. Vejo grilhões.
            -Grilhões? – soltou Douglas.
            -E flashs. Como se fossem danças profanas. Danças do demônio.
            -Tudo isso você vê na minha mão? – começava a achar que minha mão deveria ser uma verdadeira televisão pra ela ver tudo aquilo. Direi a mão rapidamente.
            -Qual o motivo de estar tão nervoso comigo? – ela perguntou.
            -O pai dele morreu em 1993 – falou Douglas em resposta.
            Fui saindo. Levantei-me em um rompante de raiva. Putz, o pessoal sabia que não gostava dessas coisas de magia e vidência. Mas não, eles tinham que insistir com aquilo. O pessoal começou a pedir desculpas
            Cibila ainda queria falar comigo, o que o próprio Douglas impediu. Mesmo assim ela tentava falar comigo.
            -Vai. Pode a deixar falar... – pensei eu. Pior não poderia ficar.
            -Só me faça um favor. Tome cuidado com a palavra Aran.
            Eu não entendi o que aquilo significava, mas senti verdade nas palavras dela. Mesmo assim, subi pra sala. Pedi que o pessoal ficasse, pois não queria ser atrapalhado por ninguém. Iria pensar um pouco.
            Imaginava até que poderia ser verdade o que ela falou. Pois sempre quis conhecer minha família paterna.
            -Isso é besteira – disse isso sozinho enquanto olhava pela janela do segundo andar do prédio de história, para o Shopping Internacional de Guarulhos.
...

            Voltava da aula, após os acontecimentos maravilhosos do refeitório – para quem não sabe isso foi sarcasmo. De qualquer modo passei por um lugar onde havia uma grande movimentação de curiosos. Com certeza se devia a alguma morte, desova de corpo, estupro, acidente de moto ou – no melhor dos casos – roubo. Mas como era atrás do mercado tinha certeza que só poderia se tratar de morte. Lá já foi morta uma porrada de gente. Bem, nem quis saber e fui direto para casa.