sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

(Parte 9) Capítulo Dois: A pequena mostra de paz



Após um longo período de viagem, cruzando as áreas próximas o litoral grego e passando por lugares onde antes se encontravam as polis, os companheiros se uniam cada vez mais, como se a beleza daqueles lugares os trouxesse só bons sentimentos. Esquecendo os problemas recentes e que teriam no futuro, assim como os fantasmas do passado. E até mesmo aqueles que sentiam um vazio em sua vida, não se lembrando de toda ela, pareciam não se importar com isso mais. Parecia que os deuses sorriam para eles desde que saíram da vila onde encontraram o primeiro dos itens. E finalmente estavam no litoral próximo das antigas terras de Esparta. Lá encontraram finalmente a torre de Azerov, um pouco afastada da vila.
A torre formada por firmes tijolos de alguma pedra vulcânica parecia cobrir outro tipo de construção velha e antiquada para eles na época. Talvez, o exercito espartano que enfrentou Xerxes, tivesse passado por ali, mas nunca saberiam com certeza. Só a imaginação deles poderia crer sobre tal fato. O portão da torre era feito de madeira negra, firme e rígida. Como se entrassem em um novo mundo, o que não deixava de ser verdade.
Dentro da construção, logo quando se entrava, era possível notar uma vasta extensa biblioteca. Havia livros de tanto tipos, titulo e capas que fizeram Lacktum, Hugo e Halphy se sentirem bobos em comparação ao conhecimento que tinham. Aqueles livros, com certeza, continham em alguns, conhecimentos de séculos atrás. Para se dizer o mínimo.
Havia dois andares acima da biblioteca, ao qual entraram que eram acessados através de uma escada em espiral. Isso graças ao formato circular que havia dentro e fora da torre.
No centro da torre, havia uma mesa bem trabalhada, também de madeira negra. Em uma cadeira, bem acolchoada, sentava um home idoso, com barba branca e olhar jovial apesar da idade. Ele os encarava, como se visse velhos amigos, com um sorriso todo para a direita. Havia varias cadeiras as quais o mago posicionou próxima da mesa.
Madelyne – a moça encapuzada com panos que os havia contatado antes – mostrava a casa aos jovens, mostrando submissão ao velho homem no centro da biblioteca.
-Ora, - disse o homem que parecia ser um mago – bem vindos jovens aventureiros.
-Obrigado – Começou Lacktum – Azerov. Obrigado por nos acomodar. Viemos...
-Esperem! – cortou o idoso – Se sentem. Desculpe minha falta de educação. Devem ter fome e sede também. Madelyne! Traga algo bom para esses jovens.
-Muito grata, - disse Halphy reverenciando o mago – mas, por favor, poderia nos disser quem é? Exatamente entende.
-Muito sábia, - falou Azerov rindo – deve ser a jovem meio elfa das terras do rei Luís e deve ser da família Brown, não é?
-Exato.
-Os dois fortemente armados e protegidos devem ser Thror e Federick, não é? Lacktum deve ser o rapaz mascarado, acredito... Como não carrega livros, mas possui uma aura mágica [1]já notei entre vocês quem é o feiticeiro.  Ou deveria dizer mais de um? Hugo e Halphy. A família Brown é conhecida por criar os mais excelentes feiticeiros e arcanos de guerra. Mas que eu me lembre só havia um druida.
-Estou quase um mês com eles – soltou o druida novato – Meu nome é Seton.
Todos já haviam se sentado, exceto Lacktum. Mais chato do que o normal, pelo jeito. Ele cruzou os braços, enquanto ouvia a voz irritante do mago, pensava o inglês.
Ele olhou ao redor antes de prosseguir suas idéias. Colocou as mãos sobre a mesa, como se preparasse algo tão difícil de pronunciar, que mesmo sendo velho, sábio e experiente, fosse extremamente custoso encontrar as palavras no fundo de sua mente. Por fim ele as encontrou.
-Meu nome é Azerov Lokias. Sou um mago que se especializou em viagens. Magias de teleporte, transporte através da Arte, coisas assim. Nós nos chamamos como mestres da viagem. Somos graças a isso, grandes comerciantes. Temos muitos contatos, em vários lugares.
Os sete companheiros comiam enquanto escutavam o experiente mago. Este olhava um pouco irritado na direção do guerreiro grego que comia frutas, produzindo e um barulho estranho, bizarro e chato. Lacktum olhou com muita raiva para Thror. Não parecia o simples e obsessivo mago que acompanhara desde Starten. Parecia uma criatura desalmada...
Foi então que Azerov continuou:
-E nesses anos todos, que estive em aventuras, conheci muitas pessoas e aprendi muitas coisas novas. Através de livros e pergaminhos. E com isso fiquei sabendo sobre os mais diversos itens e artefatos poderosos. Mas nenhum objeto teria a mesma importância que dois itens que achei em uma pesquisa – então foi o momento que Azerov mostrou alguns pergaminhos com desenhos únicos – Em uma consulta que fiz ao encontrar esses pergaminhos, eles descobriram um fato único para meus olhos tão cansados. Que esses itens são chamados de Vestes do Desalmado e Pele do Dragão de Platina.
Foi quando todos pararam de comer. Lacktum mesmo com toda a sua arrogância, se sentiu completamente atônito. Thror parou sua tão saborosa comida, só para ver os queixos boquiabertos de seus companheiros. Ele não compreendeu, como de costume, o que estava acontecendo. Até Halphy ficou pasma, e não foi através de nada na Arte.
A única pessoa que não se espantou com as palavras de Azerov, foi Madelyne, que soltava risos contidos, no fundo da sala.
Após o momento de espanto, todos olharam curiosos, o que ele tinha a falar sobre os itens. E então Azerov se levantou em direção a uma das prateleiras da biblioteca. Tirou um livro de capa marrom, bem surrado.
-Mas que pergaminhos seriam esses? – soltou Lacktum tentando tomar o controle da conversa – Fomos até Delfos para sabermos mais sobre os itens. Saber sobre suas histórias...
-Não meu caro, - disse Azerov interrompendo Lacktum – vocês queriam saber a localização de cada um desses artefatos. Não sua história ou criação. Vocês são jovens e não sabem o que realmente querem na vida, nem o que desejam na frente de um modo mais simples de adivinhação. Imagino o que pediriam na frente de um gênio djinn...
-Nesse caso, mestre das viagens, me diga qual o nome do livro que lhe concedeu tanto conhecimento sobre esses fatos? – perguntou Halphy.
-Aqui esta! – mostrando outro livro, esse de capa marrom avermelhada, como resposta a pergunta do jovem mago – Foi escrito por um chamado Murak, servo do grande Kalidor, barão das terras do Lobo negro. Este livro se chama Livro das Vidas Esquecidas. Foi reescrito por monges – falava isso enquanto andava pela biblioteca de modo engraçado – aos quais adoravam o Cristo Deus. E então...
-Você o roubou, - apontou e falou alto Halphy de olhos e ouvidos, bem atentos, para Azerov – não é mesmo?
-Ora, sagaz pequena língua arcana. Sei também dos seus talentos metamágicos adormecidos. Muito esperta, mas tente não adivinhar meus pensamentos.
-Tudo bem, - respondeu Halphy com olhar malicioso – ficarei quietinha agora.
-Bem o tal homem escreveu as historias individuais de cada um dos Imortais naquele tomo, que foi reescrito para o inglês. Sorte minha ser fluente nessa língua. Caso contrário, demoraria bem mais para encontra isso.
E quando ele proferiu essas palavras, jogou na mesa um par de luvas de couro com inscrições arcanas que pareciam conter necromancia em seu interior.
-É o que penso? – soltou Lacktum, quase em um tom apavorado, e ao mesmo tempo, de frenesi.
-Sim essas são as luvas do Desalmado. O mago que se fundiu a suas vestes, se tornando a chave para fechar os Portais do Apocalipse. Mas colocando a mão esquerda sobre os itens – pegar esses artefatos vai acarretar em um futuro, que talvez, você não irá controlar.
-Eu não ligo para o meu futuro, mas sim para o meu destino.
Lacktum então tirou a mão que ficava em cima dos itens aos quais Azerov mantinha sobre as luvas. Halphy até tentou impedir o ruivo inconseqüente, mas já era tarde demais. As luvas já cobriam as mãos do obsessivo mago inglês. E os olhos brilhavam com um fogo diabólico no jovem.
-Você poderia o deter. Por que não o fez? – perguntou Halphy a Azerov.
-Você também não fez feiticeira - falou irritado, mas conformado o velho Azerov – então não em incomode. Garoto tolo... Futuro e destino é praticamente a mesma coisa.

Qual o motivo de Azerov querer ajudar o grupo era o que muitos deles se perguntavam. No dia seguinte, houve a resposta. Através dos jovens ele poderia obter itens mágicos e um vasto tesouro. Cada lugar que possui um dos itens são masmorras perigosas e terríveis, possuindo muitos perigos, mas vastas recompensas. E isso seria útil para o mago, tanto quanto para o grupo, afinal através do mago obteriam um modo de chegar aos conjuntos.
Mas o que talvez nunca soubessem, e nem o mago queria transparecer, é que ele fazia isso, pois era bom. Poucos como ele auxiliavam os mais jovens por bondade. Mesmo pedindo parte dos espólios, o que sobrava para Gor, Lacktum e Halphy, era sempre ricamente comentado por Azerov, para que pudessem se tornar mais competentes com os itens arcanos.
Algo que começou a tomar os pensamentos de Lacktum.

Azerov acomodou os aventureiros em suas respectivas camas na torre. Todos ficaram no mesmo andar. Lacktum reclamava, mas o velho mago sempre o convencia a se acalmar. Pareciam pai e filho de um modo único. Todos os dias conversavam como se conhecessem um ao outro, há vários anos. Eles tratavam sobre vários temas arcanos. Abjuração, conjuração, duelos arcanos, quem foram seus mestres na Arte e o que desejavam com ela. Logo, Azerov se compadeceu do jovem e vingativo Van Kristen. E o Lacktum criou laços afetivos com velho caduco, como gostava de chamar o dono da torre.
Foram tempos de paz para todos naquele grupo. Eles riam, cantavam e comiam todos os dias com uma alegria única. Thror, que perdeu a memória de sua vida passada, preenchia as novas com lembranças boas. Já Halphy aproveitava a ajuda Azerov e Hugo para praticar nos primeiros passos da Arte. Gor, Richard e Hugo aproveitavam e se deslocavam até uma vila próxima e festejavam o fato de não estarem em aventuras tão cedo. O jovem Federick treinava muito com o grego, mas sempre que podia, conversava com a serva Madelyne.
E todos faziam isso, pois Azerov iria os mandar atrás dos itens. Isso graças ao fato do mago - além de ser um mestre das viagens - ter consigo uma pedra de Ixxanon.
Esses itens possibilitariam a concentração de energias metamágicas, que os faria viajar no tempo e no espaço. E através disso se deslocariam de acordo com a vontade do conjurador. Essa pedra seria um pedaço de rocha vulcânica brilhante, com desenhos arcanos de conjuração, que faziam parte dos lendários Portais de Ixxanon. O Grande Dragão Dourado havia cedido seus conhecimentos como grande feiticeiro, com a finalidade de auxiliar os humanos a tentar se compreender e respeitar, Porém, qual não foi à surpresa do Segundo Sol ao saber que os humanos usavam os portais como modo de guerrear e obter lucro. Ele destruiu alguns desses portais, mas deixou outros intactos, protegidos por criaturas poderosas de sua extrema confiança. Isso ocorreu antes de sua ascensão à divindade.
Mas um dos fatos que mais aguçou a mente de Lacktum, foi um tomo que Azerov, todo dia ficava lendo naquele mês. Lacktum o viu poucas vezes, mas notou que estava escrito em diversas línguas. Era necessário ser mais que um mero poliglota para saber de onde vinham aquelas escrituras. As letras e símbolos, ao que pareciam gregas, francas, inglesas, fenícias, germânicas, babilônicas, rúnicas, atlantes, romanas, hunas, acadianas, hieróglifos, escrita de tempos mais antigos que a própria escrita, gaulesas, persas, eslavas, olímpicas, sidhes, asgardianas[2], ctonianas[3], draconianas[4], a língua amaldiçoada dos ogros[5], gigante, silvestre, linguagem druídica, faéricas, enochianas[6], abissais, espirituais, elementais, algumas que ele ouviu só em lendas, e outras que mesmo com seu vasto conhecimento, nunca ficou sabendo. Lacktum não resistiu e perguntou a Azerov o que era aquele livro.
Ele explicou ao jovem inglês que conseguiu contatar de forma pacífica, uma criatura que se alimentava de mentes humanas. Eles trocavam favores. Azerov se tornava um meio de comunicação e de obter itens para a criatura. Enquanto esta lhe fornecia magia antes, nem sequer poderia imaginar. Porém, ele teria morrido... Lendo o livro. Ao que parece o monstro teria um aprendiz, outro como ele, que compreendeu o que teria ocorrido. Ele encontrou o mestre, depois de dia sobre o livro, em um estado mumificado, como se as forças dele fossem drenadas lentamente. Sabendo que Azerov tinha um grande conhecimento, e por isso, teria mais chance de traduzir o livro.
Da origem do tomo, nada se sabe. O que Azerov sabia, é que não parecia com nenhum grimório que tenha visto ou ouvido falar. O material do livro era muito antigo. No mínimo, anterior ao surgimento dos reinos mesopotâmicos. O que era contraditório já que o material do qual era feito era de papel. Como alguém poderia ter feito um livro desses tanto tempo atrás, de um material que só agora era usado em larga escala?
Mas Lacktum não se dedicou muito, depois da explicação de Azerov, sobre o livro. Começou a trabalhar em outras coisas: a criar itens poderosos e até mágicos. Os itens eram feitos na forja da vila, com ferro dos anões que Azerov concedeu ao mago e a Thror depois de ser recompensado com serviços e algumas moedas. Além disso, o velho caduco cedeu algumas magias novas ao jovem mago de cabelos vermelhos. E um delas se tratava sobre ou controle de chamas.
O único problema é que ninguém notou o distanciamento de Gor, antes do dia da viagem.

Ao completar cerca de um mês, o grupo se uniu no segundo andar, a pedido de Azerov. Viram símbolos de conjuração poderosos ao redor de toda a sala, e no centro, havia alguns itens mágicos e mundanos muito bem preparados.
A energia metamágica entrava na pedra com o um rio que flui de sua foz, e atingia o dedo.
Quase nem notaram a escada que subia para o observatório. Isso se devia ao fato de Azerov exigir que ninguém subisse lá, a não ser se fosse necessário. Mas o que ele definia como necessário poderia ser qualquer coisa.
-Entrem no meio do circulo – exigiu com um tom bem mais serio que o normal, o mago veterano.
Todos, com exceção de Hugo e Richard entraram no meio da conjuração. O animo dos dois amigos diminuiu drasticamente para entrar em aventuras. Por isso treinariam com Azerov para se tornarem poderosos. Nem pareciam os mesmo que haviam partido com o grupo no começo da jornada. Ficaram só olhando os outros na porta que ficava para a escada.
-Tem certeza disso? – avisou o arcano experiente para os jovens no circulo – Irão para o Oriente?
Lacktum tocou a testa com dois dedos, como sinal de cumprimento para Azerov. Como se fosse um até logo.
-Se lembrem – falou o mago Azerov olhando atentamente para todos, com as mãos estendidas para frente – já contatei um guia e negociante no lugar em que irão aparecer. Seu nome é Naktuh. Então, estejam preparados... Agora!
Pouco depois, o grupo formado por Gor, Lacktum, Thror, Federick e Halphy sumiu. Foi quando Madelyne apareceu na frente da porta do andar para avisar que o desjejum estava pronto. Richard e Hugo ficaram espantados com o poder de Azerov.
-Bem, - falou mais calmo e sarcástico o mago e dono da torre – vai ficar um tanto calmo isso aqui. Já estou com saudades daquele mago mal criado. Bem, vamos descer. A comida não espera ninguém, e Madelyne sabe fazer ovos como ninguém.


[1] A aura mágica é como uma espécie de efeito arcano que surge sobre aqueles que são usuários de magia. Um mago experiente consegue “sentir” a aura de outros ao seu redor. E às vezes, consegue até reconhecer o quão poderoso ele é.
[2] Linguagem dos povos do norte em geral
[3] Linguagem dos povos subterrâneos, quase sempre malignos
[4] Linguagem dos dragões, comumente usados em magias
[5] Não existe uma linguagem propriamente falada ou escrita. Seriam símbolos bizarros que só os da raça normalmente conhecem
[6] Linguagem dos anjos

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

(Parte 8) Capítulo Um: Rei dos Cães




Após três dias os aventureiros estavam próximos de uma vila pequena. Não ficava próximo ao litoral como esperavam, mas era bela como toda a região perto de Delfos. Era possível ver ao longe a vila da qual falara o Oráculo.
Uma vila pequena construída próxima a antigas ruínas. Era possível ver um templo antigo, ainda sendo usado para adoração aos deuses. Um pouco ao leste, já era possível ver a colina em que encontrariam um dos pedaços do conjunto. Mas qual pedaço? E de qual dos dois conjuntos?
Os aventureiros chegavam à cidade, carregando Thror. Ele havia sido atacado por uma criatura que havia fugido de sua sepultura, pensou Lacktum, no mínimo. Pelo menos é o que parecia. Afinal, foi o primeiro que eles ouviram falando. E mesmo atacando o morto faminto e o destruindo, o grego foi afetado pelo toque dele. E esse toque lhe exauriu a constituição e resistência de todo o seu corpo.
Levando o corpo febril de Thror até uma das casas, foram auxiliados pelas pessoas da vila. Outros, só observavam de longe a situação.
Tentando despertar o grego, o levaram até o sacerdote local. Ele cultuava a Zeus e era bem velho, já que possuía cinqüenta verões de vida. Não se aventurava mais, mas tinha sabedoria dos tempos antigos sobre as criaturas da noite.
Quando chegaram lá, o guerreiro foi deitado para ser curado daquele mal que lhe tomava o corpo.
 - Ele foi atacado por uma cria do ódio[1]. A força de sua vida será restaurada em um dia – falou o sacerdote Nikus aos companheiros aflitos – mas deve permanecer em repouso.
- Obrigado, - disse Federick com um sorriso no rosto, enquanto via o grego respirar fundo pela dor – muito grato sacerdote.
- Não há o que agradecer. E, como todos aqui, pode me chamar de Nikus.
- Esta ouvindo grego? Seus compatriotas nos auxiliaram! – falou isso o paladino batendo com força no ombro de Thror, que tossiu.
- E você quer me matar? Tome cuidado! - exigiu o guerreiro febril.
As crianças riam e viam pela janela com ar de curiosidade. Estavam amontoados aos montes, um acima do outro, para ver o ferido Thror.
-Olha só! – disse um dos garotos.
-Vejam a marca na cabeça! – disse outro apontando para a antiga ferida acima da testa de Thror.
-Aonde se machucou assim? – perguntou o mais novo com cara de curioso.
-Eu não me lembro, - disse Thror passando a mão na careca e com grandes marcas de cansaço – mas nem sinto mais dor aqui. Afinal, como tenho sangue de espartano...
Nesse instante, um garoto protestou:
-Você não é espartano!
Richard, que estava de pé, se espantou com que o garoto disse. Federick, sentado ao lado de Thror, se ergueu de imediato, espantado.
-Como assim? – disseram os dois fora de ordem.
-Ele não se parece conosco! – continuou o menino grego.
Nikus então interrompeu o garoto. Fechou a janela com rigidez, para que não atrapalhasse, forçando os garotos a não verem o ferido.
Ele continuava tratando com cuidados divinos Thror.
- Αυτός ο Δίας αποκαταστήσει τη δύναμή του! Έτσι, πώς οι ακτίνες διασχίζουν τον ουρανό!
 E com a magia, emanava um brilho dourado da palma da mão do sacerdote. De Thror, saia uma luz azul escura, que sumia toda que tocava o brilho dourado de suas mãos. Quando a luz azul sumiu, a luz da mão de Nikus também o fez.
-Perdão pelo constrangimento. Mas pensando bem... Ele não esta muito longe da verdade. Sua aparência não lembra alguém descendente dos povos helenísticos.
-Como assim? – perguntou um surpreendido Thror.
Ele olhou atentamente para Thror. Sua feição era confusa. Sempre passando a mão na cabeça em sinal de confusão.
Richard olhou para Halphy. Ela observou sem entender também. E Hugo se sentia completamente atordoado em relação a isso.
-Esta querendo dizer que Thror não é grego? – soltou Halphy.
-Ele não tem aparência igual a nossa, seu queixo não é parecido conosco, muito menos do seu jeito. Ele definitivamente não é grego.

Todos se sentiram estranhos, quando falavam, mas notaram que Thror estava confuso demais. Ele não compreendeu aquilo: viveu na Grécia por toda a vida que se lembrava com Orfeu, mestre e pai adotivo dele. Orfeu lhe contou sobre as lutas de guerreiros espartanos ao qual dizia que eles descendiam. O que era engraçado é que Thror não tinha ciência alguma de seu passado. Então, como Orfeu sabia disso ou falava sobre isso? Thror ignorou aquilo como ignorava tudo, naquela época. Mas se fosse qualquer outro que usasse mais a mente do que a força física, diria que aquilo era estranho demais.
Orfeu ensinou a Thror como lutar e digladiar. Ensinou a ele, qual a diferença entre as duas palavras. Lutar significava combater até a sua morte ou do adversário. Digladiar significava viver ou morrer, pela glória do combate e os gritos da torcida que olhava o espetáculo. Depois disso, mesmo nunca sabendo sobre essa arte de combate, ele decidiu a arte dos gladiadores.
Mas agora, se sentia completamente atordoado. Seria o que Orfeu falou, pura mentira? Ele não acreditava nisso e soltou:
-Tudo bem, - disse sorrindo Thror – eu sei que sou grego e é isso que importa.
-Que nada - disse ironicamente Federick – vai ver, você vem das mesmas terras de onde venho. Que tal?
-Eu sou um homem e de espírito guerreiro. Não um franguinho emplumado.
-Ora seu bárbaro careca! Já lhe mostro o que uma ferida bem feita no centro de sua cabeça, e não esse golpe para ferir donzelas que tem acima de sua testa!
-Ah seu...
-Ah chega! – exclamou Halphy apartando o dois – Ou juro por algum deus, que enfio um virote no pescoço de cada um quando estiveram dormindo.
Os dois pararam como duas crianças que são repreendidas pela mãe. Nikus olhou a cena, segurando o riso. Enquanto, Hugo e Richard desataram a ridicularizar os dois vendo a patética cena de Halphy separando os marmanjos. E depois que não havia mais ninguém na casa de Nikus, e nem que riam mais da cena de Thror e Fedrick, notaram algo.
-Onde esta Lacktum? – perguntou Halphy.
Foi então que todos olharam uns aos outros com ar de interrogação. Lacktum sumiu e só agora notaram isso. Halphy ficou furiosa com o mago ruivo.

O mago caminhava, mesmo já estando cansado e com a tarde quase acabando. Ele iria subir a colina. Tinha alguma intuição sobre o que iria achar lá. E sua intuição não o levou a Lirah Lugarao’Céu, mas fez com que ele soubesse o que havia abaixo da cidade de Starten. Algo grande. E a intuição estava mostrando o que devia fazer: subir a colina onde acreditava estar um dos itens que buscava e o obter.
Era uma colina pequena, e nela era possível notar ruínas estranhas. Na verdade, não conhecia muito sobre a Grécia, mas sabia que naquelas terras não havia coliseus. Isso era algo de criação romana. Mas ao longe, e agora que se aproximava, parecia exatamente o que ele estava vendo. Destroços de arquibancadas de épocas extremamente distantes e armas enferrujadas pelo tempo. Era tudo o que se podia ver por todo o lugar.
O sol se abaixava no horizonte, trazendo com ele certo receio a Lacktum. Receio, pois Lacktum nunca tinha medo puro.
Foi então, que surgindo do nada, apareceu um lobo tão grande, que tinha o tamanho do próprio Lacktum. Seu olhar mostrava uma fúria, que não era comum dos animais. O próprio mago tinha certeza de ter visto esse olhar, na frente de um lago, quando notou seu reflexo, cheio de vingança. Ele vociferou, provocando no mago um olhar de admiração única. O lobo caminhou até Lacktum lentamente.
-O que faz aqui homem? – saiu do focinho do terrível lobo.
-Eu estou aqui para encontrar um item único, - disse isso sem temer o jovem Lacktum – e só sairei daqui se o voltar com ele.
O lobo estranhou as palavras do rapaz. Nunca uma pessoa tinha ficado muito tempo ali, após escutar a voz terrível do lobo.
-Calma! Preciso encontrar esse item logo – disse o arcano tentando deter a fera com sua sabedoria.
O lobo continuou indo em direção a sua presa. Parecia que ele encontrou um novo brinquedo para hoje. Ou algo para forrar sua barriga.
Maldito Thror Tzorv! Tinha que passar mal agora? Por sua causa vou ter que enfren...
Quando iria terminar a frase ouviu do lobo:
-Você disse Thror Tzorv?
-Sim.
-Homem careca e com barba? Com uma enorme ferida na cabeça?
-Sim. Você o conhece?
-Não. Mas o mestre conhece. Não sei se você tem sorte ou azar. Mas acho que ele gostaria de conversar com você.
Lacktum ainda sentia que precisava se preparar para um ataque do lobo. O animal lhe deu as costas e acenou com o focinho, como se quisesse que o mago o seguisse. Lacktum não entendeu a debandada do lobo, mas o seguiria por enquanto.

Halphy começava a pegar seus equipamentos. Os havia deixado no chão da casa de Nikus. Era pesada demais a mochila com todos os itens que ela levava, mas agora com o sumiço de Lacktum, ela achava que precisaria deles em uma emergência.
Desde que saíram do reino da França, não se afastaram muito um do outro, em momento algum. Mas por qual motivo ele teria desaparecido? Halphy desconfiava do motivo, mas não revelaria aos outros. Muitos confiavam nas magias de Lacktum, e mesmo Gor que liderava o grupo desde Starten, o tinha como um segundo em comando. O guerreiro ficou o tempo todo fora da casa do sacerdote, esperando que Halphy saísse. Foi quando a ladina ajeitava suas luvas, enquanto passava pela porta.
Gor colocou a mão no ombro de Halphy. Ela olhou espantada.
-Você sabe qual o motivo que lhe deixei ir atrás de Lacktum? – disse Gor sério.
-Lógico – disse sorrindo a moça – Pois você acredita em minhas habilidades.
-Não – respondeu ele, de forma áspera – pois na verdade, são essas habilidades que me fazem temer você. O motivo é que não vou deixar Thror que ainda precisa melhorar dos ataques daquela criatura morta viva. Nem Hugo ou Richard, tem capacidade suficiente para enfrentar alguma criatura por aqui. Sendo que Thror é um dos melhores guerreiros do grupo e os dois amigos não estão no nível de nós, você se torna a opção nesse caso. E antes que pergunte, Federick é muito instável. E então procure o garoto. Mas olhe o que vai fazer. Sei muito bem como pensa pequena – falava o inglês com o dedo apontado para Halphy – e como ele, sei que vai querer ir atrás dos artefatos.
-Oh homem de pouca fé – soltou Halphy, irônica.
Ela começou a andar na direção da colina, certa que encontraria um dos artefatos. E talvez Lacktum no processo.

Lacktum estava á frente de uma alcatéia de animais tão grandes e pavorosos, que poderia ficar com muito medo, se não estivesse tão determinado. Havia uma estátua grande e imponente, do que parecia ser um guerreiro grego. Abaixo, havia um suporte para a escultura de pedra bem grande, bem trabalhado.
Na frente da estátua havia um lobo maior, com quatro chifres enormes e de seus olhos faiscava uma luz vermelha que se perdia no ar. Seus dentes eram tão pontiagudos quanto os dentes de um vampiro e tão mortais, julgava Lacktum.
Esse lobo se dirigiu ao mago com passos silenciosos e maliciosos.
-Quem és tu abridor? – falou o lobo pausadamente.
Os lobos ficaram todos deitados ao redor da arena em ruínas. Observando das arquibancadas, eles lambiam os focinhos como se vissem um ótimo desjejum.
-Sou Lacktum Van Kristen, o último conde de Van Sirian. Filho de Dwalin, o poderoso guerreiro do lobo do norte, das terras inglesas.
-Sinto um fedor vindo de tu. E um de meus vassalos proferiu que conheces meu inimigo. O homem que descende dos guerreiros que possuíam sangue que se alimentava com a guerra. Um parente dos fabulosos espartanos. Thror Tzorv, o pretendente a gladiador.
-Sim, - disse Lacktum, afirmando – ele anda comi...
E de repente ele é interrompido novamente pelo grito de fúria do lobo.
-O maldito ao qual procuro me vingar a anos! E tu o trouxe ele até mim? Não foi?
-É – falou pausadamente Lacktum, para não irritar o lupino enorme – bem, algumas coisas... Ainda devem ser feitas. Coisas que preciso – dizia ele enquanto o lobo passava ao redor do arcano, com sua cauda espinhada – para lhe entregar o guerreiro Thror.
-E eu devo crer – vociferou o lobo com um focinho engraçado, quase humano – que me entregará o demônio numa bandeja adornada de pura prata para mim? Acreditas que sou um tolo? Seu cheiro denuncia que vocês estão juntos, a pelo menos, dois meses. São companheiros... E quer que eu creia em você?
-Sim.
-Como poderei acreditar nisso?
-Primeiro não. Não sou tão amigo de Thror assim. Mesmo que não acredite em mim. Segundo, você pode me fornecer algo que eu quero. Algo poderoso, que você não pode usar. Pois esse lugar é antigo e pode possuir itens raros que estou buscando. E se for o que quero, todos ganhamos.
Era possível notar no animal, mesmo possuindo um focinho em vez de um rosto, uma expressão como um sorriso.
-Posso ser um animal soturno, mas é você que possui veneno na boca estrangeiro.

O lobo levou o mago até alguma abertura no suporte da estátua. Nela viu alguns pesos em ouro. Mas nada daquilo o interessava. Só um item o interessou: uma máscara, feita de um couro diferente, no formato de um rosto. Isso se devia ao fato de que ela vinha de um rosto humano de verdade. Aquela era uma máscara diferente, com quatro tiras de couro presas nas pontas da face que deveriam se prender na cabeça do usuário. A máscara do Desalmado estava na frente de Lacktum.
Foi então que Lacktum viu seu plano surgindo. Ele disse ao lobo líder que voltaria ao povoado, fazendo isso, ele arrumaria um modo de afastar Thror dos outros então criaria um sinal para chamar a alcatéia. Assim, poderiam o atacar e o destroçar, como o líder dos lobos queria. Pelo menos, era isso o que queria que as bestas  pensassem.
Na verdade ele planejava encontrar o grupo e com eles destruir o bando de bestas lupinas. Com isso, eles conquistariam, não só a máscara, mas todos os tesouros que os lobos guardavam. Lacktum comentou isso ao lobo demoníaco que relutou em aceitar o plano. Porém, o mago ainda tinha sangue de nobre e como tal, ainda sabia ser diplomático no momento certo. E não iria trair o grupo. Pelo menos dessa vez...
Mas ele sabia que aquilo não serviria com o bando de lobos gigantes. Se tentasse tratar com eles, com suas mentes animalescas, poderiam o atacar. Ou o devorar.
Porém, o líder era diferente. Sentiu no ar a malícia dos humanos. Mais do que isso, pois os trejeitos na criatura o faziam fácil de reconhecer como algo que provinha dos homens, que vinha do mal abissal – não muito diferente demais um do outro, pensou Lacktum.
O arcano sabia que tratando com um lobo que fala, mas que pensa como lobo, não teria chances. Mas o chefe deles pensava com conhecimento de razão e não com instinto. E mesmo a razão, trazendo a consciência, também – às vezes – traz um mal que o faz tira ela de vista: a vingança.
Foi então que o lobo trouxe a máscara até as mãos de Lacktum. E este por sua vez, sentiu compulsivamente, o desejo de vestir a máscara, ao qual atendeu sem dúvidas. Nem Lacktum sabia que o item possuía seu próprio intelecto e vontade. E agora Lacktum possuía poder, - ele o sentia passar através da máscara – mas pagaria caro por isso.
E aquilo seria algo que lhe custaria caro demais. Mas o trato foi feito.

Ele chegou perto na cidade quase à noite. Quando isso ocorreu, reparava no rebuliço que estava acabando a frente de uma das casas. Isso era até engraçado, pois agora, era o motivo do rebuliço naquele momento.
E não era à toa: mesmo sendo um druida, sua foice curta não era o mais aparente de seus adereços. O que era realmente visível mesmo, só poderia ser a imensa foice de combate em suas costas. Arma essa que mais pareceria um item de um agricultor camponês, não fosse pela anatomia e todos os escritos galeses representando batalha.
Quando lá chegou, tentou fugir dos olhares dos gregos que ali viviam, fazendo perguntas sobre com quem falava sobre os problemas. Nesse momento, aqueles que sabiam do que se tratava, apontavam a cabana do sacerdote Nikus.
E ele foi se dirigindo a pequena casa de pedra.
           
Lacktum voltava acompanhando do lobo que o encontrou no mesmo dia. O lobo líder – ao qual o nome, Lacktum descobriu, era Cícero – ainda tinha um pouco de seu instinto e queria o mago vigiado o quando podia.
E descendo a colina o lobo serviçal só o alertou:
-Não nos traia humano! Ou meu mestre irá devorar como aperitivo você.
-Tudo bem. Pode ter certeza, que depois do plano correr bem, você não me verá mais – disse com um sorriso malicioso.
-Eu não compreender sua fala. Mas o plano será feito hoje ou amanhã?
-Amanhã – disse prontamente o mago, para que seu plano falhasse – pois preciso iludir o grupo e os fazer que Thror deva ficar junto a mim. Sozinho.
-Lembre bem humano. Se trair meu mestre, te devoraremos.
-Tudo bem.
Então Lacktum desceu a colina. O mago se preparava mentalmente para que seus amigos o auxiliassem a destruir a alcatéia, não por motivos nobres, mas para obter o tesouro das feras. Tudo na vida tem um preço, pensava ele. Salvava a vila e ganhava mais do que tinham.
Ele já tinha tudo em mente e precisava de seus aliados para destruir os lobos. Estava para se tornar poderoso, mas ainda necessitava da ajuda dos companheiros. Assim, eliminando os lobos, teria que dividir os tesouros daquele lugar com eles. Mas já era de se esperar.
Foi quando percebeu que tudo poderia sair errado. E isso se devia ao fato de Halphy subir a colina por outra ponta e correr em direção ao lobo que voltava ás ruínas. Ele iria tentar deter a garota, mas foi então que notou que seu corpo não se movia. Na verdade, ele queria ir impedir a jovem ladina, mas seus reflexos o traiam. Isso aconteceu a ele no começo não compreendeu foi então que notou a verdade. Só havia uma coisa que o impedia de sair do lugar. Algo novo e diferente nele. Ou nem tanto. A máscara do Desalmado o impedia de correr.

       Você não deve ir até lá Siga o plano

Halphy queria aquele item, não importasse o que fosse. Assim como queria o item de seu ancestral, ela teria mais chance de conseguir ele, com mais poder ainda. E um dos artefatos do Desalmado seria uma das chaves para obter o artefato de Sinestro.
A ladina temia que, como ela, outros notassem o que realmente era Sinestro. Um de seus temores era Lacktum. Não era companheiro, nem tão pouco amigável, mas captava as coisas melhor que os outros. Halphy temia que alguém tivesse notado algo em Delfos. Mas até agora...
Ela foi lenta e não acompanhou Lacktum – na verdade nem o viu saindo da casa, erro imperdoável para si mesma – mas ela compensaria tudo agora.
           


A jovem procurou o arcano, mas como não o achou na cidade ela foi as ruínas. Mesmo que Lacktum não fosse até as ruínas, sabia que talvez La se encontrasse um dos itens do Desalmado. Era como se seus instintos a trouxessem até aquele lugar. E todo tipo de mago e feiticeiro sabe que não se deve seguir o coração ou a razão, mas sim seus instintos. Talvez tenha sido a única coisa que os deuses nos deram de bom, pensava ela.
Foi então, que ao subir aquela colina, ela viu o imenso lobo e viu sua oportunidade. Como aventureira e ladra, ela sabe que seja em masmorras ou ruínas feras e monstros sempre guardavam tesouros.
Ela então gritou ao lobo. Na verdade, nem ela sabia o motivo de ter feito isso, mas já era tarde. Ela estava na beira da colina.
-Quem é você? – vociferou o lobo.
-Lobo gigante, - falou Halphy mais para si mesma, do que para a fera a sua frente – que fala e que tem um hálito terrível... Bem, gostaria de saber se possui alguns itens que poderia usar... E você não. Posso livrá-lo de uns itens indesejáveis e fazer algo de bom. Que tal?
-Espere... Você cheira estranho... Parecer Lacktum.
-Sim, o conheço! – disse Halphy como se tivesse descoberto algo bom.
-O aliado de Thror Tzorv?
-Sim, isso mesmo!
-O maldito que meu mestre quer destruir?
-É mais ou menos...
-Vocês estão zombar de meu mestre?
-Não... É... Bem... Podemos começar de novo... Com licença, você disse estão zombar?
-Seu amigo já vir aqui e falar que... Esqueça, eu irei destruir você. E isso é o bastante.
O lobo abaixou a cabeça preparando o bote. Ficou com olhos maliciosos para a meio elfa, que ergueu o braço com a besta de mão apontando para a temível fera.
-Calma! Acho que temos um problema aqui... Olha o que eu realmente queria era fazer um acordo. E obter um item.
-Calar boca fêmea humana!
Foi quando o enorme lobo pulou em cima de Halphy. Com as patas sobre a jovem ladina, prendendo seus braços, ele rangeu os dentes como se quisesse mostrar um ácido sorriso.
Halphy pensou em como gostaria de não estar ali. Talvez tivesse que viajar com outros humanos tolos, crentes que se fossem a Jerusalém, seus pecados seriam redimidos. Pelo menos lá não teria que enfrentar as bizarras criaturas das terras onde nasceu. As guerras lá deveriam ser horríveis, mas nenhum lobo enorme e grotesco se divertiria a suas custas. O único mal deveria ser aqueles sarracenos, sobre os quais diziam ser adoradores de demônios ou outros deuses – o que no final da no mesmo – os padres. Será que os sarracenos eram tão horríveis quanto aquele lobo? Talvez sim, talvez não, mas ela trocaria aquele imenso e terrível lobo por qualquer guerreiro cor de cobre, com chapéu feito de panos que ela encontrasse pela vida.
Mas foi nesse momento, que um brilho faiscou no ar e o lobo foi jogado de lado pela força que surgiu subitamente. O poder arcano vinha de mãos trêmulas, não por medo, mas pela vontade de sobrepujar o artefato e proteger Halphy. Lacktum tremia com a mão apontando para o lobo e seu olhar de vingador.

-Estamos quites Halphy! Mas sai de perto desse lobo! – gritou Lacktum com força em direção a ladina.
-Esta bem! – gritou em resposta a Ladina.
O lobo tenta investir novamente, o mago saca uma adaga e dispara contra a besta. Ele fere bastante a fera fazendo jorrar mais do sangue bestial.
Em um momento, o enorme lobo partiu em direção dos dois companheiros. Halphy já se encontrava ao lado de Lacktum. O medo causa um estouro de jovialidade em algumas pessoas, pensou o mago, fazendo correr com mais vontade.
Nesse instante. O enorme lobo atacou Lacktum, ferindo ele gravemente. Halphy segurou o companheiro para que não caísse devido aos ferimentos terríveis. E por pouco ele não caiu na grama pelos golpes.
Eis que das mãos do mago surge um jato de energia que se projetou, abrindo o peito da criatura, com vários dardos de poder arcano. A criatura então se desfalece no chão com suas poucas forças.
-Perdão mestre Cícero...
Os dois companheiros se olhavam. Ele, ainda sentado, pelos golpes sofridos no combate, gemia pela dor e rangia os dentes de raiva. E ela olhava a princípio rindo de tudo depois com uma face de pergunta olhou para Lacktum.
-Estamos quites? – perguntou Halphy.
-Lembra? Em Starten? Quando me salvou dos mortos famintos? Estamos quites.
-Faz tempo mesmo. Nem lembrava. Você sempre se lembrava disso na viagem.
-É lógico! Você sempre me lembrava!
-É só um detalhe – respondeu a ladina rindo sarcasticamente.

Os dois chegam à noite na casa de Nikus. Halphy apoiava Lacktum, devido ao enorme ferimento no flanco esquerdo. O sangue escorria pelos dedos do arcano, como uma pequena cascata.
Houve um pouco de dificuldade para descer a colina, mas nada incontornável. A única coisa que restou do combate foi um rastro de sangue da colina até a vila.
Eles são recepcionados por Gor, que olha com terror e medo para Lacktum e Halphy. Terror por ver seu companheiro extremamente ferido e medo pelo que pode ter ocorrido com ele para deixar alguém assim, seriamente abatido. O guerreiro aparou Lacktum em seus braços para levá-lo até Nikus.
Ele o levou no quarto de Nikus, onde antes estava Thror, que já havia se recuperado. O sangue jorrava agora da ferida do jovem mago. O sacerdote colocava emplastro no ferimento de lado esquerdo. Isso ao menos estancaria o sangue até o dia seguinte quando tivesse mais magias.
O sacerdote já havia deixado Lacktum bem. Mas que aqueles dois teriam feito para o mago se machucar tanto? Foi então que Halphy explicou metade do que aconteceu, é lógico, pois se explicasse tudo poderia ser acusada como a causadora do acontecimento. E mesmo não suportando os excessos de Lacktum, em geral, gostava do grupo, até do mago de orbitas pequenas como sua esperança.
Mesmo assim, Lacktum não estava bem. O grupo precisava se preparar para um ataque dos lobos, assim como todos da cidade. Nikus disse que as feras sempre estiveram por aquele lugar, mas eram sempre afastados pelos brilhos e efeitos criados pelo sacerdote. Isso até a chegada de Cícero.
O lobo líder se tornou o alfa, através da força e do medo. Mais poderosos que os poderes que  Nikus obteve. E até hoje era assim.
-Então, - disse Halphy com a cabeça dolorida do combate demais cedo – o que faremos? Eles devem atacar hoje à noite.
-Não, - respondeu Nikus rapidamente – por um estranho motivo o líder age como humano. Acredito que ataquem com o nascer do sol.
-Bem você acredita mesmo nisso!? –disse Gor confuso.
-Já sobrevivi a Cícero antes guerreiro. Sei do que falo. Estes lobos irão atacar ao amanhecer.
-Tudo bem! – interrompeu a Ladina – Mas o que importa é como vamos combater eles?
-Matando Cícero, - soltou o acamado Van Kristen – assim acabamos com a alcatéia.
-É uma boa idéia, - soltou Gor com uma expressão feliz, quase infantil – Mas não precisa se levantar Lacktum. Fique ai seu mago teimoso.
-Tudo bem então! – Voltou então a deitar na cama, com uma face até engraçada, para a sempre seria atitude do arcano.
-O que faremos então? Colocamos um de nós contra cada dos lobos daquela colina? – disse Richard gesticulando para os amigos.
-Não há como – falou Halphy já sentada na cadeira de madeira de Nikus – Eu e o Lacktum mal agüentamos com um deles. E pelo que o mago disse, existem oito do mesmo tipo de lobo que nos atacou.
-Como falei, - tomou a palavra Nikus – eles são comandados pela força de Cícero. E ele tem um poder infernal dentro de sua alma, um mal que vasculhou todas as terras que existem graças a Helena e Pandora. Tudo por conta de um homem: Thror Tzorv.
Thror iria se levantar ao ouvir o som do próprio nome, mas foi detido pela mão firme de Gor. Ele estava de pé ao lado do grego. Ninguém ainda havia falado o nome do grego para Nikus. Ele sabia que o tolo guerreiro da cicatriz se culpava pelo que ocorreu até agora na vila, mas o inglês sabia que entregar o companheiro não iria servir de nada.
-Ele fala isso para todos que estão dispostos a ouvir sobre o homem que eliminou sua alcatéia original.
Todos se calaram. Nada sabiam de Thror pouco antes da sua entrada no grupo. Mesmo a certeza sobre ele ser grego não havia mais.  Quem dirá quais problemas ele não poderia vir a envolver todos em um futuro não tão distante?
-Mas como iremos lidar com os lobos? – questionou Gor com força – São mais fortes, e mesmo eu sendo bem treinado, não posso combater só com a ajuda de Thror no combate corpo a corpo.
-Mesmo que fossemos atacar a distância, não seria suficiente. Eu acertei um deles – falou com as mãos juntas e olhando para baixo, temerosa – Ou melhor, Lacktum o feriu bastante. Mas foi a magia que o feriu. Magia que, me perdoe por isso Hugo, é a mais poderosa em nosso grupo. E agora que ele está tão ferido... Ele não pode entrar em um combate desse modo.
-Bem eu posso ajudar... – falou uma voz, vindo da sala ao lado. Quando repararam puderam ver um homem jovem com cabelos castanhos, roupas verdes, uma estranha trança cheia de penachos, e outras ao qual parecia surgir das suas costas. Isso sem falar em sua enorme foice que ficava presa nas suas costas devido a uma tira de couro. Ele tinha um prato de comida nas mãos, que devorava sem receio algum na frente do grupo.
-Quem é você? – soltou Halphy com ar de espanto.
-Meu nome é Seton, e sou um druida – e olhou atentamente para a ladina – Tenho algo que irá fazer esses lobos pararem o bastante para não ser necessário um grande derramamento de sangue.
Richard, como druida, se sentiu ofendido. O que ele acha que pode fazer que um druida que estava a tanto tempo no grupo não poderia? E então, Richard perguntou com raiva:
-O que você tem que eu não tenho?- gritou Richard com Seton
-Experiência.

Amanheceu naquele lugar, como nunca antes. Pois naquela vila um combate iria se desenrolar. Talvez, não tão glorioso como as batalhas de outrora, mas talvez houvesse um fim para um problema da vila. Mas afinal, qual o motivo de Lacktum se preocupar com gente tão humilde? Ele tem que encontrar um demônio na forma de homem, e um evento esta escrito em seu destino. Como, por Odin, um ser tão egocêntrico, ele esta preocupado com essa inútil vila, foi o que pensou Halphy e o próprio Lacktum.
De repente, Lacktum notou que em sua face estava uma das chaves de sua vingança e da conquista daquele evento único que iria se desenrolar em menos de um ano, acreditava. Ele iria tirar a máscara para respirar melhor.
Não conseguiu.
Era sua vontade enfraquecendo diante de uma pele humana, em forma de máscara. Mas qual seria o motivo daquilo? Quanto poder detinha um mero item como aquele? E como ele exercia tamanho controle sobre o mago? Nem ele sabia.
Mas sabia que por algum motivo, a máscara e ele compartilhavam um mesmo desejo de vingança. Fosse isso algo que os unia, em alguns momentos, ele sentiu um leve toque da insanidade fluindo da máscara e adentrando o espírito dele próprio.

Os lobos desciam a colina como os imensos seres antropomorfos que existiam nas costas de mediterrâneo. Os alquimistas os chamam de primatas e saltam de forma desordenada, mas são lobos que desciam aquele lugar. Os tais seres não foram tocados pelo mal. Aqueles lobos sim.
A vila olhava com medo para a cena dos lobos naquele lugar. Os lobos se cercavam como se protegessem uns aos outros. Exceto Cícero.
Ele mordia, latia ou gritava para os outros lobos, com a finalidade de abrirem caminho. Assim, como um general exige que seus homens se posicionem com suas armas, Cícero exigia que eles se colocassem na sua frente.
Todos abriam uma fresta nas janelas. Olhavam com medo para as criaturas lupinas, as crianças um pouco por curiosidade. E se as coisas continuarem assim, eles com certeza vão ter que ficar escondidos para sempre.
Foi quando notaram, um manto verde e cinza se dirigindo a alcatéia. Ele mantinha a foice nas costas e conservava um sorriso sarcástico enquanto caminhava lentamente até os lobos. Ele faz um pequeno gesto se agacha como se cumprimentasse os lobos.
Richard começou a compreender o plano do estranho: os druidas possuem o dom único de se comunicar com animais através de expressões corporais e imitações de sons produzidos pela fauna. Mas qual seria disso? Seton já sabia que os lobos falavam. Não necessitavam daqueles gestos para se comunicarem.
Seton gesticulava de modo a imitar os lobos. E Richard traduzia os gestos.
-Seton fez um gesto de reverencia aos lobos. Diz que não quer fazer mal aos lupinos, mas não pretende deixar que façam mal a vila.
-O lobo ao lado de Cícero, - observou Hugo com atenção – rangeu os dentes agora. O que quer dizer com isso?
-Cale-se Hugo! Caso contrário, não consigo traduzir o que eles querem disser.
Richard, Hugo, Halphy e Gor se colocavam na casa de um dos aldeões próximos do centro da cidade. Isso tudo se fazia necessário para auxiliar Seton. Lógico, em caso de falha, o que eles realmente não queriam. Pois, mesmo não conhecendo o druida de cabelos castanhos, não queriam ver uma morte sem motivos.
O druida continuava seus gestos e modos de falar com os lobos. E então eles pararam e começou a falar.
-Humano idiota! Nós falamos língua latim.
-E nos sermos animais...
-Eu fiz isso – falou isso enquanto se levantava da posição quadrúpede em que estava – pois queria que vocês confiassem em mim. E também, disser que estão se enganado seguindo o lobo que os lidera por medo.
Os lobos miravam seus focinhos uns aos outros, no que seria uma cena cômica, se não fosse o momento dramático. Era como se tivessem diversas dúvidas do que ele falava.
-Esse lobo busca vingança contra um homem. Essa criatura esta usando vocês para acabar com um problema que é dele. Por uma besteira, se me permitem dizer. Essa matilha é de vocês, não dele. Eu senti no cheiro de vocês. Ele não pertence ao bando, mesmo sendo poderoso. E esses poderes apesar de também virem das trevas da natureza provem dos reinos inferiores também. E nada de bom pode vir disso. Cernunnos criou a vida para que possamos ter total liberdade em escolher nosso destino com ela. Não sei se acreditam em mim ou não, mas se lembrem, ele não alguém em quem possam confiar.
Seton temeu por sua vida. Ele era bom com animais, mas não sabia o quanto. Receou que não obtivesse sucesso na comunicação com os lobos. E qual não foi sua surpresa, ao ver os lobos se posicionando longe de Cícero.
-Mas o que pensam que estão fazendo? – começou a vociferar o lobo líder – Eu sou o líder de vocês!
-Essa luta não é nossa. Ele está certo – disse um.
-Você já tem sua chance – disse outro.
-E então como vai ser? – soltou Thror saindo da casa onde era mantido. Erguendo sua espada enquanto caminhava em direção ao oponente lupino.

-Eu devorarei seu coração Thror Tzorv, filho de Orfeu, homem de Esparta. E me vingarei!
-Se vingar por qual motivo? – disse o guerreiro com um ar sarcástico – se me permite perguntar...
-Grego petulante! Tu não se lembras de quando, nas terras espartanas, perfurou e matou um lobo enorme que devorava homens e mulheres, por vontade de seu pai? Ele lhe disse que seria um bom treino.
-Sim, mas acredito que você não falava naquela época.
-Então, não deve saber que quando fez isso, não matou um animal macho, mas sim uma fêmea que acabará de dar a luz! E que sua cria estava escondida em uma toca a razoável distancia de houve o embate.
-Isso aconteceu, pois era o destino dela perecer diante de mina lamina.
-Então pereça, sobre minhas presas!
Após isso Cícero salto no ar, como um demônio que acabou de fugir do Hades. Mesmo assim, Thror conseguiu o cortar em pleno ar, com um golpe que o feriu demais. O lobo se lambia, aonde o grego havia ferido.
Cícero se esgueirava parecendo menos com um lobo e mais com uma serpente. Seus chifres se mostravam ameaçadores como um enorme touro em fúria e seus olhos não transmitiam o de um animal. Ele já não era mai um lobo.
O novo bote da criatura demoníaca ocorreu mais próximo ao chão. E ao que parecia, o guerreiro não estava preparado para isso. Já que quando ele ocorreu, foi possível ver um jato de sangue jorrando do homem da cicatriz. Este por sua vez colocou a mão na coxa, o lugar ferido pela fera abissal. Havia uma grande marca de ferida no corpo, o que ele nunca foi acostumado. E ele gostou daquilo.
O próximo golpe seria mortal, ou no mínimo, decisivo. Os olhos procuravam uma brecha na defesa, um do outro. Olhavam os pontos vitais com cautela. Cícero mancava com a pata dianteira, enquanto Thror, ajoelhado, usava a espada longa como apoio.
Tzorv se sentia como se tivesse visto uma cena parecida, de um passado tão distante que lhe aguçava os sentidos. E mesmo que Nikus tenha lhe falado que ele não era grego, ou que não se lembrasse daquele lugar, algo o fazia sentir bem só de estar pisando naquele chão. Parecia que ele fazia parte daquelas terras. Que o Olimpo seja bom comigo, pensou ele.
O imenso lobo demoníaco disparou como um cavalo puro sangue. E isso fez o coração de Thror bater como só havia feito uma vez... Mas quando, ele não lembrava. Aquele não era o momento de se lembrar daquilo. Não era mesmo.
Foi então que Cícero gritou com fúria enquanto corria contra o guerreiro.
-Eu sou melhor que você! Pois sou o líder desse lobo! Pois sou o mestre desses lobos! E em nome de minha mãe, terei minha vingança!
Segurando firme, com as duas mãos na espada longa, enquanto se erguia com dificuldade e lentamente, ele levantava o corpo preparado para o final da batalha. O lobo deu o bote. O grego, mesmo sentindo grande dor no joelho, dobrou o corpo e levantou a espada acertando novamente o inimigo em pleno ar. Ele colocou as duas mãos no cabo para se assegurar da força do golpe.
-Não pode ser – disse debilmente o lobo enquanto caia.
Então, Thror levantou vacilante, colocando a mão sobre o sangue na espada. Os homens e mulheres na vila saiam correndo em comemoração. Os companheiros do homem da cicatriz se sentiram bem, pois tinham deixado o grego resolver todos os problemas como um homem.
Os lobos haviam ido embora. O druida Seton viu tudo de uma pedra que ficava no centro da cidade. Eles nunca foram maus, só incompreendidos pensava ele.
Thror seguiu até o corpo do inimigo abatido, e com sua lamina apontada ao coração, dizia isso enquanto a enfiava com força tremenda:
-Se você é o mestre dos lobos, eu sou o rei dos cães.

Em dado momento, não se sabe por qual motivo, Lacktum sentiu pena do lobo. Ele não sabia o motivo, mas se pareciam. Só que tudo passou em sua mente como uma nuvem.

Todos na vila comemoravam a vitoria dos estrangeiros sobre os lobos. Todos olhavam com louvor os seus heróis, mais ainda ao guerreiro careca de nome Thror. Todos estavam contentes com exceção de Lacktum.
Ele dizia que já não tinham nada o que fazer naquele lugar. Halphy e Richard já notaram as mudanças por conta da mascara do Desalmado. Acharam melhor ignorar por enquanto. Arrumaram as coisas e seguirem seu caminho.
Antes de partirem, foram contatados por um mago chamado Azerov, através de uma jovem que usava vários mantos que a cobriam da cabeça aos pés. Ele soube que o grupo estava na área e poderia ajudar em sua busca, o que causava certo ar de estranhamento. Poderia ser uma cilada, mas era a única pista que tinha, sobre os artefatos. Então iriam até esse homem.
A moça encapuzada – que Thror brilhantemente começou a chamar de Encapuzada – pediu que fossem a uma pequena vila próxima do Peloponeso, onde Azerov morava. O mago mandou as informações mais corretas sobre os artefatos o que aguçou a curiosidade de muitos ali. E todos concordaram que depois de terem deixado passar os dois itens que se encontravam na ilha da bruxa, iriam pelo menos pegar de uma vez todos os itens que estavam na Grécia. E mesmo Thror Ouvindo que não era grego, estava ansioso para conhecer as ruínas de Esparta.
Enquanto saiam, Thror reclamava de não ficarem para as comemorações pela sua vitoria. Seton, que entrou no grupo para se aventurar um pouco mais, consolava o guerreiro. Bem diferente de Federick que o repreendia, falando que se fossem heróis de verdade não se importariam com recompensas. Novamente o grego se irritou com o paladino. Mas foi mais repreendido ainda por Lacktum, que parecia mais zangado desde que colocou aquela máscara maldita.
Eles subiram a colina, onde havia as tais ruínas do coliseu. Nem acreditaram naquilo. Nunca souberam sobre coliseus tão grandes em qualquer lugar que não fosse Roma. E muito menos que havia um na Grécia. E alguns até pensaram que aquilo poderia reacender as chamas da memória de Thror, mas não tiveram chance.
Quando notaram, viram um homem portando elmo tipicamente espartano, lança escudo, espada curta, sandálias e um pano que cobria suas partes intimas. Não se via a face abaixo do capacete, mas se via que ele, no mínimo descendia dos espartanos. Seu corpo exalava o medo que um lobo traz sobre sua presa. Era possível ver em seu andar a nobreza dos guerreiros, assim como o rei Leônidas quando enfrentou Xerxes, não deixou sua face fora da visão dos jovens. E assim como Menelau traído por Helena, ele trazia fúria em seu coração
Antes que qualquer um pudesse reagir ou falar com o estranho, este trespassou o braço de Richard com a lança, causando dor intensa. Retirando da carne do druida a arma, - sem antes causar mais dor – ele a lançou no ombro de Hugo. Este caiu tamanha a dor do golpe. Todos notaram que se ele quisesse poderia ter matado os dois.
Mas qual o motivo de tamanha raiva? Qual o motivo, forte o bastante, para alguém tão poderoso atacar eles? Será que sabia sobre os artefatos? Alguém, praticamente seminu, estava enfrentando a todos sozinho. Ele não parecia ser um mero homem.
Gor, Halphy, Lacktum, Federick e Seton iriam esboçar uma reação, quando sentiram uma pressão no ar tão forte , que os prenderam no chão. Tão forte que eles caiam ao chão como se tivessem sido golpeados por uma poderosa arma. Todos ali já sentiram certa vez a dor de serem perfurados por uma arma de perfuração, corte ou contusão de uma arma natural ou não, mas nunca com tanta intensidade quanto a mera presença daquele homem. Era como se ele fosse uma arma por si só. E o único que estava livre dessa presença era o guerreiro Thror.
O guerreiro foi erguido pela poderosa mão, tão rápido, que o vento não teria tempo de reagir. É como se tivesse uma velocidade ofuscante. Enquanto Thror se debatia, chutando o corpo do poderoso homem ou tentando tirar as mãos do seu rosto sendo esmagado, ele fitava Thror com olhos faiscantes de tom de oliva. E então ele falou para o guerreiro rendido, como se fosse uma chuva de flechas aos ouvidos:
-Tu não mudaste nada. Nem em teu espírito, nem em tua persona.
-Quem é você homem? – gritou com voz abafada.
-Tua mente... Humana nega o que tens a frente de teus olhos. E assim se manterá.
E com a mesma velocidade que surgiu o homem de roupas dos tempos antigos, este sumiu em pleno ar. Como se nunca tivesse existido naquele lugar. Em todos os sentidos.
A grama que deveria estar rebaixada nos lugares onde pisou, não tinha sequer as marcas de suas sandálias.
Os que tinham sido atacados pelo estranho pediam assistência aos druidas e o paladino, como se suas almas quisessem fugir de seus corpos imediatamente. O próprio Richard colocava a mão em seu ferimento tentando o cauterizar, mas tinha dificuldade de se concentrar. Halphy e Lacktum se perguntavam boquiabertos, como não tinham resposta alguma para aquele fato. Só Thror tinha resposta para aquilo. Mesmo sem saber.
-Por Ares... Quanta fúria...





[1] Seria uma variedade de morto faminto. Alimentam-se da força vital dos homens através do toque.