segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Carta

Estou escrevendo isso para todos aqueles que não puderem me encontrar mais devido a forças muito maiores do que estou acostumado. Eu nos últimos tempos fui atingido por uma profunda depressão ao qual não sentia há anos. Então, sinto que perdi algo... E que devo encontrar isso o mais rápido possível. Além, dessa tristeza que me deixa tão deprimido, sinto que minha saúde física esta se esvaindo. Na realidade, acredito que tenho alguma enfermidade e que posso estar gravemente doente. E isso se estende a mais de quatro meses. Toda vez que ia ao médico me diziam ser algum resfriado ou algo parecido. Só que nos últimos dias estou vomitando e junto disso, vejo sangue. Então, para terminar com isso, pretendo viajar logo logo para Monte Verde, e talvez veja médicos em São Paulo antes disso. Se tudo quiser que seja só um mal estar, estarei em Santa Isabel antes do dia de Natal. Mas se não... Eu pretendia daqui cinco anos viajar para a Argentina, mas isso foi interrompido por atitudes e pensamentos sobre outras coisas daqui. De qualquer modo, para garantir que não deixarei de falar com os que amo deixo esse texto... Espero que não seja necessário...


  • Ricardo e Reinaldo Caraça: vocês são os irmãos que nunca tive. São as pessoas mais próximas disso que tive minha vida inteira. Então, gostaria que vocês se lembrassem disso que faz de vocês algo tão especial para mim. Essa fraternidade que sentem por mim. Eu gostaria, realmente, de ter vocês como meus irmãos. Pois nunca me senti tão orgulhoso de vocês como nos últimos meses.
  • Alberto Suzuki, Rodrigo Maciel e Anderson Martins: se já encontraram as mulheres de sua vidas, se entrelacem no que muitos chamam de casamento. Vivam juntos, se amem e tenham filhos. Lembra quando falavamos sobre isso? E riamos pensando no que nossos filhos zoariam uns aos outros? Eu me lembro ainda. Eramos novos. Que saudade daquilo.
  • Lucas Toledo e Maria Isabel Comarella: bons amigos e com os quais contei nas piores horas. A vocês deixo meu maior legado. Os Contos do Tempo Perdido. Podem terminar ele. Façam o que puderem para que quando terminarem, o livro tenha aquele ar fantasioso que nós criamos. Só não se esqueçam: coloquem em James, toda a paixão e amor que eu transmiti com ele. Especialmente quando se referir a sua amada Tallyana. Um detalhe, quando criei esta personagem, me inspirei na minha ex namorada (na época namorada) Karen Moraes da Silva. Ela foi minha base.
  • Horn: Eu sempre quis saber seu nome inteiro. Mas tudo bem. Longe de lhe achar um excêntrico (o que muitos pensaram), sempre o vi como a figura paterna que quis ter e ser. Você é um artista que talvez, se um dia tiver a dádiva de ter um filho, o fará seguir seus sonhos. Não iria impor limites aos seus sonhos, e com certeza iria o acompanhar neles. Fazendo o viver em plenitude. Como iria querer um pai assim.
  • Jeferson Campos de Lima: você sempre é concentrado e obstinado. Sempre admirei isso em você. Alguém que pode ter tudo que quiser. Espero ainda, um dia, ser tão forte quanto você. Rapaz... Você é raro hoje em dia. Se case, e tenha milhares de filhos. 
  • A minha família: perdão. Por não estar com vocês nos momentos mais duros e complicados de suas jornadas. Mas eu mesmo estava em dia horríveis ao meu redor. E que culminaram nisso. Tentei fazer o máximo mas, amores e o serviço me dilaceraram de modo irreversível.
  • Cris Aisawa: eu te odiei. Demais. Só depois de muito pesar e refletir. Você foi como meu pai. Nunca soube quem eu era. Nunca se deu ao trabalho o quão magnífico eu fui. E então eu só lhe digo isso, te perdoo.
  • Karen Moraes da Silva: deve ter outro nome hoje em dia. Soube que casou. Esta feliz pelo jeito. E você que um dia me disse que não casaria cedo? Mas paremos de remoer o passado. Viva com ele o que talvez eu nunca tenha. Tenha filhos. É aquilo que mais me arrependo até hoje de não ter. Uma linda garota e um pequenino rapaz. Consiga tudo que quer. Você me fez feliz como pouca gente me fez. Então lhe digo, pensei em me casar um dia com você enquanto estavamos juntos. Mas esse é um sonho que talvez eu nunca obtenha não é mesmo?
  • Camille de Souza Caruso: Você me odeia. E continue assim. Lhe fiz mais mal do que qualquer outro ser. Se possível lhe daria a chance de me matar. Pois eu te amava e mesmo assim terminei o que tinhamos. Por qual motivo? Por ser um covarde. Por ter medo de magoar e ser magoado. De me esquecer o que é ser romântico. De me perder... E eu lhe devo isso. 
  • Belisa Debora Machado: sinceramente não acreditei em você. Nas suas palavras, mas deixemos isso para o final. Eu não quero que pense que isso é por você. A grande maioria é por mim, pois estou perdido sem encontrar o caminho. E não poderei fazer isso se não seguir algo que preciso fazer pela minha saúde mental. E lógico, física. Você me disse certa vez que eu agia como um personagem principal de história que acredita que sou invulnerável, que aguento tudo. Tem certeza que se referia a mim? Não se torne assim. Não sorria para esconder o enorme coração que você tem. E sim, eu te amo ainda. 
  • Tereza Caraça, minha mãe: se algo me ocorrer, cuidem dela. Ela é a mulher mais doce, porém severa que já conheci. E se algo ocorresse a ela agora me sentiria pior do que já me sinto ultimamente. Mãe eu te amo com todas as forças do meu corpo febril. Que Deus te abençoe.
Vou deixando essa frase: Deêm uma segunda chance a garotos bons. Eles merecem muito mais do que se imagina. Eu fui um. Mas não tive.

sábado, 14 de dezembro de 2013

Desabafo 2


Eu estou escrevendo aqui pois não pude nem falar o que pensei. Estive duas semanas ponderando e tentando pensar se o meu último relacionamento foi um erro terrível, se ela não me amava ou se qualquer outra coisa teria ocorrido. Então ponderei sobre tudo.
Tinha medo de a perder, não de ficar sozinho. Tenho claro isso na minha cabeça agora. Já estive sozinho tantas e tantas vezes que não consigo mais contar. Mas quando falo de a perder eu estive com medo exatamente de não ter mais o seu amor, afeto, carinho e tudo mais que fosse possível. Eu temia isso mais do que tudo.
Então... Compensaria voltar com ela? Foi minha pergunta mais difícil de responder. Com muito esforço, eu formulei isso com cuidado. Já fui magoado mais e mais vezes do que muita gente e eu sei... Ah sim... Eu precisava mesmo saber se estava pronto pra mais uma. Percebi que estava. Chorei o que tinha de ser chorado. Rezei! Quis crer, que eu não fazia nada sem pensar, sem estar limpo espiritualmente.
Surgiam mais perguntas, mas que eu precisava compreender quando provinham, em parte, dela: Ela havia tentado me mudar? Eu estava feliz com ela? Ela não me amava mais?

  1. Acredito que sim, ela queria me tornar alguém diferente. Mas não por mal. Talvez pelas experiências anteriores. Ou quem sabe, uma insegurança que eu não tinha, mas ela continha dentro de si. Lembrando que sempre é a pessoa mais firme e mais correta que já conheci. Uma falha, um erro... Já a deixa triste. Poderia ser isso
  2. Sim. Estava. Mesmo quando ficava triste com atitudes dela, o simples fato de "eu estou com você" me tornava um rapaz mais feliz com tudo. Quando houve o termino... Meu MUNDO DESABOU! Literalmente. E eu queria ter esse bem estar novamente. 
  3. Novamente, a personalidade forte e decidida dela me veio como um relâmpago. Pessoas assim não querem errar. Nem com as outras pessoas, transformam pequenos fatos em coisas bem maiores. Pois são perfeccionistas. E ela não queria me magoar. Mas nem ela sabia como terminar. Isso era claro por ter me mandado um recado que iriamos sair e de repente "Nada de beijo, abraços... Tenho que te falar. Eu quero terminar". Não me vem a cabeça que a mesma mulher que me falava coisas sobre um futuro distante sem mais nem menos... Acaba com tudo! Não alguém como ela.
E então termino esse texto deixando essa reflexão: eu não acredito que ela realmente deixou te me amar. Porém, fiz o meu máximo. Daquilo que me é permitido. Só pra lembrar uma conversa que tivemos e ela me disse que me "amava o bastante para chegar as estrelas", e na época não respondi de forma satisfatória... Eu pegaria uma estrela só pra ela...

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

(Parte 16) Capítulo Um: Cores do coração



A praia era linda. Haviam colocado os pés naquele lugar divino. Sentiam tanto prazer de estar ali, que se criou uma atmosfera pura e bela na alma de cada um, acabando com o seu cansaço. Se não fosse por tudo que passaram antes, nem alguns resquícios de tristeza sentiriam mais. E o ar parecia só trazer boas lembranças.
Um litoral com areias da cor do ouro. Pequenos morros, mas que possuíam nuvens carregadas era a vista de onde estavam. Alguns pássaros voavam em uma formação em v. Os aromas tornavam o lugar tão lindo que causava até alivio aos corpos feridos e as almas aflitas. Não era possível imaginar mal naquele lugar. Mas os poucos que se atreviam a compreender de magia sabiam que aquele lugar exalava a mana puro. E então, eles saíram do transe em que se colocaram por conta própria.
O porteiro Lunariel já havia pegado seus barcos e ido embora, sem nem ao menos se despedir. De qualquer modo, os aventureiros estavam extasiados, observando tudo ao seu redor. Tudo parecia, literalmente, tão mágico.
Foi então que Gor falou:
-Vamos amigos, temos que chegar ao centro da ilha.
Começaram a andar quando viram Thor com um rosto que parecia o de um animal sedento. Ou outra coisa pior dependendo da situação. Mas graças aos deuses, era só fome dessa vez.
-Frutas! – gritou o grego.
Ele correu feito um louco na direção de algumas árvores. Estavam recheadas de maçãs, uvas e outras frutas, de diversos tons, tamanhos e formas. E saiam todas do mesmo pomar, algumas até desconhecidas pelos mais experientes. Algumas, tão grandes, que saiam do chão e não do topo das árvores como era de costume. Era um banquete para a boca e para os olhos. Criavam novos gostos em suas línguas, de outras terras com certeza.
Halphy já começou gritando para Thror, assim como também para Seton, Richard e Hugo, que seguiram o grego, que parassem de comer aquelas frutas. Poderiam ser venenosas ou conter alguma magia, mas nem deram ouvidos para a meio elfa. Era algo diferente da situação que saíram, não fazia muito tempo. Algo bom e reconfortante.
Madelyne era a única que se mantinha silenciosa e triste até de mais. E por algum estranho motivo, a ladina sabia que sua amiga não se entristecia por Azerov e sim por estar pisando naquele lugar.
Lacktum ria especialmente de Thror, que mais parecia um garoto grande. A boca lambuzada de suco e sementes de frutas tornava cômica a aparência do guerreiro. Halphy continuava preocupada, mas foi apaziguada pelo sacerdote Arctus. Pelo que tinha notado, não havia veneno, nem magia alguma no pomar. Era algo que não era só divino ou mágico simplesmente. Algo sutilmente poderoso. Como se a natureza tivesse criado vida naquele lugar e não quisesse alertar ninguém.
-Peguei algumas delas para qualquer eventualidade – soltou Thror, cheio de dentes e sementes na boca.  
Quando estavam para sair das proximidades das árvores, todos ouviram uma voz dizendo:
-Poderia... Soltar... Essas trufas... Senhor?
Foi quando todos olharam ao redor, tentando encontrar o dono da voz. Era esganiçada, tímida e baixa. Parecia que a voz tinha até medo de se pronunciar.
Thror então levantou um dos seus braços, onde havia algumas trufas. Eis que entre as frutas surgiu um pequeno focinho com um par de olhos animais. Era um espécime quase perfeito de texugo. Ele estava entre os alimentos.
-Poderia... Soltar? – surgiu do focinho do animal.
-Ahhh! – soltou Thror, enquanto largava as frutas no chão pelo pânico que sentiu.
-Ahhh! – soltou a criatura em resposta.
-Deus meu! – falava Arctus enquanto fazia o sinal da cruz.
-Ora, espantoso – disse um boquiaberto Lacktum, enquanto apontava para o pequenino ser.
-Aquele animal falou? – a única que parecia estar tomando ciência da situação bizarra em que estavam.
-Acho que sim... – disse um incrédulo Richard.
E enquanto todos falavam o pequenino ser se colocava atrás de uma pedra que ficava no pomar. O medo era claro em sua face... Ou seja, lá o que for que aquele ser tinha.
O paladino não agüentava mais as atitudes dos outros e temia que aquilo fosse arte do demônio. Havia ouvido falar de bruxas que usavam animais infernais para se comunicar e tentar os mortais. Sacou sua espada longa, apontando na direção do texugo.
-Afinal, o que é você? Uma criatura do demônio ou alguém ludibriado pelos encantos desse lugar? Assim como os homens de Odisseu? Diga logo ou irei cortar sua... Cabeça!
-Mas... Mas... É... Ai, ai... – depois de falar isso, a pobre criatura diminuta caiu apavorada de medo. Era de certa forma, hilário.
Foi quando os membros do grupo estavam para tentar despertar o pequenino ser que viram uma nova forma surgindo de alguns arbustos. Mais diminuta, porém, parecia ter mais atitude.
-Olhe, é bom não tocar no Furta-Trufas! Caso contrário, eu lhe mordo o de cabelo preto!
-Hum? – soltou um Lacktum espantado com as atitudes do ser – Mas o que é isso? Loki esta fazendo alguma brincadeira conosco?
-Não ouse pronunciar o nome de deuses profanos dos nórdicos em Avalon homem – eriçava os pelos, enquanto falava isso o animal.
A criatura lembrava, de longe, um rato esguio e magro. O seu pelo, era castanho como se viesse de um lugar onde o sol nunca dava descanso. O que seria o peito era branco como a neve. E ele se mantinha de pé nas patas traseiras para cruzar os aparentes braços com ar de raiva. Novamente a cena era hilária.
-Perdão... Senhor? Qual vossa graça? Animal? Senhor? – falava Lacktum enquanto se abaixava reverenciando o diminuto ser como se estivesse diante de um nobre.
O animal bufou com ares de fúria. Então olhou para o mago dizendo:
-Meu nome é Valente, sou um suricate. Este ser medroso se chama Furta-Trufas. Espero que não o tenham machucado! Se não...
-Relaxe – disse Thror contendo os risos – Não foi feito nada com ele. Ele não é um inimigo a altura... Quero disser, no tamanho entendeu?
-Sim, sim – disse Valente parecendo compreender o que ocorria – Quem são vocês e o que fazem em Avalon? Não parecem ser daqui.
-Sou Lacktum. Este homem com cicatriz e espada longa é Thror Tzorv. A jovem de cabelos castanhos é Halphy Brown. O feiticeiro e os druidas se chamam Hugo Capeto, Seton e Richard Naara, respectivamente. Gustavo, Gor e Arctus completam o grupo. Ah e é lógico temos Madelyne, encapuzada e quieta ao fundo. Mas isso é natural dela.
Nesse instante, Madelyne olhava com mais calma para Valente. Parecia que ela ficou alegre só de ver o tal suricate. E alguns como Halphy e Lacktum, notavam que ela era a única não impressionada com aquele lugar. Como se já o conhecesse.
Lacktum então continuou:
-Viemos aqui, - pronunciou isso com pesar – pois fomos atacados na torre de um bom mago, conhecido nosso. Seu nome era... É Azerov.
-Azerov? – disse o suricate até então calmo que olhava para a Encapuzada – O mago que vive em uma torre próximo das ruínas espartanas? Cernunnos me carregue!
-Sim – soltou Arctus.
-Então devo chamar Altair para acompanhar vocês.
Nesse mesmo momento, Valente soltou um estranho som. Os jovens achavam se tratar de um alerta contra sua chegada na ilha, mas logo notaram do que se tratava.
-O que foi isso? – perguntou Gustavo.
-É o chamado da natureza – respondeu o animal.
Imensos passos eram ouvidos da mata densa e espessa da ilha. Se não fosse pela forma que tinha na mata, poderiam até imaginar que se tratava de um cavalo. Era bem mais rápido.
E foi então que por de trás das folhas surgia uma forma. A criatura era um enorme lobo, branco e belo. Era grande sim, mas o que trazia poder a ele era seu ar de superioridade. Sua pele ostentava uma gloriosa aura prateada. Seus olhos lembravam mais os olhos de um homem com extrema força de vontade.
O olhar de todos se fixou na criatura de forma lupina. Ele então soltou palavras com uma voz bela, mas forte:
-Eu sou Altair, mestre dos animais de Avalon. E vocês necessitam de minha ajuda para chegar até Arda. Venham até mim filhotes humanos.
-Muito grato, mas – começou a formular uma pergunta Lacktum pensativo – como sabia o que precisávamos? A pequena criatura gritou, mas não havia como ele falar do que se tratava. Já que nem falamos de Arda.
-Ora mago... É necessário falar? Você subestima o poder do chamado da natureza. Através dele sabemos tudo que ocorre em nossas almas e de quem amamos. Mesmo por que assim é a magia. Você não pergunta qual o motivo de uma peste se propagar, nem de uma tempestade se prolongar. Então, nunca pergunte o que a magia pode ou não responder aos seus ouvidos. Como mago, deveria entender isso.
...
Eles passavam da área dos pomares para uma localidade quase urbana. Era possível notar pequenas regiões agrícolas. Avalon era uma terra formada por uma imensidão de colinas verdejantes, em muitos pontos cobertos por lindas florestas. O clima era temperado, mesmo sabendo que fora dela deveria ser outono. Valente, que servia como um guia, disse que a ilha ainda possuía lugares selvagens, mesmo com os animais podendo falar. É que na ilha havia também monstros. Lobisomens, duendes malignos e toda a sorte de seres do mal. Mas que temiam as tropas daquele lugar. Assim como alguns que temiam a luz do sol.
O suricate e o texugo ficavam em cima do lobo, como se o imenso ser fosse sua montaria.
Todo o grupo observava isso, enquanto se aproximava da cidade principal. As casas humanas pareciam com as humildes casas inglesas, com suas pequenas chaminés, telhados simples e humildes. Já as casas élficas, eram lindas, feitas de madeira forte e resistente. Altair falou para os aventureiros que as casas surgiram das flores das brumas, sementes mágicas criadas por magos e druidas que serviam a Avalon. Elas, literalmente brotavam do chão. Muitos não acreditaram muito nisso, mas não iriam contrariar o mestre dos animais daquele lugar.
Os habitantes de Avalon eram constituídos, principalmente de elfos e humanos, porém havia ao redor deles também criaturas de contos como fadas e gnomos. Ficavam curiosos com os estrangeiros guiados pelo lobo rei, como alguns o chamavam. Alguns curiosos tinham medo, outros se admiravam com a aparência dos estranhos desconhecidos.
Muitos não conheciam os povos da ilha próxima a Avalon. Mas havia lendas sobre os humanos de lá. Alguns diziam que só os homens de fora daquelas terras tinham a capacidade de iludir o coração de qualquer outro ser vivo. Era engraçado pensar que as pessoas temiam os seres mortais, como muitos lá fora temiam os elfos e outras fadas.
Até que Richard e Halphy se sentiram bem com o ar nostálgico que o lugar exalava. Isso, pois já foram iniciados nos costumes daquele povo desde que nasceram. Até mesmo Lacktum e Gor se sentiam bem ali com todos os olhos que os fitavam, pois em alguns traços, lembrava sua terra natal. Já que Avalon era parte do Reino da Inglaterra, mesmo não sendo vista por todos os olhos ingleses.
Altair seguia em frente, com Valente e Furta Trufas em suas costas. Lacktum e Halphy acompanhavam de perto o lobo mágico. Todos os outros seguiam atrás com olhares cheios de curiosidade sobre si. Eram estrangeiros para todos os aspectos.
Era notável a milícia local cedendo espaço para os aventureiros devido a presença do nobre lobo. Homens bem armados com espadas longas
Chegaram então, até uma construção que parecia ser a mais imponente. Parecia haver raízes brotando de sua base até parte do teto. Era quase uma mistura de casarão com árvore. Quase lembrava um castelo de tão belo e magnífico que era o material dele. Na entrada havia um símbolo acima da porta frontal com uma cruz celta. E escrito em galês, Lacktum conseguiu ler:

Aqui o rei lidera o reino como uma espada.
Firmemente e benevolente para com os justos, afiado contra os injustos.

Yma y brenin yn arwain y deyrnas fel cleddyf.

Cyson a dyngarol i'r cyfiawn, miniog yn erbyn y anghyfiawn.


-Onde estamos Altair? – perguntou Halphy temerosa. Algo em seu coração acreditava que estavam para acontecer fatos de grandes proporções e conseqüências. E nem todas boas.
-Aqui poderão tratar com Arda e expor seus problemas. Esse é o Salão Real de Avalon.
-Muito grato por nos trazer – disse Lacktum – Pode nos acompanhar.
-É lógico. Foi por isso que eu vim.
E então cada um foi entrando no casarão com o devido respeito e decoro que se necessitava naquele lugar solene. Eles nem imaginavam que estavam para ver criaturas que só eram citadas nas lendas mais belas dos homens ingleses. E que ecoavam por todo o mundo conhecido.
...
Halphy sentiu uma sensação. Parecia que o lugar queria falar com ela. E realmente falou.
...
O salão era amplo e belo. Por dentro nem parecia ser feito de madeira. Mais parecia uma linda paisagem florestal com um chão de pedra e magia. Um pouco mais acima ficava um parapeito que era acessado através de escadas ricamente ornamentadas por raízes quase prateadas. De um dos pontos se via um palanque principal. Por último, no teto não se via madeira ou pedra e sim estrelas! Era estranho ver aquilo, pois ainda não era noite e o alto daquela casa nem sequer estava aberto. Mas era possível ver as constelações. Pareciam até que se aproximavam da humanidade naquele local. Altair falou que os antigos chamavam aquele salão de a Vista dos Deuses.
Soldados elfos surgiram das portas no andar inferior. Eles vestiam um camisão de malha prateado que parecia ser feito do aço que só anões tinham acesso. Alguns seguravam uma trombeta feita de um chifre tão grande que o animal de onde o retiraram com certeza deveria ter sido enorme. Após tocarem o instrumento – que tinha um som forte e poderoso – um deles começou a falar.
-Eles estão anunciando os membros que governam Avalon – falou Altair.
-Adentrando esse salão, o Mestre Cavaleiro, Bors. Cavaleiro em nome de vossa majestade, rei Arthur. Recebam ele com o devido respeito.
Quando isso ocorreu, uma figura careca com uma barbicha assumiu seu lugar em uma cadeira próximo do parapeito. Ele portava uma loriga bem trabalhada e usava um martelo de guerra arcano e poderoso. Várias cicatrizes eram notadas por todo o seu rosto, como símbolos de honra. Incrivelmente, Thor parecia envergonhado diante do austero e poderoso guerreiro. Mas os motivos, nem ele conseguiam imaginar.
As trombetas tocaram mais uma vez.
-Adentrando esse salão, a Feiticeira-Mor, Morgana LeFay. Feiticeira de Avalon, sobrinha de Viviane, a Senhora do Lago, discípula de Merlin e irmã de vossa majestade, rei Arthur. Recebam ela com o devido respeito.
Todos os que detinham um baixo conhecimento sobre magia já ouviram falar sobre LeFay, Viviane ou Merlin. E se a famosa Morgana estava lá, significava que uma das maiores detentoras da Arte se colocava na frente de olhos mortais estrangeiros.
Os cabelos negros tinham o tom tão escuro, quanto a mais terrível das almas humanas. E tão belos eles eram como uma promessa não cumprida. Havia flores enroladas por toda a sua extensão. Sua pele parecia que nunca tinha sido tocada por raios de um sol no verão. E seu vestido era tão belo, que parecia exalar magia assim como da palma de suas mãos.
Não era difícil entender o motivo de seu meio-irmão ter se apaixonado por ela. Qualquer um ali sentiria a mesma coisa.
Ela também tomou seu lugar no parapeito. Logo em seguida as trombetas tocaram.
-Adentrando esse salão, o Conselheiro-Mor, Dagdarien. Mago protetor de Arda, grande amigo de Taliesin e servo fiel de Avalon. Recebam ele com o devido respeito.
Surgiu uma figura diminuta, que lembrava vagamente uma criatura anã. Ele tinha dois tufos de cabelo que surgiam em sua cabeça, com uma resplandecente careca no meio deles. Um manto vermelho cobria a diminuta forma, enquanto se arrastava até o parapeito. Se não fosse pela aura poderosa, muitos do grupo poderiam rir do pequeno homem. Mas muitos entendiam que se tratava de um gnomo arcano de grande poder.
E novamente as trombetas tocaram.
 -Bem que poderiam parar com essas coisas – soltou sem pensar Thror.
Todos do grupo olharam com ares de reprovação para o grego. Ele com o ar inocente que tinha, perguntou:
-O que foi?
Excluindo isso, o soldado continuou:
-Adentrando esse salão, o Conselho Arcano de Avalon. Constituído de Gibraltan D’Asgard, mago das terras do extremo norte; Alfredo, feiticeiro das terras próximas do Mediterrâneo; e Sakaubirontouski Subat, maga das terras dos césares. Recebam eles com o devido respeito.
Eis que Gor solta um grito, como se a ponta de uma faca tivesse perfurado suas costas. Lacktum perguntou o que ocorria ao inglês, e então ele disse:
-Essa dor... Já a senti antes... Não há como ser outro. Eu conheço Gibraltan... Ele participava dos Imortais Esquecidos. Ele é um imortal...
...
Entrou primeiro Gibraltan, um homem de pele branca, com olhos verdes cintilantes. Seus cabelos brancos curtos e pequena barbicha pontuda concediam a ele certo ar cômico. Já o robe arcano trazia uma aura de poder, o que era reforçado por uma grande pele de lobo que ficava ao redor de seu pescoço. Possuía vários anéis ricamente adornados com ouro. Parecia um dos mais velhos até então naquele salão, com exceção do gnomo.
O seguinte foi Alfredo, que surgiu mostrando a jovialidade em um feiticeiro. Seu tom de pele acobreado mostrava que muitas viagens foram feitas por aquele rapaz. E sua calça e seu colete não pareciam os típicos de um arcano de qualquer lugar. Na verdade, mais parecia um aldeão.
Por ultimo surgiu uma anciã gnoma. Realmente muito velha. Ela se apoiava em um cajado muito grande para seu tamanho. Soltava ganidos de dor a cada passo, enquanto com a outra mão segurava sua pequena saia, apoiada por varias meninas gnomas que de longe se pareciam muito com senhora. Como irmãs gêmeas. Acontece que os olhos mais atentos dentro do grupo notavam que havia algo de errado naquela cena. As tais garotas eram produto de magia. E até então, eles contaram nove meninas.
Era possível notar também que Gibraltan soltava leves espasmos de dor.
Lacktum, Halphy, Hugo e Arctus notavam que estavam diante de poderosos arcanos.
-Tem certeza do que diz Gor? – com voz de temor fitando os três arcanos.
-Lógico garoto! – esbravejou Gor com muita dor – Se passaram séculos, mas reconheço cada um dos Imortais! E ele não mudou de nome! Era o arcano que servia Kalidor!
-Se agüentem, - disse Halphy rapidamente e apreensiva – vejam, acho que deve ser a ultima entrada.
-Adentrando esse salão, o Príncipe dos Elfos, Arda. Regente de Avalon, Mestre do Arco Místico, protetor do Antigo Código e vassalo de vossa majestade, rei Arthur Pendragon. Recebam ele com a honra de seus títulos.
Eis então que surgiu um elfo com ar superior a qualquer outro já tenham visto. Possuía uma cota de malha com tom dourado, cheia de runas com significado de defesa. Ele carregava em cada mão, uma arma de aparência poderosa. Na mão esquerda, portava uma espada longa com uma bainha cheia de desenhos de folhas de carvalho. Na mão direita, segurava um arco longo, que estranhamente, não possuía um fio. Essa arma era cheia de pedras preciosas. Na verdade havia especialmente safiras, esmeraldas, rubis, ametistas e diamantes. Ainda tinha com ele um manto claro que cobria a parte esquerda de sua armadura. E no alto de sua cabeça adornada com ramos, havia ainda uma coroa de louro, que enfeitava o cabelo loiro daquele que era chamado de Arda. Ele então assumiu seu lugar no palanque que o colocava acima dos aventureiros.
Os soldados élficos saíram do salão, enquanto o grupo permanecia ajoelhado em respeito aos que entraram. Só Gor tinha que conter parte da dor naquele momento. Foi então que ele conseguiu fazer a muito custo.
-Altair – proclamou Arda – quem são esses estrangeiros que o acompanham? Eu sou príncipe dos elfos e regente de Avalon, e como tal, sei que eles não são dessas terras... Com exceção de alguns que tem um pouco do sangue das fadas. Inclusive vejo que existe um sidhe e uma fealith neste grupo. Não compreendo como guia estes seres de um grupo tão bizarro até o meu salão!
-Mestre Arda – disse Altair, como se suas palavras tivessem a intenção de ferir – eles estão aqui por motivos que superam o conhecimento de vossa pessoa. Há pouco tempo – continuou ele, olhando para os aventureiros – esse grupo foi atacado na torre de um amigo de Avalon. O arcano Azerov. Eles foram encurralados devido a um plano maligno de um estranho exercito. Era formado por anões, e seu estandarte pertence a Mallmor, o Príncipe Negro dos Anões, traidor entre os traidores, assassino de lorde e imperadores.
Lacktum se impressionou com o que Altair conhecia sobre eles e o que aconteceu. Eles não haviam falado nada daquilo. Mas isso, ele pensou, se devia a magias poderosas que envolviam o mestre dos animais.
-Muito bem, ouvi falar de Azerov – soltou Morgana – Ele era amigo de Númenori. Ele por acaso se encontra entre vocês?
-Não. Ele deve que ficar com a finalidade de se certificar que as forças arcanas não seriam usadas para nos encontrar ou seguir – disse Lacktum com um pesar em sua voz. Parecia que ele se lembrou de algo que o havia deixado triste. A imagem de Azerov se fez presente em sua alma.
-Bem... Sabendo disso só há uma decisão a tomar – interrompeu o príncipe e regente – O grupo será preso até se averiguar as informações contidas em suas palavras. Caso sejam falsos seus relatos, todos estarão condenados a morte.
-Mas vossa majestade... – falou Dagdarien inconformado, acompanhado de Bors.
-Tenho dito! – respondeu.
Todos ficaram agitados devido a decisão do rei. Os magos ficaram contra tal decisão, enquanto Bors e Dagdarien, mesmo sendo contra tiveram que acatar suas ordens. Mas alguns, de modo perverso, lembravam que Arda não era rei de Avalon, e sim, príncipe dos elfos que ali viviam. Era um momento difícil. Tornou-se tamanha a confusão, mas a qual, LeFay não participou pois fitava Madelyne. O grupo, mesmo correto de suas palavras não poderia perder mais tempo, pois se algo não fosse feito, traria desgraça para o mundo inteiro. Nesse momento Halphy olhou para a jovem encapuzada, como se lembrasse vagamente das palavras de Azerov. Ele disse que Madelyne poderia ajudar eles.
-Madelyne – disse baixo a meio elfa para a calada ninfa – Não sei o motivo, mas o velho caduco disse que você poderia ajudar muito a nós. Você deve muito a ele, como nós. Pague sua divida com ele nos ajudando. Por favor.
A encapuzada olhava a confusão que se instaurou nos parapeitos. Era necessário arrumar aquilo.
-Azerov... Você sempre me disse que eu um dia voltaria para cá. Mas nunca quis acreditar. Certo foi o ruivo que o chamava de velho louco... E o tratava como pai.
Nesse mesmo momento a encapuzada encarou a poderosa feiticeira de Avalon e compreendeu que apesar do medo que se instaurou em Halphy, ela estava certa. O mago ancião havia protegido todos, inclusive ela. Fosse fisicamente ou emocionalmente. Era o momento de retribuir.
A jovem se colocou a frente gritando:
-Regente de Avalon e príncipe dos elfos que vivem nessas mesmas terras, gostaria que escutasse o que digo nesse momento, pois é de seu interesse isso! Posso lhe conceder essa ilha!
Foi então que Arda, com um gesto rápido da mão, pediu silencio a todos.
-Então mulher encapuzada, fale o que poderia ter consigo que refletiria na mudança de minhas ordens? Pois saiba, - disse isso, olhando para os membros do Conselho Arcano – que mesmo sendo contrariado em minhas decisões, sou eu que controlo tudo em Avalon. Até as vidas.
-Se eu lhe conceder a chave para o poder você jura poupar a vida de Gor, Lacktum, Thror, Halphy e todos os outros? Concede sua palavra como rei que irá deixar todos vivos e livres?
Morgana soltou um pequeno sorriso. Os membros do grupo não entendiam como Madelyne poderia os ajudar, mas a poderosa feiticeira sim. Assim como Halphy sabia parte dos motivos. Ela sabia que isso se devia a verdadeira raça da encapuzada. Mas nem imaginava a verdadeira extensão de seu segredo.
Enquanto isso, a ambição falou mais alto no coração de Arda.
-Esta bem. Se o que diz for verdade, não só concedo proteção aos seus aliados, como os auxiliarei no que for preciso. Além de não os prender. Mas me diga donzela, o que lhe traz tanta certeza que enfrenta um príncipe como seu igual? É algum artefato digno de um rei? É uma magia com poderes dignos de Merlin? Na verdade, não acredito em suas palavras, mas me sinto com uma grande curiosidade no meu espírito sobre suas ações. Então diga.
Ela então retirou o capuz com muita calma e graça. Foi quando o grupo de aventureiros, e as pessoas no parapeito se espantaram com a ação da moça. Que não era uma simples mulher. A beleza dela superava as meras palavras. Ela inspirava emoções tão diversas que parecia que poderia criar qualquer sensação nos corações dos homens. Seus cabelos eram acobreados, sua tez perfeita e seus olhos amendoados como a forma da mais pura das frutas. Não era que um ser daqueles, como os elfos, era chamado de povo belo. E seu parentesco com eles era notado com as orelhas longas e pontiagudas.
No momento em que fosse visto seu sorriso, alguns acreditavam que conseguiriam sentir o calor reconfortante do sol em suas almas. Era como se suas almas pudessem encher de um calor único. Mas ela não sorriu.
-Meu nome é Aluniel, princesa dos faunos e das fadas, filha de Uriel, rei sob o carvalho sagrado. Ofereço-me para sua esposa, ó grande Arda. A chave para obter mais poder na ilha sou eu.
...
Todos estavam a salvo em outro lugar. Era aberto cheio de uma grama verde e concedia um ar de conforto a todos ali. Mesmo Arctus e Gustavo que notavam símbolos referentes a druidas, deixaram sua intolerância de lado para contemplar o lugar magnífico que chegaram. Lacktum e Hugo deram graças de não precisar fugir ou enfrentar a guarda de Avalon. Já era tarde e haviam acabado com as magias daquele dia. Por último, os guardas estavam muito bem armados a ponto de impedir qualquer tentativa de revolta por parte dos jovens. Especialmente de um grupo novo e quase sem forças para combater.
No lugar havia colunas de pedra bruta fazendo um circulo envolta de um pequeno pátio de cascalho. No centro, um obelisco do tamanho de um homem adulto. Era feito de um minério resplandecente e brilhante. Nele havia um símbolo.
Os que conheciam de magia sabiam que aquilo representava fidelidade.
A guarda de Avalon, Arda, Morgana e Aluniel acompanharam os membros do grupo até aquele lugar, pois lá se encontrava a Pedra do Juramento. Teria sido um lugar, segundo alguns, que foi criado por Viviane para testar a honra daqueles que serviriam o rei. Ela também era usada para impedir estrangeiros que tivessem más intenções contra a ilha. Era um procedimento conhecido por todos que chegavam naquele lugar, mas nada havia sido dito até então para o grupo. E a princesa dos faunos acreditou que com sua intervenção esse teste não seria necessário. Um tolo engano.
Afastada de todos, Morgana falou aos ouvidos de Arda:
-Sua promessa não era de poupar os amigos da princesa Aluniel? Não é necessário fazer o teste então. O que você quer com isso?
-Bruxa, não interfira! Eu digo o que é necessário ou não. Quando for necessário. Mesmo por que não posso só confiar nas palavras da donzela Aluniel. Então jovens – disse Arda, desviando a conversa para o grupo – pousem suas mãos no símbolo do obelisco. E ouçam o que irei disser e me respondam prontamente.
Então todos os jovens se aproximaram mais ainda da pedra.
Cada um fez o juramento apropriado. Inclusive Halphy que todos, estranharam, não sentiu nada de errado. No final ela deveria ser uma boa pessoa, pensaram alguns.
É que a Pedra do Juramento punia aqueles que mentissem para ela. Os habitantes da ilha comentavam sobre a poderosa magia que teria fundado Avalon e tudo ao seu redor no começo dos tempos. Lendas contam sobre a força que ergueu pedras para proteger os homens e a natureza. Ela teria sido depositada, uma parte, no obelisco.
No final, só sobrou Lacktum para fazer seu juramento. Ele colocou sua mão sobre o signo.
-Me diga Lacktum Van Kristen, suas intenções nessa ilha são boas? Trazem consigo só motivos verdadeiros, sem querer prejudicar essa ilha? Jura em nome do Deus e da Deusa, do sangue real e das pessoas em Avalon e na Inglaterra que seus atos serão bons?
-Minhas intenções são boas. Meus motivos também o são. E eles sempre serão vossa majestade.
E como com todos os outros um brilho surgiu do obelisco e cobriu o mago ruivo. Este por sua vez conseguiu, começou a sentir uma energia que o revitalizava, misturada com uma energia boa cobrindo todo o seu corpo. A magia criou uma sensação nova em cada um, um poder único que se assemelhava com o abraço materno.
O que era engraçado é que Lacktum realmente disse aquelas palavras com toda a vontade em seu coração. Sua vontade era proteger aquele lugar, trazendo só a luz de seu coração. Mas como ele traria iluminação aos outros se dentro dele só havia trevas?
...
Após isso, o grupo permaneceu um mês na ilha. Thror aproveitou e forjou algumas armas para o grupo com o metal dos anões que Azerov havia lhe dado de presente. Algumas delas continham em um de seus cantos a palavra Azerov. Seria uma forma de representar tudo que ele fez para o grupo, sendo que para Lacktum ele ainda estava vivo. O grego forjou uma espada longa para si, dardos para a ladina e um cajado para o mago inglês. Além disso, o cajado possuía uma pequena safira na ponta. Isso tudo graças a Gor, que servia de mentor para o grego, tanto na forja como nos treinos de combate.
No período em que tudo isso ocorria, houve o casamento do regente Arda com Aluniel. Muitos no grupo se espantaram com a revelação sobre a encapuzada, mas adoraram ver o rito de enlace dos dois. A princesa das fadas estava magnífica com cabelos acobreados presos num lindo laço ricamente adornado com flores de cores diversas. Seu vestido era branco com detalhes verdes, cheio de letras de origem druídica.
Aluniel falou o seguinte para Halphy antes de se casar:
-Como posso ser feliz? Não é por ser um casamento de conveniências. Não é por achar que ele não vá ser um bom rei. Mas sinto que se o fizer... Se nos juntarmos perante o Deus e a Deusa... Cometerei o maior dos erros. Será que a rainha Gwynhywyfar se sentiu assim?
Halphy que dificilmente usava roupas cerimoniais o fez naquele dia. Ela estava do lado da ninfa e a abraçou afetuosamente por trás dizendo:
-Não temo que você seja como ela, pois você não é como eu... Parte humana.
Aluniel então chorou, consolada por Halphy.
O casamento em si foi lindo, com a jovem meio elfa fazendo o papel de madrinha para a princesa. Mas só a ladina feiticeira sabia que dentro do coração de sua amiga havia tristeza. Para si, o casamento é um modo de prisão para ela, afinal, não havia amor nenhum naquele ato. Mas o amor verdadeiro vinha do sacrifício. Sem isso, não há pelo que viver se não estiver disposto a pagar o preço equivalente.
Nesse tempo todo, Lacktum começou a treinar um conjunto de magia conhecidas como a Arte do Destino. Elas mexiam com conceitos que poucos conheciam. Havia nelas teorias de controle pleno sobre o tempo e o espaço. Com ela se poderia se alterar o que estava para acontecer em um instante, graças aos dois conceitos. O mago queria ser um dos homens conhecidos como mestre do destino. Ele deve auxilio do antigo colega de Gor, Gibraltan.
Aliás, aprendeu algumas das magias mais apropriadas para sua nova jornada com um dos lideres do Conselho Arcano. Resumiam-se em algumas magias de abjuração, linha que normalmente não seguia. Mas notou que poderia fazer bem mais do que a usar para matar, mas também para proteger e auxiliar.
Os dias em Avalon eram agradáveis, não fosse pelos olhos severos dos soldados de Arda que sempre causavam grande medo a todos. Parecia que ele sabia cada passo dado pelos membros do grupo. Ele consentiu com a presença dos heróis devido a Aluniel, isso era claro. Não tolerava a presença dos estrangeiros que manchavam o solo sagrado da Ilha Sagrada. Halphy conseguiu uma maior liberdade, devido a amizade que possuía com a agora rainha dos elfos de Avalon, assim como das fadas. Já o resto do grupo era restringido a treinos e descansos.
Gustavo e Arctus treinavam dia após dia, tanto na arte bélica quanto na religiosa. Parecia que aquele lugar, apesar de ser um foco de pagãos, ainda aumentava sua concentração e poderes. Era como estar na presença do próprio papa, pensava Arctus. Ele, porém, nunca se desviava da religião cristã.
Só Seton se enchia de comidas e bebidas o dia inteiro. Até mesmo engordou um pouco durante sua estadia na Ilha Sagrada. Parecia que as comidas do local eram mágicas, dizia ele, o que não estava muito longe da verdade.
As frutas e legumes eram tratados com sais raros e extremamente cheirosos. Era como se fosse possível melhorar o perfeito. Os antes abatidos jovens pareciam melhorar suas aparências.
O que era possível notar foi à maioria da guarda militar ser constituída de elfos. Quase não havia humanos, apesar de eles fazerem parte dos cavaleiros daquelas terras. Alguns dos elfos serviam uma das ordens do lugar: Ordem do Arco Místico, ao quais os membros colocavam magias nas setas de suas flechas; Ordem da Espada Mística, ao quais os membros aumentavam seu talento com espada através da magia; Ordem dos Cavaleiros Místicos, que serviam aos preceitos da cavalaria ao mesmo tempo em que evoluíam seus dons arcanos.
 E então chegou o dia em que teriam que partir de Avalon. Arda convocou todos para uma reunião que talvez decidisse os rumos dos jovens daquele momento em diante.
...
O dia não estava muito quente, mas melhor do que deveria estar fora da ilha, pensou Lacktum. Ele se lembrou que já deveria ser inverno fora daquelas terras. Logicamente isso se devia novamente a magia inerente na ilha de Avalon. Depois de certo tempo se notava que a magia era auxiliada pelas brumas. Mas Gibraltan alertou ao mago e a jovem ladina – que começava a mostrar grande talento com feitiços – que as brumas também traziam problemas.
Chegaram ao pé de um morro. Acima era possível ver uma construção circular. Havia uma pequena estrada de pedras bem colocadas que subia até a tal construção.
Ao redor de Arda se colocavam membros da Ordem Mística e da Espada Mística. Eles mais pareciam uma guarda de proteção ao rei do que um grupo de soldados que estariam ali para enfrentar os perigos contra a ilha. Mas o grupo não iria questionar os métodos de um povo que era tão diferente, e ao mesmo tempo, tão parecido com eles.
O então rei Arda começou a falar:
-Então vejo que estão sendo bem tratados não é?
-Sim vossa majestade – disseram os membros do grupo.
-Bem preciso falar com três de vocês. Lacktum Van Kristen, Halphy Brown e Thror Tzorv. Quero que venham até mim.
Os três caminharam até o rei, esperando o que ele tinha a pronunciar.
-Vocês estão juntos a mais de cinco ciclos zodiacais[1]. E percebo que três dos membros desse grupo não participarão mais dessa empreitada. Gor terá que reportar tudo que ocorreu para a coroa inglesa. Já Hugo e Richard vão acumular conhecimento nessa ilha para mais tarde auxiliar todos vocês.
Nesse momento Lacktum olhou para os três querendo que mudassem de opinião. Até então, quanto mais pessoas melhor seria. Mas Gor era extremamente ligado a nobreza inglesa, o que significava que devia muito a corte. Enquanto isso, o feiticeiro e o druida acreditavam não estar auxiliando mais nas missões. Deviam isso ao fato de não participar nas incursões do grupo já fazia um tempo. E não aceitariam a opinião do mago que queria a companhia deles. O mago respeitou a opinião deles.
Ao se despedirem, cada um abraçou o outro como se o visse pela ultima vez. De repente Gor, que foi o que teria causado toda essa empreitada, tocou a face de Lacktum, como um pai que toca a face de um filho.
-Meu querido Lacktum cuide deles. Os guie. E não desvie desse caminho de justiça.
-Vou tentar Gor. Vou tentar.
Os três antigos companheiros de grupo partiram dali.
Avalon era protegida, abrigada pela magia até mesmo contra as forças poderosas do clima e da natureza. A magia envolvia a ilha como se fosse uma colossal fortaleza amurada, debelando ventos mais fracos, raios de sol fortes demais e as tempestades de inverno. E no meio de tudo isso havia uma jóia forte em forma de cidade.
A famosa ilha criara no grupo uma nova sensação, como se precisassem se unir cada vez mais. E por esse motivo Arda pronunciou algo que já fora adiado demais:
-Seu grupo necessita de um nome.
-Mas eu já tenho um e gosto dele – soltou um ingênuo Thror.
-Ah me dê paciência! – grunhiu Halphy de raiva, enquanto pegava o guerreiro pela cabeça – Ele estava se referindo ao fato de nosso grupo não possuir um nome.
-Isso mesma minha jovem. Uma companhia como a de vocês necessita de um nome. Algo que os defina como foram como são e como serão. E que mostre um propósito. E então...
-Dragões da Justiça – Lacktum esbravejou.
-Como? – todos soltaram.
-Dragões da Justiça será a alcunha de nosso grupo.
-Eu gostei – disse Thror animado – Desde que não seja nenhum dragão das histórias gregas.
-Eu também – falou Halphy abraçando o colega grego e careca, que há pouco queria matar.
-Não gostei – contrariou Arctus se intrometendo na conversa - Dragões são símbolos demoníacos do mal.
-Pois eu gostei – falou o druida Seton, sabendo que nem todos os dragões eram maus.
-Então que esteja decidido diante de vossa majestade Arda: nós de hoje em diante somos os Dragões da Justiça.
...
Mas não era só por conta da separação de alguns membros ou por conta da decisão de um nome que eles foram reunidos ali. Arda queria que os jovens estivessem preparados para o que iriam encara em sua jornada. Ele sabia de coisas que ninguém deveria saber. O mundo lá fora parecia um pouco mais do que os jovens estavam acostumados. E aquelas notícias se faziam necessárias.
-Descobri com base no que me disseram e dos documentos entregues por Azerov a vocês, que os mapas que encontraram na França se relacionam com certo homem. Kalic Benton II é o seu nome. Ele esta reunindo exércitos pra tentar despertar o ser que repousa em Starten. Sim meus caros eu sei sobre tal mal.
Quando notam, nas mãos de Arda havia um pergaminho ao qual tinha sido entregue para Lacktum meses atrás. Agora que o mago conseguiu pensar claramente, aquele pergaminho deveria conter dados sobre o que ocorreu até então. Ele agora pensava que deveria ter lido aquela mensagem.
-Mas quem é esse homem, vossa majestade? – perguntou Halphy.
-Não sabemos – falou Arda em resposta – na verdade nem imaginamos. Ele surgiu um pouco mais de um ano atrás nas terras inglesas. E ele montou um grupo poderoso de criaturas conhecido entre eles como Pacto de Guerra. O Pacto seria formado por três frentes. Uma delas vocês já conheceram. Mallmor a lidera.
-Compreendo – soltou Arctus – um grupo de soldados formados só por anões poderosos e bem treinados.
-Eu não achei – falou cheio de orgulho o guerreiro Thror.
-Cale a boca, grego! Não nota que entre nós, aqueles que curavam foram imprescindíveis para rechaçar o avanço deles? – soltou paladino nervoso.
Ele pensou em soltar toda a raiva que continha contra o paladino de boca aberta, mas então se lembrou de outro homem com nome Salles. O grupo ficou espantado com o braço levantado de Thror. Queria gritar, mas algo o conteve.
O rei então continuou:
-O grupo foi reunido com seguidores de Mallmor. É chamada de Aliança dos Mestres do Martelo. Também é a única formada por criaturas humanóides ainda vivas. Já que os outros não possuem sequer pessoas com consciência.
-Como assim? – perguntou um aflito Seton. Todos notavam que o druida contrastava da coragem extrema ao pânico profundo quando lhe convinha.
-Não é claro? – Lacktum falou com seu ar de superioridade tão comum, mas que pareceu sumir nesses meses – Jean concedia mortos ao ser que repousa abaixo de Starten. Obviamente uma dessas facções é formada por mortos famintos. Isso explica o grande fluxo da Canção dos Condenados que sentimos naquele lugar. Não é isso majestade?
O rei confirmou isso com um rápido e delicado movimento de cabeça.
-Essa aliança é formada por mortos que caminham. É chamada como Aliança dos Mortos Despertos e controlada por Lyon Coração Solar. Ele é um antigo mercenário que hoje segue os preceitos de Loki. E além deles, existe mais um nessa tríade Sombria. Composta através de um experimento alquímico roubado de Theoprastus Philippues Aureolus Bombastus Von Hohenheim. Os mais íntimos o chamavam de Paracelso. Ele é um grande e poderoso mestre nessa Arte, apesar de continuar afirmando que não é magia o que faz. Enfim... Ele descobriu como selar almas em armaduras.
-E isso forneceria um exército para enfrentar quem seu mestre decidisse. Um exército imortal mesmo! – soltou Arctus.
-Praticamente – falou com pesar o rei Arda – E o seu nome demonstra essa habilidade poderosa. São tratados como a Aliança dos Imortais. Seu mestre é o antigo cavaleiro que serviu um reino extremamente afastado daqui. Diogo Fernandez é o nome dele. 
-Não pode ser! – exclamou Gustavo de Salles.
E todos olharam na direção do paladino. Os olhos estavam cheios de uma tristeza tão grande que dilacerava sua alma. Como seria, para ele, que eles estavam para enfrentar um verdadeiro demônio com a lâmina? E que ele o treinou?
...
Isso teria que esperar, pois as informações obtidas davam conta de que o ataque que o inimigo planejava partiria da Inglaterra em direção a Roma. Graças aos exercito formados por essas alianças comandadas pelo tal Pacto de Guerra e também por se aliarem a um grupo poderoso de mercenários denominado Bando do Tigre Demoníaco. Os doppelgangers que encontraram na cidade próxima do templo de Ixxanon deveriam servir ao Bando como espiões, para os intentos de Kalic Benton II.
O que Arda mais temia era que realmente aqueles exércitos profanos tinham como meta Roma. Tudo fazia sentido, especialmente depois de serem citados aqueles mapas. Como sempre, o rei dos elfos de Avalon já tinha conhecimento sobre o motivo. Deveria ser por conta da Rosa Negra. Poucas informações foram cedidas pelo próprio rei, mas se referiam à batalha que os Imortais Perdidos tiveram na frente dos Portais Infernais. Os itens do Desalmado e do Cavaleiro da Pele de Platina serviriam como tranca, já a Rosa Negra poderia ser a chave para os intentos do líder do Pacto e de seu sinistro mestre.
A magia desse item poderia causar uma catástrofe em todo o universo conhecido. Era perigoso.
Foi então que Lacktum começou a focar em sua mente em como o rei obteve todas aquelas respostas sobre um inimigo até então desconhecido para o grupo. Ele fez então a pergunta para o rei.
-Por isso meus jovens, que os trouxe aqui – disse ficando de costas para os Dragões da Justiça o rei dos elfos. Interessante como mesmo casando com Aluniel, poucos os tratavam como rei dos faunos também pensava um ou outro no grupo. Mas isso não o incomodava, aparentemente. Ele começou a subir a colina, junto com seu grupo de arqueiros e cavaleiros arcanos. O grupo de aventureiros então acompanhou o líder élfico.
A colina era pequena, mas não se podia notar o que havia da parte mais baixa dela. Quando notaram as pedras que viam, parecia uma casa semicircular ao redor de algo ou alguém. O chão no centro era de cascalho fino e estava cheio de runas arcanas. Os mais atentos e conhecedores de poderes já notavam qual era a intenção daquela magia: era um circulo de prisão. Era um círculo contra demônios.
No meio da construção havia uma forma quase humanóide. Porém era visível logo que se observava que possuía escamas, um par de chifres partidos e uma mandíbula destroçada.
Todos pararam em frente ao ser. Ao lado da construção já estavam vários soldados e a poderosa Morgana, com Gibraltan ao seu lado. Ninguém entrava no circulo da construção, isso era claro. Extremamente visível para todos.
-Meus caros, este é o nosso informante – falou Arda apontando com uma das mãos para o estranho ser.
-Vocês aprisionam um demônio e retiram informações dele? Como confiam em suas palavras? – um Lacktum preocupado.
-O mago tem toda a razão! Não há como confiar em uma dessas crias do Inferno! Vossa majestade deveria o destruir! – soltou com ferocidade Arctus.
-Antes que falem qualquer coisa, saibam que este demônio foi torturado para conceder as respostas – se explicou o rei e regente – Os responsáveis por obter essa informação foram Morgana e Gibraltan.
-Nós temos poder o bastante para extrair as informações – falou com convicção Gibraltan.
-Não se preocupem as informações são confiáveis – assentiu Morgana com relação ao que falou o mago.
Todos estranhavam a situação, mas estavam prontos para o próximo passo. Saber o nome da criatura maligna.
-Ora essa... Se não é o fedor podre do louco Gibraltan D’Asgard. Além é lógico de cheiros novos... Mas com a mesma fragrância podre que vocês Imortais possuem. E o que sinto aqui? Novos cheiros... Que se parecem tanto com o passado podre daqueles malditos... Imortais
E então que notaram, que o olho de forma humanóide daquele ser se fixou nos aventureiros. Como se conseguissem ler as almas daqueles que estavam ao seu redor. E o pior é que eles estavam em perigo sabendo disso. O medo, porém, tomava tanto suas almas que eles não se moviam. Nenhum deles.
...
O nome era Syrus. Era um demônio e um lorde infernal que fazia parte dos Cavaleiros Infernais, um conjunto de criaturas poderosas que viviam no Hades – mais precisamente o Tártaro – controlando os orbes de poder daquele plano. Os seus poderes eram grandes, majestosos o bastante, pois se eles fossem mandados por seu mestre, teriam chances de derrotar o Olimpo. Alguns temiam que eles não conseguissem matar nenhum dos Três Grandes Lordes do Olimpo, mas seus poderes eram o bastante para cortar ao meio o Monte dos Deuses e rasgar ao meio as nuvens em que as divindades pairavam. Como dito seus poderes eram tamanhos, mas devido à força de seu lorde, Hades, Senhor dos Mortos, Mestre dos deuses ctonianos. Mesmo assim ele nunca foi uma entidade bélica, assim como seus Cavaleiros tinham mais uma função de guarda.
As tropas que comandavam eram tão poderosas que eram temidos por todos os outros mundos inferiores. Mundos para onde eram mandadas as almas depois de perderem sua casca humana.
Mas tudo isso mudou com a morte de Perséfone, a rainha das trevas, filha de Deméter, a guardiã dos segredos dos mortos e esposa de Hades.
O Senhor dos Mortos começou a valer sua alcunha depois daquilo. Seus planos seguiram por éons, medida cronológica que supera as proporções humanas. Até que em determinado período, no mundo humano, um dos planos do deus ferido no coração começou a se concretizar. Para tal, ele precisava de um território com grande extensão de poderes arcanos e onde os humanos não conheciam sua índole. O tal território seria chamado mais tarde de Inglaterra.
Para que suas intenções surtissem efeito, era necessário colocar alguém de confianças no plano terrestre. Hades pensou em seu Cavaleiro Infernal mais confiável, Syrus, mas esse era poderoso demais para conseguir passar pelas fendas dimensionais do seu plano até Gaya. E isso fez  com que o líder do servos de Hades  optasse por um ser sem tanto poder, mas extremamente habilidoso para agir por seu mestre. O nome era Kayla Sabá.
O demônio com forma feminina poderia corromper um grupo de heróis, destinados a se intrometer em alguns dos planos de Hades. Tudo corria bem, até que ocorreu algo estranho. Ou pelo menos inesperado. Os aventureiros eram dos Imortais. Seu líder máximo Kalidor Hein Hagen, ao qual Kayla começou a sentir amor por esse mortal. E Syrus era o antigo amante de Sabá.
...
Então o demônio começou a soltar todo seu veneno. Especialmente quando reparou que havia um grupo formado diante dele. Criaturas demoníacas têm o dom de ler o que se passa nos corações temerosos. Mas ele precisou notar que havia muito mais do que imaginava.
-Há quanto tempo não vejo tantas flores arrancadas de suas terras natais – soltou a forma disforme atrás das runas arcana – Me parece que vocês sofrem muito... Há tempos...
-Não prestem atenção nele! – disseram o rei e a poderosa feiticeira.
-É melhor partirem – começou a falar o mago imortal – Sinto que as runas estão enfraquecendo.
Os soldados começaram a afastar lentamente os membros do grupo. Quando estavam prestes a partir o demônio começou a pronunciar palavras que afetaram Lacktum.
-Mago inglês – ele começou – É possível notar com vocês, um homem que se diz grego. Não sabe de onde vem, nem quem é. Pois bem, lhe cedo esse aviso... Não! Uma premonição! Você sofrerá mais uma vez, todos sofrerão... E tudo se deverá a Thror! Preste atenção, arcano ele será a ruína de tudo que ama. Como de tudo que existe.
As palavras de um demônio podem ser horríveis e falsas, mas podem conter uma verdade escondida em cada parte de sua maliciosa elaboração. Lacktum queria saber se as palavras de Syrus possuíam algum sentido.
Mesmo assim, o grupo inteiro foi embora, deixando só os magos e o demônio naquele lugar. Todos os jovens corações estavam aflitos.

Chegaram então ao litoral. A ilha era grande, mas havia momentos em que parecia que a magia de Avalon falava mais alto nos sentidos. Parecia que os movimentos se tornavam tão rápidos quanto o vento. E o vento, quase sempre, trazia coisas boas e más.
Lacktum questionou quem era o tal Paracelso ao rei. Arda confessou não saber muito sobre o homem, afinal, ele usava um tipo de magia única. Era um gênero de transmutação conhecida pelos mais sábios como alquimia. Era como se misturasse a Arte com diversos cálculos. E as criaturas que ele criou acabaram sendo usadas para servirem Kalic Benton II. Eram denominadas como revenants por conta de uma lenda antiga. Apesar desses seres não possuírem um vinculo direto com o Além. Lembravam mais construtos poderosos.
Enquanto conversavam, surgia uma estranha embarcação nas águas daquele lugar. Parecia possuir uma pequena cabine de madeira tosca. Barulhos de estalos eram escutados o tempo todo. Talvez, eles se devessem a estranha fumaça que surgia de um cone de ferro da parte principal do navio, mas ainda era impossível saber. A construção marítima em si, era grande, podendo caber todos os membros dos Dragões da Justiça. E esse era o medo de boa parte do grupo. Afinal, por algum motivo, parecia que aquele monstro em forma de estrutura marinha iria explodir a qualquer momento.
-Essa embarcação irá os levar até o reino humano – disse Arda.
-Diz até a Inglaterra, Vossa Majestade? – perguntou Lacktum, descrente.
-Nessa coisa? – soltou Halphy.
-Exato disse o rei e regente – E se me permitem, devo me retirar para tratar de assuntos urgentes de Avalon. Que Aquele Que É, É lhes traga boa sorte no caminho. Os anfitriões do barco irão ajudar vocês com itens e informações de para onde devem partir.
Foi então que Halphy perguntou:
-E Aluniel? Não irá se despedir de nós?
Arda estalou os dedos, e como efeito de pura magia, surgiu então uma montaria grande com pelos castanhos e com crina quase prateada. Lacktum tinha certeza que aquilo se devia ao poder latente da Arte por todo o território. O elfo de grande porte montou no cavalo.
-Ela também mandou desejos de sorte a todos vocês – ele proferiu.
Então, o cavalo trotou em direção a grande cidade no centro de Avalon.

Todos subiram na embarcação, e reparam que uma pequena porta na cabine. O jovem mago Lacktum abriu de uma vez ela. Quando observou o que havia lá dentro, se espantou e riu.
Havia sete figuras lá dentro. Duas delas já eram conhecidas do grupo quando chegaram à ilha. Furta-Trufas estava dentro de um barril de frutas, escondido, tremendo e comendo. Era possível notar melhor aquilo com o rabo do texugo.
Já o pequeno, mas corajoso, Valente, brigava com três das figuras que ali estavam.
As três figuras eram um gnomo, um kobold[2], e um goblin. Os pequeninos seres apesar de suas formas eram extremamente parecidos. Inclusive em suas roupas cheias de fuligem, que pareci ser de arcanos atrapalhados.
Por último, observando a tudo, estavam uma águia e um cão. A ave de asas majestosas se mantinha séria e impassível. Já o cachorro, ficava deitado, com o focinho fechado com ar de reprovação. Isso se devia ao fato de todos olharem a discussão dos três contra Valente.
Foi então que o recente líder dos dragões perguntou:
-Mas que tipo de loucura se apossou desse lugar?!
-Ah! Inimigos invadiram o barco! – gritou o kobold.
-Ei! Esperem...
Os três seres pequeninos partiram para cima do ruivo, que caiu ao chão como uma fruta madura.
-Mas que demônios são esses? – soltou Gustavo, com um rosto mais cheio de ironia do que raiva.
-Nós somos os Wadonski! – falaram em coro os três.
-Wachowski? – perguntou o grego.
-Wadonski – corrigiu o goblin.
-Nós somos fabricantes de armas – falou o kobold.
-Mais ou menos – disse o gnomo.
-Eram vocês os tais a que Arda disse que iriam trazer os itens? – disse Halphy.
-Sim – novamente falaram os três em coro – Devem ser os jovens ao qual o rei pediu que guiássemos ao mundo humano.
-Bem, e nos levarão até a Inglaterra – perguntou Arctus.
-Com toda a certeza – soltou o goblin.
E no meio da cabine, continuavam em cima do pobre Lacktum, os três diminutos seres. Foi quando o mago pigarreou, pedindo ajuda.
-Aham! Vocês poderiam sair... De cima... De mim?
-O que foi? – falaram novamente em coro os três, enquanto olhavam para o mago.
Foi então que Valente bateu com sua patinha dianteira nas costas do goblin.
-Acho que ele quer se levantar – falou o suricate.
-Ah sim! – soltou o gnomo.
-Desculpe! – soltou o kobold.
-Mil perdões! – soltou o goblin.
-Tudo bem, tudo bem... – falou o mago ajeitando suas vestes. Foi então, que o mesmo se questionou:
-Por qual motivo brigavam?
Os três se olharam como se estivessem extremamente pensativos, dizendo em seguida:
-Não nos lembramos.

Aqui cabe uma nota. Os Wadonski são filhos adotivos de um anão. Durante a Guerra do Arco e do Machado, eles teriam sido encontrados por acaso. Então foram cuidados como os seus três filhos, apesar de muitos falarem contra essas adoções. Como um anão seria capaz de cuidar e tratar de seres tão diferentes, e que eram inimigos de sua raça? Mas foi assim mesmo que surgiu a família Wadonski.
Esse não era o nome do anão. Ele concedeu esse nome aos filhos adotivos, pois esse era um antigo jargão dos anões. Significava bagunça ou perigoso, cheio de barulho e era o que trazia os pequenos seres. Além de servir como um tratamento de ofensa.
Enquanto cresciam forjavam itens para o pai quando atingiram uma boa idade. Após a morte do pai, que já era velho quando teria os encontrados, os três irmãos ficaram com a forja, criando itens para todos que pudessem pagar.
Ninguém soube onde eles foram encontrados, muito menos quem seriam seus pais, mas isso pouco importou para eles. Assim como para os homens de combate de Avalon. Suas armas sempre foram muito visadas pelos guerreiros da ilha, devido a boa qualidade e a rápida criação delas. E os pequeninos que eram vistos com preconceito, ganharam glória notoriedade. Merecida.
Os membros do grupo ficaram sabendo disso pelo pequeno Valente. As devidas apresentações foram feitas para cada um dos irmãos. E então foram apresentados os animais guias.
-Como assim? – falou o druida Seton.
-Animais espirituais que irão guiar vocês até o Portal de Ixxanon – começou a falar o cão. Muitos até iriam se impressionar se não fosse pelo fato de terem visto tantos outros animais que falavam.
-Portal de Ixxanon? – perguntou o paladino.
-Sim – continuou o enorme e belo cão de pelos dourados – O Portal é usado para levar a uma determinada direção em nosso mundo, ou até mais além dele. Foram criados pelo próprio Ixxanon antes de ascender como divindade. Mesmo assim, muitos foram destruídos com o avanço da religião cristã. Logicamente, muitos acreditavam que se tratava de templos pagãos. Mas poucos sabem onde se localizava os verdadeiros templos dessa fé.
-Acha que o paladino que o paladino quer saber, - falou um Lacktum mais direto – Para onde vamos? Alias... Qual é o seu nome... Cão?
-Alexander. E o lugar para onde vamos é um segredo até chegarmos ao Portal. Ordens do próprio rei.
-Certo – falou Thror, parecendo que entendeu tudo logicamente, mas não havia compreendido nada.
-E seu amigo se chama? – disse Halphy, apontando para a águia.
-Fiel. Ele nos ajudará a chegar até lá – explicou Alexander – nos cedendo informações que quem só domina o ar pode fornecer.
-Eu não gostei do nome dessa águia, nem dela em si – disse o grego.
-De quem não gostou? – olhou com estranheza a ladina meio elfa para seu amigo – Do cão?
-Não! Da águia! Oras!

Os irmãos trouxeram cada um, fardos com alguns itens. Eles foram cedidos aos Dragões de acordo com seus poderes e habilidades.
Para Thror, o gnomo trouxe um peitoral de aço cheio de detalhes arcanos. Parecia não ser uma mera armadura. Além disso, trouxeram também até ele uma lâmina tão afiada quanto curta. Seu fio parecia ter sido trabalhado durante horas. O grego chamou aquela arma de Corte Bom. Um nome bobo, segundo Arctus, Halphy e Lacktum, mas o guerreiro já havia colocado a arma na bainha. Parecia que faria grandes feitos com ela.
Já Halphy, recebeu das mãos do goblin também dois itens: uma adaga e uma esfera de cristal. O Wadonski disse que a lamina da arma sempre retornava ao seu portador, quando lançada em certa direção. E a esfera de cristal ela sabia como funcionava, já que sua mãe se utilizava desse item. Podendo ver através dela, conseguia enxergar longas distâncias. E dependendo da esfera, se comunicar através dela.
E então Gustavo recebeu uma espada longa cheia de runas que provinham de Avalon, era claro isso. Ela era preenchida com pura energia divina. Força que parecia surgir da fé de um paladino. Fé que surge quando se quer proteger algo ou alguém.
-Muito bem armados – disse Thror colocando arma em sua cintura.
-É, mas – Lacktum começou a falar depois que notou algo – o que os dois estão fazendo aqui?
Foi então que todos se deram conta do motivo da briga que pararam. Valente e Furta-Trufas. Estavam ali como clandestinos para entrar na aventura. Mais por Valente, do que por Furta-Trufas.

Lacktum ficava na parte de fora, olhando o cajado forjado por Thror para ele. Eles começaram a forja desse item na torre de Azerov. Era feito do famoso metal de anões. Quando terminou, na ponta do cajado havia um rubi, tão lindo que quando fosse preenchido com magia, seria poderoso. Mas por enquanto era só belo.
O goblin Wadonski chegou até Lacktum para conversar com seu novo passageiro, que estava perdido em pensamentos. Enquanto a embarcação cruzava a água, o duende verde falou:
-O que te aborrece humano?
-É Lacktum! Bem... -  procurou as palavras certas para começar – me tornei líder do grupo dos Dragões da Justiça, por ordem de Arda...
-Foi por ordem da grande rainha Aluniel – corrigiu o goblin – Ela gostou de vocês.
-É... Eu também. Mas eu não sei se triunfarei como líder desse grupo. Temo pelo que pode acontecer. O destino de muitos, esta ligado ao nosso. E eu quero muito terminar algumas pendências pessoais.
-Se não consegue fazer isso, desista.
O mago inglês colocou a mão na testa.
-Mas eles contam comigo!
-Então não desista.
Lacktum fitou com ar de raiva e reprovação.
-Muito grato por nada!
Existem muitos dragões de diversos tipos e tamanhos, tons de pele diferentes e poderes sobrenaturais. Tudo isso é algo raro, praticamente único. Vocês são únicos pois trazem consigo algo.
-Justiça?
-Não! – soltou sarcástico o goblin – Eu estava me referindo ao careca idiota que acompanha vocês! Lógico que é a justiça! Um nome deve representar o que você é por dentro e por fora. Não importa como isso ocorra. Já ouvi nomes de princesas que ficavam próximos de plantações. E de diversos lugares diferentes. Sempre simbolizando algo. O que os Dragões simbolizam?
Enquanto a embarcação se aproximava do litoral, Lacktum segurava o cajado com força. Os Dragões representariam algo. Acima de qualquer conceito mundano. Afinal um dragão continha poderes para muitas coisas boas ou más. Independente de sua cor, ou tamanho, ou tipo dos corações dele.




[1] Ciclos zodiacais seriam meses.
[2] Kobolds são pequenas criaturas das lendas germânicas antiga. Conhecidas por



sexta-feira, 8 de novembro de 2013

(Parte 15) Introdução e Fatos Mitológicos



Avalon seria uma ilha coberta por bosques e vales verdejantes, em algum ponto na Inglaterra. A ilha estaria envolta por uma espécie de bruma e habitada por belas sacerdotisas, feiticeiras e toda a sorte de seres arcanos, conhecedores da Arte. Conhecida por lendas derivadas dos mitos arturianos ela traz consigo os nomes de Merlin, Arhtur, Morgana, Bors, Tristão, Lancelote, Gwynhywyfar, e tantas outras que criaram o mito do Santo Graal, e os Cavaleiros da Tavóla Redonda.
Essa ilha é uma das cortes élficas que ainda existe no plano terrestre – conhecido como Gaya – junto com mais três outras: Arcádia, terra dos elfos filósofos que se localiza ao sul de Delfos; Midgard, reino de elfos guerreiros poderosos, que teria sua localização ao norte do mundo conhecido; Moredhel, o lugar onde viveriam os elfos negros, uma disseminação dessa raça que teria traído os antigos ritos élficos. Dos quatro reinos, o único ao qual nunca se soube com certeza sua localização foi Moredhel.
Como reinos, cada uma possuía um rei. Na grega Arcádia, reinavam Oberon e Titânia, mestres da magia e da lábia que criaram várias lendas em suas terras e até mais distante. Em Midgard, comandava Balor, herói de lendas antigas ao qual citam lutas contra gigantes do gelo e dragões, aos quais, derrotou sozinho. O rei de Moredhel,era um fealith. Seu nome entre os mortais era Edgar Felkar, mas acabou assumindo o nome de Felkarion ou Narsilion, O Cântico do Sol e da Lua. Poucos sabem de um curioso fato sobre ele: o rei de Moredhel foi membro dos Imortais Esquecidos.
Muitos achavam que era fácil encontrar qualquer um dos reinos, mas mesmo os arcanos mais poderosos possuíam dificuldades para encontrar os portais antigos que criavam um elo com o mundo dos humanos. Essas aberturas se deviam ao fato de que esses reinos seriam mundos que mantinham uma ressonância com o mundo comum. E a ressonância correta, se devia aos lideres de cada reino, como o poderoso Arda.
Arda seria um dos últimos representantes da casa nobre dos elfos de Avalon e na verdade, regente da ilha, em relação aos humanos que nela habitavam. Ele teria assumido o poder depois de alguns acontecimentos lendários. O primeiro, fala sobre Arthur Pendragon, o maior de todos os heróis das lendas celtas. Formou um grupo de bravos e corajosos cavaleiros a quem chefiava em regime igualitário em torno de sua Távola Redonda. Ele sempre foi o símbolo do entendimento entre a tradição celta e os dogmas dos cristãos. Treinado por Merlin, seguiu seus ensinamentos de modo a governar toda a ilha de modo justo. Porém, o Rei dos Reis sendo um homem exemplar, cometeu um ato incestuoso com sua meio irmã, Morgana, poderosa feiticeira. Dessa relação surgiu Mordred, guerreiro que teria ferido mortalmente o próprio pai. Essa ferida só poderia ser curada em Avalon, e com isso deixou toda a Inglaterra sem um rei. Visto que ele precisava se curar de tamanho golpe no corpo e na alma.
Enquanto isso, Arcádia, Midgard e até mesmo Moredhel, sentiam os problemas de uma guerra que nunca chegou aos ouvidos de mortais comuns. A Guerra do Arco e do Machado.
Muitos sabem sobre a eterna contenta entre os elfos e anões. Isso se devia aos elementos e minérios ao qual estavam ligados espiritualmente. Enquanto elfos tinham um vinculo natural com o ar e os cristais, os anões já possuíam uma atração para com a terra e os metais. Isso fazia com que tivessem certa rivalidade entre si. Além, é lógico de terem sido gerados pela mesma divindade, mas cada etnia a tratava com nomes diferentes. Os primeiros[1] tratavam sua divindade por Aquele Que É, É [2]e os pequenos elementais da terra a chamavam de Imperador dos Reinos Além das Nuvens.
Mas o fato que realmente culminou na guerra entre os povos, foi a traição que ocorreu no ultimo Levante dos Escudos por Mallmor. Ele teria matado, não somente seu amigo e Lorde do Noroeste, Daigon, como foi acusado como assassino do Imperador dos Anões. Avalon, temendo um ataque dos lordes remanescentes, já que o Imperador teria feito um acordo com o rei – na época, chamado Númenori – de paz entre os povos, se preparou para qualquer atitude hostil. Até mesmo sua prudência não foi o bastante para proteger o rei e sua família de um ataque contra covarde que culminou com sua morte...
Com tudo isso, Arda assumiu o poder sobre Avalon, como líder dos elfos da ilha – já que para ser consagrado rei, necessitaria se casar com alguém de sangue nobre – e regente, para que um dia, Arthur volte. E guie toda a sua terra natal a gloria que merece.
Muitos dizem que Arda quer muito assumir o poder máximo sobre a Ilha das Brumas através de um casamento. Para tanto, ele tentava se casar com a princesa dos faunos, sátiros e fadas. Os reinos desses seres não são limitados por fronteiras como as conhecemos, muito menos pela magia que protege Avalon, e os outros reinos élficos. Eles surgem de áreas mágicas onde nascem as fadas, sendo então, posse do rei das fadas. Se isso fosse verdade, o poderoso Arda acumularia força política e arcana o bastante para tomar o poder do reino para si.
Mal sabiam os heróis de nossa historia que estavam prestes a entrar no meio de todas as tramas que surgiram devido a esses fatos.
...
-Já chegamos? – perguntou chateado Thror, por se manter tanto tempo quieto naquela embarcação.
-Não... E se continuar com isso, juro que lhe transformo em algo! – gritou Lunariel.
Thror temeu as palavras do barqueiro. Lacktum certa vez relatou que como eles, arcanos do porte de Lunariel, eram mestres com o conhecimento de magias sombrias. E o guerreiro estava com medo, que como o mago ruivo inglês disse, viessem a querer transformar o coitado em um sapo ou um cão.
Mas todos nas embarcações estavam cansados de ficar no barco. Halphy conversava futilidades com Hugo e Richard; Gustavo e Arctus rezavam para que Azerov e Nico se saíssem bem dos problemas na torre; Gor, assim como Thror, limpava sua lamina do sangue dos anões; Seton olhava calmamente para a direção que estavam se dirigindo. Lacktum parecia ser o único realmente calmo, mas dentro de seu coração os sentimentos dele começavam a formar novos ideais. Sua meta era ainda destruir o homem que acabou com sua vila, mas agora ele possuía aliados... Amigos é o que falavam os comuns. Ele não tinha certeza. Mas o tempo em que esteve na torre mudou algo.
Foi então que Lunariel colocou a mão no espaço vazio, na frente do lago, se levantando e dizendo a Lacktum:
-Nos magos, somos chamados de abridores, pois abrimos os caminhos da Arte para obter o que queremos. Mas existem tantos tipos de abridores, que existem até alguns que ficam encarregados sobre a passagem dos planos e terras ancestrais. Esses são chamados porteiros. Eu sou um deles.
Depois disso Lunariel recitou palavras arcanas, que nem Lacktum conseguiu entender. As brumas que eram vistas no lago, sumiram da frente dos barcos, como se abrissem um caminho em honra do elfo. E eis que do ar se fez surgir uma ilha.
Todos se levantaram de um espanto só. Alguém entre eles falou:
-É magnífico!
-Parece até o Paraíso... – soltou Gustavo.
Era como se alguém tivesse coberto aquele lugar com um enorme manto invisível, e o porteiro simplesmente tivesse o retirado.
-Parece até uma paisagem da Grécia – falou boquiaberto Thror – Talvez mais bela que qualquer coisa que Homero e Orfeu tenham relatado.
-Lembrou Lirah – falou bem baixo o mago ruivo, Lacktum.
-Que lugar é este? – questionou Halphy, como única que controlava suas próprias emoções perante o que aconteceu – não vai me falar que aqui é...?
Lunariel riu.
-Aqui é Avalon – respondeu o elfo – a terra dos heróis, o Reino Élfico do Arco e lugar onde repousa o Rei dos Bretões, Arthur Pendragon.


[1] Primeiros é um dos termos para se referir aos elfos.
[2] “Aquele Que É, É” e o “Imperador dos Reinos Além das Nuvens” são nomes inspirados nas obras de J.R.R. Tolkien e C.S.S. Lewis respectivamente.