sexta-feira, 28 de setembro de 2012

(Parte 3) Capítulo Três: Uma nova saga começa



Todos estavam exaustos, mas Gor não. Isso se devia ao fato que ele era um experiente soldado, pelo que dizia. Mas mesmo assim, ninguém compreendia como ele se tornava uma verdadeira tocha de esperança entre os jovens. Lacktum olhava para ele com certo escárnio. Já Thror conseguiu uma amizade instantânea com o guerreiro, mas ele de um jeito ou de outro fazia amizades com qualquer um. Prova disso era a amizade que ele conseguiu com o mago ruivo. Mais isso pelo grego do que pelo próprio mago. E no final, Lacktum pensou que isso seria até que bom. Afinal, um mago sempre precisa de uma boa proteção física.
Eles passavam por uma região cheia de árvores e montanhas. Havia lendas que essa região era cheia de criaturas, monstros e fadas. Ninguém sabia como elas eram, nem como atacavam, mas o grupo pensando sobre isso não acreditavam muito que existiam tais seres. Portanto começaram a caminhar em direção a região montanhosa e de mata fechada. Pois mesmo que os encontrassem, uma boa lâmina ou uma magia bem colocada seria o necessário para acabar com qualquer ser que colocasse no caminho deles.
O grupo inteiro caminhou por muito tempo por toda aquela região. Isso fazia com que todos conversassem um pouco sobre si. Richard sempre falava muito sobre si, mostrando um grande carisma para todos. Era clara a atenção que Hugo e Halphy cediam às palavras do druida. Conseguia ser mais carismático que o próprio feiticeiro, que deveria ser mais fluente em se comunicar com os outros. Afinal, seus poderes provinham de seu autoconhecimento e sua vontade de compreender os mistérios dos outros. Alguns diziam que isso vinha de sua herança dracônica, alguns acreditavam. Outros diziam que provinham de forças celestes. E alguns poucos, acreditavam surgiam das fossas infernais.
E então depois de tanto caminhar, decidiram acampar no meio da mata.
Enquanto Thror e Gor pegavam a comida – que poderia ser toda a sorte de animal ou fruta que encontrassem – Halphy, Federick e Richard preparavam as coisas para assar. Já Hugo e Lacktum foram convidados a ajudar a montar as barracas. Convidados, pois não queriam saber de fazer nada naquele acampamento improvisado pelo que diziam. Mas as mãos de Gor poderiam ser mais mágicas do que as dos arcanos, quando se tratava de convencer as pessoas.
            Depois de um bom tempo Gor e Thror voltaram, exatamente quando a madeira estava pronta para assar os alimentos. Eles traziam um pequeno javali com eles. Thror se gabava de ter capturado a criatura, enquanto Gor a assustava. Mas nada difícil para caçadores experientes.
            -Tão experientes que demoraram tanto para voltar até aqui – soltou as farpas o mago ruivo.
            -Veja se consegue terminar essa tenda – falou apontando para o mago Gor.
            -E o que eu ganho com isso?
            -Não leva um soco meu...
            -Não me convenceu...
            Quando falou isso, Lacktum pegou e saiu de perto da barraca que estava montando. Sentou em uma pequena pedra e ficou mexendo em seu grimório. O tomo parecia estar surrado por tanto tempo que estava com o mago inglês. Halphy chegou até o soldado inglês.
            -Calma... – soltou Halphy – Ele é naturalmente chato. Afinal ele é inglês!
            -Com sangue nórdico – gritou Lacktum.
            Enquanto havia essa pequena rusga, Thror fixou o olho em Gor. Richard notou isso rapidamente. E então chegou até o guerreiro grego e começou:
            -Qual o motivo de olhar tanto para Gor? Acha que ele possa estar mentindo para nós quando a estar aqui em nome da Inglaterra?
            -Não é isso... É que eu jurava que o javali tinha ferido o braço dele. Mas agora não tem marca nenhuma.

            Em determinado momento, o mago estava lendo seu livro de magias, se preparando para a manhã seguinte, quando foi interrompido pela ladina:
            -Mago.
            -O que foi ladina? – falou um nervoso Lacktum;
            -Não se esqueça.
            -Esquecer do que? – disse ainda mais irritado.
            -Esquecer da divida.
            -Ora sua... – então o arcano se recolheu um pouco mais.
            Halphy riu do jovem de cabelos cor de fogo. Se o garoto ficava nervoso era por ser orgulhoso demais. E orgulho não servia para nada. Na concepção da ladina, pelo menos.

            Todos estavam sentados na frente da fogueira. Bem perto da chama, exceto o mago que se mostrou até agora, alguém sem vontade nenhuma de criar laços de amizade. Especialmente depois da atitude de Halphy. Mas o resto do grupo, apesar dos terríveis acontecimentos em Starten, aproveitava esses momentos. O que se notava, era que muitos se interessavam pela vida de cada um. Novamente, com exceção do arcano ruivo inglês.
            -Halphy – começou a falar o druida – estava em Starten por quais motivos?
            -Eu? Nada em especial.
            -É mesmo... O que uma moça como você faz em um grupo como esse cheio de homens. Aliás, você não parece ter se espantado com os arcanos e o druida aqui – soltou Gor.
            -E você também não é inglês?
            -Mas eu sou um soldado de longa data!
            -Já entendi! Já entendi! Bem... Além de ser uma artista da vida...
-Uma ladra você quer dizer – soltou Federick imediatamente.
Halphy olhou com uma pequena fúria. Seus olhos denunciaram que sentiu raiva pelo termo usado. Mas não tinha como retrucar, pois o paladino falará a verdade.
-Certo... Uma ladina... Que conviveu muito com magia. Afinal, minha mãe era uma feiticeira.
-Sério? – soltou Hugo, sabendo desse fato.
-Sim. E á pouco tempo, sai de casa, pois minha mãe me pediu para buscar um item de meu ancestral. Um poderoso medalhão que esta em nossa família a gerações. E por isso busco lugares onde existam perigos nesse reino onde possa encontrar desafios dignos do medalhão.
-Muito interessante soltou Gor.
Não era muito bem isso que tinha ocorrido para Halphy estar naquele lugar. Sua mãe era realmente uma feiticeira, mas o modo como soube sobre o item foi completamente diferente do que descreveu. Há certo tempo atrás, ela foi visitada por um poderoso ser em seus sonhos. Esse ser era seu ancestral, um poderoso elfo. Ele lhe contou sobre um item que concederia ao seu detentor, poder para dominar qualquer ser vivo. O que fez com que ela enfrentasse tudo e todos, até sua mãe. Mas ela não iria contar tudo isso aos companheiros.

-Mas me diga então Thror, qual é o seu passado? – aproveitou a garota para falar ao grego.
-Nada – soltou Thror.
-Pare com isso fale algo sobre você! – pediu o paladino.
-Mas não tem nada para contar – disse com olhos bem firmes o guerreiro da cicatriz – não me lembro nada de minha vida. Se é que tive algo em minha vida. Fui treinado pelo meu mestre e pai adotivo Orfeu. Só sei que sou grego, pois vivi sempre naquelas terras que ficaram conhecidas pelos espartanos.
-Esparta? – soltou Gor – Quanta glória os espartano tiveram. Nunca pude conhecer um pessoalmente apesar de viver á tanto tempo.
-Acho que mesmo que quisesse não encontraria um deles – soltou novamente o mago das farpas afiadas – afinal, eles sumiram á séculos atrás. Não há relatos sobre esse povo depois de Cristo.
-Ah é lógico... – soltou rapidamente Gor. Ele não parecia constrangido pela atitude do mago. Parecia que havia ficado constrangido por outro motivo.
-Bem, além disso, sou muito bom com forjas – se gabou Thror - Sou muito bom na criação de armas e armaduras. Posso disser que ninguém se compara a mim nessas terras.
-Sabe forjar anéis? – soltou o isolado mago.
-Não isso é muito fresco para uma pessoa como eu.
-Ahh! – soltou em repreensão o ruivo.
Poucos entenderam o motivo daquilo. Hugo e Halphy entenderam, pois com um forjador no grupo, poderiam ser desenvolvidos itens poderosos. O forjador criava um item e o mago iria imbuir poderes nele. Mas isso era comum entre magos jovens e ambiciosos.
-E você, Hugo e Richard me digam por qual motivos estão aqui? – aproveitou a deixa o paladino Federick.
-Não sei quando ao Richard aqui, - começou Hugo – mas eu vim a essas terras por conta de me aperfeiçoar na Arte. E assim me transformar em alguém que possa ter controle sobre meu próprio destino!
-É mais ou menos isso também – falou Richard bem lentamente – tirando a parte meio exagerada sobre controlar meu próprio destino do Hugo.
Alguns começaram a rir. Parecia que todos começavam a criar uma grande confraternização entre eles, naquele lugar escuro e inóspito. Só notaram isso depois que todas as risadas cessaram. Mas foi então que perguntaram sobre a vida de Federick.
-Bem talvez não acreditem em mim... – falou meio constrangido o paladino.
-Ah! Fale logo homem! – falou Gor
-Ninguém vai estranhar o que irá disser – soltou Hugo.
-Talvez não estranhem, mas talvez riam – disse isso enquanto olhava para fogueira.
-Como assim? – muitos perguntaram.
-Eu sou um príncipe.
Alguns olharam espantados, outros riram. O único que não demonstrou nada foi o mago, novamente.
Em resumo, Federick era um de quatro irmãos que seriam príncipes de terras ao extremo leste de onde estavam. Na verdade sabia falar corretamente onde ficava seu reino. Mas o que interessava era o surgimento de uma briga entre os irmãos, que causou a morte de um deles pela mão do paladino. Algo lamentável, que não entrou em detalhes. Ele então, para se redimir quanto a esse pecado, entrou numa cruzada própria para curar as feridas de seu coração pelo seu crime. Para isso, encontrou uma sacerdotisa de Cernunnos que o treinou. Quando parecia pronto para partir, ela lhe disse sobre um imenso perigo que surgia no reino da França.
Nesse momento, nem todos acreditaram, mas todos respeitaram suas palavras. Ele era bem confiável e transmitia uma aura de paz, apesar de ser um guerreiro. Isso demonstrava que era realmente mais que isso: um verdadeiro guerreiro a serviços dos deuses.

Todos iriam parar de conversar, até que alguém olhou para Lacktum.
-Oh ruivo! – perguntou Thror inconseqüente - O que tem para contar de sua vida?
-Nada de mais... – começou Lacktum como se puxasse de sua mente memórias tão terríveis como facas que perfuram o coração – a cerca de um ano vivia num baronato junto a minha família. Meu pai era o dono dessas terras. Todos nós vivíamos felizes: eu, meu pai, minha mãe e minha querida irmã.
-É meio difícil crer que já tenho sido feliz algum dia... – soltou Hugo querendo zombar do jovem de cabelos escarlates.
-Porém, o meu pai foi desafiado por um arcano mascarado – e nesse momento, o mago ruivo tomou um ar sombrio em sua voz, com olhos que quase pareciam querer soltar lágrimas - esse mago enfrentou, não somente ele, mas todo o seu exército sozinho. Ele fez tudo isso, mesmo com um grupo de homens bem armados ao seu lado. Um exército de homens terríveis que invadiu minhas terras. Mas acima de tudo esse estranho queria torturar meu pai, pois ele acabou com minhas terras de forma terrível. Eu me lembro de quando ele deve suas entranhas espalhadas pelas terras que por toda a vida defendeu. Minha irmã e minha mãe tiveram uma morte terrível também. Foram esquartejadas diante de mim enquanto todos destruíam o baronato. Com o fogo crepitando e tudo que eu amava destruído pensei que nada poderia ser pior que aquilo. Ledo engano: ele me falou, enquanto acabava com minhas últimas forças, que deixou o melhor por último. Que não se esqueceu de mim. Que iria me afetar mais do que qualquer um. Ele simplesmente falou que iria capturar minha amada Lirah, minha noiva e acabar com sua vida do modo mais cruel possível. Nunca a encontrei... Tive pistas que ela estaria em Starten, mas pelo que vi eram falsas. Preferiria que fosse viva, mas não alimento vãs esperanças. Mas voltando ao assunto, após ter sido torturado e quase morto, eu consegui fugir. Não me lembro como nem quando. Só consigo me lembrar das dores que senti, assim como das minhas pernas ardendo pelo frio que senti em cada ferida do meu corpo. Essas feridas não chegavam perto do que minha memória forçava a me lembrar. Não me lembro de todos os detalhes, mas sei que inocentes gritavam, fossem homens, mulheres, anciões ou crianças. Ergui-me, no frio daquele inverno moribundo praticamente... Parecendo com um daqueles mortos famintos que enfrentamos na vila de Starten. E após isso, fui encontrado por um velho mago das antigas tradições. Nunca poderei deixar de ser grato por tudo que obtive com ele. Além de conseguir sobreviver aquele período de dificuldades e tratar minhas feridas, o velho me ensinou a como preparar e lançar magias. E então notei que através daquele mago que me ensinou o básico dos caminhos da Arte, eu teria a chave de minha vingança – então, os olhos do jovem ruivo perderam o tom triste e começaram a ter uma força sinistra e louca, um tom maligno – pois onde meu pai falhou, eu venceria. A arma que o mago mascarado possuía meu pai nunca acreditou: magia, mana ou Arte. Era mais mortal que qualquer espada, machado, martelo, clava, lança, maça, adaga, punho ou qualquer coisa que o homem comum jamais desenvolveu. Para enfrentar um oponente de igual para igual, meu pai disse certa vez que o primeiro passo é usar a mesma arma. Assim, um dia vou obter minha vingança!
Quando notaram, Lacktum estava de pé mostrando um ar de loucura único. Todos olhavam com terror para o mago. Mas Gor, que não parecia se abalar com tudo isso olhou na direção do jovem e disse:
-Se me permite só obter poder para se vingar é só parte do que você pretende. Você deve ter uma meta. Por acaso pretende o que?
-Me tornar um mestre do destino.
Muitos ficaram sem entender, entre eles Federick, Thror e Richard. Porém, novamente o feiticeiro e a ladina compreenderam e se espantaram. O que ele pretendia era alcançar um grau de magia que pudesse alterar a ordem de fatos e acontecimentos. Em resumo, algo que os magos quase sempre queriam era dominar o tempo, o espaço e o destino. Ele simplesmente queria dominar o destino de um ser humano. E com certeza serviria para derrotar o tal mago mascarado que ele citou em sua história. Ou quem sabe fazer algo ainda mais ousado. De um modo ou de outro, todos estavam sem vontade de conversar mais.
Quando notaram, todos se cumprimentaram rapidamente para então dormir. Todos exceto o mago ruivo que dormiu como uma pedra e o soldado inglês Gor, que se mantinha desperto. Ele olhou em direção ao caminho que iriam fazer na manhã seguinte. Ele olhava com certo medo do que aqueles jovens poderiam encontrar mais a frente. Algo que talvez não estejam prontos para enfrentar. Mas ele tinha que os levar diante o seu destino, especialmente que sabia o que estavam prestes a encontrar. Desafios que iriam tornar eles em pessoas mais fortes e certas de seu destino... Ou os tornar uma lenda. Fosse vencendo ou perdendo.
-Oh James e Galtran... Como queria que estivessem ainda aqui guiando eles. E a mim. Sinto saudades das discussões entre vocês e a velha Agness Idisamir. Ou das constantes gritarias da boa Meg. Ou quem sabe as idéias sarcásticas de Demetrios D’London. Isso tudo que um grupo possui. Eu reparo que esse grupo tem tudo isso... Mas aquele tempo parece que nunca voltara. Onde estiverem, espero que o Kalidor cuide bem de todos... Se ainda estiverem unidos. Os Imortais nunca serão separados... É isso que falavam as lendas não é? Imortais Esquecidos nunca se separam, mas isso não ocorreu comigo – nesse instante, Gor soltou uma lágrima de tristeza – e quantas lendas surgiram entre vocês. Mas um dia sei que ainda irei encontrar todos novamente. Como daquela vez... Como daquela vez... Como naquela época... Estou velho demais para certas coisas de hoje em dia. Mas qual o motivo de estar rezando para pessoas ainda vivas? Realmente faz muito tempo que estou nas terras desse mundo. Mesmo assim, por Lotar... Sinto muito a falta de vocês. É melhor eu dormir para me esquecer disso.
E enquanto deitava para dormir, se Gor tivesse notado ao seu redor saberia que entre o grupo recém formado, havia alguém que não dormiu. A jovem e astuta, meio elfa, que não compreendeu bem as falas do inglês, mas sabia que poderiam ser de grande utilidade no momento certo. Mas por enquanto eram mais nada que palavras sem nenhum uso prático. Só deveriam ser guardadas para uma nova oportunidade. Uma coisa ao menos á deixava confusa: ela leu muito livros de feitiços e lendas antigas e o nome Agness Idisamir, apareceu sobre algumas lendas que se referiam a alguns confrontos que teriam ocorrido na Inglaterra a cerca de mais de quinhentos anos. Sua intuição acreditava que a linhagem materna de sua família deveria saber algo sobre todos aqueles fatos. Pena tanto ela como sua mãe serem excluídas da corte sidhe. Se não fosse por sua avó, ela teria tudo que sempre quis
Todos então dormiram.

A manhã chegava. Gor se levantou primeiro e enquanto fritava a refeição matutina, cantava uma velha canção em palavras nórdicas. Parecia tão triste, que apesar dos olhos de felicidade do guerreiro, trazia um ar fúnebre logo de manhã. O único interessado na canção mórbida era Lacktum.
-Me diga – falou Lacktum com a mão no queixo – o que você fala nessa canção? Parece uma das letras fúnebres dos vikings.
Sem nem mudar os olhos dos ovos que preparava começou a recitar em latim, o idioma que todos entendiam.
-No alto vejo meu pai. No alto vejo minha mãe. No alto vejo meus irmãos e irmãs. Vejo todos que antecederam a mim e a eles, desde o inicio. Pedem que assuma meu lugar no salão dos guerreiros de Odin, onde tomamos o hidromel dos deuses e viveremos para sempre.
-Vou me lembrar disso um dia.
-Quando estiver próximo de morrer.
-Mas ninguém que esteja para morrer iria cantar algo para sua morte. Isso significaria medo da morte.
-Um velho amigo meu, de nome Kalidor, dizia que isso não era por medo. Mas sim, por respeito á morte. Se você não tem medo da morte você a respeita? Pois não a temer pode significar que você não acredita nela. Mas ela acredita em tudo que pode tocar. E ela toca a tudo que existiu, existira ou existe.
Enquanto vários arrumavam as coisas para desarmar o acampamento, Lacktum olhava para onde Gor estava indo. Por alguns segundos o mago desejou seguir as vontades do pai e se tornar um cavaleiro, pois então compreenderia como um guerreiro de verdade, pensa e age. Mas ele não poderia pensar muito nisso agora. Tinha que obter mais poder o mais rápido possível. Nem que isso custasse tudo o que possuía. E como estava agora não seria muito que deveria pagar.

Chegaram à cidade portuária logo pela manhã. Era cheia de vida, mostrando várias pessoas que trabalhavam ativamente em diferentes funções. Enquanto os aventureiros a cruzavam podiam notar várias profissões e ofícios que havia ali. Era possível ver surgir padeiros, tecelões, ferreiros, comerciantes, marinheiros, pescadores, escultores e até mesmo poetas naquela pequena, mas ativa cidade. Cruzavam cada a um, de seu modo na frente dos aventureiros.
Os padeiros ofereciam não só pães como vários alimentos como queijo, vinho e cereais. Já os tecelões começavam mostra tecidos que vinham das terras orientais, mas aos quais Halphy tinha certeza vinha da Inglaterra. Os ferreiros ficavam só gritando o tempo todo sobre armas maravilhosas. Sempre era necessário pegar Thror pelo braço, pois ficava conversando com os homens que forjavam sobre técnicas novas sobre o ofício. Os comerciantes eram um caso hilário a parte para Lacktum. Diziam alguns que estavam vendendo itens mágicos do Oriente ou itens sagrados do período de quando Cristo andava entre os homens e o ruivo fazia questão de incendiar ou quebrava sempre que possível.
-Não era mágico? – perguntava debochado o mago – Então como pode ter se quebrado tão facilmente?
Isso irritava a todos. Inclusive, aqueles que eram de seu grupo. Todos tinham o direito à ignorância. Não importava como.
Mas passando pela área dos pescadores estava a verdadeira intenção deles. Havia marinheiros sim, mas numa taverna que ficava nas docas estaria o bando pirata que necessitavam para a missão de chegar ao Oráculo de Delfos: Joseph Boas Línguas. Pelo menos era isso que Gor dizia sobre o dito cujo.
-Será que ele é tão bom quando dizem? – perguntou Richard ao guerreiro Gor.
-Ao menos é o que me contaram – disse o inglês apaziguando o jovem – mas não se preocupe, mesmo que não consigamos a ajuda dele vamos chegar lá. Nem que tenhamos que ir a pé.
-A pé? Ah não! – soltou revoltada Halphy.
-Que isso Halphy – falou em contrapartida Hugo – seria um bom exercício não é? E não foi na Grécia que surgiu os jogos Olímpicos? Podemos parecer com aquele atleta que correu até Olimpia! Que tal?
Thror riu das palavras de Hugo.
De repente, Halphy parou e olhou com tamanha raiva para o feiticeiro, que se ele pudesse se esconder com sua magia o faria naquele instante. Em vez disso, somente se calou o mais rápido que pode.
Quando Gor iria iniciar novo dialogo, foi possível ver um corpo passando por trás dele, quebrando a janela da tal taverna que eles iriam adentrar. Era um homem completamente bêbado que caia ao chão com a mão no rosto. Da taverna era possível ver o punho furioso de outro homem com um saiote vermelho e um tapa-olho. Sua camisa era aberta, mostrando pouco físico, mas extrema habilidade em combate com várias cicatrizes no peito. Seu cabelo era loiro e extremamente bagunçado. E enquanto gritava com o sujeito caído, tomava três goles de rum que ficava em sua mão direita.
-Olha aqui seu maldito cão de água doce, da próxima vez que tentar usurpar o rum de algum homem, tenha certeza que ele já o bebeu todo, ou que ele não é um pirata. Entendeu? – e então voltou para dentro do estabelecimento.
Todos os arcanos e o druida do grupo ficaram horrorizados com aquela cena de brutalidade pura. Já o primeiro ímpeto de Gor foi olhar para Halphy e disse:
-Não vá me roubar nada ouviu?
-Mas eu nem... - tentou argumentar, a ladina, mas Gor atravessou logo em direção a porta do estabelecimento.

Quando entraram naquela taverna, tinham certeza que alguém morreu lá dentro. Porém, Gor disse que sabia distinguir muito bem o cheiro de um bando de bêbados para o de um corpo. Foi então que os jovens aventureiros quiseram estar novamente em Starten. Os mortos fediam menos.
Lacktum fingia não se incomodar com o cheiro, mas sem sucesso. Ele viveu confortavelmente, e sempre deve do bom e do melhor próximo a pessoas que disfarçavam seu odores com óleo ou perfumes aromatizantes. Todo aquele cheiro de carniça, pensava ele, estava longe de um lar dos Van Kristen. Mas quando se esta entre bárbaros trate a eles como bárbaros, solucionou ele.
-Quem é o tal Joseph? Aquele que socou o bêbado? – sugeriu Lacktum apresado.
-Não, mas pelo que sei – falou Gor se lembrando do que conhecia sobre o pirata – aquele era seu imediato, Iohan. Parece que é um mago.
-Um mago tão forte e com um tapa-olho? – perguntou Richard?
-Ora isso não significa nada meu caro druida... – respondeu enquanto atravessava a taverna o guerreiro inglês.
Havia vários outros homens e mulheres com rostos nem um pouco convidativos. Mas nada que os músculos de Gor e Thror não intimidassem, ou o olhar de Lacktum não conseguisse criar um ar de mistério forte para deixar os clientes da taverna com receio de se aproximar. Enquanto isso, Richard e Hugo paravam a ladina quando ela tentava furtar qualquer item na taverna. Federick preferiu não entrar num lugar como aquele.
Quando notaram estavam na frente de um homem com seus vinte verões mais ou menos, com uma barba digna de um anão, sentado com seus pés sobre uma mesa. Possuía uma faixa na cabeça e uma espada em cima da mesa. Sua camisa estava rasgada e completamente aberta. Era difícil distinguir aquela camisa de trapos. Este era Joseph Boas Línguas.
Ao lado dele estava o homem que esmurrou o bêbado de pé observando atentamente a todos.
-O que querem de mim seu bando de cães sarnentos de água doce? – exigiu o homem barbado.
-Eles parecem ter um sério problema com relação à água doce, não é Lacktum? Será por não se banharem? – soltou o feiticeiro.
-Calado Hugo! Ou quer que consigamos sair daqui, em pedaços? - falou o mago aflito.
-Esta bem...
-Então? Digam logo!
-Estamos aqui – começou a falar Gor - já que precisamos de um navio extremamente rápido. O nosso grupo precisa chegar á costa grega o mais rápido possível. Pagamos bem, mas queremos usar o seu meio único de viagem se é que me entende?
-O quanto podem pagar? - perguntou logo Joseph.
De repente, Gor retirou um pequeno, mas extraordinário rubi de dentro de sua luva. Era vermelho como sangue e era tão bonito que Halphy gritou:
-Qual o motivo de você ter escondido essa preciosidade de mim?
-Pois você iria me roubar...
-Bom argumento – soltou o feiticeiro italiano.
-Calados! – exigiu o soldado e líder do grupo – E então podemos contar com o seu auxílio meu caro Joseph?
Falando isso, Gor jogou a pedra para o pirata.  E este, olhou com um ar de espanto. Aquela pedra era tão vermelha quanto o sangue! E tão bem trabalhada que poderia ser realmente considerada uma obra de arte. Mesmo não sendo um artista, Joseph apreciava uma bela arte, especialmente quando se tratava de dinheiro. Quando se dizia dinheiro, ele queria disser dinheiro o bastante para parar de viver na vida de um ladrão do mar. Algo que não faria com facilidade. Gostava da vida de pirata. Apesar de não tão cruel quanto os outros que conheceu em suas jornadas.
Todos do grupo olhavam com medo. Se eles não conseguissem aquele transporte perderiam um dos meios mais rápidos de chegar ao seu destino. Eles não poderiam perder isso. Lacktum até pensou em usar suas magias contra o capitão pirata, mas sabia que o tal Iohan poderia o atrapalhar. Só sobrava confiar na lábia de Gor.
-De onde veio essa, podem vir mais algumas.
-Eu tenho uma tripulação agora, vocês um navio. Meu nome é Joseph Boas Línguas, capitão do navio Salva Ventos! Bem vindos a bordo. 


sexta-feira, 14 de setembro de 2012

(Parte 2) Capítulo Dois: Despertar




Eles estavam confusos. Não sabiam se poderiam confiar no pequeno goblin. Sabiam que esses seres eram traiçoeiros, mas havia algo no que ele dizia que fazia muito sentido. Era claro que havia algo errado e os corpos dos aventureiros como mortos famintos traziam muitas dúvidas ao grupo recém formado. Será que aqueles que estavam ali, serviriam para um banquete profano que o padre Jean estava para fazer? Será que eles foram enganados por um suposto servo de Deus? E se pensassem bem, o fato de dois maiores líderes das terras católicas terem partido em direção ao Oriente, teriam deixado aquelas terras desprotegidas. O que poderiam fazer contra um mal que estaria para despertar tão cedo?
Eles não compreendiam o motivo de tudo aquilo, mas tinham certeza que tinham que voltar a cidade. Todos lá poderiam estar em perigo! Isso era necessário pelo menos. Lacktum não queria o fazer, mas foi forçado pela pequena Halphy, que o atormentou tanto. Os outros já queriam fazer isso pela justiça e pela recompensa que pudesse surgir. Não que Lacktum não quisesse saber de recompensas, mas o verdadeiro motivo de estar ali naquela cidade se chamava Lirah. Não importava um monte de aldeões sem inteligência e sim a mulher que ele amava. Se é que ela estava ali...
Quando subiram as escadas estavam prontos para enfrentar o mal dos mortos famintos. Afinal, se o padre ou a pequenina criatura fossem os causadores de tudo aquilo, não importava. O que se encontrava naquela catacumba era mais importante que tudo que acreditavam. Independente de suas filosofias de vingança, lucro ou justiça serem completamente diferentes, eles já tinham a certeza do que tinham que fazer. Um mal estava para despertar, e o mundo que conheciam iria sofrer. E eles não iriam permitir.
Eles abriram as portas do sepulcro, como se imaginassem que o mal que á pouco tempo enfrentaram, estivesse lá fora. O mago reclamava das feridas que tinha pelo corpo. Halphy falava para ele que o virote que ela tinha na mão serviria para enfiar no pescoço de Lacktum se ele continuasse reclamando. Ele se calou, por ora...
Quando saíram um ar de medo surgiu ali. Como se todos sentissem que o mal permanecesse ali, mas ele não se mostrasse tão abertamente. O ar ficou pesado o cemitério o que já não era difícil de notar. Nenhum dos mortos estava ali. Eles davam graças a suas respectivas divindades.
-Nós vamos ver o que podemos fazer – falou Halphy para a pequena criatura – e então voltaremos para ter certeza do que fala...
-Zas – proferiu o diminuto ser - Meu nome é Zas. Sou o protetor do corpo desse mal que aqui existe e um sacerdote dos espíritos. E eles me dizem que vocês terão uma grande jornada logo.
-Bem – disse Lacktum com cara de escárnio – veja se esses espíritos sabem lhe disser onde esta um corpo de uma conhecida minha.
-Você a encontrará. Eu lhe garanto.
Todos saíram daquele lugar, com exceção das diminutas criaturas e seu líder Zas. E ninguém estava próximo do sarcófago do ser demoníaco que dormia naquele lugar. Então, seria possível ver dedos magros como o de um cadáver, surgindo das brechas do caixão trancado com tantas runas e correntes. Atrás desse som se escutaria:
Acordo... Mundo em ruínas... Morte irá surgir... Eles irão perecer...

O grupo saiu daquele lugar com certo receio. Afinal, era a primeira vez em que eles se colocavam em um problema daqueles. Lacktum já teve muitos problemas, mas nunca contra criaturas mágicas, muito menos mortas! Halphy temia o mal que existia naquele lugar, já que o máximo que ela conseguia era ser atacada por comerciantes zangados, lordes que ela roubava e toda a sorte de problemas humanos. Os outros também tinham esse problema. Mas Thror não se intimidava. Por algum estranho motivo, ele olhava os mortos como um pequeno mal. Ele destruiria qualquer oponente. Ou ele seria um homem extremamente poderoso, era o que pensavam todos, ou extremamente ensandecido.
Enquanto andavam, eles notavam que o cemitério estava vazio. Saíram rapidamente daquele lugar. Richard e Halphy foram os primeiros a sair daquele lugar. Eles se olharam com rosto de cansaço. Alguns chegavam a soltar risadas, da imagem que observavam a frente.
-Ah não me apresentei – disse o druida – Richard, sacerdote da natureza e que esta aqui para acabar com o mal que aqui esta.
-Eu sou Halphy – disse a pequena ladina – uma simples artista, se é que me entende.
-Ou seja, uma ladra! – disse o mago ruivo com uma cara sarcástica. Então ela olhou com um rosto nervoso para o arcano.
-Parem com as acusações sem motivos vocês dois. Aliás, meu nome é Hugo – soltou o feiticeiro de sotaque da terra dos Césares – e como você eu controlo poderes arcanos sombrios. Sou de longe como podem ver.
-É possível – soltou o grego que nunca entendia nada.
-E você? - perguntou o homem ruivo ao homem careca com a cicatriz.
-Eu o que? – respondeu Thror confuso.
-Qual o seu nome criatura?
-Eu não sou criatura. Sou um cidadão espartano!
-Como pode ser espartano, - soltou Halphy – se essa civilização de desfez a séculos?
-Só sei que eu sou. E meu nome é Thror Tzorv.
-Nome estranho para alguém que veio das terras que descendem de Helena – soltou Richard.
-Mas é meu nome!
-Bem, - soltou o homem de cabelos vermelhos – é um nome feio, assim como essa cicatriz enorme em sua cabeça...
-Ora seu...
E enquanto todos discutiam isso a garota perguntou:
-E você ruivo? Qual o seu nome?
O jovem de cabelos ruivos que ficava fitando Thror para se proteger dos punhos abandonou sua posição defensiva e olhou com um rosto sarcástico. Ele então disse:
-Meu nome é Lacktum Van Kristen, ultimo descendente dos Van Kristen e lorde de Van Sirian.

Eles estavam na frente de um lorde inglês. Ou melhor, um futuro lorde. Qual motivo de um filho de nobres para se encontrar entre eles? Foi por isso que muitos duvidaram das palavras do jovem ruivo. Mas logo notaram que apesar de tudo notaram alguns pontos que denunciavam sua herança nobre. Sua pele bem cuidada, suas roupas de linho nobre, apesar de cortadas, muito belas, seu cabelo bem cuidado e um símbolo de sua família com o desenho de um enorme lobo negro. Esse era o maior símbolo de que o jovem era um nobre. E esse símbolo se encontrava na fivela de seu cinto.
Mas mesmo assim, muitos não se espantaram tanto quanto ele realmente queria. O que fez a cara de sarcasmo de Lacktum se tornar uma feição de nervosismo e raiva enojada. Só que Lacktum Van Kristen não era um homem para se deixar forçar pelas pessoas mais simples e sem instrução. Ele continuou andando pomposo como se fosse um lorde entre os homens, ou como um deus entre os mortais.
O que eles realmente notavam era que, sem aviso algum, surgia uma enorme chama de onde deveria ser a pequena vila de Starten. Primeiro acharam que era uma mera e pequena queimada em uma das casas. Mas enquanto se aproximavam do lugar repararam que o lugar estava sendo incendiado.
E quando eles iriam esboçar uma reação, eis que duas figuras surgiram. Uma delas portava uma brunea em tom de prata aquele mesmo mangual pesado batia em seu corpo. Os cabelos loiros estavam todos jogados para trás e seu rosto estava coberto pelo sangue de algum inimigo. Mais atrás, surgia o padre Jean com seus olhos verdes demonstrava espanto ao ver os homens aos quais tinha visto sair da igreja. Ele portava uma armadura de tão boa qualidade quanto seu protetor.
Lacktum e Halphy olhavam para o monge com olhares de perspicácia. Eles sabiam o que os dois pretendiam fazer. Hugo se pôs a frente tentando dialogar:
-Sacerdote, um pequeno duende nos confidenciou que talvez o senhor tenha sido a causa de todos os problemas que a pequena vila tenha obtido até hoje. E agora que o vejo fugir com seu defensor, começo a acreditar que ele estava correto. Não é isso?
O padre cambaleava com as palavras.
-Bem... Compreenda...
-Mestre – soltou o enorme Owen – eles já descobriram a farsa.
E então, o padre que até então demonstrava um ar de fraqueza e simplicidade, tomou um ar de superioridade digna de Lacktum. Ele tirou por debaixo da túnica, uma espada curta afiada. Seus olhos verdes pareciam os de uma serpente. Sua feição o de um demônio que fugiu do Inferno.
-Então sabem de onde esta meu mestre?
-Mestre? – soltou Lacktum, mais curioso do que com medo.
-Sim, o que dorme abaixo do cemitério de Starten. Trazido pelos remanescentes dos que teriam derrotado meu mestre. Afinal devem ter usado de algum truque para vencer ser tão majestoso. Ele me veio em sonhos – disse como se recordasse uma imagem divina - e me disse que eu obteria poder suficiente para controlar a minha morte se quisesse. Ele é um deus em forma de criatura. E como tal, merece sacrifícios.
-Então, - Richard soltou espantado e com raiva – foi você quem usou as pessoas da vila para criar os mortos famintos! Maldito seja Jean!
Foi quando Hugo segurou o jovem elfo druida. Lacktum não esboçou nenhuma reação, mas a jovem Halphy e o grego Thror, sacavam suas respectivas armas. Todos se preparavam para atacar.
-Não importa o que façam, - disse Jean ensandecido – eu irei...
O suposto sacerdote estava se vangloriando até que uma lâmina atravessou o ombro do mesmo por trás da mata. Sua lamina tinha uma ponta maior que um ponta de lança pesada. Só um dos jovens aventureiros o reconheceu.
-Ferreiro Gor!

Todos se encontravam na frente dos oponentes com os rostos atônitos, pois viram o ferreiro atacando padre Jean. Era estranho tudo aquilo, mas era necessário continuar. Começaram então a atacar os dois que haviam lhes contado seus planos. Jean fugiu do alcance da enorme arma de Gor
Thror atacou primeiro como de costume com uma investida. O que fez com que Owen aproveitasse e o acertasse com um poderoso contra golpe de seu mangual. Este foi certeiro, o que não impediu de atacar o protetor do padre. O golpe do grego acertou o braço em que estava a arma. Isso não foi o suficiente para soltar a arma, mas o bastante para o ver gritar de dor.
Enquanto isso, Hugo e Lacktum preparavam suas magias que eram idênticas.
-What our hand to ignite the magic of the phenomenal world! And my enemies perish with a fraction of my strength!
Eis que chamas surgiram de suas mãos, criando um cone elemental de fogo que cobriu o padre. Este nem se deu ao trabalho te dar atenção a magia em conjunto, usando sua espada curta contra o corpo do jovem elfo druida. O golpe havia sido feito contra a barriga dele, mesmo assim, conseguiu desviar no ultimo momento. O que fez foi ferir superficialmente Richard no flanco.
Quando isso ocorria Halphy acertou as costas do sacerdote. Ele gritou, demonstrando que mesmo possuindo um plano demoníaco ainda era humano. Pelo menos em aspecto.
Owen iria atacar o grego que foi jogado ao chão. Parecia muito afoito para acertar o guerreiro loiro, o que causou sua queda. Thror visava demais na cabeça, como se pudesse a trespassar. O que tornou sua arma um alvo fácil. Assim como seu braço que foi amarrado pelo golpe. Ele caiu completamente desprotegido. Exceto pela espada que surgiu protegendo sua cabeça que já possuía a marca de uma enorme ferida. Era um novo aliado, pelo que parecia.
Cabelos negros e olhos sagazes surgiam do portador da lamina. Ele parecia ser um cavaleiro simples com um tom daquelas histórias usadas para as crianças dormirem. Parecia o Arthur dos contos de Avalon. Sua cota de malha era poderosa, não pela sua fabricação, e sim pela aura que emanava. Parecia que os deuses o protegiam. Mas acima de tudo, a lâmina de sua arma demonstrava que o seu usuário era nobre. Seus cabelos longos se soltavam e deixavam difícil ver todo o seu aspecto. Ainda assim, inspirava confiança a quem visse aquele cavaleiro.
-Não irá atacar esse homem sem um combate justo. E se não quer – disse o desconhecido – suma desse lugar e não suje esse campo de batalha!
-Ora seu...
Nesse momento, o pedaço de metal da arma de Owen quase acertou o rosto do desconhecido. Retirou uma pequena quantia de cabelo da cabeça dele. Não foi o bastante para intimidar. Parecia que o medo não o atingia. Em nenhum momento ele desviou o olhar do combate. Em muitos anos de guerra, nunca ele tinha visto um combatente com tanta capacidade de concentração. Foi quando o estranho falou novamente que ele matou a charada sobre o misterioso guerreiro:
-Pela vontade de Cernunnos! Sua arma não irá fazer tombar um homem que se guia pelas palavras do deus-cervo. Lute como um homem de verdade.
-Um guerreiro santo? Ouvi falar sobre vocês, mas nunca encarei um em combate. Perdão se não posso estender esse combate, mas preciso me manter em foco. Adeus!
-Adeus, digo eu! – soltou Thror levantando em um golpe quase perfeito. Este acertou a testa de Owen. Combinou de último momento com a estocada do aliado misterioso, Owen entrou com toda sua espada longa no peito do protetor do padre. Ele caiu por sobre seu assassino, desfalecido.
-Owen! Não! Maldito se... – quando iria terminar sua frase, uma mão tocou seu rosto com tanta fúria que parecia que queria tirar o rosto do suposto sacerdote. Era Lacktum com uma fúria que beirava o animal. A luta já estava decidida. Mas ele queria respostas.
-Eu só estou lhe poupando até agora, pois imagino que talvez você tenha respostas das quais preciso.
Todos se espantavam com o aspecto do mago naquele momento. Eles até entenderam que o tal mago fosse rancoroso, afinal, já havia ficado nervoso antes por Halphy ter lhe salvo a vida. Mas o seu atual estado não parecia com nada do que agia antes. Era como se um demônio possuísse a consciência do mago. Um terrível demônio cheio de ódio.
-Ora arcano – falou maliciosamente o sacerdote, enquanto Lacktum segurava suas roupas clericais – qual o motivo desse seu apaziguar do ataque?
Nesse momento o padre Jean tentou atacar o mago com sua espada curta. Quando Lacktum proferia algumas palavras, notou a tentativa de seu inimigo de tentar o atacar. Nesse momento ele pegou o braço do sacerdote e o quebrou.
-Me fale logo miserável! E lhe darei apenas uma chance! Onde esta o corpo Lirah Lugarao’Céu? Onde? E onde esta o mago mascarado que trouxe seu corpo?  Notou que sou um mago, deve saber de quem falo! Vamos! Solte tudo!
-A garota esteve aqui, isso é verdade. Assim como o mago ao qual esta a procura – mas quando uma ponta de alegria surgia na face do mago ruivo ela desapareceu – foi embora com o corpo e partiu. Ele disse que iria auxiliar na ressurreição de nosso mestre Talvez a usasse num ritual. O que realmente deveria ser maravilhoso. Dizem que quando mais bela a mulher, melhor é a oferenda...
Halphy iria perguntar algo quando de repente notou a face do mago se contorcer em raiva. Era como se o demônio tivesse voltado para seu corpo. Ele começou a apertar o pescoço de Jean com tamanha força que os homens mais fortes naquele grupo só conseguiram soltar suas mãos quando já era tarde demais. O sacerdote Jean estava morto.

Eles chegaram até a cidade quando o fogo estava alto o bastante para cobrir boa parte das casas. Havia pessoas correndo e fugindo como loucas durante a queimada de seus antigos lares. Era uma luta contra as chamas e contra o tempo. Quanto mais demorassem, menos chances haviam de vencer. Mesmo o rio estando próximo da cidade não facilitava o trabalho dos aldeões. Afinal, as chamas provinham de uma fonte arcana. Isso era óbvio para quem era razoavelmente entendido no assunto como Lacktum ou Hugo. Até mesmo Halphy, que mal começou a trilhar os caminhos arcanos, já sabia distinguir os atos de mago ou feiticeiro.
-Eles acabaram com quase tudo – disse Gor tremendo de raiva.
-Realmente, - disse Lacktum sem muito espanto – mas o que me interessa é o que realmente você quer aqui. Afinal de contas você não é somente um mero ferreiro. Isso esta óbvio
-Mas do que fala meu caro eu sou só...
-Um ferreiro? Com o tipo de golpe que acertou em Jean e a precisão que conseguiu? Eu acho que não – disse rindo a jovem ladina – sei muito bem sobre ataques desse gênero. E mesmo um desavisado poderia ser dilacerado com uma lâmina dessas. Mas você o queria vivo. Estava querendo obter informações. Suas opções eram o atingir de forma que o deixasse muito ferido, mas ainda consciente para ceder informações.
-E ainda por cima – começou a falar o mago – alguém que traz junto a si um paladino não pode ser qualquer um. Revele logo quem é!
-Meu nome é Gor. Sou um soldado que serve a Inglaterra em eventos fora do comum. Minha missão era investigar fatos de aspecto arcano que estavam ocorrendo nessa cidade, já que ela não fica tão longe do litoral. Lugar ótimo para um ataque as nossas terras. O que não contávamos era com um padre convertido ao mal. Muito menos que alguém o mataria.
-Bem, - disse o guerreiro sagrado – de um jeito ou de outro deixe me apresentar. Meu nome é Federick de Salles.  Gostaria de ter conhecido a todos de modo mais propício. Apesar de não ser mais uma terra que venera plenamente o deus-cervo, meus superiores me pediram que auxiliasse no que pudesse nos problemas que aqui surgiam. Muitos ficaram sabendo o que ocorria aqui.
Lacktum deu de ombros como se não ligasse para a situação ou o fato do cavaleiro ter sido tão educado e começou a andar em direção a igreja. Ela começava a pegar fogo, crepitando como a imensa fogueira que parecia. Uma chama muito forte vinha da cruz central que queimava mais do que qualquer coisa. Mas atrás dela e do altar se via um corpo humano completamente desfigurado com golpes terríveis de uma adaga. Era uma jovem mulher, pelo pouco que se reconhecia. O mago não se espantou. Em outro lugar, á certo tempo, ele viu cenas não tão cheias de modos macabros ou tom ritualístico, mas foi o bastante para acabar com uma vida.
O ventre da mulher estava aberto. Dentro dele, havia uma caixa de madeira nobre com um símbolo que Lacktum conhecia muito bem. Um lobo negro enorme.
Ele abriu a caixa com receio que nada de útil fosse encontrado. Quando abriu a caixa havia um pequeno pergaminho. E então Lacktum o leu:

Como sempre em sua miserável vida, você chegou tarde demais caro Lacktum. Fiquei sabendo que estava por essas terras e então lhe deixei esse presente. Mas se acalme, pois um dia ainda irá encontrar sua linda Lirah. Quando esse dia chegar, saiba que serei eu que te concederei esse dom único. Pode me agradecer no Além. Adeus.

Nesse momento, Lacktum soltou um grito profundo de dor. Ele não achou sua amada Lirah. Mas acima de tudo, não encontrou o homem que ele queria tanto destruir.

Enquanto tudo isso ocorria, o grupo de aventureiros auxiliava no que podia os aldeões de Starten. Gor e Thror quebravam portas das casas que incendiavam ou retiravam grandes toras de madeira de cima dos que não conseguiam se proteger da destruição de suas casas. Hugo e Halphy auxiliavam entrando em lugares que muito não conseguiam ou poderiam entrar normalmente. Federick e Richard usavam seus dons divinos como modo de cicatrizar as feridas nos corpos dos mais machucados ali. Isso era uma coisa fácil para ambos, afinal, Cernunnos e Diana eram deuses com dogmas parecidos entre eles. Não houve nenhum desconforto entre eles, pelo contrário, ambos se deram muito bem auxiliando no que cada um não era perito.
Todos eles faziam isso com um imenso pesar olhando para o que já teria sido uma vila prospera e bonita. O grego limpava sua face cheia de fuligem, enquanto o inglês erguia mais uma das imensas toras que caíram sobre seu antigo lugar de trabalho. Era uma encenação necessária para poder se aproximar do problema em si. Mas lá ele teria sido feliz. Como não havia sido á muito tempo.
Halphy não ligava muito para isso, afinal eram humanos. Mesmo sendo de uma segunda geração de fealith - como os elfos tratavam os de sua raça - ela nunca deve um grande apreço por humanos. Seu pai, até onde ela sabia devia ter sido um humano, mas nunca se concentrava nisso. Era sempre em seu ancestral, Sinestro que seus pensamentos se focavam. Um poderoso elfo que deveria lhe ceder um poder único. O controle sobre as vontades de toda e qualquer forma de vida. Mas para tanto, deverá ter muita paciência. Saiu de casa muito cedo, pelos padrões humanos de idade. Tudo por conta de mensagens que recebia em sonhos. Sonhos esses que lhe chegavam como um novo horizonte se abrindo para aqueles olhos amendoados. Afinal, poder era uma das coisas mais apreciadas por Halphy. Mais do que dinheiro e controle, até.
Já Thror, enquanto ajudava os moradores da cidade, se concentrava naquele que os teria salvado de um ataque do falso sacerdote Jean. Maldito e petulante homem, pensava ele. Se intrometer na batalha de um descendente dos antigos espartanos, contra seu adversário. E ainda por cima, em vez de auxiliar a nós, homens de verdade salvando os que estão aflitos e em perigo, ele perde tempo usando seus dons divinos para cicatrizar feridas. Ora isso não era atitude de alguém que se dizia guerreiro. Mesmo que fosse um guerreiro sagrado.
No momento em que alguns deles se perdiam nesses pensamentos pessoais, eis que surge Lacktum saindo da igreja de Starten. Ele passava pelo centro da cidade como um pequeno tufão de fúria, que ficava estampada em sua face. Sua mão esquerda esmagava um pequeno pergaminho, que se contraia com magia de fogo. Seus cabelos vermelhos eram jogados para trás pelo forte vento que surgia com o começo da noite, enquanto seu manto parecia tomar vida e se agitava sem direção.
Quando chegou ao meio da cidade, olhou para trás em direção da construção que instantes antes, teria encontrado o pergaminho que estava em cinzas na sua mão. Com isso gesticulou de forma elaborada, como se moldasse em pleno ar um jarro de argila imaginário. Feito isso, uma grande quantidade de energia arcana se acumulou em suas mãos como a seta de uma flecha, só que muito maior. E então, com uma fúria indomável, aplicou uso de sua magia para uma forma conhecida da cidade. Parecia que sua raiva seria aplacada quando destruísse aquele símbolo. O poder que acumulou até então tomava forma de energia destrutiva que obliterou a cruz que se fixava no alto da igreja.
E então Halphy foi até ele perguntando qual o motivo de sua fúria contra um símbolo do deus católico. Ele respondeu:
-Eu entrei na igreja. Mas foi engraçado – disse com um sorriso forçado – Deus não estava lá.
Feito isso, tirou a mão que Halphy colocou em seu ombro e continuou a andar para longe da cidade.

Tempos depois, os aventureiros se encontravam numa passagem que mais para frente atravessava as montanhas e criava um vínculo com o litoral. Boa parte dos aldeões tinha fugido pelo outro caminho. Mas eles preferiram acompanhar Gor que tinha mais revelações a fazer.
Todos se mantinham de pé, exceto Lacktum que sentava em uma pedra maior que se encontrava naquele lugar sem muitas arvores.
Dados obtidos por arcanos que servem ao rei da Inglaterra, teriam previsto que um grande mal estava para despertar em Starten. Esse mal teria sido aprisionado num período quando o Império Romano do Ocidente ainda possuía grande poder, apesar de seu enfraquecimento pelos constantes ataques que sofria dos bárbaros e disputas internas de poder. Homens de grande força e inteligência teriam obtido, através da Arte, um modo de aprisionar uma parcela da consciência da criatura. Isso devido ao fato que não se sabia onde estava seu verdadeiro corpo. Isso tudo batia de frente com o que Zas, o duende verde, teria falado para eles. Nunca mais olhariam um ser daqueles como antes.
Eles estavam numa situação nova. Nenhum deles sabia o que fazer. Muito menos como agir numa guerra. Isso se ela ocorresse. Muitos só sabiam que a criatura que estava adormecida poderia acabar com a paz, que por tantos séculos existiu nessas terras. E isso era mais claro, sendo que os lideres dos povos estavam nas Cruzadas. Combatendo o mal que surgia nas terras orientais eles se esqueciam que as trevas poderiam dominar suas terras. O que meros jovens poderiam fazer? Mas Gor, trouxe junto com Federick, uma nova motivação.
-Se dizem que o Oráculo de Delfos pode nos responder tais questões de onde esses artefatos estão – disse Gor pensativo – seria bom encontrar um marinheiro competente para nos levar. Afinal, por terra não chegaremos tão cedo. Para ser sincero, sei de alguém que pode nos auxiliar de uma forma única. Um pirata.
-Pirata? – soltou Halphy
-É sim – o guerreiro inglês soltou – É um ótimo navegante. E lendas contam que usa de meios mágicos para fazer sua embarcação flutuar mais rápido que qualquer nau que exista no mundo. Na verdade, acredito que ele esteja no litoral.
Quando Gor citou sobre a magia que cobria o fantástico navio, Lacktum riu com a idéia de um item tão magnífico.
-Eu não sei quanto a vocês, mas eu pretendo enfrentar o que for necessário para deter esse mal. Eu irei contigo Gor – falou firme Federick.
-Mas tem consciência do que poderá encontrar no caminho? – Halphy alertou.
-Qualquer coisa que se colocar em meu caminho será eliminado pela minha espada e minha fé em Cernunnos, o deus do povo das fadas!
-Eu sinceramente acho essa sua frase cheia de frivolidades – soltou Thror, querendo irritar Federick, mas continuou – porém, se até um homem cheio de modos afeminados como você se atreve a enfrentar tal ser... Um homem que descende dos espartanos não pode fazer por menos... Não acham?
Todos o olharam com ar de estranhamento. Mas nada disseram. Só o que pensaram era como ele, como grego poderia ser tão estúpido. Aquilo deveria ser ignorado por enquanto.
-Vamos nos unir nessa jornada desconhecidos?
Foi então que Hugo soltou:
-Não nos chame de desconhecidos, nos trate por companheiros Salles.
E falando isso, o feiticeiro estendeu a mão. Gor copiou seu gesto rapidamente pousando a sua mão sobre a de Hugo. Todos os outros o seguiram pensando muito antes. O ultimo a fazer isso foi o mago ruivo. Ele se levantou da pedra em que esteve todo o tempo dessa inútil conversa, pensava ele. Chegou próximo dos aventureiros e então disse:
-Espero ser recompensado no final dessa campanha.
Quando esse colocou a mão por cima de todas as outras, era possível notar não muito ao longe a chama crepitante da pequena cidade de Starten. O mal que eles estavam para enfrentar era muito maior e mais antigo que qualquer coisa. Até mesmo que as chamas que surgiam no que já foi uma pequena vila

Longe, entre as chamas surgia uma figura com mantos negros e uma pequena lira em suas mãos.

-O Hades virá para terra...